sexta-feira, 24 de janeiro de 2025

Angola | Disparem Sobre o Mensageiro -- Artur Queiroz

<> Artur Queiroz*, Luanda

No tempo em que o cinema era uma arte, François Truffault dirigiu o filme “Disparem Sobre o Pianista”, interpretado por Charles Aznavour e baseado numa estória de David Goodis, perito em literatura policial ao bom estilo do norte-americano Raymond Chandler. 

Alguns anos depois da estreia da fita, Charles Aznavour veio cantar a Luanda, no então cinema Restauração que foi a primeira sede do parlamento angolano, após a Independência Nacional. Eu estava lá como repórter no “show” do cantor francês e na primeira sessão da Assembleia do Povo. Palpita-me que estou a ficar velho.

O espectáculo de Charles Aznavour em Luanda tem uma cena rocambolesca. Paulo Cardoso, na época o maior radialista de Angola e um dos mais brilhantes de todos os tempos, decidiu que ia transmitir o espectáculo em directo, na Voz de Luanda. Mas não chegou a acordo com o empresário, que queria muito dinheiro para autorizar a transmissão. O radialista já tinha patrocínios e publicidade. Ia tudo por água-abaixo.

Paulo Cardoso não era homem de se intimidar. Ele é que intimidava com a célebre frase “se não quer que seja notícia não deixe que aconteça”. Conseguiu uma linha telefónica para o fosso da orquestra no Restauração e montou um estúdio-geringonça no lugar do “ponto”. Instalou tudo uma hora antes de Aznavour entrar em palco. Depois fingiu que ia entrevistar o artista antes de entrar em cena. Uma vez no palco, escondeu-se no buraco do ponto e esperou a sua hora.

Aznavour no palco, o público aplaudiu e Paulo Cardoso entrou no ar! Até ao intervalo transmitiu tudo. Mas depois foi corrido do “buraco” do ponto e acabou a aventura. 

Aproveitando um comentário do jornalista José Ribeiro sobre João Melo, publiquei um texto com muitos anos e que na altura ele me demoveu a publicar no Jornal de Angola onde era director e eu faz tudo, concorrendo com o meu amigo Faz Tudo, paginador. Fui muito criticado. Até recebi uma mensagem insultuosa. Outro descontente disse que eu estava a pedir um tiro nos cornos! Isso mesmo. Disparem sobre o mensageiro.

O comentário de José Ribeiro sobre João Melo tem uma parte que omiti mas publico hoje, na íntegra: “Que figurão! O ministro que destruiu a comunicação social angolana em 2017, saneando jornalistas e fechando projectos inovadores, que apoiou a perseguição a empresários e a destruição da economia de Angola, diz que se vai internacionalizar. Que figurão! Tudo por dinheiro, como sempre. Para salvar os seus projectos falhados, sem prestar contas. O mais corrupto e sem moral que houve na Comunicação Social, gaba-se dos filhos viverem à mama da Sonangol nos EUA. Situação que Isabel do Santos ia revelar e foi travada. Agora acusa os outros de falência moral. Que figurão!”

João Melo tentou sabotar mudanças técnicas essenciais no Jornal de Angola. Não conto as suas malfeitorias porque não devo revelar publicamente o que acontecia na empresa para a qual trabalhei até 2015. Mas José Ribeiro pode e deve fazê-lo. Eu para já encerro o assunto. Não pela ameaça de dispararem sobre o mensageiro, mas porque o lugar do ministro do Corredor do Lobito é no aterro de Mulenvos. 

João Melo diz que se vai internacionalizar. Isso quer dizer que em vez de sacar à Sonangol, TAAG, ENDIAMA, ENSA e outras empresas públicas, vai alargar a acção aos estrangeiros. Ou então integra a equipa do George Soros para fazer concorrência ao Rafael Marques. Também pode pôr-se às ordens da CIA. Tudo boa gente

Donald Trump diz que Deus desviou a bala para a orelha, porque não podia morrer. Tem de salvar o estado terrorista mais extremista do mundo! Esta parte fez-me lembrar as eleições de 2012, quando entrou em cena a CASA-CE, dirigida pelo trânsfuga da UNITA Chuvukuvuku, acolitado pelo trânsfuga do MPLA André Mendes de Carvalho (Miau). Este, depois de criar uma pança monumental à conta do partido que apoia o governo, disse na campanha eleitoral: “Agora compreendo por que razão Deus salvou Abel Chivukuvuku no Sambizanga. Foi para ele governar Angola e salvar o Povo Angolano”. Estes artistas acumularam mundos e fundos. Quando ficam podres de ricos cospem no prato. Sabujos! 

A nova embaixadora dos EUA na ONU, Elise Stefanik, disse no Congresso que “Israel tem o direito bíblico de ocupar a Cisjordânia”. Isso de dois estados, resoluções da ONU, Direito Internacional e outras miudezas são coisas de lunáticos. O Tribunal Internacional de Justiça e o Tribunal Pena Internacional são instrumentos do HAMAS. Terroristas que perseguem os nazis de Telavive. 

O que está a acontecer na Cisjordânia ocupada é a prova provada de que a Humanidade já não tem honra, não tem dignidade, não tem moral. Está tudo nas mãos dos oligarcas das tecnológicas! 

Só agora os democratas liberais descobriram que as redes sociais, controladas pelos multimilionários do estado terrorista mais extremista do mundo, destruíram o Jornalismo. Ando a denunciar isso há 25 anos, sem êxito. Pelo contrário, fui silenciado. Censurado. 

Nos anos 60 as minhas crónicas e reportagens eram censuradas. Em 2025 está tudo na mesma. Mas eu insisto. Não contem com o meu silêncio. Muito menos com a rendição.

* Jornalista

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