quinta-feira, 20 de julho de 2023

FEBRE DO PLANETA


Angola | Os Deuses Equivocados da Justiça -- Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

A Bloomberg revelou que 75 por cento da capacidade de energia instalada no mundo já é renovável. A Dinamarca lidera na produção de eólica e solar, seguida pela Irlanda, Uruguai, Portugal e Reino Unido. A República Popular da China é número um no mundo. Ninguém sabe explicar por que razão João Lourenço se virou para os EUA no projecto da energia solar e deu as costas a um país da CPLP, Portugal e um parceiro como a República Popular da China. 

Quando foi preciso enviar milhares de milhões para a reconstrução de Angola, o estado terrorista mais perigoso do nundo deu ordens aos seus vassalos europeus para não contribuírem nem com um cêntimo. E eles cumpriram, apesar de se terem comprometido a promover recolha de fundos para reparar os danos da guerra. Foram as grandes potências do ocidente alargado que financiaram a UNITA nas destruições. O governo de Pequim respondeu ao pedido do Governo Angola para apoiar a Reconstrução Nacional. Agora os infractores e inimigos declarados ganham milhões em Angola. 

A Independência Nacional em 11 de Novembro de 1975 só foi possível porque Cuba enviou para Angola alguns dos seus melhores filhos, combatendo ao lado dos angolanos contra os invasores estrangeiros. Alguns morreram em combate. O estado terrorista mais perigoso do mundo (EUA) dirigia as agressões ao nosso país através do Zaire de Mobutu e do regime racista da Pretória. Derrotados nos campos de batalha, os agressores montaram um cerco a Angola tão terrível como aquele que impuseram a Cuba em 14 de março de 1958, já lá vão 65 anos. João Lourenço tinha quatro aninhos. Eu já namorava.

Na época havia pouca mão-de-obra e tocou-me fazer a cobertura da guerra em todas as frentes. A meu lado, estavam jornalistas cubanos: Eloy Concepcion Perez, Raul Roa, Emílio el Flaco, Muñoa. Um veterano jornalista soviético da TASS. Esqueci o nome, me desculpa. Um louquíssimo jornalista argelino, que tinha um braço amputado (fez a luta de libertação nacional contra os colonialistas franceses). Também esqueci o nome. Perdoa! Vários jornalistas da TANJUG. Eram substituídos com frequência. Ryszard Kapuściński, da PAP, agência polaca de notícias. E até ser saneado da RTP, Luís Alberto Ferreira, o decano dos jornalistas angolanos. Fez no dia 25 de Abril 90 anos! Que sejas eterno meu querido amigo e camarada.

Um angolano de respeito, com caracter, seja taxista ou presidente, só dá confiança aos membros das cúpulas do estado terrorista mais perigoso do mundo quando for levantado o embargo a Cuba. Ontem João Lourenço recebeu a patroa (pária) de um banco norte-americano. Os EUA só aceitaram desenvolver relações com Angola quando foi excrementado o socialismo e assassinada a democracia popular. Nós viramos o bico ao prego por um punhado de dólares.

A Federação Russa abandonou o acordo da exportação de cereais da Ucrânia. O rato de sacristia António Guterres pôs os olhos em alvo e anunciou a fome no mundo. De Bruxelas veio a denúncia: Os russos fazem chantagem com a fome! De Londres a mesma propaganda. Os Media não se calam com a aldrabice. A fome no mundo porquê? 

A Ucrânia é o oitavo produtor mundial de cereais com 65 milhões de toneladas (1500 quilos por habitante). Não pode exportar tudo, porque tem de alimentar a sua população. Os EUA são o segundo produtor mundial com 476 milhões de toneladas. O Canadá está em décimo lugar, produz 55 milhões de toneladas. No 11º lugar está a França com 54 milhões de toneladas. A Alemanha vem em 13º lugar com 45 milhões de toneladas (550 quilos por habitante). No 20º lugar vem a Polónia com 29 milhões de toneladas. 

Estes países podem fornecer grãos aos países pobres. E como a Ucrânia é palco da guerra dos EUA, União Europeia, OTAN (ou NATO) e Reino Unido contra a Federação Russa há mais de um ano, já nem sequer produz metade do que produzia. Isso do acordo dos cereais só serve para alimentar os países ricos da União Europeia que nada produzem e comem muito!

A Federação Russa faz a chantagem da fome. Os EUA, União Europeia e Reino Undo ao imporem sanções ao país não fazem chantagem nenhuma. Ao imporem um bloqueio a Cuba há 65 anos, não causam fome. Ao sancionarem a Venezuela não são chantagistas. Ao massacrarem o Irão com sanções estão a ser amigos dos iranianos. Destruíram a Jugoslávia. Um favor à Humanidade. A ocupação da Síria por forças norte-americanas não é uma invasão. A ocupação militar do Iraque, da Alemanha, do Japão ou da Coreia do Sul é um bálsamo. 

O bispo português Américo Aguiar quer encontrar-se no céu com um rapazinho ucraniano, que recebeu a bandeira da Ucrânia durante o funeral do pai, militar que morreu em combate. Este é mais arrogante do que a lei permite. Pensa que por andar de mochila às costas e rezar ajoelhado em Bucha tem garantido o reino dos céus! Nem que consiga um papel do Tio Celito atestando que não andou a abusar sexualmente der crianças vai para o céu. Dificilmente um bispo escapa às profundezas do inferno. Muito menos este artista que é mais reaccionário do que o Cerejeira salazarista. 

