Raquel Moleiro, jornalista | Expresso (curto)
Bom dia.
Antes de mais um convite: esta quarta-feira, dia 13, às 14h00, "Junte-se à
Conversa" com João Vieira Pereira, Eunice Lourenço e David Dinis, para
falar sobre se "As novas medidas chegam para segurar os jovens?".
Inscreva-se aqui.
O arranque do ano letivo começa
hoje para cerca de 1,3 milhões de estudantes nacionais, do 1º ciclo ao
secundário. Os estabelecimentos de ensino podem optar por abrir as portas até
sexta-feira, mas nem todo o calendário escolar é tão controlável e certo. Bem mais
difícil é assegurar uma data para o início de todas as aulas. Como diz o Paulo
Baldaia no Expresso da Manhã, “Regressa a escola e regressam os problemas”.
Segundo a Fenprof, no início da semana mais de cem mil
alunos do ensino básico e secundário ainda não tinham professor a pelo
menos uma disciplina, um número já avançado pelo Expresso na última edição, e que revela uma
situação mais complicada do que há um ano, com os horários que não foram
preenchidos à primeira a duplicar.
São mais de 15 mil horas de ‘furo’, sem solução imediata, principalmente a
Informática, Geografia e no pré-escolar. A situação é mais difícil nos
distritos de Lisboa, mas também Setúbal, Faro, Santarém ou Beja, muito devido
ao envelhecimento do corpo docente – este ano devem aposentar-se cerca de 3500
professores, 740 até ao fim de outubro - e ao custo exorbitante da habitação, que
trava as deslocações. Tal como nos outros anos, a solução deverá surgir no
espaço de dias, semanas ou vários meses. Ou não chega a aparecer.
“Estamos a colocar professores todos os dias, a conseguir
paulatinamente ir resolvendo situações”, assegurou ontem o ministro da
Educação, João Costa, em declarações aos jornalistas, à margem da inauguração
do edifício do Ensino Secundário da Escola Básica Carlos Gargaté, na Charneca
da Caparica (Almada). Hoje o governante vai andar de escola em escola, desde as
10h em Alcanena, às 14h30 em Oeiras, terminado às 17h em Vialonga.
Na lista de soluções da tutela para aumentar a
atratividade das vagas e da profissão, está a conversão de prédios da Caixa de
Previdência, disponíveis em Lisboa, em arrendamento acessível para docentes;
mais oportunidades de alojamento trabalhadas com o Ministério da Habitação; o
regresso de estágios remunerados para os alunos do atual segundo ano do
mestrado em ensino; modalidades de formação mais intensiva para professores
licenciados; e a abertura de mais vagas nas universidades nos mestrados em
ensino.
Mas há outro ingrediente a engordar a incerteza do avanço letivo. Hoje tem
também início a greve de professores ao sobretrabalho, horas
extraordinárias e componente não letiva, convocada por nove organizações
sindicais, em que se inclui a FENPROF e a FNE, que já andaram pelas escolas a
afixar material informativo com os motivos da luta. O Sindicato de Todos os
Profissionais da Educação (STOP) entregou pré-avisos de greve para a
semana de
Como acabou 2022/2023, começa 2023/2024. Ou falta professor ou o professor
falta.
OUTRAS NOTÍCIAS
Condenado. O hacker Rui Pinto foi ontem condenado a uma pena suspensa de quatro anos de prisão, pelos crimes de
extorsão na forma tentada, violação de correspondência agravada e acesso
ilegítimo. O autor dos ‘Football leaks’ teve a seu favor a Jornada Mundial da
Juventude – que lhe amnistiou 79 crimes -, a ausência de antecedentes, o
arrependimento e também a divulgação de documentos a um consórcio de
jornalistas, que levaram a investigações de interesse público. “É um capítulo que se encerra, e a luta continuará”, reagiu
no X (ex-Twitter).
Ihor parte II. Arranca esta terça-feira o debate instrutório do segundo
processo sobre a morte de Ihor Homeniuk, o cidadão ucraniano assassinado no
aeroporto de Lisboa, a 12 de março de 2020. Depois da condenação por homicídio de três inspetores do SEF, António
Sérgio Henriques, ex-diretor de Fronteiras, responde agora por denegação de
Justiça e prevaricação; os inspetores João Agostinho e Maria Cecília Vieira são
acusados de homicídio negligente por omissão; e aos vigilantes Manuel Correia e
Paulo Marcelo são imputados crimes de sequestro e exercício ilícito de
atividade de segurança privada.
Preços a descer. A redução do preço do cabaz de alimentos, abrangido pela
isenção de IVA, atingiu 10,14% até 4 de setembro, anunciou o Ministério da
Economia. A medida entrou em vigor em abril e irá prolongar-se até ao fim do
ano.
Depois do fogo. Termina esta terça-feira o levantamento dos prejuízos
definitivos causados pelo incêndio de Odemira, que lavrou de
Do sismo. Em Marrocos, é cada vez mais ínfima a esperança de encontrar
sobreviventes debaixo da destruição do terramoto, que atingiu o país na passada sexta-feira, contam
os enviados do Expresso ao epicentro da tragédia. As construções informais, de
tijolo de barro, pedra e madeira, típicas das aldeias de montanha do Alto
Atlas, colapsaram e transformaram-se em escombros de terra, enterrando o que
existia no interior. Estão confirmados 2862 mortos, 2501 feridos e milhares de
desaparecidos, pelo menos 100 mil crianças afetadas. E danos irreparáveis em
vários monumentos da lista de Património da Humanidade da Unesco.
