segunda-feira, 7 de agosto de 2023

Um primeiro balanço da JMJ: todos amam o Papa Francisco - excepto os atuais políticos

Sobre este Curto do Expresso o que se nos oferece dizer sem quase nada acrescentar para além daquilo que o Papa declarou nas suas imensas palavras profundas a mais de milhão e meio de seres supostamente humanos é que muito do que disse assenta que nem uma carapuça nos atuais políticos (salvo alguns raros) de Portugal, da UE, dos EUA e etc. Nesse aspeto o mal é terrivelmente global-ganancioso, desonesto e desumano... António Costa, por exemplo, foi profícuo no patati-patatá a transbordar de hipocrisia e fingimentos mas muito outros foram macacos de imitação nesse aspecto. Por palavras ínvias o Papa disse: "Não tenhais medo, revoltem-se contra as injustiças das elites políticas em conluio com as elites económico-financeiras sobre os povos!... De que estão à espera, povos jovens e plebeus de mais idade? Revoltem-se e protestem pacificamente!! 

O Curto do Expresso já a seguir, sem mais "pachorras".

-- Redação PG

João Pedro Barros, editor online | Expresso (curto)

Bom dia,

Depois da avalanche mediática dos últimos dias – que alguns podem apelidar de exagerada, mas como olhar para imagens como a de cima, da vigília da madrugada de ontem, sem pensar na JMJ como algo de extraordinário? –, o rescaldo vai obrigatoriamente ser feito nos próximos dias. Há duas perguntas inevitáveis: quem ganhou mais “capital” com este evento? E o que fica para o futuro?

Como acompanhei a Jornada Mundial da Juventude à distância, falei com vários jornalistas que estiveram no terreno para responder a estas questões. E o que me disseram, naturalmente, reflete o que temos escrito nos últimos dias, nos nossos diretos e nas várias reportagens e notícias publicadas. A primeira nota é que, a todos os títulos, o evento foi um sucesso, ainda que tenham sido sentidas mais dificuldades no Parque Tejo (especialmente para lá do Trancão, do lado de Loures, como nota a camarada Eunice Lourenço) do que no Parque Eduardo VII. Só que quando o próprio Papa diz que esta foi a jornada “mais bem preparada” de sempre não há muito mais a acrescentar.

A Igreja portuguesa, muito fragilizada pelos casos de abuso sexual que vieram à tona nos últimos tempos, teve nesta Jornada um grande triunfo – engrandecido ainda pelo facto de o Papa, já no avião a caminho de Roma, ter elogiado a forma como o tema tem sido tratado por cá. O rosto mais visível deste sucesso é D. Américo Aguiar: o futuro cardeal já reforçou ontem, em entrevista, que está disponível para servir a Igreja onde pedirem a sua presença – não se sabe é se será em Portugal ou no Vaticano. Os números de participação são impressionantes e houve horas e horas de comentário teológico televisivo e de jovens a mostrar uma fé viva e praticada – algo que não deixa de contrariar estudos recentes que mostram o crescimento do ateísmo e um decréscimo da prática religiosa. Pergunta de mil milhões de euros: reproduzindo a metáfora da onda utilizada por Francisco no encontro com os voluntários, a Igreja vai ser capaz de surfar a vaga e reconquistar fiéis e relevo na sociedade?

Carlos Moedas – que herdou o evento das mãos de Fernando Medina – é outro grande vencedor e, aliás, pareceu sempre muito preocupado em estar na crista da onda. O exemplo mais claro foi na visita à zona pobre da Serafina, em que fez questão de falar à imprensa para frisar que tinha sido o Papa a pedir-lhe para ver a obra de habitação do seu executivo, quando pouco ou nada do que existe (de mau ou de bom) nos bairros da Serafina e Liberdade teve o seu dedo. O tour de force do presidente da Câmara de Lisboa continuou ontem à noite, com uma entrevista à TVI: “Tinha de mostrar aos lisboetas e ao país que era capaz de fazê-lo e bem. E começando do zero, não havia nada feito”. Se não é o início de uma rampa para outros voos, pelo menos Moedas não perdeu a oportunidade de lançar a primeira pedra.