A recuperação de activos vai de vento-em-popa. As primeiras cinco páginas dos bens recuperados dizem respeito a propriedades e dinheiro do empresário Carlos São Vicente. Todos os hotéis (dezenas) foram “recuperados” e destruídos. Um crime de lesa património que dificilmente vai ficar impune. Até a casa de família foi “recuperada”.  Este justicialismo acéfalo tem laivos de fúria nazi contra os judeus.

A senhora da recuperação de activos dá todos os bens do empresário como perdidos, como se já existisse uma sentença transitada em julgado. Mas não existe! Ontem foi publicada a lista dos bens “recuperados”. Mas ontem mesmo entrou no Tribunal Constitucional a arguição de nulidades processuais. Muitas! A publicação da lista é uma óbvia e intolerável pressão sobre os venerandos juízes que vão apreciar o recurso de Carlos São Vicente. A Procuradoria-Geral da República deu oficialmente os bens como perdidos. Se derem razão ao arguido, volta tudo ao princípio. As magistradas e magistrados que vão apreciar o documento já receberam a ordem.

O Acórdão do Tribunal Constitucional que confirma a decisão do Tribunal Supremo está imbuído de um certo infantilismo que é, no mínimo, preocupante. Uma das inconstitucionalidades apontadas no recurso é a negação do direito de defesa. O Tribunal de primeira instância recusou que Carlos São Vicente fosse defendido pelo seu advogado pessoal. Os venerandos magistrados que apreciaram o recurso dizem que mesmo assim, foi defendido por outro advogado. Excelências! Há advogados e advogados. Aquele no qual confio é o que eu quero e não outro. Mesmo que no escritório do meu advogado trabalhem mais 20. 

Um senhor juiz moveu-me um processo porque entendeu que escrevi um texto ofensivo para a sua honra. O meu advogado ia para a audiência, a 300 quilómetros do seu escritório. Encontrou um grave acidente na autoestrada e avisou que não conseguia chegar a tempo. O juiz que me ia julgar não adiou. Mandou vir um defensor oficioso. Fiz confusão e fui ameaçado de prisão por desrespeito ao Tribunal. Mas por fim o justiceiro decidiu adiar a audiência. Sabem o que costumam fazer os defensores oficiosos? Entram mudos e no final dizem estas palavras: Peço Justiça!

A veneranda Presidente do Tribunal Constitucional vive em Luanda. Na capital há pelo menos quatro milhões de homens. Mas a meritíssima escolheu o seu marido. Que ninguém lhe diga que se seu parceiro estiver impedido, qualquer outro dos quatro milhões serve. É um insulto. Foi o que fizeram os nove juízes que confirmaram o Acórdão do tribunal Supremo no processo do empresário Carlos São Vicente. Precisam mesmo de mostrar tanta falta de respeito pelo Estado Democrático e de Direito? Se precisam, estamos já para lá do mobutismo.

Sobre o crime de peculato, Carlos São Vicente provou em Tribunal que não é funcionário público. Que era presidente do conselho de administração de uma sociedade comercial, privada. Sim, é verdade. Mas foi condenado por um crime que só os funcionários públicos cometem. Isto tem de ser mesmo à maneira dos tribunais plenários da pide? Dos tribunais militares de Luanda que julgaram centenas de nacionalistas? Não, não tem que ser. Não pode ser. Temos de recusar que seja.

Só mais esta. Na lista dos bens recuperados. Além de Carlos São Vicente só constam propriedades dos generais Kopelipa e Dino, Manuel Rabelais e do antigo ministro Augusto Tomás. Assim que deitem a unha à engenheira Isabel dos Santos está concluído o combate à corrupção. E as casas de João Lourenço? Onde arranjou tanto dinheiro para adquirir todos os bens que possui? E os bens de Hélder Pita Grós? Onde um oficial das FAA arranjou tanto dinheiro? 

E os bens de Carlos Feijó (Doutor Tuti Fruti)? Em 1992 um amigo comum emprestou-lhe dinheiro para comprar um casaco apresentável! Colaborou no desfecho do processo de Carlos São Vicente. Hoje é multimilionário! O mesmo aconteceu com Aguinaldo Jaime. Na sua qualidade de PCA da Agência Angolana de Regulação e Supervisão de Seguros colaborou na condenação de Carlos São Vicente. Este, em 1975 desembarcou em Luanda, vindo de Lisboa onde estudava, magrinho, encolhido, muito humilde, à procura de um prato de sopa. Hoje é milionário. Donde lhe veio o dinheiro?

No dia 11 de Novembro de 1975, que me lembre, ninguém do MPLA era milionário, Os ricaços estavam todos com a FNLA e a UNITA. Mas esses basaram e sem truques de “recuperação de activos” no combate à corrupção, todos os seus bens ficaram para o povo. É verdade. O “povo em geral” também beneficiou de carros, casas, apartamentos e empresas. Foi tudo muito democrático. Ainda vão julgar Agostinho Neto postumamente. José Eduardo dos Santos já foi julgado e condenado depois de morto. Estão mesmo todos de acordo com o mobutismo?

*Jornalista

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Ocupação Export: NEGÓCIOS ISRAELITAS ESTÃO CRESCENDO NO SAARA OCIDENTAL

SAARA OCIDENTAL OCUPADO POR MARROCOS

Em 22 de dezembro de 2020, Israel e Marrocos normalizaram oficialmente as relações depois que o governo do ex-presidente Donald Trump declarou o Saara Ocidental ocupado como marroquino. Nos anos seguintes, as empresas israelenses aumentaram seu envolvimento comercial no Saara Ocidental, sugerindo que a cooperação da dupla está alimentando o roubo de terras uma da outra.

