terça-feira, 12 de dezembro de 2023

Angola | Aniversário em Tempo de Tristeza – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

O MPLA nasceu no dia 10 de Dezembro de 1956, há 67 anos, fruto da fusão de várias organizações nacionalistas tradicionais. Entre o dia 4 de Fevereiro de 1961 e Setembro de 1974, conduziu a Luta Armada de Libertação Nacional. Venceu todos os obstáculos militares: Tropas portuguesas, tropas da FNLA, tropas da UNITA e as unidades especiais constituídas por angolanos que abandonaram a guerrilha, os TE, GE e Flechas, estes últimos criados pela PIDE/DGS e alimentados pela UNITA, quando Savimbi alugou as suas armas ao regime colonialista português. 

O MPLA, fruto das suas retumbantes vitórias em todas as frentes, tornou-se naturalmente a vanguarda revolucionária do Povo Angolano. Em finais dos anos 60, a FNLA estava definhada e quase morta. A UNITA alugou as armas aos colonialistas até ao 25 de Abril de 1974 e ao regime racista de Pretória, depois da Independência Nacional. A coerência do MPLA deu frutos: Nunca uma organização política teve tanto apoio popular. Ainda tem!

O caminho vitorioso do MPLA tinha de ser travado a todo o custo, pelas grandes potências ocidentais com o estado terrorista mais perigoso do mundo (EUA) à cabeça. Assim surgiram dissidências, deserções, golpes mais ou menos armados, enxurradas de mentiras e calúnias contra a direcção e o seu programa revolucionário. 

Agostinho Neto, o líder do MPLA que dirigiu a luta armada até à vitória final, tantos anos depois da sua morte continua a ser vítima de calúnias soezes e mentiras, chanceladas por filhotes do colonialismo ou os amargurados da queda do império que ia do Minho a Timor. A dupla Francisco Queiroz/João Lourenço engendrou um esquema que chama aos assassinos do 27 de Maio de 1977 vítimas e às vítimas criminosos. Uma forma infame de atacar a memória de Agostinho Neto e seus companheiros, alguns assassinados pelos golpistas. O golpe teve também o dedo da CIA mais os serviços secretos franceses e britânicos para a Operação Cobra ou Operação Natal em Angola. Abraçar os golpistas. Perdoar os seus crimes!

A UNITA tem o cordão umbilical ligado aos generais do fascismo e ao ditador Marcelo Caetano. Depois cresceu sob a asa protectora do regime racista de Pretória. Ganhou “amigos” à custa dos diamantes de sangue, fazendo da Jamba um supermercado do tráfico de droga, marfim e kamanga. Só foi reconhecida como “movimento de libertação” no final de 1974 quando já nada existia para libertar

A FNLA jamais conseguirá limpar a nódoa que colou a si própria quando serviu de Cavalo de Troia, introduzindo em Angola milhares de mercenários, tropas portuguesas contrárias ao 25 de Abril de 1974 (ELP), oficiais da CIA e as forças regulares do Zaire de Mobutu. Uma coligação raivosa, reaccionária, desumana, para impedir a Independência Nacional, colocando o MPLA fora do processo de transição. Perderam. É mesmo verdade: O MPLA É o Povo e o Povo É o MPLA. Mesmo que João Lourenço faça tudo para acabar essa aliança.

Neste aniversário do MPLA quero recordar, mais uma vez, que os jovens da minha geração devem tudo ao movimento. Nem imagino o que seria hoje, se não tivesse aprendido a lutar sob a bandeira do “amplo movimento” que na época era a mais ampla aliança de classes. Até admitia os anarco-libertários. Por falar nisso, hoje quero fazer justiça à injustiçada Diplomacia Angolana. 

O primeiro grande diplomata foi Mário Pinto de Andrade, um dos fundadores do MPLA. Quando Agostinho Neto assumiu a liderança, criou imediatamente condições para a abertura de uma frente diplomática que ajudasse na arte de fazer amigos e aliados. Câmara Pires, anarquista, herói da resistência aos nazis em França e antigo combatente na guerra antifranquista em Espanha, foi o braço direito do líder. A sua casa em Paris era a “Embaixada do MPLA”. Teve um papel fundamental no ganho de apoios à Luta Armada de Libertação Nacional em toda a Europa, particularmente França, Itália e países nórdicos.

A fabulosa Diplomacia Angolana ganhou a sua expressão máxima quando surgiu a chamada Revolta do Leste, liderada por Daniel Chipenda, e em cima do 25 de Abril de 1974 a Revolta Activa. Estava em marcha uma operação para afastar o MPLA do processo de descolonização. Agostinho Neto reforçou os laços com a Tanzânia, Argélia e República Popular do Congo (Zâmbia caiu para o lado de Chipenda). Liderou uma ofensiva diplomática na Europa e Canadá. Ao seu lado esteve sempre um jovem dirigente, José Eduardo dos Santos. Um grande diplomata. Por isso foi o nosso primeiro ministro das Relações Exteriores.

O MPLA defendeu sempre que os seus militantes eram políticos obrigados a empunhar armas para a Libertação do Povo Angolano. Todos eram militares, todos eram civis, todos eram diplomatas. No período de transição Paulo Jorge teve um papel fulcral. Um jovem que era funcionário da TAP em Lisboa, Venâncio de Moura, deixou tudo e veio para Luanda ajudar na luta. Revelou-se um diplomata de mão cheia. Foi também ministro das Relações Exteriores.

Ao lado de Agostinho Neto, colados aos passos do líder, estiveram sempre Afonso Van-Dúnem (Mbinda) e Hermínio Escórcio, aquele que nasceu diplomata e embaixador de todos os que caíam em desgraça. Na Comunicação Social pontificava Luís de Almeida, mais tarde embaixador de máxima craveira. Pascoal Luvualu, sindicalista e diplomata!

As grandes vitórias do MPLA ao longo dos seus 67 anos de História só foram possíveis porque ganhou a luta na frente diplomática.

Em 27 de Maio de 1977 perdi um grande amigo Garcia Neto. Um irmão. Um grande camarada. A primeira coisa que fazia quando nos encontrávamos em casa do Comandante Tetembwa era criticar a minha “vida viciosa”. Os meus vícios públicos. Eu chamava-lhe “camarada embaixador”. Um dia disse-lhe que as ocupações nos últimos meses de 1975 foram mais anárquicas do que os próprios anacas permitem. Mas uma ocupação foi perfeita. 

O Palácio do Comércio foi e ainda acho que é a mais grandiosa obra privada alguma vez foi construída em Angola. Felizmente, foi ocupado pela fabulosa Diplomacia Angolana. Só podia! Um dia fui visitar as emblemáticas obras do artista Neves e Sousa. Lá estavam impecáveis. Como as do Hotel Universo. Hoje temos ali o Palácio da Diplomacia. O centro nevrálgico da Soberania Nacional.

Parabéns ao MPLA, parabéns à Diplomacia Angolana nada e criada no seio do MPLA e hoje ao serviço do Estado Angolano. Muito obrigado ao Camarada Neto, muito obrigado ao MPLA.

* Jornalista

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