Artur Queiroz*, Luanda
Corriam os anos 60 e o racismo de Estado (apartheid) nos EUA estava no topo da agenda política. Multiplicavam-se as organizações que reclamavam direitos iguais para negros e brancos. Os Panteras Negras ganharam visibilidade mundial quando os atletas Tommie Smith e John Carlos, nos Jogos Olímpicos do México, em 1968, ao receberem as suas medalhas de campeões, no pódio, manifestaram a adesão à luta contra o racismo. Eram negros norte-americanos.
No ano anterior, um talentoso cineasta, Stanley Kramer, assinou o filme “Adivinhem Quem Vem Jantar”. Um estrondo. O actor negro Sidney Poitier era o noivo de Katherine Hepburn, uma jovem branca. O “sonho americano” quando nasce é para todos. Assim reclamavam Ângela Davis, Martin Luther King, Malcolm X, Bayard Rustin, Rosa Parks ou Amélia Boynton Robinson. Abertamente, sem pudor, contra a honra da Humanidade, só a África do Sul manteve o racismo de Estado. Até o ditador Salazar fingiu que nas colónias portuguesas não existia racismo. Quem viveu esses anos de chumbo sabe que sim, o racismo era política oficial do estado fascista e colonialista.
No dia 16 de Julho de 1973, Marcelo Caetano, substituto do ditador Salazar, fez uma visita de Estado a Londres acompanhado pelo seu ministro dos negócios estrangeiros, o fascista e colonialista Rui Patrício. O regime perdia apoios em todo o “mundo ocidental” e ganhava cada vez mais críticas contra a Guerra Colonial. A visita à capital do Reino Unido aconteceu quando os padres de Burgos denunciaram nas páginas do jornal “The Times”, o Massacre de Wiriyamu, em Moçambique.
As tropas portuguesas de ocupação dizimaram todos os habitantes de Wiriyamu, Djemusse, Riachu, Juawu e Chaworha, o chamado “Triângulo de Wiriyamu”. Na sua edição de 10 de Julho de 1973, o padre britânico Adrian Hastings e os missionários espanhóis denunciaram os crimes de guerra. Seis dias depois da denúncia Marcelo Caetano o chegou a Londres.
Em toda a Europa soou a pergunta: Adivinhem quem nos vem visitar?” A resposta troou: O chefe dos assassinos do Triângulo de Wiriyamu! Jovens de todos os países europeus rumaram a Londres. Nunca se viu nada igual. O primeiro-ministro português e o seu ministro dos negócios com o estrangeiro foram apupados, vaiados, insultados. A multidão gritava: Assassinos! Assassinos! Assassinos! E não sabiam que em Angola aconteceram massacres mil vezes piores desde 4 de Fevereiro de 1961. Mas eu sabia. Vi. Chorei, morri também.
A polícia de Londres teve que deter os manifestantes mais exaltados. Um fiasco. Aquela manifestação foi o princípio do fim do colonialismo português. Nas ruas de Londres começou a ruir o império colonial. Menos de um ano depois os Capitães de Abril derrubaram o regime. Caiu de podre.
Adivinhem quem nos vem visitar? O assassino Antony Blinken! Não vou fazer a lista dos seus crimes. Apenas recordo que disse recentemente isto: “Estamos contra o cessar-fogo na Faixa de Gaza porque isso só beneficia o HAMAS”. Para ele, o Povo da Palestina é o HAMAS. Os milhões de habitantes da Faixa de Gaza são terroristas. Têm de receber um castigo colectivo. Têm de ser alvos de genocídio.
O assassino Blinken, que vem visitar o encobridor e cúmplice João Lourenço, carrega às costas o assassinato de milhares de crianças e Mamãs palestinas. No Triângulo de Wiriyamu os colonialistas massacraram mais de 2.000 camponeses, na maioria mulheres e crianças. Na Faixa de Gaza, em pouco mais de 100 dias, Blinken e seus comparsas sionistas mataram 11 mil crianças! Porque um cessar-fogo só ia beneficiar o HAMAS!
O assassino Blinken apoia a destruição de cidades inteiras, cemitérios, escolas, lugares de culto, universidades hospitais na Faixa de Gaza. O assassino Blinken apoia operações militares dos nazis de Telavive em hospitais e a prisão dos técnicos de saúde. O assassino Blinken apoiou a execução deliberada de 136 funcionários da ONU, caso nunca visto desde que existe a organização.
O assassino Blinken e seus comparsas de Telavive mataram até hoje 68 jornalistas na Cisjordânia e Faixa de Gaza. Deliberadamente. Os nazis de Telavive e seus mentores da Casa Branca não querem testemunhas. Adivinhem quem nos vem visitar? Esse mesmo, o assassino. O genocida. O que carrega às costas o assassinato de 25.000 palestinos entre os quais 11.000 crianças e milhares de Mamãs.
A visita a Angola do assassino Antony Blinken, quinta e sexta-feira, segundo o Jornal de Angola, “vai ajudar no fortalecimento das relações políticas, diplomáticas e económicas entre os dois países”. Esta é a opinião é dos analistas Osvaldo Mboco e Damárcio dos Santos. Grandes analistas! Devem viver numa caverna da Serra do Pingano, da Serra da Leba ou nas montanhas rutilantes do deserto do Namibe. Nunca ouviram falar do genocídio em curso na Faixa de Gaza. O chefe Miala está apostado em não deixa pedra sobre pedra.
A demissão de Ângelo Veiga Tavares suscitou uma onda de especulações que eu não vou alimentar. Até o seu substituto, João Pinto, está a ser rejeitado e só hoje tomou posse. Claro que neste cenário há o dedo dos sicários da UNITA e seus apêndices da “frente” de assalto aos tachos na Assembleia Nacional. A Inspecção Geral da Administração do Estado (IGAE) é uma instituição sem mácula. Ainda não caiu no caldeirão de porcaria para onde foram atiradas instituições como a Procuradoria-Geral da República, Tribunais e as magistraturas.
O discurso do Presidente João Lourenço na tomada de posse de João Pinto é inqualificável. Ordena-lhe, ante as câmaras de televisão, que “não caia na tentação de se substituir ao Serviço de Investigação Criminal e à Procuradoria-Geral da República”.
Especular para quê? As palavras do Titular do Poder Executivo, Presidente da República e Comandante em Chefe das Forças Armadas bastam para todos percebermos que Ângelo Veiga Tavares foi vítima de actos ilegítimos, provavelmente ilegais, em resposta à sua acção na IGAE. E o Chefe de Estado, em vez de proteger o responsável da instituição, demite-o e avisa o seu substituto que quem manda são os chefes Miala e Pita Grós. Juizinho, João Pinto!
O assassino Blinken tem de ser recebido com uma manifestação poderosa de repúdio, como Marcelo Caetano foi recebido em Londres, há 50 anos. Em boa verdade vos digo que este assassino colonialista é ainda mais perigoso que o chefe do regime fascista de Lisboa.
* Jornalista
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