Artur Queiroz*, Luanda
O nascimento da Rodésia de Ian Smith, em 1965, serviu para reforçar o “poder branco” na África Austral. A declaração unilateral da independência, devidamente combinada com Londres (o Reino Unido era a potência colonial) surgiu quando a Luta Armada de Libertação Nacional em Angola e Moçambique ganhava proporções assustadoras para os esclavagistas e colonialistas. O regime racista de Pretória ganhou mais um satélite de peso mas já tinha a Namíbia ocupada, o Botswana e o Malawi.
O regime racista instaurado por Ian Smtih na Rodésia, com o apoio de Londres, imediatamente se pôs às ordens de Portugal e de Pretória para ajudar a combater a guerrilha da FRELIMO e em 1966, as forças do MPLA na Frente Leste. No que diz respeito a Angola, Pretória e Salisbúria entraram directamente na guerra. Aviões rodesianos e sul-africanos passaram a usar as bases da Luiana, Cuito Cuanavale, Mavinga, Cangamba, Cazombo, Lumbala Nguimbo e Ninda. Reforçaram a Força Aérea Portuguesa, que tinha destacamentos nesses aeródromos. Praticamente todas as operações portuguesas com tropas especiais (paraquedistas) eram feitas com helicópteros da Rodésia (Zimbabwe) e África do Sul.
O triunfo do MPLA e da FRELIMO
mudou o panorama. EUA, Reino Unido e as grandes potências europeias fizeram
tudo para impedir a Independência Nacional
Assim começaram os tempos que mudaram África e o Mundo. Os angolanos em armas derrotaram o regime de apartheid da África do Sul e abriram as portas da prisão a Nelson Mandela. Apoiaram as lutas de libertação da SWAPO (Namíbia) e Frente Patriótica (Zimbabwe). O ANC passou a ter em Angola apoio político e militar. A Liberdade na África Austral entrou em altos voos. Em 1979, o Zimbabwe conquistou a Independência Nacional. A aventura racista de Ian Smith e seus patrões de Londres exigiu 12 logos anos de luta. Mas os colonialistas de Londres ainda amarraram o povo do Zimbabwe ao Acordo de Lancaster House, assinado em 21 de Dezembro de 1979.
Londres impôs eleições gerais pensando que os seus peões iam ganhar. Foram clamorosamente derrotados pela Frente Patriótica de Robert Mugabe e Joshua Nkomo os dois líderes da luta armada contra o regime racista de Salisbúria (Harare). Logo aí começaram as sanções, primeiro, encobertas e depois abertamente.
A Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC), em 2019 designou o 25 de Outubro como de “Anti Sanções ao Zimbabwe” impostas pela União Europeia e Estados Unidos da América. Reino Unido saiu do cartel e agora impõe as sanções por contra própria, como no início, em 1979. Foi Londres que abriu o caminho. O Presidente Emmerson Mnangagwa fez esta declaração a propósito do 25 de Outubro: “Este é um dia designado anualmente pela SADC para expressar a sua oposição e indignação contra as sanções ocidentais ilegais impostas ao Zimbabwe, até que estas sejam levantadas”.Harare agradeceu à SADC, à União Africana e às forças progressistas no mundo que há muito exigem o levantamento imediato das sanções. A Federação Russa e a República Popular da China condenaram “a prática perversa dos países ocidentais de utilizar sanções ilegítimas e unilaterais que violam a Carta das Nações Unidas”. A África do Sul acompanhou a crítica. O bloco BRICS está vivo e ganha pontos. OS EUA comemoraram o 25 de Outubro afirmando que as sanções não representam nada, os problemas do Zimbabwe resultam de “má gestão, corrupção e decisões erradas”. Os mais corruptos do mundo, os mais errados do planeta e os piores gestores da Humanidade dão lições aos outros!
O Reino Unido também acha que as sanções são para manter porque não prejudicam nada. Londres até se gaba de que as transacções comerciais com o Zimbabwe atingiram no ano passado (2022), a astronómica quantia de 177 milhões de euros! No mesmo ano, o governo do Reino Unido mandou 7,6 biliões de euros para a Ucrânia em “ajuda militar”. O Ronaldo custou mais. A arrogância vai fazer explodir estes esclavagistas e colonialistas. Já faltou mais.
Hoje o Presidente João Lourenço, na sua qualidade de presidente da SADC, pediu mais uma vez o levantamento das sanções ao Zimbabwe e lembrou que a ONU elaborou um relatório onde estão descritos todos os malefícios causados ao longo dos anos. O documento desmente Londres e Washington. Mas Biden diz que manda no país mais poderoso do mundo e ele é que sabe. Será? As dúvidas são muitas. Um país que tem a maior dívida externa do planeta e arredores, não é assim tão poderoso como parece.
E se hoje Agostinho Neto fosse vivo, como seria? EUA, Reino Unido e União Europeia ou acabavam com as sanções criminosas ou os seus embaixadores eram expulsos de Luanda. E a diplomacia angolana já estava a trabalhar junto da SADC, União Africana e BRICS para imporem conjuntamente sanções aos criminosos. Neto não ficaria por petições rasantes. A falecida rainha Isabel II pediu ao Presidente da República Popular de Angola que perdoasse e libertasse os mercenários britânicos. Resposta: Não! Hoje há um país da África Austral gravemente prejudicado pelo banditismo do ocidente alargado e nós por cá, pedimos, pedimos, pedimos. De mão estendida e coluna vertebral dobrada até ao chão.
A Palestina, na parte da Cisjordânia, está ocupada por Israel desde 1967. Portanto, há 56 anos, como denunciou António Guterres na ONU. Mas a “Nakba” (catástrofe) do Povo Palestino começou há 75 anos, quando 750 mil palestinos foram expulsos das suas aldeias, vilas e cidades. As suas lavras e casas roubadas. Tropas da Israel correram com eles! Foram para países vizinhos onde vivem, desde então, como refugiados. Os seus netos não aceitam!
A Faixa de Gaza sofre um cerco
por terra, ar e mar, desde
* Jornalista
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