Jessica Buxbaum* | Mint Press News | # Traduzido em português do Brasil

Em 1975, o Marrocos anexou parte do Saara Ocidental – região indígena do povo saarauí – e sua totalidade em 1979. Poucos aceitaram essas ações: hoje, 82 países reconhecem a independência do Saara Ocidental, enquanto apenas os Estados Unidos reconhecem a soberania marroquina sobre a terra .

“O PIOR DOS PIORES”

Embora Israel não tenha reconhecido oficialmente o Saara Ocidental como parte do Marrocos, várias empresas israelenses já estão trabalhando com o Marrocos no território ocupado. Isso inclui NewMed Energy, Ratio Petroleum, Selina Group, Halman-Aldubi Technologies e uma empresa não identificada está lançando um projeto de aquicultura no Saara Ocidental. A MintPress News contatou as empresas conhecidas para comentar por que estão fazendo negócios em território ocupado, mas não recebeu uma resposta.

De acordo com o grupo de vigilância, Western Sahara Resource Watch (WSRW), as únicas empresas que buscam exploração de petróleo e gás no Saara Ocidental são israelenses - NewMed Energy e Ratio Petroleum.

“Esses são recursos que serão esgotados e desaparecerão sob a ocupação antes que o conflito seja resolvido, e isso é muito preocupante para o povo saharaui”, disse Erik Hagen, membro do conselho da WSRW, ao MintPress News . “Portanto, as coisas que as empresas israelenses estão fazendo agora são as piores das piores.”

Portugal | O ESTADO E A NAÇÃO QUILHADA 'À LA CARTE DO PÊ-EXE' E DOUTROS

José Cardoso, do Expresso balsemista, traz hoje o mote do famoso biombo tapa-escórias e misérias chamado Estado da Nação no Curto que às vezes aqui trazemos. Não pelo escrito mas sim pelo mau estado dessa tal dita e má-espécie de  nação que traz a grande maioria da população de rastos aconselhamos que obstruam as narinas com um trapo generosamente embebido em perfume TABU, espanhol e rasca, mas que é bem melhor que a grande fossa gerada pelo Pê-Exe dos Xuxialistas da viscosa e liquida esterqueira sita no Largo do Rato, em Lisboa, não muito longe de outra esterqueira semelhante que está perto, lá para os lados da Estrela-Lapa. A Álvares Cabral é o que separada aquelas tais estercais fossas pestilentas e endémicas. Adiante que se faz tarde e pelo PG estamos em semi-férias.

Num pulo referimos o que lá consta no prestimoso Curto do supracitado jornalista. Avante:

Crise de professores (sempre), menor abandono escolar (porque quase não há aulas), cresce a imigração (porque apostam no esclavagismo, no tráfico humano e nos salários e trabalhos mais indignos que enchem os alforges dos esclavagistas estrangeiros e lusos desta dita nação, também conhecidos por empresários ou patrões), o SNS tem mais médicos, dizem (lá por isso os pardieiros hospitalares continuam em barda, as insuficiências de pessoal médico e de enfermagem ou outros correlacionados são constantemente constatadas), cresce a economia, dizem (pois, para quem?), cresce o emprego (escravatura?), as pensões de reforma sobem (como? para quem? se a miséria está à vista. Não está?), a divida pública cai (e os mais pobres dos pobres também caem... com fome e sem habitação), 400 mil idosos são pobres (só? façam lá bem as contas e deixem-se de patranhas!)... Ah, as estatísticas (dizem eles, os do Pê-Exe Xuxialista). Basta!

Também já chega de aqui estarmos a pôr mais na escrita. Preferimos mandar às urtigas feitores desta quintinha de corruptos, corruptores, ladrões, vígaros, autogovernados de boas e grandes 'viduxas' e máfias instaladas... Uf, optamos por deixar-vos ler sobre o Estado e a Nação no Curto que se segue e o que desenvolve o restante escrito. Pois.

Entretanto, lembrem-se, o senhor Passos Coelho (Pê-Exe-Dê), como outros, também nos fez passar fome e muitas dificuldades desnecessárias. Até com garbo os badalhocos daqueles governantes desse tempo iam muito além da tal Troika a apertar-nos o cinto, os calos, a descalçar-nos, a baixar-nos as calças e a abusarem de quase tudo e todos que não faziam parte do clã politico-económico-financeiro e etc e tal. Pois. Não esqueçamos, deixemo-nos de ir por cores e loas, prefiramos a razão e o humanismo e justiça de facto e que tanta falta está a fazer a esta espécie de nação tão abusada por uns quantos das elites político-económico-financeiras. Pois.

"Bá-da-merda, senhores" (como dizia a Mélita Marreca, que era senhora estimada do povo de Job que a conhecia lá pelo Casal Ventoso). Estamos fartos e somos milhões!

O Curto a seguir.

MM | PG

Portugal | As 3 medidas

Henrique Monteiro | Henricartoon

Armamento imprudente dos EUA em Taiwan

Enquanto Washington segue a doutrina neocon Wolfowitz no leste da Ásia, John V. Walsh diz que a provocação dos EUA deve parar. Biden deveria aceitar a oferta da China de coexistência pacífica.

John V. Walsh* | Antiwar.com | # Traduzido em português do Brasil

A Ilha de Taiwan foi transformada em um “barril de pólvora” pela infusão de armamento dos EUA, empurrando o povo taiwanês para o “abismo do desastre”. 

