No Curto de hoje o trato amigo é do autor, Rui Gustavo. O chamado "cuspo" é nosso, do PG. A trama à vista é dessa tal Ursula com a adicional patroa do BCE, Lagarde Magnifique. Pela parte do PG não queremos pôr mais na escrita, por agora. Deixamos o trato amigo para a prosa de Gustavo, trabalhador a expensas do veterano simpático Balsemão Bilderberg. Ilustramos com aquelas fantásticas "par de jarra" o que se segue, sem amizade. Vá ler e não se esqueçam de pensar, a sério e com seriedade. Olhem para vós! - Redação PG
Minha cara amiga
Rui Gustavo, jornalista | Expresso (curto)
Bom dia,
Antes de mais um convite: hoje às 14h00, "Junte-se à
Conversa" com João Vieira Pereira, Eunice Lourenço e David Dinis,
para falar sobre se "As novas medidas chegam para segurar os
jovens?". Inscreva-se aqui.
Cara Ursula von der Leyen,
Peço desculpa pela falta de formalismo devido a uma presidente da Comissão
Europeia, mas ouso, tal como o nosso primeiro-ministro, dirigir-lhe umas
linhas que certamente nunca lerá.
É que, Ursula, o seu discurso de hoje sobre o Estado da União Europeia agendado
para umas madrugadoras oito da manhã de Portugal é, desta vez, aguardado
com alguma expectativa pelos habitantes deste país que faz parte da União
Europeia desde janeiro de 1986.
À hora a que este Curto/carta é publicado, ainda não é claro se vai
aproveitar o discurso para responder à carta que António Costa lhe escreveu e
que, com toda a certeza, e ao contrário desta, mereceu a sua melhor atenção.
É evidente que um discurso sobre o Estado da União serve para fazer grandes
balanços e apontar soluções para o futuro para situações graves como a guerra
na Ucrânia e a adesão deste país à nossa família europeia, mas acredite que
gostaríamos mesmo de saber se aceita a proposta do nosso primeiro-ministro para
a criação de uma “iniciativa europeia de habitação acessível”, que fomente
“o alargamento do parque público e privado de habitação, alinhado com as
técnicas de construção adequadas ao momento de transição ecológica e digital
que vivemos”. Sozinho, o nosso Governo não está a ter grande sucesso. E o
“Pacote Mais Habitação” até tem a oposição declarada do mais alto magistrado da
nação, Marcelo Rebelo de Sousa.
Sim, Ursula, “a coisa aqui está preta” e, mesmo sabendo que está em
final de mandato e que ainda não decidiu se se recandidata, era bom saber
que a União podia ajudar-nos a segurar este rojão.
É que a crise da habitação é só um sinal de que a vida não está fácil neste
canto ocidental da União: hoje mesmo há greve dos médicos, dos professores
e dos funcionários judiciais. E uma marcha lenta de protesto dos motoristas da
TVDE muitas vezes obrigados a dormir nos carros para pagarem dívidas
às máfias. E milhares de crianças e jovens sem aulas porque, muitas
vezes, não há professores que consigam pagar as rendas das casas nas áreas onde
foram colocados.
E para provar que levamos a sério o seu discurso, hoje mesmo, a umas mais
saudáveis dez da manhã, um grupo de sábios reúne-se na faculdade de Economia da
Universidade de Coimbra para dissecar as suas palavras.
A todo o pessoal aí da União, adeus.
OUTRAS NOTÍCIAS
O Conselho do Banco Central Europeu reúne-se amanhã para decidir o futuro
próximo das nossas vidinhas: aumentar os juros pela décima vez consecutiva, ou aliviar o
aperto do cinto monetário que se iniciou em julho de 2022. De um lado
da barricada estão os “falcões” que brandem uma inflação de cinco por cento; e
do outro os que temem a recessão económica que já começa a dar os primeiros
sinais. Os efeitos imediatos da decisão que será anunciada amanhã em
Francoforte, na Alemanha, sentem-se, por exemplo, na prestação da casa.
Em Marrocos, um sismo matou, pelo menos, 2900 pessoas. Mas há aldeias no
Atlas, a poucos quilómetros de Marraquexe, onde “toda a gente morreu”. Os
enviados do Expresso, Marta Gonçalves e José Cedovim Pinto, foram os primeiros a
chegar a Anougal, uma aldeia reduzida a escombros com pessoas
escondidas em acampamentos improvisados. Os relatos ajudam a pôr a nossa vida
em perspetiva.
A
Teodora Cardoso, economista e primeira presidente do Conselho de Finanças
Públicas, é cremada hoje em Lisboa. Marcelo Rebelo de Sousa fez-lhe a elegia no dia em que a
especialista em Finanças morreu, mas não estará presente nas cerimónias
fúnebres.
O Presidente da República chega hoje ao Canadá, país onde vivem 450 mil pessoas
de origem portuguesa. Marcelo Rebelo de Sousa lidera uma comitiva que
integra seis deputados, um ministro (Cravinho) e um secretário de Estado (Cafôfo).
A visita decorrerá até domingo e terá, previsivelmente, o ponto alto na
sexta-feira com um encontro com o primeiro-ministro canadiano Justin
Trudeau que há pouco mais de um mês anunciou publicamente o fim do casamento de
dezoito anos com Sophie Gregoire. Veremos se Marcelo arranja tempo para falar
da relação em crise com Costa durante este périplo pela América do Norte.
