quinta-feira, 30 de março de 2023

Portugal | ESTE PAÍS NÃO É PARA QUEM CARECE DE APOIO

Paula Ferreira* | Jornal de Notícias | opinião

Este país não é para quem precisa de apoio. Não se sabe ainda o que levou um refugiado afegão a matar duas pessoas e a agredir outra, no Centro Ismaelita de Lisboa.

Se não tivesse sido rapidamente imobilizado pelas autoridades, a cifra podia não ficar por aqui. Sabemos contudo que este homem trazia consigo uma imensa tragédia. Em fuga do Afeganistão, da perseguição do regime talibã, perdeu a mulher e mãe dos seus três filhos num incêndio num campo de refugiados em Lesbos, na Grécia. Em Portugal há mais de dois anos, a única ocupação conhecida era a frequência de aulas de português, no Centro Ismaelita de Lisboa. Engenheiro eletrotécnico, pedia um emprego. E, de acordo com o presidente da comunidade afegã em Portugal, "necessitava de apoio psicológico desde que chegou ao país". Aqui poderá estar a explicação para a tragédia, embora várias vozes insistam em ver no ataque sinais de terrorismo, apesar das autoridades, nomeadamente o diretor da PJ, terem afastado quase de imediato essa possibilidade e o tenham voltado a reforçar ontem. Nem assim, o presidente do Observatório de Segurança, Criminalidade Organizada e Terrorismo se absteve de pedir para não se pôr de lado essa possibilidade. E juntou outro aspeto muito caro a uma certa ala da política nacional: relacionou esse cenário com a necessidade de se rever a política de imigração.

É caso para dizer: o sentido de oportunidade não podia ser pior. Porque já era mau relacionar um caso de terrorismo perpetrado por um refugiado com a política de imigração. Indefensável é relacionar um surto psicótico, como o classificam as autoridades, com as políticas de acolhimento de imigrantes. Enfim, parece chegar a altura de se repensar o Observatório de Segurança, Criminalidade Organizada e Terrorismo - se serve para transmitir insegurança e demagogia.

* Editora-executiva-adjunta

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