Estas são as palavras do Ministério da Defesa chinês em reação à recente venda de US$ 440 milhões em armas dos EUA para a ilha. E agora os EUA também estão dando, não vendendo , armas para Taiwan, cortesia do contribuinte dos EUA.

Taiwan é apenas uma em uma série de ilhas ao longo da costa chinesa, muitas vezes chamada de Primeira Cadeia de Ilhas, que agora está repleta de armas avançadas dos EUA. Estes são acompanhados por dezenas de milhares de militares e tropas de combate dos EUA. 

A Primeira Cadeia de Ilhas se estende do Japão no norte ao sul através das Ilhas Ryukyu do Japão, que incluem Okinawa, para Taiwan e para o norte das Filipinas. 

A aliada dos EUA, a Coreia do Sul, com um exército de 500.000 efetivos e 3 milhões de reservas é um poderoso complemento para esta cadeia. Na doutrina militar dos EUA, a Primeira Cadeia de Ilhas é uma base para “projetar poder” e restringir o acesso marítimo à China.

Taiwan está no centro deste cordão de ilhas. É considerado o ponto focal da estratégia da The First Island Chain. Quando o ferozmente hawkish Cold Warrior, secretário de Estado John Foster Dulles, concebeu a estratégia em 1951, ele apelidou o Taiwan America de “porta-aviões inafundável”. 

Taiwan é agora uma fonte de discórdia entre os EUA e a China. Como se costuma dizer, mas raramente se faz, a busca pela paz exige compreender o ponto de vista daqueles marcados como adversários. E, aos olhos da China, Taiwan e o resto dessas ilhas armadas parecem uma corrente e um laço. 

Como os EUA reagiriam em uma circunstância semelhante? Cuba está aproximadamente à mesma distância dos EUA que a largura do Estreito de Taiwan que separa Taiwan do continente. Considere a recente reação dos EUA aos rumores de que a China estava montando um posto de escuta em Cuba. Houve uma reação bipartidária de alarme no Congresso e uma declaração bipartidária de que tal instalação é “ inaceitável ”. 

Qual seria a reação se a China armasse Cuba até aos dentes ou enviasse centenas de soldados para lá, como os EUA fizeram com Taiwan? Não é difícil imaginar. Imediatamente pensamos na invasão de Cuba patrocinada pelos Estados Unidos na Baía dos Porcos e mais tarde na crise dos mísseis cubanos.

Claramente, o armamento de Taiwan é um ato provocativo que aproxima os EUA da guerra com a China, uma potência nuclear.

Viagem surpresa de Kissinger a Pequim prova gravidade das tensões sino-americanas

Para crédito de cada lado, nenhum deles vazou a notícia sobre a viagem de Kissinger com antecedência, o que sugere que ambos temiam que ela pudesse ter descarrilado se isso tivesse acontecido. Ao manter esse segredo com sucesso até que suas conversas planejadas com o ministro da Defesa Shangfu terminassem, as lideranças chinesa e americana mostraram uma à outra que desejavam sinceramente que esse diálogo informal ocorresse.

Andrew Korybko* | Substack | opinião | # Traduzido em português do Brasil

As tensões sino-americanas continuam muito sérias, como comprovado pela viagem surpresa de Kissinger a Pequim. A Xinhua divulgou detalhes sobre isso posteriormente, relatando que este cardeal cinza pediu a ambos os países que “eliminassem mal-entendidos, coexistissem pacificamente e evitassem confrontos” durante sua reunião com o ministro da Defesa Li Shangfu , que é sancionado pelos EUA por comprar armas russas. Kissinger, de 100 anos, não teria feito esta viagem se não considerasse a situação entre eles crítica.

Suas guerras comerciais e tecnológicas interconectadas continuam a aumentar em paralelo com os EUA reunindo aliados regionais via AUKUS+ . Essa segunda tendência mencionada aumenta as chances de um incidente aéreo e/ou marítimo nos mares disputados do Leste e do Sul da China, o que poderia desencadear uma guerra mutuamente destrutiva por erro de cálculo. Ao mesmo tempo, o mundo inteiro agora sabe que os estoques dos EUA se esgotaram após a admissão franca de Biden no início de julho, sugerindo assim que eles se tornaram muito mais fracos desde fevereiro de 2022.

Os radicais antichineses na burocracia de formulação de políticas dos EUA podem temer que Pequim possa tirar proveito disso e do foco de seu país na guerra por procuração OTAN-Rússia na Ucrânia para fazer um movimento contra Taiwan, cujo cenário pode atrair os radicais antiamericanos na burocracia política da China. Esta observação não pretende dar credibilidade a tal sequência de eventos nem contradizer a abordagem oficial de Pequim de se reunificar pacificamente com Taiwan, apenas para descrever o possível contexto de formulação de políticas.

Contra o pano de fundo exposto nos dois últimos parágrafos, Kissinger provavelmente se sentiu obrigado a intervir em caráter privado em uma tentativa de diminuir suas tensões devido ao papel de liderança que desempenhou na intermediação de sua reaproximação histórica meio século atrás. Afinal, se ele não se preocupasse muito com isso em nível pessoal, não arriscaria sua saúde viajando pelo Pacífico para conversar com o ministro da Defesa chinês.

