quinta-feira, 22 de junho de 2023

Angola | OS MÁRTIRES DA TABUADA E DO ESQUECIMENTO – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

O mensageiro tem más notícias para os falsários. O senhor Pai Querido, apreciado autor da falência da Sonangol, deu informações erradas a um tribunal dos piratas holandeses e o juiz de turno diz na sua sentença que “José Eduardo dos Santos esteve no poder quase 40 anos”. Logo, era um ditador. Sou obrigado a ensinar a tabuada ao acomodado gestor da petrolífera falida. 

José Eduardo dos Santos ascendeu ao cargo de Presidente da República em 1979. Angola estava em guerra contra o regime racista de Pretória e seus ajudantes da UNITA. O único poder que tinha era liderar a luta do Povo Angolano pela soberania nacional e a integridade territorial. Governar era impossível. Todos os esforços, todos os recursos eram canalizados para a defesa da soberania nacional e integridade territorial. 

A guerra baixou de intensidade com os Acordos de Nova Iorque. Mas tornou-se muito mais destrutiva e generalizada. Antes estava localizada no Sul e Sudeste de Angola. Fora do teatro de operações existiam acções de sabotagem contra alvos económicos para “secar” o financiamento das actividades militares. Com o Acordo der Bicesse, os criminosos de guerra da UNITA levaram a guerra a todas as províncias e sobretudo às grandes cidades. 

Luanda, em plena campanha eleitoral, ano de 1992, foi transformada num campo de extermínio, numa imensa sala de torturas, por Savimbi, Uambu, Chivukuvuku, Gato, Salupeto, Ben Ben, Mango e outros criminosos de guerra. As GMC da BRINDE, carregadas com assassinos fortemente armados, matavam civis indefesos. Cercavam o Bairro do Miramar quando lhes apetecia. Disparavam sobre os guardas das embaixadas. Raptavam e torturavam.

Acabado o acto eleitoral, apurada a derrota da UNITA, a guerra voltou a alta intensidade. Em poucos dias, as tropas de Jonas Savimbi ocuparam quase todas as províncias. Só ficaram de fora uma parte de Benguela, uma pequena parte do Cuanza Sul, uma parte de Luanda (com a capital) e Cabinda. A guerra durou até Fevereiro de 2002. Meninas e meninos vamos à tabuada. José Eduardo dos Santos chegou à Presidência da República em 1979. Agora apurem quantos anos são até 2002. Isso mesmo. Fabuloso, conseguiram. Pai Querido, és o maior! São 23 anos. Agora vamos contar quantos anos são de 2002 a 2017. Magnífico, Pai Querido, PCA falido. São 15 anos.

Pai Querido, o Presidente José Eduardo dos Santos governou Angola durante 15 anos. Só esteve no Poder 15 anos. E apenas um mandado completo desde que a Constituição da República entrou em vigor. O MPLA está no poder até hoje. Mas são apenas mais seis anos.

O Papa Francisco é hoje o único líder mundial digno desse nome. Fez comentários sobre a Justiça no ocidente alargado que nunca ninguém ousou fazer. Disse mais ou menos isto: Hoje fazem processos judiciais com milhares de páginas contra pessoas incómodas. Vamos ver e não existe lá uma única prova das acusações. Mesmo assim, condenam! Vejam o que fizeram a Dilma Russeff, uma mulher honestíssima. Vejam o que fizeram a Lula da Siva um político humanista.

Enquanto está a bater a maka da gasolina, da perseguição a milhões de angolanas e angolanos da zunga, um juiz pirata holandês desenterrou o “processo de milhares de páginas” contra Isabel dos Santos e já esta “condenada” por ter supostamente desviado 52 milhões de euros da Sonangol, falida pelo Pai Querido. Ao mesmo tempo mandam dez cartões de combustível para o Lucala e 100 para o Cunene. João Lourenço é para nós mais do que mãe! O Bicudo Vilar veio rapidamente dizer que está a tratar da privatização da Sonangol. Também vai de Carrinho! Pelos vistos, o BFA também. 

A memória é muito importante. Lembram-se da maka da EFACEC? Pita Grós mandou arrestar a empresa portuguesa porque foi comprada por Isabel dos Santos com dinheiro roubado dos cofres do Estado Angolano. A turma da Francisca manobrou e o arresto foi consumado. Acontece que a empresária comprou a empresa com empréstimos de três bancos portugueses. Quando se viu espoliada, informou os emprestadores que já não pagava os empréstimos. Afinal o dinheiro não tinha saído dos cofres de Angola. 

O Governo Português foi obrigado a nacionalizar a empresa, que de altamente lucrativa passou a falida tipo Sonangol. Um compasso de espera e agora foi “vendida” a um fundo financeiro alemão. Coincidência das coincidências. Os alemães também ficaram com a barragem de Caculo Cabaça. Conclusão: Um negócio que era de uma empresária angolana e dava riqueza a Angola, agora é dos alemães e os lucros vão todos para a Alemanha. Imaginem quantos milhões alguém arrecadou em comichões e outras marimbondices. 

Ponto final na “Operação Viriato”. A Solange e o Satula puseram o Presidente José Eduardo a dizer mal dele: Sou um farrapo, fraco, imaturo, ignorante, mau pai, mau governante. O juiz pirata holandês remata com chave de ouro: É um ditador. A Universidade Católica descobriu que Viriato da Cruz, maoista e ateu, merecia uma homenagem em grande. Gastou milhões numa conferência e numa gala. Dino Matross estava lá. Francisco Queiroz tratou das ossadas.

O homem publicou seis poemas, mais o Sá da Bandeira Pratinho de Porcelana que eu descobri num jornal angolano dos anos 40. O material foi criado entre 1947 e 1950. Daí para cá, zero. Morreu em 1973 e sua esposa nunca publicou um só poema dele. Sua filha, até hoje, não publicou nada que esteja na gaveta. Logo, é um poeta sem obra. Parte do que se conhece é bom porque foi embrulhado em música.

Viriato da Cruz politicamente foi isto: Rasgou o Manifesto do MPLA que ajudou a construir. Aderiu ao maoismo e exigiu que todos do MPLA fossem maoistas. Era ateu e defendia que o reverendo Domingos da Silva não podia ser dirigente do MPLA. O padre Joaquim Pinto de Andrade está longe, não conta. Quando triunfarmos vamos julgar os vis traidores. Desertou do MPLA quando mais falta fazia. Traiu os camaradas quando mais precisavam dele. Fez tudo para que o governo de Pequim fechasse as portas ao movimento e apoiasse a UNITA.

Amanhã começa no Porto uma “conferência internacional” sobre o político e o poeta sem obra digna desse nome. Para pensarmos assim: Agostinho Neto? Não valia nada. Bom, mesmo muito bom é este senhor Viriato, o maoista, o sectário, o ambicioso, o traidor, o desertor. Esqueçam Agostinho Neto. A organização anuncia a presença de pessoas que eu muito prezo e admiro. Se estiverem presentes participam voluntariamente numa manobra de matumbos contra Agostinho Neto. Financiada pelos que alimentam o lóbi da UNITA em Portugal.

*Jornalista

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