Joana Pereira Bastos, jornalista | Expresso (curto)
Bom dia,
A recusa cada vez mais generalizada dos médicos em fazer horas extraordinárias
além do limite legal já obrigou ao fecho de vários serviços de urgência um pouco por todo
o país e está a criar uma situação nunca antes vivida no Serviço Nacional de Saúde.
Se nada for feito para estancar o protesto, cerca de 25 hospitais deixarão
de conseguir assegurar, nos próximos meses, o atendimento urgente em áreas
tão sensíveis como medicina interna, cirurgia, pediatria, cardiologia, cuidados
intensivos e ginecologia/obstetrícia, avisa o bastonário da Ordem dos Médicos,
alertando para a “catástrofe” iminente.
Na reunião que esta manhã terá com o ministro, Carlos Cortes vai exigir
soluções imediatas para responder à crise e tentar forçar Manuel Pizarro a
dar um passo atrás e a regressar às negociações com os sindicatos, a que o
Governo pôs fim em setembro.
Há um mês, o ministro da Saúde avançou unilateralmente com alterações ao
funcionamento do SNS. A reforma imposta até prevê aumentos substanciais
para os médicos – acima de 30% na carreira hospitalar e de 60% nos
cuidados primários – mas exige, em contrapartida, muito mais trabalho, fixando,
entre outras coisas, um acréscimo brutal das horas extraordinárias de 150
para 250 por ano. Na prática, está a pedir-se aos médicos que possam “trabalhar 50, 60 ou até 80 horas por semana”.
Alegando que já estão exaustos e não conseguem fazer mais, os médicos
rejeitaram o ‘presente envenenado’ e avançaram para um protesto que está a
paralisar várias urgências. Pizarro não esconde que está preocupado e reconhece a situação
“muito penosa” vivida pelos clínicos. Mas já confidenciou que está de ‘mãos atadas’ perante o espartilho das Finanças. Só
António Costa poderá obrigar Medina a abrir os cordões à bolsa, permitindo
aumentos sem mais trabalho extra.
E o timing certo é agora, quando o Governo está a ultimar o “orçamento mais importante do mandato”. Entre as
prioridades está a redução da dívida, área em que o ministro das Finanças tem
razões para se gabar: Medina é um dos mais ‘poupados’ da Europa, conseguindo
este ano o terceiro défice mais baixo da zona euro. O problema é que
“há mais vida para além do défice” – a famosa frase nunca dita por Jorge Sampaio, que se tornou um
slogan contra a austeridade. Perante o fecho de urgências hospitalares, é a
saúde dos portugueses que está em causa.
OUTRAS NOTÍCIAS
Só no ano passado foram registadas mais de 1400 queixas contra a atuação das
forças de segurança, mais 22% do que em 2021. É o número mais alto dos últimos
seis anos. A PSP é o principal alvo das participações, seguindo-se a GNR e o
SEF. Comportamentos incorretos por parte dos agentes e ofensas à
integridade física motivaram a maioria das queixas.
O antigo ministro da Cultura Manuel Maria Carrilho foi condenado em definitivo a três anos e
nove meses de prisão pelos crimes de violência doméstica e difamação contra
a ex-mulher, Bárbara Guimarães. O Supremo Tribunal de Justiça recusou uma
última reclamação apresentada pela defesa de Carrilho, que terá agora de pagar
€30 mil à apresentadora e €6 mil à APAV, se quiser evitar a cadeia.
A comissão de inquérito a Boaventura de Sousa Santos recebeu denúncias de assédio sexual e moral apresentadas contra o investigador
por parte de dez mulheres, de várias nacionalidades. O prazo para a
apresentação de denúncias terminou a 30 de setembro, mas um coletivo de vítimas
pede para se manter um canal aberto, “perante a gravidade dos casos”.
O preço das casas em Portugal não para de aumentar, em contraciclo com o que está a
acontecer no resto da União Europeia. Por cá, os valores dispararam mais 8,7%
no segundo trimestre, face ao mesmo período do ano passado, enquanto que na
zona euro caíram, em média, 1,7%.
Na Liga dos Campeões, o Braga conseguiu uma vitória épica em Berlim por 2-3,
depois de ter estado a perder por 2-
Lá fora
Em Espanha, o Rei propôs ontem o socialista Pedro Sánchez como novo candidato a primeiro-ministro,
depois do fracasso da investidura de Alberto Núñez Feijóo, do PP, que não teve
condições para formar Governo apesar da vitória nas legislativas de julho. O
Parlamento tem agora até dia 27 de novembro para eleger um novo chefe de
Governo e evitar uma repetição das eleições. O futuro político do país está nas mãos de catalães, bascos e
galegos.
Uma "crise de fome está a aproximar-se" do Sudão do Sul, onde nos
últimos cinco meses chegaram cerca de 300 mil pessoas fugidas da guerra no
vizinho Sudão. Segundo o Programa Alimentar Mundial, quase 20% das crianças com menos de cinco anos e mais de um
quarto das mulheres grávidas e lactantes estão subnutridas. E não há
"recursos para prestar assistência vital aos que mais precisam".
