sexta-feira, 30 de junho de 2023

Noite de "rara violência". 667 detidos em protestos após morte de jovem pela polícia

FRANÇA

Só na região de Paris foram feitas pelo menos 242 detenções, tendo a maioria dos detidos idades entre os 14 e os 18 anos. 249 elementos das forças de segurança ficaram feridos na terceira noite consecutiva de distúrbios.

Foram detidas 667 pessoas em França na terceira noite consecutiva de protestos realizados na sequência da morte de um jovem de 17 anos pela polícia, segundo dados do Ministério do Interior francês. 249 elementos das forças de segurança ficaram feridos.

O presidente francês, Emmanuel Macron, convocou para hoje uma nova reunião de crise. O chefe de Estado deverá encurtar a sua presença em Bruxelas, onde se encontra a participar numa cimeira europeia, para regressar a Paris.

"Ontem à noite, os nossos agentes da polícia, gendarmes e bombeiros enfrentaram novamente com coragem uma [noite de] rara violência. Seguindo as minhas instruções firmes, eles fizeram 667 detenções", escreveu o ministro do Interior, Gerald Darmanin, na rede social Twitter.

Pelo menos 242 detenções aconteceram na região de Paris, tendo a maioria dos detidos idades entre os 14 e os 18 anos.

A polícia recebeu "instruções sistemáticas de intervenção", escreveu o ministro, numa mensagem na rede social Twitter, na qual manifestou apoio às forças de segurança francesas "que estão a fazer um trabalho corajoso".

Por volta das 03:00 (02:00 em Lisboa), a situação em Nanterre, nos arredores de Paris, continuava tensa, pela terceira noite consecutiva, indicou o canal de notícias BFMTV, assinalando que polícia e bombeiros continuavam no terreno.

Primeira-ministra considera protestos "insuportáveis e indesculpáveis"

A primeira-ministra francesa Elisabeth Borne considerou que os protestos são "insuportáveis e indesculpáveis".

"Os atos cometidos são insuportáveis e indesculpáveis", considerou a líder francesa que estava rodeado pelos ministros do Interior, Justiça, Transição Ecológica e Territórios e Habitação e Cidades.

A reunião do governo decorreu em Matignon e teve como objetivo fazer um balanço da violência da noite anterior.

Milhares de pessoas protestaram, na quinta-feira, em Nanterre, contra a morte do jovem de 17 anos Nahel, no mesmo dia em que o Governo francês anunciou o envio de 40 mil polícias para conter a violência no país.

A morte do jovem Nahel de 17 anos, num controlo de trânsito na terça-feira, captado pelas câmaras de vigilância, fez regressar a tensão entre jovens e a polícia nos bairros sociais em Nanterre, arredores de Paris, e noutros bairros desfavorecidos da capital francesa.

Os confrontos contra as forças de segurança surgiram logo na noite de terça-feira em Nanterre e, na madrugada de quinta-feira, foram danificados edifícios públicos e queimados carros, tendo sido detidas cerca de 150 pessoas.

O agente da polícia suspeito da morte do jovem, acusado de homicídio, foi detido e vai ficar em prisão preventiva.

O advogado anunciou que vai recorrer da decisão de detenção do agente de polícia.

Advogado diz que polícia que matou jovem em França pediu "perdão à família"

O polícia que matou um jovem nos subúrbios de Paris, em França, durante uma operação de trânsito na terça-feira, pediu desculpas à família, declarou na quinta-feira à imprensa o seu advogado.

"As primeiras palavras que disse foram para pedir desculpas e as últimas palavras que disse foram para pedir desculpas à família", afirmou o advogado Laurent-Franck Liénard, ao canal de televisão francês BFMTV.

"O meu cliente ficou extremamente chocado com a violência deste vídeo (...) que viu pela primeira vez enquanto estava detido", disse o advogado, referindo-se às imagens que mostram o seu cliente a disparar o tiro que causou o morte do jovem Nahel, de 17 anos, que se recusou obedecer à ordem de paragem da polícia.

"Ele está arrasado, não se levanta de manhã para matar pessoas. Ele não queria matar", acrescentou o advogado.

Um vídeo da morte do jovem registado por uma testemunha mostra o agente, de 38 anos, a apontar a arma para o jovem junto à janela do motorista enquanto outro agente falava com ele do mesmo lado, tendo sido ambos detidos.

A Justiça abriu duas investigações, uma por homicídio voluntário, outra devido à fuga da vítima, decisão que provocou a indignação da família do jovem.

Esta morte gerou uma reação política, especialmente de alguns dirigentes de esquerda, que denunciaram o grande número de mortes às mãos de elementos policiais, que contam com a legítima defesa, principalmente quando o condutor foge a um posto de controlo.

A estrela da seleção francesa Kylian Mbappé também reagiu, escrevendo numa mensagem, na sua conta no Twitter: "A França magoa-me. Uma situação inaceitável. Estou com a família e parentes de Naël, esse anjinho que se foi cedo demais".

Polícia deteve 64 pessoas por confrontos em Bruxelas

Também em Bruxelas ocorreram distúrbios, com a polícia a deter, durante esta madrugada, 64 pessoas, na maioria menores de idade.

Das 64 pessoas detidas, 48 têm menos de 18 anos e os restantes são adultos, indicou esta sexta-feira a polícia da capital belga em declarações ao jornal diário Le Soir, acrescentando que foram tomadas "medidas imediatas para repor a ordem" em Bruxelas.

Durante o dia de quinta-feira, após duas noites de distúrbios em França, foram convocadas pelas redes sociais concentrações e protestos em Bruxelas, invocando a morte do jovem de 17 anos.

Estas concentrações acabaram em distúrbios, incêndios e desvios de transportes públicos em vários bairros de Bruxelas.

Diário de Notícias | Lusa | Imagem: © Alain JOCARD / AFP

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