domingo, 7 de maio de 2023

Angola | POR OUTRO LADO OUTROSSIM – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Um alto dirigente da UNITA diz que o maior problema de Angola é o MPLA. Mais uma resposta eloquente à proposta de Virgílio de Fontes Pereira, em nome do Grupo Parlamentar do partido que ganhou as eleições, para um diálogo permanente, aberto e inclusivo. O mesmo malfeitor diz que os dirigentes de MPLA, em 1975, “uniram-se aos colonialistas portugueses contra seus compatriotas da FNLA e da UNITA para negociar a transferência do poder colonial para os angolanos e sem consentimento destes”. Falsificação da História. Insultos gratuitos. Mentiras de alguém que serviu o regime racista de Pretória, disparando contra o Povo Angolano.

O alto dirigente da UNITA destila ódio contra os adversários políticos. Racismo e xenofobia contra os estrangeiros que vivem e trabalham em Angola. Leiam: “Os angolanos olham embasbacados como centenas de portugueses, como assessores, com salários e regalias escandalosamente inaceitáveis, no executivo, no judiciário e na Assembleia Nacional a fazerem um trabalho que os angolanos que mal ganham podiam muito bem fazer.”

 O alto dirigente da UNITA continua a não reconhecer a República de Angola, ainda está na “república” proclamada pelos racistas sul-africanos com Jonas Savimbi. O malfeitor escreve que a Proclamação da Independência Nacional, em 11 de Novembro de 1975, por Agostinho Neto, foi “uma vergonhosa cerimónia”. E remata: “A farsa de Portugal e do MPLA tem de acabar”. Mais esta resposta à proposta de diálogo tornada pública pelo deputado Virgílio de Fontes Pereira: “O MPLA transformou Angola num antro da corrupção internacionalista. Nosso dinheiro é conspurcado com toda escória humana do mundo, quando os próprios angolanos são atirados para sarjeta e contentores de lixo”.

O sicário fecha com estes insultos: “Os Presidentes do MPLA não têm sido honestos com Angola e os angolanos. Falsificaram assinaturas, fazem juramentos que não cumprem, mentem que estamos num Estado Democrático de Direito”. O criminoso de guerra amnistiado acaba com uma jura de amor a Jonas Savimbi que “lutou e morreu” por valores como “a democracia, o emprego com bom salário e a boa habitação”. 

Savimbi, à sua esposa Ana Isabel Paulino proporcionou uma boa habitação: O covil de um jimbo! Abílio Camalata Numa ajudou a enterrá-la viva. Aos seus seguidores garantiu emprego de matadores do Povo Angolano (com fogueiras da Jamba, a tiro ou à bomba) e salário de diamantes de sangue. Esse bicho é boi, é boi matador. Mandem prender esse boi, seja esse boi o que for!

Liberdade de imprensa é isto? Liberdade de expressão é insultar, mentir e falsificar? Não. Mil vezes não. E não atirem com as culpas para as redes sociais. Os crimes por abuso de liberdade de imprensa são, antes de tudo, crimes contra o Jornalismo e os jornalistas. A censura é imposta nos Media, em primeiríssimo lugar pelos jornalistas. O patrão manda, assalariado cumpre ou fica sem trabalho. Os Conselhos de Redacção morreram. Os sindicatos são correias de transmissão de podres ilegítimos. Os delegados sindicais despareceram das empresas jornalísticas ou são meros serventes dos patrões. Não se desculpem com as redes sociais. A culpa é mesmo nossa.

Jornais que ninguém lê porque não têm jornalistas (alguns nem sequer são simpatizantes) e são mal feitos ganham o estatuto de “jornal de referência”. Não culpem o audiovisual pela perda de leitores, a culpa é só nossa.

Essa coisa sinistra chamada Repórteres sem Fronteiras diz no seu relatório que a TV Zimbo e a TV Palanca são agora controlados pelo Estado. Brincadeira de mau gosto. O Grupo Medianova, proprietário da Rádio Mais, TV Zimbo, jornal O País e da fábrica gráfica Damer foi nacionalizado porque o dinheiro acabou. Sem a intervenção do Estado fechava tudo. Queriam toda a gente no desemprego? O jornal é mesmo muito mal feito. Não mais do que outros no panorama nacional. Quem sabe qualquer coisa desta profissão, encontra erros graves de redacção edição e paginação da primeira à última página.

A linguagem jornalística e sua gramática nasceram com a Rádio (transmissão de voz) há cem anos. Estamos na segunda década do século XXI e os jornais angolanos ainda usam a linguagem escrita comum e a gramática da Língua Portuguesa. Não culpem o governo deste acto inaceitável de censura ao progresso e à modernidade. Os erros de edição em todas as páginas de todos os jornais impressos demonstram um confrangedor desconhecimento das regras básicas da profissão. Não culpem o governo da nossa ignorância. 

Os edifícios gráficos dos jornais impressos são diariamente sabotados, Levam tremendas marretadas. Daí resulta uma deficiente organização do espaço. Não culpem disso o MPLA e o Executivo. Peguem nas cópias de hoje dos jornais impressos. Há erros de paginação graves. Temos blocos de abertura no espaço periférico da página. Temos notícias a uma coluna no lugar da peça que devia abrir a página. Em todas as edições apenas encontramos vestígios das técnicas de ancoragem. Títulos errados. Informação mal hierarquizada. 

A paginação vira costas ao leitor. Não o leva, de mão dada, a ler o mais importante, em primeiro lugar, no melhor ângulo de visão da página. Pelo contrário, cria ruído, levanta obstáculos e desliga os consumidores da informação. Vão todos para os pequenos anúncios e a necrologia. Os jornais que não têm estas secções, só servem mesmo para embrulhar peixe seco e jinguba torrada. Estamos a fazer jornais que são trouxas de roupa muito suja. Que sofrimento!

O MPLA e o Presidente da República felicitaram os Jornalistas Angolanos por ocasião do Dia Mundial da Liberdade de Imprensa. Fizeram bem. Porque Angola ainda tem Jornalistas. Algumas e alguns são do melhor que existe no mundo. Merecem as felicitações. Imaginem a angústia destas e destes profissionais quando verificam que o seu trabalho nada vale. É afogado em mensagens informativas cheias de gorduras e até fezes, porque acabaram com o “copy-desk”. 

Não culpem disto o MPLA e o Executivo. A culpa é nossa. Exclusivamente nossa. Porque exercer o Jornalismo numa lógica de contra poder é muito duro. O rigor é a marca distintiva do Jornalismo. Na profissão imperam os que odeiam o rigor. Coragem camaradas. Até já há quem escreva outrossim e por outro lado nos nossos jornais! A culpa é nossa, não culpem as redes sociais. O audiovisual. Os governos e os partidos políticos. Por outro lado é mais sodomia. Outrossim no Jornalismo é crime que devia dar prisão perpétua. Mas nada está perdido. A luta continua e a vitória, se tudo correr bem, é certa!

* Jornalista

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