terça-feira, 12 de setembro de 2023

Hoje arranca o ano letivo (as aulas? talvez)

Raquel Moleiro, jornalista | Expresso (curto)

Bom dia.

Antes de mais um convite: esta quarta-feira, dia 13, às 14h00, "Junte-se à Conversa" com João Vieira Pereira, Eunice Lourenço e David Dinis, para falar sobre se "As novas medidas chegam para segurar os jovens?". Inscreva-se aqui.

O arranque do ano letivo começa hoje para cerca de 1,3 milhões de estudantes nacionais, do 1º ciclo ao secundário. Os estabelecimentos de ensino podem optar por abrir as portas até sexta-feira, mas nem todo o calendário escolar é tão controlável e certo. Bem mais difícil é assegurar uma data para o início de todas as aulas. Como diz o Paulo Baldaia no Expresso da Manhã, “Regressa a escola e regressam os problemas”.

Segundo a Fenprof, no início da semana mais de cem mil alunos do ensino básico e secundário ainda não tinham professor a pelo menos uma disciplina, um número já avançado pelo Expresso na última edição, e que revela uma situação mais complicada do que há um ano, com os horários que não foram preenchidos à primeira a duplicar.

São mais de 15 mil horas de ‘furo’, sem solução imediata, principalmente a Informática, Geografia e no pré-escolar. A situação é mais difícil nos distritos de Lisboa, mas também Setúbal, Faro, Santarém ou Beja, muito devido ao envelhecimento do corpo docente – este ano devem aposentar-se cerca de 3500 professores, 740 até ao fim de outubro - e ao custo exorbitante da habitação, que trava as deslocações. Tal como nos outros anos, a solução deverá surgir no espaço de dias, semanas ou vários meses. Ou não chega a aparecer.

“Estamos a colocar professores todos os dias, a conseguir paulatinamente ir resolvendo situações”, assegurou ontem o ministro da Educação, João Costa, em declarações aos jornalistas, à margem da inauguração do edifício do Ensino Secundário da Escola Básica Carlos Gargaté, na Charneca da Caparica (Almada). Hoje o governante vai andar de escola em escola, desde as 10h em Alcanena, às 14h30 em Oeiras, terminado às 17h em Vialonga.

Na lista de soluções da tutela para aumentar a atratividade das vagas e da profissão, está a conversão de prédios da Caixa de Previdência, disponíveis em Lisboa, em arrendamento acessível para docentes; mais oportunidades de alojamento trabalhadas com o Ministério da Habitação; o regresso de estágios remunerados para os alunos do atual segundo ano do mestrado em ensino; modalidades de formação mais intensiva para professores licenciados; e a abertura de mais vagas nas universidades nos mestrados em ensino.

Mas há outro ingrediente a engordar a incerteza do avanço letivo. Hoje tem também início a greve de professores ao sobretrabalho, horas extraordinárias e componente não letiva, convocada por nove organizações sindicais, em que se inclui a FENPROF e a FNE, que já andaram pelas escolas a afixar material informativo com os motivos da luta. O Sindicato de Todos os Profissionais da Educação (STOP) entregou pré-avisos de greve para a semana de 18 a 22 de setembro (é já a próxima). E há greve nacional a 6 de outubro, com a já velha reivindicação da recuperação integral do tempo de serviço congelado.

Como acabou 2022/2023, começa 2023/2024. Ou falta professor ou o professor falta.

OUTRAS NOTÍCIAS

Condenado. O hacker Rui Pinto foi ontem condenado a uma pena suspensa de quatro anos de prisão, pelos crimes de extorsão na forma tentada, violação de correspondência agravada e acesso ilegítimo. O autor dos ‘Football leaks’ teve a seu favor a Jornada Mundial da Juventude – que lhe amnistiou 79 crimes -, a ausência de antecedentes, o arrependimento e também a divulgação de documentos a um consórcio de jornalistas, que levaram a investigações de interesse público. “É um capítulo que se encerra, e a luta continuará”, reagiu no X (ex-Twitter).

