Artur Queiroz*, Luanda
Vou agradecer à nossa Mamã Muxima. Para não fazer má figura peço ao meu amigo Cónego Apolónio para me acompanhar. Eu agradeço e ele reza. Há muitos anos fiz uma reportagem que foi cortadíssima pela censura lá no Palácio da Cidade Alta. Descobri que a imagem de Nossa Senhora na igreja erguida na margem do rio Cuanza, foi desviada da igreja do Carmo, em Luanda, há mais de 200 anos. Na época os luandenses protestaram. A casa da Mamã Muxima foi fundada em 1599, pelo governador e capitão general, Baltazar Rebelo de Aragão. Em 12 de Janeiro de 1924 o templo foi classificado como património cultural.
A igreja do Carmo e o convento anexo foram construídos na mesma época. O templo foi ricamente decorado. As imagens das santas e santos eram autênticas obras de arte. Abundava a talha dourada. Em 1630 foi construída a elegante torre sineira, mesmo a tempo dos sinos tocarem a rebate, quando em 25 de Agosto de 1641 o pirata holandês Cornelis Jol ocupou a cidade de São Paulo da Assumpção de Loanda. Os piratas atacaram com 18 navios de guerra. Nunca se tinha visto nada assim em África.
A população de Luanda refugiou-se na Fortaleza de Massangano. Uma pequena parte ficou mais perto, no fortim da Muxima. A Fortaleza de hoje nasceu 100 anos depois. A ocupação da vila aconteceu em 1581, por Paulo Dias de Novais. Foi lá que instalou a fortificação que serviu de presídio mas também era entreposto de escravos.
Os piratas invasores saquearam, destruíram, prenderam, torturaram e mataram. Destruíram arquivos. Como todos os invasores em todas as latitudes e longitudes. O Calvinismo chegou à Holanda em 1540 e rapidamente foi absorvido pelas elites e pelas massas populares. De tal forma que em 1660 estava enraizado o chamado Puritanismo Holandês. Os piratas que atacaram a Muxima profanaram a igreja da nossa Mamã. Destruíram as imagens. Crimes contra a Fé.
Salvador Correia expulsou os piratas de Luanda e de toda a costa angolana. Foi preciso repor tudo no seu lugar Mas só no século XVIII a Igreja de Nossa Senhora da Muxima beneficiou de obras. A imagem da santa padroeira foi retirada da igreja do Carmo e levada para a margem do Cuanza até chegarem as imagens das santas e santos encomendados à “metrópole”. Surgiram protestos e as autoridades religiosas prometeram que a imagem de Nossa Senhora regressava a casa quando chegassem as imagens encomendadas. Nunca mais voltou.
Os censores trucidaram a minha reportagem porque ousei escrever que a Mamã Muxima tinha que ser negra ou mestiça. A original, branca, que regressasse à igreja do Carmo, frequentada pela população mais rica da cidade., Não gostaram. Hoje reconheço que essa parte foi uma provocação escusada. Mas os colonialistas tinham lançado o “selo de povoamento” (um imposto encoberto) que tinha o busto de um negro, dum mestiço e de um branco. Uma santa negra até os ajudava na aldrabice…Sim, vou agradecer à Mamã Muxima por ter iluminado o Presidente João Lourenço. Na cerimónia de cumprimentos do Corpo Diplomático fez um discurso blá-blá-blá Corredor do Lobito. O comboio só apita em Angola desde que os ladrões se meteram no negócio. Depois falou da agressão dos russos à Ucrânia segundo a cartilha que lhe foi ensinada à lareira da Casa Branca por Joe Biden, o assassino cruel, a múmia putrefacta. A seguir disse isto:
“No Médio Oriente, assistimos há mais de 100 dias a uma reacção desproporcional, que levou, neste período, à morte de mais de 25.000 cidadãos palestinos, entre os quais milhares de crianças indefesas, que, como sabemos, seguramente não são terroristas. Compreendemos que, em todas as guerras, há danos colaterais que podem afectar civis inocentes, mas nunca neste número e proporção em que os eventuais danos colaterais humanos e de infra-estruturas são muito superiores aos alvos perseguidos”.
Mamã Muxima continuou a fazer luz na mente de sua excelência o Presidente da República que disse mais: “A História vai condenar-nos no futuro se mantivermos hoje um silêncio cúmplice e nada fizermos para se acabar com este massacre de civis na Faixa de Gaza”.
Parabéns camarada Presidente! Mas tenho uns reparos a fazer. É um insulto ao Povo Angolano e ao Povo Russo comparar o genocídio na Palestina com a operação militar especial na Ucrânia para desnazificar e desarmar um Estado que se tornou ameaça à existência da Federação Russa. O “massacre” na Faixa de Gaza é visto de outra maneira por parceiros de Angola.
O que se passa na Palestina, para os nossos camaradas do ANC, na África do Sul, é um genocídio. E por isso o Governo sul-africano apresentou uma queixa contra Israel no Tribunal Internacional de Justiça. O julgamento continua. Para o Presidente João Lourenço é um massacre. Quem assume compromissos com o estado terrorista mais perigoso do mundo, depois não pode falar livremente.
A declaração em frente aos representantes do Corpo Diplomático e organizações internacionais chegou demasiado tarde. Devia acontecer no primeiro dia de bombardeamentos indiscriminados à Faixa de Gaza. Mas mais vale tarde do que nunca.
Agora lanço, desta tribuna, um desafio a sua excelência o Presidente João Lourenço. Se foi sincero no seu discurso, então não receba o assassino Blinken. Os “massacres” na Palestina são ordenados por ele. São financiados pelo seu governo. Os massacrantes são armados e municiados pelos EUA. Não estenda a mão a um assassino que tem as mãos manchadas pelo sangue de milhares de crianças e Mamãs palestinas.
E deixo uma sugestão. O assassino Blinken é recebido pelo senhor ministro Laborinho na estrada entre o Cuito Cuanavale e Menongue. Logo nos primeiros quilómetros, à direita, estão sepultados combatentes angolanos que foram mortos pelos racistas sul-africanos a mando dos seus mentores e apoiantes nos EUA. O Presidente Reagan até lhes forneceu mísseis Stinger por intermédio do criminoso de guerra Jonas Savimbi.,
O senhor ministro Laborinho mostra-lhe um mandado de captura assinado pelo venerando Presidente do Tribunal Supremo, Joel Leonardo, e pela Veneranda Presidente do Tribunal Constitucional, Laurinda Cardoso. Depois leva-o ao aeroporto de Menongue, mete o assassino de crianças e Mamãs num avião e adeus. Nunca mais volte à terra livre de Angola, mesmo que o Presidente da República seja seu amigo do peito. Obrigado Mamã Muxima!
* Jornalista
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