O Governo, especialmente pelo facto de as questões da mobilidade terem sido pacíficas – muito pela paciência demonstrada pelos peregrinos, garantiram-me do terreno –, também sai na mó de cima (e até Costa, que tem estado discreto, diz que os portugueses têm motivos para estar “satisfeitos e orgulhosos”). Em termos de segurança – presente, mas não ostensiva – também nada de negativo veio a público. Marcelo, em boa verdade o primeiro político a mostrar entusiasmo com a realização do evento, já se apressou a dizer que o investimento económico “está pago”.

Lisboa e Loures ganham um parque unido à beira Tejo (bem retratado nesta fotogaleria de ontem), restando agora saber-se que uso vai ter de facto o polémico altar-palco (quem ainda se recorda desta polémica?). E a recuperação deste espaço público não pode deixar de ser vista com bons olhos, especialmente para quem tem a memória – como o nosso cronista Henrique Raposo – de um território absolutamente deprimente, que começou a ser requalificado com a Expo’98. Por falar nisso, a opção pela realização da jornada em Lisboa nunca esteve na ordem do dia, mas a cada grande evento realizado na capital acumulam-se infraestruturas e conhecimento e cada vez fica mais longe a ideia de descentralização/desconcentração (risque o que menos lhe interessar).

A imprensa internacional esteve em Lisboa, mas não houve propriamente grandes manchetes a sair da JMJ – talvez o facto mais noticiado tenha sido o encontro do Papa com as vítimas de abusos, algo que já tinha acontecido noutras latitudes. E os discursos do Santo Padre também não trouxeram novidade – as ideias-base, muito repetidas, foram a necessidade de inclusão, de amor ao próximo e de os jovens não desistirem e não terem medo de pôr mãos à obra para construir um mundo melhor. É muito difícil não ser contagiado pela simplicidade do discurso de Francisco, que, não primando pela profundidade teológica, consegue sempre trazer consigo belas parábolas e uma presença vibrante.

Havia quem esperasse que falasse mais da Ucrânia – mencionada na missa de ontem – ou que que fosse conhecer mais de perto as dificuldades dos habitantes da Serafina, mas era difícil pedir mais a um homem com o peso de 86 anos e algumas complicações de saúde. “Os jovens não têm muito tempo de atenção” e a homilia precisa de ser “breve, clara, com uma mensagem clara e afetuosa”, explicou ontem no avião. A marca de Francisco na Igreja será avaliada pelo tempo, mas nesta visita a Portugal foi cristalina – e todos os intervenientes, nomeadamente políticos, tiraram partido dela. Estará Francisco presente em Seul, daqui a quatro anos?

OUTRAS NOTÍCIAS

Incêndios – O aumento das temperaturas, que trouxe o fim das noites frescas, parece estar a ter consequências. Ontem foram cortadas três autoestradas: a A5 (fogo em Monsanto), a A8 (fogo em Loures) e a A42 (fogo em Paredes). Há incêndios ativos em OurémOdemira e Mangualde, com cerca de 1000 bombeiros no terreno, e a terra também ardeu em Castelo Branco. Lisboa, Setúbal, Évora, Santarém, Castelo Branco e Portalegre estão hoje sob aviso vermelho do IPMA. O Governo pondera declarar situação de alerta.

Centro Hospitalar de Leiria – Médicos obstetras apresentam escusa de responsabilidade, devido a um "aumento muito significativo de afluência" e do número de partos desde junho.

Madeira – Ciberataque força suspensão de atividade clínica não urgente no Serviço de Saúde da região, durante o dia de hoje.

The Clinic of Change – Publicidade de clínica de cetamina que promete “tratamentos de curta duração com efeitos para a vida” está a ser avaliada pela Entidade Reguladora da Saúde.

Paquistão – Descarrilamento de um comboio provoca pelo menos 30 mortos.

Arsenal começa a ganhar – A temporada de futebol em Inglaterra arrancou ontem com a vitória do Arsenal, no desempate por grandes penalidades, sobre o Manchester City, na Supertaça. Fábio Vieira marcou o penálti decisivo.

Mundiais de ciclismo – Em sangue, a sofrer e depois de cair, Van der Poel sagrou-se campeão mundial de estrada.

Guns N’ Roses com novo single? – Lançamento pode ocorrer já esta sexta-feira.

