domingo, 24 de setembro de 2023

Angola | O Barrete e a Visita do Falcão -- Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

O falcão belicista que manda no Pentágono, general Lloyd Austin, está a caminho de Angola. Não tenho a agenda do visitante mas é bem possível que venha condecorar o Campeão da Paz em África e demarcar o espaço onde vai nascer uma base militar do estado terrorista mais perigoso do mundo. Os gringos são mesmo matumbos. Gastaram triliões de dólares com os racistas de Pretória, com Mobutu, a FNL e a UNITA quando afinal era tão simples. Bastava esperarem pela eleição do Presidente João Lourenço. 

A troco da exportação de fuba, catatos e tortulhos para os EUA, os gringos têm Angola a seus pés. Até uma diplomata, falando português macarrónico, tem tempo de antena na TPA para promover a USAID (financiadora do terrorismo) e mostrar os produtos exportados por Angola sem taxas aduaneiras. Muita comidinha! Vem aí uma onde gigante de dinheiro. Aqueles 20 mil milhões de dólares destinados à Ucrânia e que estão encalhados no Congresso vão ser desviados para Angola. Chuva de kumbu! Quem quer bons amigos arranja-os.

Por falar em Ucrânia, as chusmas de doutores que nas televisões de todo o mundo falam da guerra fingem desconhecer factos importantíssimos. Primeiro: A guerra começou com um golpe de estado inconstitucional em 2014 que instalou no poder o actual regime. Segundo: Desde essa altura, forças nazis, como os “Bandera”, “Sector Direita” e “Batalhão Azov” iniciaram no Donbass uma limpeza étnica. Morte aos russos! Relatórios da ONU referem mesmo um genocídio. Basta ler esses documentos. 

Zelensky prometeu, durante a campanha eleitoral, fazer a paz no leste da Ucrânia. Mas não disse que para isso ia levar a guerra aos quatro cantos do país. Não disse que ia transformar as hordas nazis em forças armadas regulares e policiais! Não disse que ia acabar com os russos e os falantes de russo. Mal se apanhou no poder declarou que ia pedir a adesão à OTAN (NATO) e à União Europeia. Face ao agravar da situação, Moscovo decidiu lançar uma “operação especial” para desarmar e desnazificar o país. 

No que diz respeito ao desarmar, a Ucrânia té hoje perdeu 475 aviões e 249 helicópteros, 6.945 veículos aéreos não tripulados (drones), 438 sistemas de mísseis de defesa aérea, 12.009 tanques e outros veículos blindados de combate, 1.152 veículos de combate equipados com MLRS, 6.462 canhões e morteiros de artilharia de campanha, 13.262 unidades de equipamento militar especial. As baixas (mortos e feridos) podem chegar ao meio milhão! O chefe da OTAN já vai dizendo que a Ucrânia fica à porta. A nazi Úrsula von der Leyen disse aos deputados europeus que ninguém entra no cartel se não preencher todas as condições. Um país onde os nazis estão no poder e a corrupção é lei, não pode fazer parte do antro.

Depende. A OTAN (ou NATO) nasceu como uma aliança militar para defender o Atlântico Norte e já domina o Mar Báltico! Nasceu para defender a democracia e dois estados fundadores eram nazis e fascistas: Portugal e Espanha. 

Um amigo de longa data e do peito mandou-me uma menagem onde me critica por elogiar o Presidente José Eduardo dos Santos. Tenho que me justificar. Fui o único jornalista no planeta Terra que criticou o Presidente José Eduardo dos Santos quando permitiu que fossem reprimidos jornalistas e camaradas do MPLA no caso do Quadro e a Peça de Teatro. Está escrito. Apresentei uma tese ao Congresso dos Jornalistas de Língua Portuguesa onde denunciava os atentados à liberdade de imprensa em Angola. Só não foi a votação porque a retirei e eu próprio me retirei dos trabalhos. 

Os delegados angolanos ao congresso, os meus amigos e camaradas José Luís de Matos e José Patrício ameaçaram que se a tese fosse discutida e votada se retiravam. Com eles saíam também os representantes de São Tomé e Príncipe, Moçambique, Cabo Verde e Guiné Bissau. Acácio Barradas e Eugénio Alves disseram-me que se não retirasse a moção o congresso acabava. Retirei e retirei-me. Mas a organização, no livro das moções incluiu a minha. Consultem. Está lá na íntegra. Augusto de Carvalho convidou-me a escrever um texto de opinião no Expresso sobre o tema. Escrevi e está publicado. Título: “O Socialismo de Sanzala”. Leiam as críticas que fiz ao Presidente José Eduardo dos Santos.

Em 1992 colaborei activamente na campanha eleitoral do MPLA porque Manuel Pedro Pacavira me “obrigou” a regressar a Angola. Tinha cortado com tudo desde a maka do “Quadro e a Peça de Teatro”. Falei com Fernando Costa Andrade, Rui Galhanas e Rute Lara. Também com o General Rui de Matos que foi desconsiderado por José Eduardo dos Santos. Todos estavam mobilizados para a luta eleitoral ao lado do MPLA. Também lutei. Rui de Carvalho pediu-me que ficasse na Rádio Nacional a dar formação. Aceitei. 

Entre a maka do passado e os dias que estava a viver muito tinha mudado. Como repórter mostrei algumas dessas mudanças, Ajudei a limpar a poeira e o lodo do esquecimento que tinham soterrado a Guerra pela Soberania Nacional e a Integridade territorial. Contei em várias reportagens “Os Dias que Mudaram África e o Mundo”. O Presidente José Eduardo dos Santos merece todos os elogios e mais alguns porque foi o comandante vitorioso dessa guerra. Foi o líder que conseguiu a paz, desde Bicesse à ordem “nem mais um tiro” quando Savimbi foi morto em combate. Grande líder! Eterna glória ao político que conseguiu tais feitos.

Tenho a certeza de que 99,9 por cento dos angolanos, quando o Presidente José Eduardo dos Santos ordenou “nem mais um tiro” teriam dito: “Dessa mata ninguém sai vivo. Fogo nesses bandidos!” Grande homem. Grande angolano. Grande dirigente.

No início da sua ascensão à Presidência da República critiquei-o e no fim tenho uma crítica para lhe fazer. Em 2014 fui informado de que o Presidente José Eduardo dos Santos punha um ponto final na sua carreira política em 2017 e já não era candidato às eleições. Teve três anos para escolher o sucessor. Enfiou-nos o barrete João Lourenço porque quis. Foi propositado. Sabia o que estava a fazer. Por muito que se tenha sentido traído pelos seus camaradas que deixou enriquecer até ao escalão de multimilionários, nada justifica a escolha que fez ou propôs à direcção do MPLA. 

Daqui a quatro anos veremos se o barrete que nos enfiou até aos pés foi apenas um mal passageiro. Temo que o cabeça de lista do MPLA em 2027 seja igual ou pior. Não vejo força entre os 100 membros do Bureau Político para dizer basta. Não me admiro nada se forem todos em peso receber o falcão Lloyd Austin e agradecer-lhe a dádiva de podermos exportar catatos, salalé torrada (grandes petiscos!) e fuba para os EUA sem taxas aduaneiras. 

*Jornalista

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