quarta-feira, 4 de outubro de 2023

Fraccionismo, um aspecto da guerra psicológica da hegemonia unipolar contra Angola

Nota de abertura: Reposição de artigo publicado no PG em 26 de março de 2023 de autoria de Martinho Júnior, autor que colabora com ediçóes do PG e de outros títulos associados há cerca de 18 anos.

Martinho Júnior, Luanda

Os animais que estão fartos de ser governados por um agricultor e têm um estilo de vida de ?classe? inferior ao do agricultor, lideram uma revolta contra este e ganham o controle da quinta. No começo dessa liberdade há esperança e a promessa de igualdade. Os porcos (que são os animais mais inteligentes da quinta) tomam o controle e no princípio a vida é melhor. Contudo, ao longo do tempo, a quinta começa a modificar a vida dos animais, para alguns deteriora e para uns poucos eleitos melhora dramaticamente… 

Esta alegoria assente que nem luva no capitalismo neoliberal e nos ajustamentos sucessivos de guerra psicológica que são elaborados pela hegemonia unipolar contra o Sul Global (neste caso Angola), desde a explosão das bombas atómicas em Hiroxima e Nagasaqui, em 1945…

GUERRA PSICOLÓGICA CONTRA O SUL GLOBAL

Desde que fizeram explodir as duas bombas atómicas em Hiroxima e em Nagasaki, respectivamente a 6 e 9 de Agosto de 1945, que os Estados Unidos nos moldes de sua hegemonia unipolar, desencadearam uma constante guerra psicológica contra o Sul Global, entrecortada por conflitos localizados que se foram disseminando mundo fora, numa escala e numa escalada sem precedentes em épocas anteriores.

O medo de que alguma vez mais os Estados Unidos recorressem de novo ao lançamento duma bomba atómica onde quer que fosse e contra quem fosse, foi um expediente subjacente que acompanhou a construção de sua hegemonia unipolar, de facto um expediente que tem alimentado todos os conteúdos da IIIª Guerra Mundial não reconhecida como tal, mas expressa em todas as práticas de conspiração, de subversão, de terrorismo, de caos, de violência, de medo inculcado, de desagregação que tentou sempre criar e, à medida que foram surgindo novas tecnologias, recriar!

Angola tem sido como todo o Sul Global, pasto dessas práticas de conspiração alimentadas de guerra psicológica que têm como matriz do medo, Hiroxima e Nagasaki, tanto pior por que muitas dessas práticas de conspiração advêm da profundidade do exercício colonial de séculos todo ele feito na base da opressão e repressão a ponto de, durante séculos, fazer prevalecer a escravatura!

O medo obsta a liberdade, a igualdade e a fraternidade por todo o Sul Global e isso criou e recriou os parâmetros das ingerências, das manipulações incessantes e das motivações expressas em termos de propaganda e contrapropaganda incentivadas pelo exercício dominante da hegemonia unipolar e sujeitas aos seus próprios interesses, conveniências e preceitos de guerra psicológica.

O MPLA, POR TABELA ANGOLA, ALVOS DE GUERRA PSICOLÓGICA DESDE A MATRIZ HISTÓRICA DA LUTA POPULAR DE LIBERTAÇÃO

O fraccionismo do 27 de Maio de 1977 é um produto colonial-fascista nutrido dos termos da “africanização da guerra” e da “a-psic” que semeou Angola de etno-nacionalismos capazes de alimentar divisão, tribalismo, regionalismo e racismo!

Foi possível para o colonial-fascismo fazer gerar um embrião de etno-nacionalismo quimbundo, de 1961 a 1974, procurando subverter os ideais do MPLA, sobretudo nas áreas da Iª Região Político Militar e da luta clandestina dos comités, sobretudo os de Luanda…

Esse esforço passou pelo grau de neutralização da Iª RPM       e o grau de neutralização desses comités, sujeitos a pressão de toda a ordem, sem armas e infiltrados por peritos de inteligência, de propaganda e de contrapropaganda colonial-fascista.

Nas prisões coloniais muitas das ideias de fermentação etno-nacionalista quimbunda se assumiram em termos de divisão: os que lutaram no “interior”, contra os que chegavam da guerrilha “exterior” e o ideólogo terá sido Juca Valentim, ele próprio um golpista do 27 de Maio de 1977.

Depois da proclamação da Independência da República Popular, a fracção nitista alimentou-se dessa “reserva de energias” instigada pelo colonial-fascismo que vinha detrás e é por isso que a tentativa do golpe tem esse tipo de conteúdos humanos, que não eram mesmo assim exclusivos das ideologias de divisão e subversão nitistas, mas também motivações para outros grupos de oportunistas que esperavam a sua hora para tirar proveito da evolução da situação e, paulatinamente, procurar fazer prevalecer a toxidade que tanto trabalhou, através da prática e da psicologia, para a sua formatação e disponibilidade concorrente à tomada do poder.

O golpe do 25 de Novembro de 1975 em Portugal, duas semanas após a Independência de Angola, teve corpo, alma e carácter de “retornado”, com cargas de ódio e de vingança por causa duma descolonização que só os podia hostilizar; essa gente com influência contrarrevolucionária no “arco de governação”, ao ser umbilicalmente favorável aos etno-nacionalismos angolanos, era filtrada por aqueles que haviam nutrido a inteligência colonial-fascista nesse sentido, inclusive os “links” que haviam devassado a Iª RPM, alguns dos comités de luta clandestina e as prisões.

