Artur Queiroz*, Luanda
As especulações sobre a demissão do inspector geral do Estado, Ângela Veiga Tavares, são propositadas. Areia atirada aos olhos dos cidadãos. Manobras de diversão. Os portais e “sites” controlados pelo chefe Miala disparam rajadas permanentes. Já o fizeram quando o Presidente João Lourenço fez a nomeação, em meados do ano passado. Imediatamente surgiram “notícias” que deitavam abaixo o nomeado, ainda que depois de ser exonerado do cargo de ministro do Interior, tenha ficado a trabalhar com o Titular do Poder Executivo como conselheiro.
As “notícias” tinham como fim
condicionar o inspector geral do Estado. Para continuar o festival dos
contratos pagos mas não cumpridos, as despesas pagas sem que nada o
justificasse, as compras feitas sem que se conheça o que foi comprado. Um
problema antigo. Na mudança de regime, o Estado Angolano importou milhares de
milhões
A comunicação social portuguesa, ciclicamente falava da “dívida” de Angola a Portugal. O Presidente José Eduardo dos Santos nomeou um grupo técnico para verificar se Angola devia mesmo. E se devesse, pagava. Nove de cada dez processos eram falsas dívidas. Obras que nunca foram feitas. Bens de consumo, equipamentos, materiais de construção civil e outras mercadorias nunca chegaram a Angola. Quando foi exigido aos credores que apresentassem os documentos do embarque dos bens para Angola, nada. Foi exigida documentação da desalfandegação em Angola das mercadorias e equipamentos. Nada, apenas um papel “proforma”.
A dívida caiu para menos de metade! Muitas facturas foram pagas mesmo sem os processos estarem completos e restarem dúvidas. O mesmo se passava com “fornecedores” angolanos, sobretudo construtores civis. Receberam e nada fizeram. Ângelo Veiga Tavares sabe melhor do que ninguém como tudo aconteceu. E uma vez investido como responsável máximo da Inspecção Geral da Administração do Estado, foi procurar os “gatos”. Encontrou dezenas. Talvez centenas!
Como lhe competia, pôs os inspectrores a trabalhar. Agiu com a máxima lealdade. Avisava os ministérios a inspeccionar com pelo menos dois meses de antecedência. E os titulares logo se movimentaram para que as inspecçóes não se fizessem. Contratos que chegavam à IGFAE para validar, eram escrutinados minuciosamente. Muitos voltaram para trás por estarem cheios de irregularidades. O inspector-geral em poucos meses pôs o Executivo em sentido.
O Ministério das Finanças fez “cativações” financeiras para estrangular os serviços do IGAE. Isto não é especulação. Ângelo Veiga Tavares, na cerimónia de transferência de pastas, disse calmamente, como quem não quer a coisa, que a IGAE foi vítima de “cativações”. O quadro orgânico da instituição foi “engavetado” no Ministério das Finanças! Para que os inspectores continuassem a ganhar 250.000 Kwanzas por mês e assim serem permeáveis à corrupção.
O Presidente da República, pouco mais de seis meses após a nomeação de Ângelo Veiga Tavares, exonerou-o. E mandou-lhe um recado: Estava a intrometer-se na área do Serviço de Investigação Criminal e do Ministério Público! Mais um encobrimento. Mais uma cumplicidade. A verdade é que a IGAE estava a pôr o dedo na ferida da corrupção. E isso é intolerável. Só os filhos do Presidente José Eduardo dos Santos podem ser investigados. Só o empresário Carlos São Vicente pode ser preso sendo inocente e seus bens “privatizados”. Só o Manuel Rabelais pode ser crucificado na praça pública, para não ofuscar o Ernesto Bartolomeu e outros criados do chefe Miala na comunicação social.
A pedido de vários leitores vou fazer o que não gosto: Analisar a situação política em Portugal neste período de eleições. Partido Socialista vai a votos sob suspeitas alimentadas pela Procuradoria-Geral da República e agentes do Ministério Público. Conseguiram derrubar um governo apoiado por uma maioria absoluta no Parlamento!
O PSD vai a votos sob suspeita. O líder, Luís Montenegro, fez obras na sua casa. Foi tudo licenciado, tudo legalizado. O Ministério Público e os Media às ordens ventilam suspeitas sobre ele. Hoje entraram de rompante na Câmara Municipal do Funchal e na sede do Governo Regional da Madeira para “buscas”. Levaram com eles uma cáfila de “jornalistas” do continente. Já sabiam que ia acontecer o que está em segredo de Justiça. A CDU (Partido Comunista, Os Verdes) e o Bloco de Esquerda são silenciados.
Campanha eleitoral nos Açores e a pré campanha no continente só têm um concorrente, o partido Chega, racista, xenófobo e nazi. Toda a comunicação social portuguesa é Chega, com especial destaque para o canal público de televisão, RTP. A PGR e os agentes do Ministério Público, Chega! Mas ainda é pouco. Os militares da Guarda Nacional Republicana (GNR) e os agentes da Policia de Segurança Pública (PSP) estão em manifestações permanentes. Em Campanha eleitoral do Chega. Cinicamente dizem que não querem partidos nas suas manifestações. Só a polícia e Chega!
A extrema-direita portuguesa vivia protegida nas fileiras do PSD e do CDS. Até que abriram o Chega (fascistas feios porcos e maus) e a Iniciativa Liberal (fascistas engravatados). Pessoal político e votantes migraram imediatamente para os novos partidos. Nas últimas eleições já deram uma expressão significativa aos seguidores do fascismo/nazismo. Nas eleições de Março vai ser o dilúvio.
Nos 50 anos do 25 de Abril,
Portugal corre o risco de ter um governo de extrema-direita. Não pensem que
esse fenómeno só toca aos angolanos e portugueses. Todo o “ocidente alargado” é
governado pela extrema-direita.
* Jornalista
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