A juíza que vai julgar o processo que envolve Manuel Pinho quer
que o Instituto de Medicina Legal faça uma perícia neurológica a Ricardo
Salgado, também acusado no processo. Este pedido já tinha sido
recusado por outros juízes de dois tribunais diferentes e aceite por um
terceiro, de um tribunal Cível. Mas a perícia está ainda por fazer.
Em Aveiro, começa a ser julgado um grupo acusado de uma onda de assaltos reveladora
da sua qualidade humana: os alvos eram idosos que viviam sozinhos ou casais que, pela
idade, seriam incapazes de qualquer resistência. Os 16 arguidos detidos na
operação Teia Dourada terão roubado bens e dinheiro no valor total de 650
mil euros que o MP quer reverter a favor do Estado.
Chuck Shumer, líder da maioria democrata no Senado dos Estados Unidos arbitra
hoje um encontro entre Mark “Meta - Facebook” Zuckerberg e Elon “X-Twitter”
Musk. Os dois milionários da área tecnológica têm-se picado
mutuamente com ameaças de um combate de MMA ou Jiu -Jitsu, mas neste
primeiro round em Washington está previsto que troquem apenas opiniões sobre Inteligência
Artificial. Oh.
FRASES
“Caetano Veloso reconciliou-nos com a nossa própria poesia, o nosso fado, e
ajudou-nos a redescobrir os nossos próprios heróis e heroínas”
António Costa, o melómano, no
discurso de atribuição da medalha de mérito cultural ao génio brasileiro que em
1985 cantou uma versão de “Foi Por Vontade de Deus” que reconciliou o público
português com a diva Amália
“Confrontado com a sua promessa tão solene de há oito anos, garantir nos 50
anos do 25 de Abril casas para todas as pessoas necessitadas, o
primeiro-ministro escolheu o truque, dizendo em discurso aos jovens que há 17
mil construídas ou em projeto"
Louçã e o descodificar de Costa
“O ambientalismo ainda não encontrou o seu Novo Testamento; parece que estamos
de volta ao Velho Testamento: a ideia permanente de castigo apocalítico, a
ideia de culpa civilizacional (os filhos e netos marcados pelos pecados dos
pais e avós)”
Henrique Raposo e o Antropoceno
“Não aceito a punição”
Simona Halep, tenista romena
vencedora de dois títulos do Grand Slam e ex-número mundial depois de ter sido
condenada a quatro anos de suspensão por uso de Roxadustat, uma substância
dopante. A jogadora vai recorrer da sentença que, na prática, põe um fim à sua
carreira.
“Oito é um número melhor”
Serena Williams, que foi impedida de ganhar um oitavo titulo em Wimbledon por
Simona Halep
O que eu ando a ler
“Berta Isla”
Javier Marias
Alfaguara
É o penúltimo livro do romancista espanhol e o primeiro que leio dele. Conta a
história da mulher que dá o título à obra e que se vê isolada na ilha – isla,
em castelhano – em que o relação e o casamento com o namorado de adolescência
se transformam, ao ponto de não mais o reconhecer. Berta não sabe, mas vai
descobrir que o marido, Tom (protagonista do último livro de Marias, Tomas
Nevinson) é um espião em missão quase permanente que a vai sujeitando a esperas
cada vez mais longas e que a fazem duvidar se ainda estará vivo. A história é
contada pela protagonista e por um narrador omnisciente. A trama da espionagem
internacional é só uma tela que o autor usa para um tema maior: o do amor
imperfeito (há algum que não seja?).
Marias morreu há um ano, a 11 de
setembro, ganhou e recusou receber vários prémios literários e de tradução, mas
nunca foi laureado com o Nobel que muitos acreditavam merecer e que ele
desdenhava. Tinha uma relação meio à distância com a mulher com quem sempre
viveu e usava um pin de Shakespeare num blazer azul que vestia sempre em
ocasiões públicas. Fumador inveterado – recusava andar de avião porque não
podia fumar - escrevia e pensava muito bem. “Temos tendência a pensar que as
pessoas dizem a verdade e não prestamos muita atenção nem perdemos muito tempo
com desconfianças. A vida não poderia ser vivida se o fizéssemos”.
Pode acreditar.
Despeço-me com as sempre acertadas sugestões de podcasts da equipa multimedia
do Expresso.
PODCASTS A NÃO PERDER
“Sobre isto”. Sim, é mesmo este o título do primeiro episódio de 'Coisa
que não edifica nem destrói'. Ricardo Araújo Pereira discorre
chatamente sobre a evolução semântica da palavra humor. Fala as línguas latina,
francesa, inglesa e portuguesa, nenhuma delas correctamente.
“A sustentabilidade não é só fazer doações, é criar um negócio que seja gerador
de riqueza para a comunidade”. No primeiro episódio do novo podcast do Expresso, 'Ser ou não
ser' , o líder da Delta, Rui Miguel Nabeiro, admite ser importante
ganhar dinheiro: “não podemos ficar com os grãos todos na mão. O outro também
tem de ficar feliz, tem de ganhar dinheiro”
Pêpê Rapazote: “Eu sou da geração das juventudes partidárias que fazem vida
política e não tiveram capacidade para acabar sequer o liceu”. Nascido em 1970
e dono de uma voz inconfundível, é um dos atores nacionais que mais cartas tem
dado fora de Portugal. Em entrevista a Bernardo Ferrão, no podcast 'Geração 70',
fala sobre a paixão pela arquitetura, os desafios na arte da representação e as
fortes raízes familiares.
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