O secretário de Defesa dos EUA, Lloyd Austin, lamentou a falta de comunicação com seu homólogo no início deste verão, o que muitos observadores atribuem ao fato de Pequim ter respeito próprio suficiente para não atender aos repetidos pedidos de Washington até que suspenda as sanções impostas a seu chefe militar. A ótica de voltar aos “negócios como sempre” sem que isso aconteça pode levar alguns a pensar que a China se subordinou tacitamente para se tornar o “parceiro júnior” dos EUA, daí porque é improvável que o faça.

No entanto, ambos os lados se beneficiariam de algum diálogo informal, mesmo que fosse conduzido por meio de um mediador de confiança mútua como Kissinger. Cada um deles tem interesse em aprender mais sobre as intenções do outro, a fim de diminuir as chances de um conflito convencional por erro de cálculo, para o qual precisam administrar as percepções de seus próprios e dos linha-dura de seus rivais. O fracasso em fazê-lo pode levar um ou outro a aumentar a influência e, consequentemente, levar esses dois estados à guerra.

Sem comparativamente mais clareza sobre o que seu rival pretende alcançar e como eles reagiriam em um cenário de crise, o que está faltando no momento devido à falta de comunicação mencionada anteriormente no mais alto nível militar para militar, é mais fácil para os linha-dura influenciar outros formuladores de políticas para o seu lado. Se isso não mudar logo, então seu já perigoso dilema de segurança pode muito bem se transformar em guerra em algum momento no final desta década, daí a enorme importância da última viagem de Kissinger à China.

O contexto mais amplo em que ocorreu, combinado com o relatório da Xinhua sobre suas negociações, permite especular razoavelmente que ele e o ministro da Defesa Shangfu tentaram convencer um ao outro de que suas respectivas lideranças realmente não desejam uma guerra quente como os linha-dura do outro podem pensar. inevitável. Seja como for, precisamente pela influência que esta facção realmente exerce em algum grau, é improvável que qualquer um deles tivesse prometido fazer concessões unilaterais como um “gesto de boa vontade”.

Os cínicos podem concluir que a falta de qualquer resultado tangível significa que suas conversas falharam em diminuir as tensões e, portanto, foram inúteis, mas isso é prematuro afirmar, pois resta saber se a garantia de cada um de que não deseja a guerra influenciará o outro. dinâmica de formulação de políticas. Em primeiro lugar, toda a razão pela qual essas negociações surpresa foram adiante foi porque suas respectivas lideranças queriam administrar a influência de seus próprios e dos linha-duras dos outros.  

Para crédito de cada lado, nenhum deles vazou a notícia sobre a viagem de Kissinger com antecedência, o que sugere que ambos temiam que ela pudesse ter descarrilado se isso tivesse acontecido. Ao manter esse segredo com sucesso até que suas conversas planejadas com o ministro da Defesa Shangfu terminassem, as lideranças chinesa e americana mostraram uma à outra que desejavam sinceramente que esse diálogo informal ocorresse. Eles então concordaram em informar o mundo depois, a fim de evitar que os linha-dura o girassem de forma conspiratória.

Como o objetivo dessas conversas era tranquilizar o outro de que eles não desejam a guerra e obter uma leitura de se seu rival sinceramente sente o mesmo, segue-se que o insight obtido dessa viagem teria filtrado por suas respectivas burocracias de formulação de políticas. Depois de algum tempo. Isso teria impossibilitado o sigilo indefinido da viagem, por isso ela foi noticiada logo após o término das conversações, o que também serviu para enviar um importante sinal à comunidade internacional.

As lideranças chinesa e americana queriam que o mundo soubesse que nenhum dos dois deseja um conflito quente por erro de cálculo, mas também estão preocupados que a atual trajetória de suas tensões esteja alimentando a ascensão de linha-dura que poderiam tornar inevitável uma guerra por erro de cálculo se sua influência for 't neutralizado. Por esse motivo, foi acordado que Kissinger faria uma viagem secreta à República Popular com a intenção de iniciar um diálogo informal com o objetivo de administrar seu perigoso dilema de segurança.

É muito cedo para avaliar o sucesso de seus esforços de uma forma ou de outra, com observadores apenas sendo capazes de discernir que há interesse mútuo nisso nos níveis mais altos por força dessas conversas ocorrendo e não vazando antes do tempo. Um novo détente provavelmente não está mais nas cartas depois de tudo o que aconteceu desde o incidente do balão de fevereiro, e é por isso que o melhor que se pode esperar é que seus linha-duras sejam eventualmente afastados para criar espaço para os pragmáticos explorarem uma desescalada realista. cenários.

*Analista político americano especializado na transição sistêmica global para a multipolaridade

O Milionário Suicida -- Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

O Mano Arnesto (Ernesto Lara Filho) tinha uma secção própria para as suas crónicas O Seripipi Angolano. Bobela Mota Letras a Desconto. Joca Luandense Mukandas. Eu não quis ficar atrás e lancei Crónicas de Viagens.  Tomei-lhe o gosto e mais tarde criei O Submarino Vermelho, Estórias do Meu Amigo Charli Bar e no Jornal de Angola Crónicas à Média Luz.

As Crónicas de Viagens metiam sempre um milionário em férias milionárias que morria de morte macaca. No início correu tudo bem. Um censor disse a Bobela Mota que aquilo não tinha piada nenhuma, não merecia publicação. Mas o chefe, que era surdo, fingia que não ouvia mesmo nada e publicava as crónicas. Até que à terceira um censor mais vivaço deu uma de “jornalista de investigação” e descobriu que as duas crónicas anteriores eram subversivas. Cortou a peça intitulada O Milionário Suicida.

