Mais olhos que barriga
Margarida Cardoso, jornalista | Expresso (curto)
Bom Dia!
Bem-vindo a mais um Expresso Curto 59 anos depois do início da guerra
da independência de Moçambique
Não é tema do dia como as eleições na Madeira, ganhas pelo PSD e por Miguel
Albuquerque, em coligação com o CDS, sem maioria absoluta, com a garantia de Luís Montenegro de que para o seu partido não
haverá soluções de governação com o Chega, mas acontece todos os dias à
escala global. Neste mundo com mais olhos que barriga, ⅓ dos alimentos são desperdiçados. São 60
milhões de toneladas por ano na União Europeia, o que dá uma média de
No primeiro Dia Nacional da Sustentabilidade, vale a pena recordar que a quota
dos alimentos desperdiçados corresponde a 8% do total das emissões de gases de
estufa. Vinte e cinco por cento da água doce do mundo é usada para produzir
alimentos que ninguém vai consumir. Trinta e oito por cento do consumo de
energia no sistema alimentar também.
Os estudos são muitos. Os indicadores do desperdício são reveladores. Basta
pensar que “25% dos alimentos desperdiçados seriam suficientes para
alimentar 870 milhões de pessoas em situação de fome crónica no mundo”,
sublinha Francisco Mello e Castro, do Movimento Unidos Contra o Desperdício, criado com a missão
de incentivar o aproveitamento de excedentes, alertar para as perdas, promover
a doação das sobras e o consumo responsável.
“Ao contrário das emissões de CO2 dos automóveis que ninguém resolve sozinho
numa cidade sem uma boa rede de transportes, este é um problema que todos
podemos ajudar a minimizar com o nosso comportamento individual. A experiência
mostra-nos que quando as pessoas são alertadas tendem a mudar comportamentos e
os resíduos alimentares diminuem”, afirma.
“Com pequenos gestos, todos podemos fazer a diferença até porque mais de 50% do
desperdício é feito nas nossas casas”, sustenta Mello e Castro, a dar a voz por
um movimento que celebra o seu terceiro aniversário na próxima sexta-feira, Dia Internacional da Consciencialização sobre Perdas e
Desperdício Alimentar, ou simplesmente “o dia contra o desperdício”,
como prefere dizer.
“É muito fácil convencer as pessoas a aderir às boas práticas contra o
desperdício. Basta uma chamada de atenção para acordarem para a realidade e
mudarem comportamentos”, confirma André Vilar, antigo estudante de Ciências da
Comunicação da Universidade do Minho e um dos fundadores, em 2013, do
movimento Menos Olhos do que Barriga, responsável pela redução do desperdício
nas duas cantinas daquela instituição, em Braga e Guimarães.
As cantinas geravam 4 toneladas de resíduos alimentares por mês e em dois anos
conseguiram reduzir o desperdício para metade. E como conseguiram este
resultado? “Foi fácil. Fazíamos patrulha sem aviso prévio nas cantinas e
vistoria aos tabuleiros de quem estava a acabar a refeição. Partilhávamos
alguns números chocantes do desperdício em Portugal e no mundo. Explicávamos
que se cada um tirasse para o seu tabuleiro apenas o que ia comer, os alimentos
que não eram servidos podiam ser encaminhados para cantinas sociais de IPSS's
de Braga e Guimarães em vez de acabarem no lixo”, conta ao Expresso.
Se todos tivermos um pouco menos de olhos do que barriga, talvez nem seja
demasiado difícil cumprir a meta das Nações Unidas de redução do
desperdício alimentar em 50% até 2030. E se ainda precisa de um incentivo
aceite este desafio: no momento em que for deitar uma maçã podre fora em sua
casa, imagine esse gesto a ser repetido por todas as famílias portuguesas,
multiplique e terá de imediato mais de quatro milhões de maçãs desperdiçadas.
Já agora, sabia que só três países da União Europeia desperdiçam mais
comida per capita do que Portugal? Em média, cada português desperdiça 184
quilos de alimentos por ano, contra os 127 quilos da UE.
E as eleições na Madeira, pergunta o leitor atento à atualidade? Entram já a
seguir, com outras notícias.
OUTRAS NOTÍCIAS
Madeira Para Luís Montenegro, líder do PSD, foi “uma vitória robusta”.
Para Miguel Albuquerque, líder do PSD Madeira, foi “uma vitória expressiva” da
Coligação Somos Madeira (PSD / CDS) nos 11 concelhos e em 52 das 54 freguesias
da Região Autónoma da Madeira. Para quem analisa os resultados e os objetivos
traçados durante a campanha eleitoral para a Assembleia Legislativa da Madeira, foi uma meia vitória do PSD, a um deputado de conseguir a
maioria absoluta, mas a poder chegar lá se fizer um acordo com a Iniciativa
Liberal ou o PAN.
Foi o suficiente para Miguel Albuquerque recuar sem danos e, em vez de se demitir por
falhar a maioria absoluta, como tinha declarado, avançar para a promessa de “um
governo de maioria estável”. Foi uma noite má para o PS, que perdeu 8
deputados, viu o seu grupo parlamentar ficar reduzido a 11, mas ainda assim ouviu o líder regional, Sérgio Gonçalves dizer que a maioria
dos madeirenses continua a ver o PS como “a alternativa”.
Na noite da Madeira, celebrou o Chega, pela primeira vez no Parlamento regional, com 4
deputados, menos um do que o JPP - Juntos Pelo Povo. Celebra também o IL, que elegeu o seu primeiro deputado na
Madeira e já abriu a porta a um entendimento com a coligação PSD/CDS. Celebram
o BE, a regressar com um deputado, tal como o PAN, também
disponível para negociar com a coligação vencedora, e o PCP, que conseguiu
manter um deputado.