Em Veneza, um autocarro incendiou-se depois de cair de um viaduto,
provocando pelo menos 21 mortos e 18 feridos. Há ainda registo de vários
desaparecidos e tudo indica que o número de vítimas mortais vai aumentar. Para
já, não são conhecidas as causas do acidente.
O Prémio Nobel da Física foi atribuído aos cientistas Pierre Agostini, Ferenc
Krausz e Anne L’Huillier, responsáveis por projetos de investigação que “abriram a porta ao mundo dos electrões” e “deram à humanidade
novas ferramentas” para o explorar no interior dos átomos e das
moléculas. Professora de Física Atómica na Universidade de Lund, na Suécia,
Anne L’Huiller junta-se, assim, à restrita lista de apenas quatro mulheres que já venceram o galardão. Hoje
será atribuído o Nobel da Química e amanhã anunciado o Nobel da Literatura. A lista fica completa sexta-feira, com
a divulgação do Nobel da Paz.
FRASES
“O primeiro-ministro tem um ódio de estimação aos professores”,
Mário Nogueira, secretário-geral da Fenprof, reagindo às declarações de António Costa, que segunda-feira
à noite, em entrevista à CNN e à TVI, voltou a recusar a recuperação integral
do tempo de serviço congelado
"Venho negar de A a Z, porque se trata de uma acusação falsa e sem
nexo",
Manuel Pinho, antigo ministro da Economia acusado de crimes de corrupção,
branqueamento e fraude fiscal, no falso arranque do julgamento, que acabou por ser adiado
devido à greve dos funcionários judiciais
“Os governos e as empresas declararam guerra à sociedade e ao planeta”,
Faixa empunhada pelos nove ativistas da Climáximo que ontem de manhã bloquearam a segunda circular, em Lisboa, em frente à sede
da Galp, para alertar para a inação no combate às alterações climáticas
O QUE ANDO A LER
“Caro Professor Germain”, de Albert Camus
É sabido que um bom professor faz a diferença, não apenas no percurso académico
de um aluno, mas muitas vezes em toda a sua vida. O caso de Albert Camus, um
dos mais brilhantes escritores do século XX, autor de O Estrangeiro ou A Peste,
é disso um exemplo paradigmático. Menino pobre de um bairro operário de Argel,
que ainda em bebé ficou órfão de pai, Camus tinha o destino traçado: mal
acabasse a primária, deveria abandonar a escola e ir trabalhar para ajudar a
mãe no sustento da casa. Era essa a vida que lhe caberia se não tivesse tido a
sorte de ter como professor Louis Germain, que considerava como o seu “pai
espiritual”. Foi o “mestre” que convenceu a família a deixar o pequeno Camus
seguir para o liceu, antevendo nele um futuro promissor, que para felicidade do
próprio – e de todos os que amam a literatura – haveria de se cumprir. A
relação entre os dois, de admiração e ternura mútuas, prolongou-se muito para
lá dos bancos da escola, através de uma comovente troca de correspondência,
agora editada pela Livros do Brasil, que só terminou com a morte prematura do
escritor.
“Sem o senhor, sem essa mão afetuosa que estendeu à pequena criança pobre que
eu era, sem o seu ensinamento e exemplo, nada disto me teria acontecido”,
escreveu Camus ao seu professor primário em 1957, quando foi laureado com o
Prémio Nobel da Literatura. “Apesar do senhor Nobel, continuarás a ser sempre o
meu rapaz”, respondeu-lhe o mestre. A coleção de cartas “Caro Professor Germain”
é um testemunho poderoso sobre o valor da educação e funciona como uma
verdadeira homenagem aos professores, uma das mais nobres profissões, a que
tantas vezes, e tão injustamente, tem faltado o devido reconhecimento.
SUGESTÕES DE PODCASTS
A manchete do
Expresso desta semana dava conta da denúncia feita por um dos acusados na
Operação Tempestade Perfeita: Paulo Branco implica o ministro João Gomes
Cravinho na aprovação de um contrato fictício com Marco Capitão Ferreira. Os
fantasmas de Cravinho são o principal tema desta Comissão Política que não esquece também as
manifestações pela habitação
Parabéns ao podcast A Noite da Má Língua! Como não há categoria de melhor
podcast na cerimónia dos Globos de Ouro, nunca perdem o prémio. Com o calor que
se sentiu no Coliseu dos Recreios, as transparências foram muito úteis. Terá
sido esta a noite mais escaldante do ano? A culpa é das alterações climáticas
e, especialmente, da transparência de Rita Blanco, que não apareceu. Ouça
o novo episódio
A Autoeuropa, a fábrica portuguesa do grupo Volkswagen, voltou a abrir depois
de três semanas de paragem. É o ‘Peso-pesado’ da economia portuguesa. E
agora? Mais um importante tema económico esclarecido no podcast diário do
Expresso Economia dia a dia
Por hoje é tudo. Continue a acompanhar a atualidade em expresso.pt e tenha uma ótima quarta-feira.
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