Artur Queiroz*, Luanda
Os europeus ocuparam África.
Primeiro com falinhas mansas, espelhos e missangas. Depois pela força das armas
até à subjugação final e à escravatura. Milhões de pessoas vendidas
Meu pai não tinha loja comercial aberta, guardava as mercadorias num armazém de pau a pique, carregava a camioneta e ia de aldeia em aldeia fazer a “permuta”, que consistia em trocar os produtos por café mabuba ou descascado. Raras vezes vendia a dinheiro. No início dos anos 50 era assim: Nós chegávamos às aldeias e os habitantes fugiam com medo. Depois vinha o soba conversar. Quando percebia que estávamos ali por bem, o povo saía dos esconderijos. Mas as crianças ficavam ao longe!
Em pouco tempo fiz amigos nas aldeias da região. Estava vencido o medo. Aprendi a fazer carrinhos e gaiolas de bordão, colher visgo para apanhar passarinhos, jogar às pedrinhas e até futebol. Esses meus amigos morreram em 1961, bombardeados pela força aérea portuguesa. Em nenhuma aldeia da região existiam tropas, quartéis ou armas. Só vidas humanas.
Abomino o eurocentrismo com todas as minhas forças. É o combustível do esclavagismo, do colonialismo, do genocídio em África. E a forma mais repugnante de racismo. A civilização ocidental só tem isso? Que conte, que perdure, que interesse à Humanidade, só. Vejam o que fizeram aos valores da Revolução Francesa. Onde está o Pensamento Alemão? Kant foi proibido de escrever sobre religião. O seu contributo para a Liberdade e a Dignidade foi despedaçado pelas bombas que ainda hoje trucidam inocentes.
Mesmo assim tenho os meus heróis ocidentais (ou acidentais?). São quase todos poetas desalinhados, filósofos ignorados, artistas plásticos enclausurados em museus de arte antiga ou moderna (até tu, meu querido Nadir Afonso!), militantes da luta pela liberdade e a dignidade (como tu Buiça!), libertadores como o meu amigo Otelo Saraiva de Carvalho. São as excepções que confirmam a horrenda regra. A moral judaico-cristã larga bombas sobre Gaza!
Na vida já vi tanta raridade que nada me admira. Mesmo assim fiquei estupefacto quando li um arrazoado de Anastácio Ruben Sicato elogiando, com citação e tudo, Winston Churchill. Estes sicários da UNITA estão sempre do lado errado.