quinta-feira, 9 de março de 2023

África do Sul | ONDA DE CRIMES À MÃO ARMADA INDIGNA SUL-AFRICANOS

A polícia da África do Sul está a ser alvo de fortes críticas por supostamente fazer pouco ou nada para lidar com a violência armada no país. Corporação garante que leva a sério as preocupações dos cidadãos.

Muitos sul-africanos têm-se mostrado indignados com os serviços policiais, acusando-os de fazerem pouco para combater a crescente taxa de criminalidade do país.

As últimas estatísticas mostram que mais de 7.500 pessoas - incluindo agentes da polícia - foram assassinadas na África do Sul, entre outubro e dezembro de 2022. Mais de 3.000 morreram devido à violência armada, vítimas de armas de fogo, enquanto as restantes foram mortas com tijolos, facas ou outros objetos. Quase 6.000 mulheres foram violadas no mesmo período de três meses.

Mortes violentas chocam população

O recente assassinato do popular rapper sul-africano AKA chocou a sociedade civil, que debate agora soluções para combater o crime violento. O rapper foi baleado ao deixar um restaurante em Durban, no mês passado.

Em janeiro, homens armados abriram fogo contra convidados que celebravam um aniversário em Gqeberha - antiga Port Elizabeth - na costa leste do país. Oito pessoas foram mortas e outras três ficaram feridas no incidente, que ocorreu no bairro de Kwazakele.

Em julho do ano passado, 19 pessoas foram mortas em tiroteios em Joanesburgo e Pietermaritzburg.

O ativista anticrime Yusuf Abramjee disse à DW que a polícia simplesmente perdeu a guerra contra os criminosos: "Acho que todos nós temos motivos para estar muito preocupados", disse. "O crime organizado está sem controlo. Não há respeito pela vida. Não há respeito pela propriedade."

Polícia não presta atenção necessária

De acordo com o Instituto de Estudos de Segurança (ISS), a polícia sul-africana não tem prestado muita atenção ao fenómeno da criminalidade violenta.

"Os comandantes da polícia mostram-se pouco preocupados com estes problemas", afirma David Bruce, pesquisador independente e consultor do ISS. "Não há indicação clara de que medidas concretas estão a ser tomadas para fortalecer a investigação criminal."

Milhares de armas em circulação

O ministro que tutela a polícia, Bheki Cele, garante, no entanto, que estão a ser encetados grandes esforços para enfrentar a crise. O foco está a ser colocado nas milhares de armas ilegais que é preciso confiscar nas comunidades locais.

"Nos últimos 12 meses, a polícia já confiscou e destruiu 65.519 armas de fogo ilegais", anunciou o ministro.

Cele afirma ainda que o serviço policial "continuará a levar a cabo operações para detetar e remover armas de fogo e munições ilegais, enquanto está a ser preparada uma alteração da "Lei de Controlo de Armas de Fogo".

Cidadãos assustados

Mas a "Gun Free South Africa", uma organização não-governamental local, pede ao Governo que intensifique os esforços para retirar as armas ilegais de circulação. Segundo a mesma ONG, todos os dias são baleadas e mortas 30 pessoas na África do Sul. O fluxo crescente de armas e munições na África do Sul leva ao aumento da violência armada, incluindo tiroteios em massa.

Alguns cidadãos pedem que a pena de morte - que foi abolida na África do Sul em 1995 - seja restabelecida, como elemento dissuasor; no entanto, grupos defensores dos Direitos Humanos opõem-se à reintrodução da pena capital.

O ministro da Presidência, Mondli Gungbele, disse à DW que o Governo está ciente da situação e está a trabalhar para resolvê-la: "Esses ataques hediondos estão a ser investigados pelas autoridades policiais", afirma Gungbele, descrevendo em seguida as novas estratégias que a polícia pretende adotar para deixar os cidadãos mais seguros.

"Asseguramos que a polícia sul-africana está a ser reforçada, para se poder prevenir o crime, e isso inclui colocar mais policias nas ruas e montar equipas especializadas que se concentrarão em tipos específicos de crime", disse Gungbele.

As palavras do governante oferecem, no entanto, pouco conforto a muitos sul-africanos que temem que, quando as soluções apresentadas pelo Governo forem finalmente introduzidas, seja tarde demais para muitas das vítimas de crimes à mão armada, na África do Sul.

Thuso Khumalo | Deutsche Welle

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