Ihor parte II. Arranca esta terça-feira o debate instrutório do segundo processo sobre a morte de Ihor Homeniuk, o cidadão ucraniano assassinado no aeroporto de Lisboa, a 12 de março de 2020. Depois da condenação por homicídio de três inspetores do SEF, António Sérgio Henriques, ex-diretor de Fronteiras, responde agora por denegação de Justiça e prevaricação; os inspetores João Agostinho e Maria Cecília Vieira são acusados de homicídio negligente por omissão; e aos vigilantes Manuel Correia e Paulo Marcelo são imputados crimes de sequestro e exercício ilícito de atividade de segurança privada.

Preços a descer. A redução do preço do cabaz de alimentos, abrangido pela isenção de IVA, atingiu 10,14% até 4 de setembro, anunciou o Ministério da Economia. A medida entrou em vigor em abril e irá prolongar-se até ao fim do ano.

Depois do fogo. Termina esta terça-feira o levantamento dos prejuízos definitivos causados pelo incêndio de Odemira, que lavrou de 5 a 9 de agosto, fez 45 feridos e destruiu 8.500 hectares de floresta e mato. O presidente da autarquia estima que rondem os 10 milhões de euros, 2,7 dos quais na área do turismo. A ministra da Coesão Territorial, Ana Abrunhosa, reúne-se já hoje com os dirigentes de associações e autarcas do território atingido.

Do sismo. Em Marrocos, é cada vez mais ínfima a esperança de encontrar sobreviventes debaixo da destruição do terramoto, que atingiu o país na passada sexta-feira, contam os enviados do Expresso ao epicentro da tragédia. As construções informais, de tijolo de barro, pedra e madeira, típicas das aldeias de montanha do Alto Atlas, colapsaram e transformaram-se em escombros de terra, enterrando o que existia no interior. Estão confirmados 2862 mortos, 2501 feridos e milhares de desaparecidos, pelo menos 100 mil crianças afetadas. E danos irreparáveis em vários monumentos da lista de Património da Humanidade da Unesco.

E da chuva. Na Líbia, a tempestade Daniel provocou cheias em diversas cidades costeiras do norte do país. Derna foi a mais atingida. Há cerca de dois mil mortos e 1200 desaparecidos.

Ainda a guerra. O líder norte-coreano Kim Jong-un visita a Rússia nos próximos dias, e o encontro poderá permitir acertar a compra de armas a Pyongyang para Putin usar na Ucrânia. Zelensky pede mísseis de longo alcance à Alemanha, com urgência. A NATO prepara o maior exercício militar desde a Guerra Fria para garantir resposta a eventual agressão de Moscovo. E a África chegam as ondas de impacto do fim do acordo do cereais: preço dos alimentos não para de aumentar, alerta a ONU. Siga aqui o conflito.

Na despedida. Ursula von der Leyen profere amanhã o seu último discurso do Estado da União no Parlamento Europeu enquanto presidente da Comissão Europeia. Será focado no futuro. E apresentará uma espécie de Plano Marshall para financiar a reconstrução da Ucrânia.

Subida ou pausa? No Banco Central Europeu prepara-se a reunião decisiva. Quarta-feira vai saber-se se o Conselho decidiu subir os juros pela décima vez ou fazer uma pausa, a primeira desde julho de 2022.

Olhos no céu. Esta terça-feira, é o último dia – até 2317 – em que vai ser possível ver, a olho nu, o cometa Nishimura, descoberto apenas no mês passado, a 11 de agosto. O Nishimura atravessa o espaço a 380 quilómetros por hora e fará hoje a sua maior aproximação à Terra. Para encontra-lo é olhar para o céu, uma hora após o pôr do sol e uma hora antes do nascer do sol na direção Este-Nordeste.

Estrelas nacionais. Foi com uma vitória expressiva, de 9 a 0, a maior de sempre, que a Seleção Portuguesa ganhou ontem ao Luxemburgo, com três jogadores a bisarem golos na partida de qualificação para o Euro-2024: Gonçalo Ramos, Gonçalo Inácio e Diogo Jota, a que se juntaram, com um remate certeiro à baliza, Bruno Fernandes, João Félix e Ricardo Horta. Portugal é o melhor ataque e a melhor defesa desta fase da competição.

E o vencedor é? Nos EUA, hoje é dia de MTV Video Music Awards, no Prudential Center, em New Jersey. A cantora Taylor Swift lidera a corrida às nomeações, com um total de oito.