Depois do primeiro teste eleitoral para várias lideranças
partidárias, seguem-se as europeias em 2024.
Bacalhau Portugal pode duplicar a quota de pesca de bacalhau no Canadá.
Livro A apresentação do livro “No meu bairro”, de Lúcia Valente, foi
interrompida por um grupo de pessoas que ameaçaram autores, editores, livreiros
e público. O presidente da Assembleia da República, Augusto Santos Silva,
na sua conta da rede social X (ex-Twitter), reagiu: “Isto é absolutamente
inaceitável”. Dirigido a crianças, o livro conta 12 histórias de ficção em
rima sobre inclusão e diversidade, com uma “linguagem neutra”. Entre estas,
consta a história de “Beatriz, a cigana feliz”, de “Magalhães, o menino que
tinha duas mães” ou de Rodrigo, que “quer ir comprar um vestido”.
Ucrânia A perna de Maryna foi amputada depois de a menina de seis anos ter
ficado ferida no bombardeamento que destruiu a casa da sua família
Espanha Milhares de espanhóis manifestaram-se contra uma possível
amnistia aos independentistas da Catalunha como moeda de troca para garantir apoios à recondução do socialista Pedro Sanchez.
NASA Após uma viagem espacial de sete anos, uma cápsula da NASA aterrou no deserto de Utah, nos EUA,
com rochas e poeira do asteroide Bennu. Promete ajudar a conhecer “o início da história” do nosso
sistema solar.
FRASES
Obtivemos 43,13% dos votos, bem acima dos 41,37% que deram ao Doutor António
Costa maioria absoluta. (...) Não vamos governar nem a Madeira nem o país com o
apoio do Chega
Luís Montenegro, presidente do PSD, sobre os resultados do seu partido nas eleições na Madeira
Emigrar deveria ser uma escolha livre e nunca a única possível
Papa Francisco pediu “o direito de não migrar” no Angelus dominical pelo Dia Mundial dos Migrantes e
Refugiados
PODCASTS A NÃO PERDER
No Expresso da Manhã, oiça a análise do Jornalista João
Diogo Correia aos resultados das eleições na Madeira. A coligação liderada pelo
PSD ganhou, mas falhou a maioria absoluta. Montenegro garantiu que o seu
partido não governaria, nem na Madeira nem no país, com o Chega. Nunca tinha sido
tão assertivo.
O grande derrotado das eleições da Madeira, para Luís Marques Mendes, foi o Partido Socialista, cujo líder
regional, Sérgio Gonçalves, deveria demitir-se, diz. “Onde é que já se viu? Em
quatro anos perder metade do eleitorado. É um autêntico tsunami”.
No Isto é Gozar com Quem Trabalha, Ricardo Araújo Pereira
comenta a história “inspiradora” de um professor que foi colocado a 430km de
casa e pernoita no carro, no estacionamento de supermercados. O Governo
chama-lhe “colocação de professores”, mas ninguém é verdadeiramente colocado,
diz o humorista. “Isto é arremesso de professores”.
O QUE ANDO A VER E A LER
A celebração dos 50 anos da fábrica da Leica em Portugal trouxe duas exposições
que não quero perder com fotografias reveladoras da vida da empresa e dos seus trabalhadores,
assim como do trabalho de alguns fotógrafos premiados: De Famalicão para o
Mundo: 50 anos de Leica em Portugal, na Casa das Artes de Famalicão, e Alfredo
Cunha, Portugal de
No que respeita a leituras, vou seguir a sugestão do Tiago Serra Cunha,
meu colega na Delegação Norte do Expresso: “De Amanhã em Amanhã (Tomorrow,
and Tomorrow, and Tomorrow, no título original), de Gabrielle Zevin,
acompanha dois amigos que criam videojogos durante 30 anos, desde crianças até
serem adultos. Esta primeira descrição pode até parecer desinteressante ou
enganadora, mas acredito que saber muito mais sobre a história vai estragar a
experiência de a descobrir pela primeira vez.
O que é preciso saber: é uma história de amor, mas não primariamente romântico
— também lá está, mas está igualmente o amor entre amigos, familiares, as
proximidades, afastamentos, festejos e desavenças que experienciamos ao longo
de uma vida; é um livro sobre seguir sonhos, planeá-los, concretizá-los e
promovê-los, aqui na forma de videojogos; a escrita da autora é deliciosa e
deixa o leitor colado a uma história intemporal, mesmo que se passe
maioritariamente nos anos 90 e 2000, deixando-o com nostalgia por uma época que
pode nem ter vivido na totalidade; uma cápsula da experiência humana, contada
de forma subtil mas marcante, com todos os contornos da vida: as vitórias, as
derrotas, as perdas e as conquistas.
O livro, que tem sido um fenómeno de vendas pelo mundo muito graças à
popularidade (merecida) que ganhou nas redes sociais, será adaptado ao cinema,
ainda sem data de estreia definida. Mas quer nas páginas, quer no ecrã,
encontrará uma história inesquecível. Sabe aquela boa sensação de ler a última
página de um bom livro e ficar a contemplar o que acabou de ler? É desses”.
Termino este curto com um convite para recordar o cantor norte-americano Andy
Williams, que morreu há 11 anos (1927 - 2012). A solo, em Moon River,
ou num dueto com António Carlos Jobim para uma versão especial de Garota
de Ipanema - The Girl from Ipanema? A escolha é sua.
Continue na nossa companhia no Expresso, na Sic, na Tribuna e na Blitz
Boas leituras
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