FRASES

Acompanhemos com o pensamento e a oração aqueles que não puderam vir por causa de conflitos e de guerras. E são tantos por esse mundo fora. Pensando neste continente, sinto grande tristeza pela querida Ucrânia, que continua a sofrer muito.
Papa Francisco, na missa de envio da JMJ, ontem

Não demonstrava em campo que merecia estar no 11 e comecei a conformar-me com isso. (...) A minha resiliência foi zero, rigorosamente zero.
Diogo Amado, jogador da União de Leiria, em mais um “Casa às costas”, da Tribuna. O médio falava do período em que esteve no Sheffield Wednesday e, como tantas vezes nestas entrevistas, contrariam-se os lugares comuns: nem sempre os futebolistas, como qualquer profissional, dão “tudo em campo”

Se a inteligência artificial é o futuro da música, vamos precisar de drogas melhores para conseguir aguentar.
Damon Albarn, vocalista dos Blur, em entrevista ao “The Sun”, citada pela Blitz

Daqui a cinco anos, estaremos a falar deste cartaz como um dos melhores de sempre do festival.
João Carvalho, diretor do Vodafone Paredes de Coura, a apresentar a Blitz a edição deste ano do festival, que arranca para a semana

PODCASTS A NÃO PERDER

As sugestões da equipa multimédia do Expresso:

Milan Kundera, o escritor que nunca foi Nobel, morreu aos 94 anos em Paris. Recorde com Pedro Mexia e Inês Meneses, neste episódio de PBX, o escritor checo que marcou gerações, autor do livro “A Insustentável Leveza de Ser”

Quando é que as prestações dos créditos bancários irão baixar? O Economia dia a dia dá-lhe respostas simples e resumidas sobre a subida dos juros do BCE, responsável pela subida das prestações dos créditos à habitação. E deixa, também, algumas dicas para pedir um novo empréstimo.

2009 foi o ano em que a Pop ficou sem Rei (mas não sem rock). Houve a crise do subprime, a recessão, Sócrates na maioria das manchetes do Expresso, mas este episódio de Liberdade Para Pensar, dedicado aos fãs de música, decidiu focar-se no impacto que teve a inesperada morte de Michael Jackson.

O QUE EU ANDO A LER

As guerras – e, em boa verdade, a esmagadora maioria dos eventos que moldaram o nosso mundo – têm sido contadas e têm como protagonistas homens. “As Enviadas Especiais” (de Judith Mackrell, tradução de Isabel Pedrome, Casa das Letras, 2023) dá-nos o relato de seis jornalistas que estiveram na linha da frente na Segunda Guerra Mundial. Entre elas conta-se Clare Hollingworth, autora do “furo do século”, ao noticiar em primeira mão o início da guerra na fronteira da Alemanha com a Polónia, em 1939.

“Embora fosse praticamente uma principiante na altura em que conseguiu um contrato para trabalhos avulsos com o ‘Daily Telegraph’ (...), quando foi enviada para Katowice, no Sudoeste da Polónia, a primeira coisa que decidiu fazer foi pedir um carro ao consulado britânico para seguir para a Alemanha em busca de movimentos de tropas. Foi no dia 29 de agosto de 1939 e tratou-se de uma completa loucura”, descreve Mackrell, escritora e crítica de dança do ‘The Guardian’. O vislumbre de várias divisões em formação de batalha valer-lhe-ia honras de primeira página no ‘Telegraph’, a 1 de setembro, dia em que acordou ao som das antiaéreas e dos aviões de combate alemães, já em plena ofensiva. Tratava-se da segunda manchete em quatro dias, nada mau para uma principiante.

As demais histórias nesta biografia não ficam atrás. Outras duas protagonistas são Lee Miller, uma modelo da ‘Vogue’ que se tornou correspondente de guerra, e Helen Kirkpatrick, a primeira repórter a conseguir os mesmos direitos que os homens numa zona de combate controlada pelos Aliados.

O livro, que segue a ordem cronológica da guerra, está recheado de contexto e de peripécias da vida destas seis jornalistas, cujas histórias valem por si, independentemente do sexo – mas em que é impossível ignorar o impacto do facto de serem mulheres e de fugirem às convenções da época. Está a ser bom perceber que ainda é possível uma visão fresca de uma das histórias mais contadas de sempre, a da terrível Segunda Guerra Mundial. Que nunca se repita.

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