E da chuva. Na Líbia, a tempestade Daniel provocou cheias em diversas
cidades costeiras do norte do país. Derna foi a mais atingida. Há cerca de dois
mil mortos e 1200 desaparecidos.
Ainda a guerra. O líder norte-coreano Kim Jong-un visita a Rússia nos próximos
dias, e o encontro poderá permitir acertar a compra de armas a Pyongyang para
Putin usar na Ucrânia. Zelensky pede mísseis de longo alcance à Alemanha, com
urgência. A NATO prepara o maior exercício militar desde a Guerra Fria para
garantir resposta a eventual agressão de Moscovo. E a África chegam as ondas de
impacto do fim do acordo do cereais: preço dos alimentos não para de aumentar,
alerta a ONU. Siga aqui o conflito.
Na despedida. Ursula von der Leyen profere amanhã o seu último discurso do
Estado da União no Parlamento Europeu enquanto presidente da Comissão Europeia.
Será focado no futuro. E apresentará uma espécie de Plano Marshall para
financiar a reconstrução da Ucrânia.
Subida ou pausa? No Banco Central Europeu prepara-se a reunião decisiva. Quarta-feira vai saber-se se o Conselho
decidiu subir os juros pela décima vez ou fazer uma pausa, a primeira desde
julho de 2022.
Olhos no céu. Esta terça-feira, é o último dia – até 2317 – em que vai ser
possível ver, a olho nu, o cometa Nishimura, descoberto apenas no mês passado,
a 11 de agosto. O Nishimura atravessa o espaço a
Estrelas nacionais. Foi com uma vitória expressiva, de
E o vencedor é? Nos EUA, hoje é dia de MTV Video Music Awards, no
Prudential Center,
FRASES
“Rui Pinto respira, come e dorme como nós, mas não se pode saber onde está e
como vai, é uma testemunha protegida”
Francisco Teixeira da Mota, advogado do autor dos Football Leaks, ontem condenado a
pena suspensa
“Se houvesse uma razão para copiar um ser humano, faríamos isso, mas não há.”
Ian Wilmut, biológo britânico que clonou a ovelha Dolly. Morreu ontem, aos 79 anos
“O povo palestiniano já está suficientemente sobrecarregado com o colonialismo,
a expropriação, a ocupação e a opressão dos colonos israelitas sem ter de
suportar o efeito negativo de narrativas tão ignorantes e profundamente
antissemitas perpetuadas por aqueles que afirmam falar em nosso nome”
Carta aberta assinada por mais de 100 académicos, escritores, artistas e
ativistas palestinianos, de condenação a comentários sobre o holocausto feitos
pelo Presidente da Autoridade Palestiniana
PODCASTS A NÃO PERDER
‘Coisa que não edifica nem destrói’ é o título
do primeiro podcast original de Ricardo Araújo Pereira. Inspirado numa
frase de Machado de Assis, este projeto consiste numa experiência social
1990:
no ano
A “birra institucional” entre Marcelo e Costa: um “jogo de tabuleiro político” que o PM tem estado a ganhar. Miguel Sousa Tavares de Viva Voz considera que a estratégia do PM, ao optar pelo silêncio no Conselho do Estado, foi a resposta adequada perante uma sentença já traçada. O cronista do Expresso diz que Costa "tem sabido jogar com os ímpetos de Marcelo", mas reconhece que a querela não beneficia ninguém, nem o país.
O QUE ANDO A LER
É sempre assim, no início de cada ano letivo. Quando chega a lista de livros de
Português que as criaturas pequenas cá de casa vão estudar, procuro os que me
escaparam e lanço-me na recuperação, com décadas de atraso. No rol do 5º ano,
surge ‘As aventuras de Pinóquio’, de Carlo Collodi (e as
ilustrações maravilhosas de Susana Oliveira), editado pela Relógio de Água.
Lembro-me de ter visto o filme da Disney, havia também lá por casa um livro
infantil com a mesma história e até o boneco, de madeira, a quem,
inadvertidamente, decepei ambas as pernas e lasquei o nariz saliente. Agora,
não me passou nunca pelas mãos a versão original. Para mim quem inventou o
Pinóquio foi o Gepeto e não um Carlo Collodi – de seu nome verdadeiro Carlo
Lorenzini -, de que nunca ouvira falar. Sei agora, depois da devida pesquisa,
que foi um florentino do século XIX, funcionário público, maçon, jornalista
freelance e crítico do meio político e social, que só começou a escrever livros
infantis aos 50 anos.
Sem ser spoiler de uma história que se tornou memória coletiva, posso
dizer que tem um menino de madeira, especialmente travesso, que fala e cujo
corpo o denuncia sempre que ousa – e fá-lo com alguma frequência – faltar com a
verdade. Há também um grilo falante, uma raposa, um gato e uma menina de cabelo
azul turquesa. Como quase sempre, o original é tão mais detalhado e rico do que
tudo a que deu depois origem.
Este ‘Curto’ fica por aqui. Acompanhe toda a atualidade em Expresso.pt
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