Sismo em Marrocos causou 2.946 mortos e 5.674 feridos
Embaixador de Marrocos em Lisboa explica porque é que o país não decidiu aceitar as ajudas oferecidas por muitos países depois do sismo que fez quase três mil mortos.
O embaixador de Marrocos em Lisboa prevê que as ajudas oferecidas por Portugal e outros países "amigos" após o sismo da semana passada será necessária a médio prazo, não sendo logo aceites para evitar descoordenação, e rejeitou atrasos nas operações de salvamento.
"Horas depois do acontecimento (a 8 de setembro), Marrocos preferiu intervir rapidamente com as suas forças, com os seus meios pessoais, mas também para fazer uma avaliação exata do que queríamos e do tipo de ajuda de que necessitávamos", afirmou Othmane Bahnini, numa entrevista à agência Lusa.
Para o diplomata marroquino, que frisou que nenhum país está preparado para enfrentar, no imediato, um sismo da magnitude do que assolou Marrocos (entre 6,8 e 7 na escala de Richter), a "recusa" da ajuda disponibilizada por muitos países - Rabat só aceitou, no início, o apoio de Espanha, Reino Unido, Emirados Árabes Unidos e Qatar - deveu-se à necessidade de saber quais as prioridades e evitar a falta de coordenação.
"Isto não quer dizer que sejamos seletivos, mas é também para evitar uma espécie de problema logístico a nível do país e, às vezes, não podemos abrir as fronteiras e ter uma multidão de pessoas no país e encontrarmo-nos em situações que têm de ser geridas logisticamente, dos pontos de vista da gestão e da intervenção internacional", explicou Bahnini, que se encontrava acompanhado da mulher em Marraquexe no dia do sismo.
"O mais importante é salvar vidas e intervir rapidamente no terreno. Assim, tivemos de gerir de forma progressiva a situação das necessidades da catástrofe, que é grande", acrescentou o diplomata marroquino, que agradeceu a disponibilidade do governo português, cuja ajuda será necessária no médio/longo prazos, tal como a de outros países "amigos".
Segundo Bahnini, o tempo de reconstrução permitirá que todos os "amigos e países irmãos" deem apoio, porque este vai ser dado a longo prazo, não a curto prazo, "e é aí que se exprimem as verdadeiras relações de amizade".
"Penso que há lugar para todos aqueles que manifestaram boa vontade. Marrocos não fechou as portas a nenhum país. Queria, primeiro, tentar reagir com ponderação e clareza", explicou.
O terramoto, que ocorreu na noite de 8 para 9 de setembro na província de Al-Haouz, a sul de Marraquexe, fez 2.946 mortos e 5.674 feridos, segundo os números oficiais publicados mais recentemente.
A prioridade, frisou Bahnini, é tratar dos feridos e da reconstrução habitacional, tal como ficou definido nas várias reuniões do rei Mohamed VI com o Governo e com as entidades que estão a lidar com a questão, sobretudo com o apoio à população mais afetada, a que ficou sem casa.
"O projeto da reconstrução das zonas tem objetivos muito claros. Estamos a falar de mais de 50.000 casas, estamos a falar de ajuda financeira para as pessoas que perderam tudo. Concentrámos a primeira semana em tentar salvar vidas, em tentar dar algum alívio àqueles que ainda estão vivos, em tentar mobilizar forças a nível hospitalar, etc., para responder às primeiras necessidades", sustentou Bahnini.
No plano delineado com a ajuda de Mohamed VI, prosseguiu, tem de se ter em conta também as "especificidades locais", os "hábitos da cultura", e, acima de tudo os muitos órfãos deixados pela catástrofe.
"Há também o impulso de solidariedade, que vai continuar, porque há um sentimento que tem sido precisamente o de atender a todos e cuidar de órfãos. Sua Majestade (Mohamed VI) está atenta a esses órfãos e este é um gesto simbólico muito forte", acrescentou.
O tremor de terra, cujo epicentro
se registou na localidade de Ighil,
Este sismo é o mais mortífero em Marrocos desde aquele que destruiu Agadir, na costa oeste do país, em 29 de fevereiro de 1960, causando entre 12.000 e 15.000 mortos, um terço da população da cidade.
TSF | Lusa | Imagem: © Fadel Senna/AFP
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