FRASES

“Rui Pinto respira, come e dorme como nós, mas não se pode saber onde está e como vai, é uma testemunha protegida”
Francisco Teixeira da Mota, advogado do autor dos Football Leaks, ontem condenado a pena suspensa

“Se houvesse uma razão para copiar um ser humano, faríamos isso, mas não há.”
Ian Wilmut, biológo britânico que clonou a ovelha Dolly. Morreu ontem, aos 79 anos

“O povo palestiniano já está suficientemente sobrecarregado com o colonialismo, a expropriação, a ocupação e a opressão dos colonos israelitas sem ter de suportar o efeito negativo de narrativas tão ignorantes e profundamente antissemitas perpetuadas por aqueles que afirmam falar em nosso nome”
Carta aberta assinada por mais de 100 académicos, escritores, artistas e ativistas palestinianos, de condenação a comentários sobre o holocausto feitos pelo Presidente da Autoridade Palestiniana

PODCASTS A NÃO PERDER

‘Coisa que não edifica nem destrói’ é o título do primeiro podcast original de Ricardo Araújo Pereira. Inspirado numa frase de Machado de Assis, este projeto consiste numa experiência social em que Ricardo Araújo Pereira fala sozinho durante bastante tempo sobre assuntos que o entusiasmam muito mas talvez não interessem a mais ninguém. Estreia amanhã em todas as plataformas de podcast, no site da SIC e do Expresso, mas já pode ouvir o trailer e subscrever.

1990: no ano em que Saddam invadiu o Kuwait e a Alemanha se reunificou, África começou a mudar. A grande marca do início da última década do século XX foi a reunificação alemã. Um ano depois de cair o Muro de Berlim, República Federal e República Democrática voltaram a ser uma só Alemanha. A geração que está hoje na casa dos 30 anos é a primeira do lado oriental do país a ter chegado ao mercado de trabalho tendo nascido em liberdade. Neste ‘Liberdade Para Pensar’, Paulo Baldaia conversa com Pedro Cordeiro, editor de internacional do jornal Expresso e Fernando Jorge Cardoso, investigador e professor na Universidade Autónoma.

A “birra institucional” entre Marcelo e Costa: um “jogo de tabuleiro político” que o PM tem estado a ganhar. Miguel Sousa Tavares de Viva Voz considera que a estratégia do PM, ao optar pelo silêncio no Conselho do Estado, foi a resposta adequada perante uma sentença já traçada. O cronista do Expresso diz que Costa "tem sabido jogar com os ímpetos de Marcelo", mas reconhece que a querela não beneficia ninguém, nem o país.

O QUE ANDO A LER

É sempre assim, no início de cada ano letivo. Quando chega a lista de livros de Português que as criaturas pequenas cá de casa vão estudar, procuro os que me escaparam e lanço-me na recuperação, com décadas de atraso. No rol do 5º ano, surge ‘As aventuras de Pinóquio’, de Carlo Collodi (e as ilustrações maravilhosas de Susana Oliveira), editado pela Relógio de Água.

Lembro-me de ter visto o filme da Disney, havia também lá por casa um livro infantil com a mesma história e até o boneco, de madeira, a quem, inadvertidamente, decepei ambas as pernas e lasquei o nariz saliente. Agora, não me passou nunca pelas mãos a versão original. Para mim quem inventou o Pinóquio foi o Gepeto e não um Carlo Collodi – de seu nome verdadeiro Carlo Lorenzini -, de que nunca ouvira falar. Sei agora, depois da devida pesquisa, que foi um florentino do século XIX, funcionário público, maçon, jornalista freelance e crítico do meio político e social, que só começou a escrever livros infantis aos 50 anos.

Sem ser spoiler de uma história que se tornou memória coletiva, posso dizer que tem um menino de madeira, especialmente travesso, que fala e cujo corpo o denuncia sempre que ousa – e fá-lo com alguma frequência – faltar com a verdade. Há também um grilo falante, uma raposa, um gato e uma menina de cabelo azul turquesa. Como quase sempre, o original é tão mais detalhado e rico do que tudo a que deu depois origem.

Este ‘Curto’ fica por aqui. Acompanhe toda a atualidade em Expresso.pt

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