Assim, se o golpe do 27 de Maio de 1977 vingasse, seria o “arco de governação” um dos seus beneficiários “naturais”, mas como não vingou, então tem-se aproveitado do fraccionismo nitista para forjar todo o tipo de manobras e manipulações de propaganda e contrapropaganda, visando em última análise colocar sempre em causa o estado angolano, fosse ou não popular!

Com as campanhas alimentando os vínculos cultivados desde a “a-psic” e a “africanização da guerra” fluindo do colonial-fascismo, essa propaganda e contrapropaganda acabou por se tornar num nicho da guerra psicológica da hegemonia unipolar, até por que o “arco de governação” sempre propiciou a vassalagem incondicional de Portugal cultivada com a União Europeia e a NATO.

GUERRA PSICOLÓGICA CONTRA ANGOLA, AGORA FACE A FACE PERANTE A MUDANÇA DE PARADIGMA

Dinheiro e meios nunca faltaram a quem alimentou essa propaganda e contrapropaganda com base na “plataforma” de Lisboa, mas agora, com a mudança de paradigma global, os Estados Unidos como entidade fulcral fomentadora das regras de guerra psicológica a favor da hegemonia unipolar, têm tendência para chamar a si a continuidade…

Aproveitando o “perdão presidencial” angolano em relação ao fraccionismo e sabendo que tudo isso reverte a favor do espectro dos oportunismos indispensáveis aos seus interesses e conveniências, alguns aspectos da propaganda e da contrapropaganda estão a ser absorvidos pela responsabilidade directa da Central of Inteligence, CIA, utilizando o seu veículo Voice of America e outros para Angola.

A propaganda e contrapropaganda da CIA, “post perdão presidencial” está oportunamente a ser delineada sub-repticiamente agora contra o Presidente João Lourenço, autor desse perdão, por que a ingerência procura ir ainda mais fundo do que antes conseguiu com a propaganda e contrapropaganda “tuga”: há que apear duma vez por todas o MPLA, qualquer que ele neste momento seja (e ele está profundamente intoxicado, equivocado e subvertido), do poder em Angola… é esse o “projecto” em curso desde as últimas eleições, que em Luanda mostram quanto o MPLA já está vulnerabilizado.

O artigo do Voice of America para Angola sob o título “Testes de ADN confirmam que ossadas entregues a algumas famílias das vítimas do 27 de Maio não são dos seus parentes” ferve nos conteúdos da guerra psicológica com todo um imenso aproveitamento dos jogos que vêm detrás, particularmente os fermentados desde a “africanização da guerra” e a “a-psic” colonial-fascista, a verdadeira plataforma de lançamento para os sucessivos aproveitamentos que desembocam nele, corolário dum processo de subversão que já leva mais de 50 anos.

Sintomaticamente até o cartaz de que se serve a VOA para emoldurar essa intervenção, espelha o carácter racista da já tão longeva manobra de ingerência e de manipulação colonial (lá diz o ditado, “no aproveitar é onde está o ganho”)… 

Por seu turno a CNN Portugal, como se um cachorrinho com o rabinho a dar que dar, noticiou que Angola estaria a enviar tropas em reforço de unidades russas no Donbass, o que é muito mais que uma manobra provocatória, no momento em que se aproxima a Cimeira Rússia-África!

O Jornal de Angola referiu-se ao Comunicado, a propósito, do Ministério das Relações Exteriores do governo de Angola, num artigo com o título “Angola desmente envio de tropas para apoiar Rússia na guerra contra Ucrânia”…

Tudo isso surge no momento em que nas redes sociais de Luanda se dá a conhecer a iniciativa de arruaças planificadas, daqueles que em tudo beneficiam da “bomba humana” instalada pela UNITA nas áreas urbanas (Luanda foi um alvo preferencial)…

A “bomba humana” foi convencionada pela UNIRA e o “apartheid”, em 1982,     pelos Botha e Savimbi e numa altura em que já era evidente que as 6 bombas atómicas de que a África do Sul dispunha, não poderiam ser mais lançadas…

Perante a manobra em cadeia, arregimentando sempre os mesmos vínculos cultivados de há várias décadas, há uma conclusão evidente: não vai haver MPLA algum, nem João Lourenço algum, capazes de se verem livres desse prolongado episódio de guerra psicológica, que conduz de facto à instalação dum “fantoche total” no poder em Luanda!

Há que começar a reagir em função da mudança de paradigma e os termos desta “democracia representativa” formatada pelos pressupostos neoliberais de Bicesse a 31 de Maio de 1991, não mais têm que condicionar ou amarrar o estado angolano, nem dentro, nem fora das fronteiras!

De javardice em javardice, há um porco chamado “hegemonia unipolar” que pretende continuar a sua engorda!...

Angola está á beira de, parafraseando Georges Orwell, sofrer mais um “triunfo dos porcos”! 

Círculo 4F, Martinho Júnior, 23 de Março de 2023

A consultar:

. “Testes de ADN confirmam que ossadas entregues a algumas famílias das vítimas do 27 de Maio não são dos seus parentes” – https://www.voaportugues.com/a/testes-de-adn-confirmam-que-ossadas-entregues-%C3%A0s-fam%C3%ADlias-das-v%C3%ADtimas-do-27-de-maio-n%C3%A3o-s%C3%A3o-dos-seus-parentes/7017704.html

. Angola desmente envio de tropas para apoiar Rússia na guerra contra Ucrânia – https://www.jornaldeangola.ao/ao/noticias/angola-desmente-envio-de-tropas-para-apoiar-russia-na-guerra-contra-ucrania/

Imagem:

Capa de “O triunfo dos porcos” edição em língua portuguesa da Amazon – https://www.amazon.com/Triunfo-dos-Porcos-Portuguese/dp/9722541110 

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