Até era una crónica desopilante, tinha o seu quê de humor e uma pitada de snobismo sexual. O milionário foi num cruzeiro à Terra Santa. Preparou a viagem ao pormenor. Desembarcou em Alexandria, para ver a biblioteca e dar uma saltada às Pirâmides de Gizé e sua acrópole. Depois avançava para o objectivo santificado.

No bar do hotel, enquanto bebia uísque da minha idade, só com gelo, um pianista esforçava-se por tocar um bolero romântico. Eis que entra uma mulher das arábias, rainha na Inglaterra, santa no céu, imperatriz na Rússia, amante idolatrada no meu quartito do Bairro Operário. Ela varreu o salão com um olhar altivo, esboçou um sorriso celestial, meneou os seios opulentos e num passo coleante dirigiu-se à mesa do milionário em demanda do Santo Sepulcro. Sentou-se a seu lado e estendeu-lhe a mão para o beijo da praxe.

Aquela mulher valia mil récuas de camelos, todo o seu dinheiro, a totalidade do ouro das minas do Rand, toneladas de diamantes do Império do Muata Iânvua. E a sua voz? Maviosa. Sarita Montiel cantando beija-me, beija-me muito como se fosse esta noite a última vez. Ela fez um gesto harmonioso, sacudiu a cabeleira, apontou em direcção ao pianista, o milionário seguiu os seus gestos delicados, fascinado, hipnotizado, em estado catatónico. A beldade depositou à socapa um pozinho no copo de uísque.

O pianista continuava a assassinar o bolero. O par milionário continuou a divertir-se. Eis senão quando o adorador da Terra Santa e demandador do Santo Sepulcro começou a remexer-se na cadeira. Depois contorções. Mais tarde convulsões. E da extremidade anal saiu um cérebro completo. Depois a matéria córnea e finalmente formou-se uma cabeça perfeita. 

Enquanto o pianista bolerava e a beldade esbanjava promessas de sexo ao vivo, a segunda cabeça do milionário falava, criticava, chateava. O que vais fazer à Terra Santa? Vamos ficar com esta santinha! E a outra cabeça replicava: O meu destino é o Santo Sepulcro. A discussão azedou. Vieram as ameaças. Os insultos. Entrou na sala o chefe da segurança do hotel e pediu calma ao milionário e suas duas cabeças. E ele, fora de si, pediu-lhe a pistola Beretta mas o segurador recusou. Tirou da carteira um maço de notas de dólar e a pistola caiu miraculosamente nas suas mãos. Aí arreou as calças e disparou contra a cabeça de baixo. 

Os miolos saltaram, o sangue espirrou para cima da beldade que, enfadada, saiu altaneira do local do crime. Instantes depois o milionário morreu. Tinha-se esquecido da teoria dos vasos comunicantes. Matando a cabeça nova, também a cabeça velha ia à vida porque a morte comunicava de uma para a outra, mesmo a subir. 

Assim acabou mais uma crónica de viagens. A última. Porque desde então os censores nunca mais deixaram passar nenhuma e eu desisti. Mudei para as Crónicas do Submarino Vermelho que também tiveram pouco tempo de vida. Naquele tempo a palavra vermelho era proibidíssima. Só se podia dizer encarnado. Mesmo o equipamento do Eusébio!

Maldita censura. Resolvi ser mais comedido na escrita e avancei com as Estórias do Meu Amigo Charli Bar. Censuradas. Desisti. Mas fiquei a odiar a censura e os censores. Um ódio visceral que me envenenava a vida e a escrita. Apetecia-me matar os censores. Pensei ir ao psiquiatra. Fui salvo pelo 25 de Abril de 1974 quando o meu querido e saudoso amigo Otelo Saraiva de Carvalho e seus companheiros de luta derrubaram o colonialismo e o fascismo. 

Voltei a escrever as crónicas do submarino no jornal A Página e O Pasquim. Ressuscitei as Estórias do Meu Amigo Charli Bar no Jornal de Coimbra. E no Jornal de Angola as Crónicas à Média Luz. Assim exorcizei o ódio à censura. Estava curado e refastelado na escrita livre quando a União Europeia, o estado terrorista mais perigoso do mundo (EUA), Reino Unido e a OTAN (ou NATO) censuraram os Media russos. Ouvi a notícia e pensei que estava com alucinações visuais ou auditivas. Era mesmo verdade.

Mal refeito deste crime hediondo contra a Liberdade de Imprensa, a BBC anunciou empolgada que o jornalista Julian Assange ia ser extraditado para os EUA onde o espera uma prisão perpétua ou condenação à morte, por ousar ser jornalista. As ONG especializadas em liberdade ficaram em silêncio. Sindicatos e outras instituições de jornalistas, silêncio. Partidos políticos que se dizem defensores da democracia, nem uma palavra de protesto. O ocidente alargado acabava de pregar o último prego no caixão do Jornalismo. Na Liberdade de Imprensa. Na Democracia Representativa. 

Margarita Simonovna Simonyan  é uma jornalista russa. Dirige o canal de televisão Russia Today. Antes que seja tarde, digo que aprecio tanto a RT como a BBC, a CNN, a Voz da América, a DW (Deutsche Welle), a RTP, a nossa TPA e outras instituições que são a voz dos donos. Mas censura nunca, jamais em tempo algum! Quem decide da sua existência, do seu sucesso, são os consumidores. Mais ninguém. 

A jornalista Margarita Simonovna Simonyan  foi vítima de um atentado terrorista. Só não morreu porque as forças de segurança salvaram-na in extremis. Em 2022 e 2023, ela foi sancionada pela União Europeia, Reino Unido   e o governo ucraniano “por promover desinformação sobre a guerra na Ucrânia”. O atentado à sua vida foi promovido por estas entidades. Hoje as autoridades russas capturaram dois indivíduos que tentaram matar a jornalista. E os detidos conduziram a polícia a uma organização neonazi. Na sede do grupo foram encontradas armas, explosivos e muita propaganda nazi. 

Bruxelas, Londres e Kiev não ficam isentos de culpa. São seguramente os mandantes. As “sanções” impostas à jornalista são actos terroristas. Hoje dei-me ao trabalho de consultar todos os Media do ocidente alargado. Nem um deu a notícia do atentado contra uma jornalista que dirige um canal de televisão censurado. A Liberdade de Imprensa está morta com certidão de óbito passada. João Lourenço meteu Angola neste cemitério de mortos a soldo de um poder em decomposição. Um dia também vai no necromobil dos políticos falhados. 

Um dirigente político português que faz parte das elites corruptas e ignorantes manifestou-se contra a visita do Presidente de Cuba, Miguel Díaz-Canel,  a Portugal. Porque, disse o kaxiko, naquele país não há eleições livres e justas. 

Na Suécia há eleições livres e justas. Elegeram a extrema-direita. Na Polónia há eleições à medida do banditismo político ocidental. Elegeram nazis. Nos Países Baixos (Holanda) há eleições segundo as regras dos senhores do mundo. Elegeram a extrema-direita. Na Grécia há eleições homologadas por Washington. Nazis no poder. Espanha vai a eleições no próximo domingo. As sondagens dão a vitória à extrema-direita manhosa e aos neonazis do Vox. 

Em Portugal os Media, sobretudo a RTP, fazem de cada intervenção do líder nazi André Ventura um acto de propaganda eleitoral. O tempo no audiovisual mede-se ao segundo ou o tempo real. O líder nazi nunca fala menos de oito minutos! Polícias, agentes do Ministério Público e magistrados judiciais estão empenhados em “eleições livres e justas” a favor da extrema-direita salazarista (é pior do que nazi…). Hitler ganhou as eleições na Alemanha e legitimado pelo voto popular avançou para o Holocausto. Já cheira a extermínios.

A UNITA (nazis de Angola) diz que “decorrido quase um ano desde a realização das últimas eleições gerais e tomada do poder pelo Presidente da República, o País vive uma grave crise”. O partido que lidera a oposição não pode afirmar que o Chefe de Estado “tomou o poder”. Porque está a negar as eleições. A rejeitar os resultados eleitorais. A espezinhar o regime democrático. É com profunda mágoa que vejo João Lourenço aproximar-se perigosamente da ideologia da UNITA. Já tem um prisioneiro na sua Jamba: Carlos São Vicente. 

Uma das suas agentes, a senhora que trata da recuperação de activos, em Janeiro disse que o Estado já recuperou “5 mil milhões de dólares de activos retirados ilicitamente do país, enquanto aguarda decisões judiciais relativas a bens no valor de 21 mil milhões”. Agora revelou que já recuperou 19 mil milhões. Não diz como nem quando nem onde. Não diz em que processos judiciais. Não diz quem eram os “donos do dinheiro”. Sobretudo não informa sobre o destino desses fundos recuperados. Tudo opaco. Tudo aldrabice. Como diz José Luís Mendonça, até as verdades deles cheiram a mentira.

*Jornalista

Angola no Caminho dos Presos Políticos -- Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

A escola de São Domingos tinha grandes futebolistas e um bom campo de futebol. Nós, os da Vila Clotilde, íamos lá jogar e a nossa equipa era reforçada com os craques locais. Fiz lá grandes amizades. O Isaías era ao mesmo tempo guarda-redes, defesa lateral à esquerda e à direita, central, médio e ponta de lança. O maior! Um dia o senhor padre marcou uma redacção de tema livre. O meu amigo escolheu o Caminho Marítimo para a Índia. Um texto fabuloso que vou citar der memória.

Há muito, muito tempo havia um senhor chamado Vasco da Gama. Comprou caravelas de nau, pôs tudo na água e correu com corrida, correu com corrida até que um homem muito grande, muito feio, chamado Adamastor mandu fazer alto. Não passa. Não passa! Ficou em cima da água e roncou:

- Xé Sô Vasco vais aonde?

O sô Vasco falou assim: Sô ‘Damastor vou mesmo na Índia.

O gigante chegava com a cabeça aos tectos negros do fim do mundo, levantou-se três vezes da água e roncou de novo:

- Porque nhé nhé nhé. Aqui é a minha casa. Ninguém passa. Nhé nhé nhé. Ali também não dá é a casa dos meus braços. Nhé nhé nhé. Ali também não dá é a casa das minhas pernas. Nhé nhé nhé. Aqui no fim do mundo não passa ninguém.

O sô Vasco falou assim: Sô ‘Damastor se preciso for pago portagem e deixo vinho do Puto muito bom. Dez barris de palhete. 

O gigante saltou, bateu com a cabeça no tecto negro do fim do mundo disse pópilas! Pópilas! Nhé nhé nhé. Aqui não passas. Eu não sei o que é isso de portagem e sou do Simão Toco, não bebo. Nhé nhé nhé.

Aí o sô Vasco da Gama falou assim: ‘Damastor não chateia branco. Deixa só o branco chegar na Índia. E arrancou com as caravelas de nau até Calecut. 

O Tribunal Constitucional desceu ao nível do sô Vasco e fez dos advogados do empresário Carlos São Vicente, gigantes Adamastores. O acórdão redigido há quase um mês só agora foi tornado público. Diz que não existiu nenhuma inconstitucionalidade na primeira instância e confirma o Acórdão do Tribunal Supremo. Não há inconstitucionalidades. Mas os venerandos magistrados não se limitaram a recusar o recurso extraordinário. 

Na decisão recorrida “não houve violações de Direitos Fundamentais evocados pelo recorrente”. Já lá volto. A apreciação do Tribunal Constitucional tem 30 páginas e os magistrados judiciais queixam-se do “estilo prolixo (…) extenso, repetitivo e redundante”  que marca o recurso. O Adamastor repetindo, repetindo, nhé nhé nhé. Não passas. Também se queixam de “uma copiosa argumentação”. Não passa, sô Vasco. Aqui não passa nhé nhé nhé. Carlos São Vicente fica na cadeia. Esta noite na TPA uma portuguesa disse esganiçada que o dinheiro roubado tem de regressar a Angola! É do Ministério Público lá do sítio mal frequentado e veio a Luanda dar lições à senhora da recuperação de activos.

Os adamastores no recurso referem impedimentos aos advogados. Pouco tempo para examinar o processo. Falta de inquirição de duas testemunhas chave, o Presidente José Eduardo dos Santos e o engenheiro Manuel Vicente, à época dos factos PCA da Sonangol. Introdução de factos novos não constantes na Acusação. Erros graves na apreciação de prova. Utilização de documentos apócrifos como meio de prova. Omissão de pronúncia referente à liquidação de património e indemnização.

Os nove magistrados do Tribunal Constitucional responderam: ‘Damastor. Não chateia os juízes. Deixa só o teu cliente na cadeia. Deixa só comer todos os seus bens. 

E assim se fez. Hoje mesmo a senhora da recuperação de activos embandeirou em arco e anunciou que todos os bens do empresário Carlos São Vicente foram perdidos a favor do Estado. Já tinham sido! Até há edifícios que lhe pertencem, ocupadas por serviços do Estado há mais de um ano! Fez esta declaração mesmo sabendo que os adamastores advogados têm até segunda-feira para arguir nulidades. Quando as coisas aquecem e o povo fica sem comida na mesa, atiram com Carlos São Vicente para a frente. Mas nunca falam de Álvaro Sobrinho. Um dos seus empregados acaba de ser chamado para ministro do Comércio!

Apesar de mais uma vez a Defesa do empresário estar comprometida, até segunda-feira vai entrar novo recurso. Mas pela conversa da senhora que trata da recuperação de activos, é evidente que o recurso prolixo e redundante desta vez também vai para o lixo. A turma do Miala na TPA colocou em grande plano uma foto do empresário Carlos São Vicente e leu o que Miala mandou ler. 

O advogado de Carlos São Vicente foi impedido de entrar na sala do Tribunal. O colectivo de juízes recusou ouvir duas testemunhas que podiam esclarecer tudo, o Presidente José Eduardo dos Santos e o engenheiro Manuel Vicente. Os magistrados disseram que não era necessário. O empresário foi condenado com base num papelito que nem estava assinado! E nove juízes acham que a legalidade foi respeitada.

Os nove juízes do Tribunal Constitucional e todos os outros que colaboraram no julgamento fizeram de Carlos São Vicente um preso político. Angola tem, a partir de hoje, oficialmente, um preso político. Chama-se Carlos São Vicente. Os magistrados judiciais que participaram no julgamento da primeira à última instância comportaram-se como membros dos tribunais plenários, às ordens da pide do Miala. Todos ficam com essa marca no currículo, mesmo as e os que pertencem ao comité da especialidade no MPLA.

Juízes estão às ordens de um poder político que já ultrapassou, nos primeiros cinco anos do mandato do Presidente João Lourenço, o pior do mobutismo. Angola vive sob o estilo político e a ideologia do finado Mobutu.

Angola precisa urgentemente de um novo 4 de Fevereiro. A refundação do MPLA é ainda mais urgente. Entre a PIDE do São José Lopes e a PIDE do Miala há uma grande diferença mas para pior. Entre Mobutu e João Lourenço há uma diferença abissal. O ditador da RDC era mais comedido e menos voraz a sacar o dinheiro dos outros.

* Jornalista

FÉRIAS, um "dolce non fare niente"

Bom dia. Sem aviso prévio iniciámos um período de semi-férias, descanso e lazer que implicitamente faz reduzir o fluxo de postagens no Página Global e o consequente menor acompanhamento da atualidade e do tempo dedicado para manter a atualização habitual desta página.

Pode acontecer que num dia procedamos a publicações na ordem de mais de uma dezena, noutros dias somente por meia-dúzia de postagens e até também haverá dias em que nada publicaremos. Até meados de Agosto assim acontecerá por aqui no PG. Talvez também poderá ocorrer que hajam dias em que nos excederemos nas postagens que julgarmos de interesse para partilharmos convosco. Navegaremos durante quase um mês na imprevisibilidade, no corte parcial com velhos hábitos. Tirar um pouco da previsibilidade e lugares comuns significará para nós FÉRIAS.  Vamos aproveitar essa necessidade de postura quotidiana para nos refrescarmos num banho de "dolce non fare niente".

Então, em meados de Agosto regressaremos em pleno. Esperamos pelas vossas presenças no rol de amigos e visitas. Boas férias, se as quiserem e puderem usufruir. Bons abraços para todos vós.

Redação PG

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