< Artur Queiroz*, Luanda >
Abril, 28. 11horas da matina. Mana Fina liga o gerador, a luz foi. Não ouves? Preciso de energia para a internet. Tenho de mandar um texto. Sou o monangambé da escrita. Se falho vou no contrato. Me prendem nas cordas. Me rapam o cabelo. Cabeça de galinha ó Zé. Vai para a tua terra no mato. Aqui não é lugar para gentios.
Ouviste Mana Fina? Vai ligar o gerador. Esses cabrões da EDP não sabem cuidar da luz. São engenheiros do matongé.
Desta vez enlouqueceste mesmo. Aqui não há Mana Fina nem gerador. Os escribas em Gaza também estão sem luz, medicamentos, água e comida. Levam com bombas nas casas, costados e cabeças.
As crianças em Gaza morrem despedaçadas pelas bombas dos nazis de Telavive. Só querem mesmo brincar nas ruas sem luz. Brincar. A internacional fascista vai riscar do mapa a Palestina. Depois são riscados todos os que não aceitarem as tarifas da Casa dos Brancos e viverem nos parâmetros da democracia. Abaixo a liberdade. És um felizardo seu burguês alienado. Hoje não te enchem a pança de lixo mediático.
Mana Fina liga o gerador.
Falta-me o vício do espectáculo. Quero ver a Kieza reportar do Bairro das
Flores
Mostrem-me os cardeais ajoelhados aos pés de Trump e Zelensky na casa de um deus adormecido há milénios, viciado na boa vida. Ainda bem. Que não acorde do sono eterno. Que nunca veja os crimes que cometem em seu nome.
O colonialismo é genocídio. Sou testemunha. A arma mais usada na matança genocida e na submissão dos africanos foi a cruz de Jesus Cristo, o palestino insubmisso. Tudo virado ao contrário e eu sem luz, como em Gaza.
Na primeira Guerra do Iraque, a coligação ocidental que queria encontrar as armas de destruição maciça (nunca existiram), também me deixou seis dias sem água, luz e comida. Fiquei à rasca. Minha Vovó Ana ensinou-me que fome só ao fim de três dias sem comer. Ao quarto já corremos perigo de morrer. Estava errada. No Iraque só comi ao sétimo dia a ainda aqui ando.
A minha avozinha também me disse que quando os caminhos ficarem cheios de pedras e capim, a Humanidade vai comer bichos peçonhentos. Os homens vão matar-se na disputa de vermes! Será por isso que apagaram a luz?
Assim ninguém vê os beiços de Trump escorrendo a gordura do banquete ucraniano. Mas que festim. Um governo de nazis, segundo Bruxelas, Paris, Berlim e Londres, está a defender a democracia na Europa! Os batalhões e brigadas Azovnazis defendem a liberdade dos europeus. E de repente a luz apagou e o povo percebeu.
A OTAN (ou NATO) perdeu a guerra na Ucrânia contra a Federação Russa. Trump tirou o cavalinho da chuva e só ficou a União Europeia comprometida. Aí Bruxelas, Paris, Berlim e Londres decidiram cortar a luz. Assim os governados aceitam que os governantes desviem os fundos das políticas sociais para financiar a continuação da guerra. E ainda culpam os russos do apagão! Em Portugal o Montenegro e sua tropa de extrema-direita vão culpar também os emigrantes.
Eu fiquei sem luz. Mana Fina faz favor, vai ligar o gerador. Faz-me falta, o espectáculo da mentira engalanada, a manipulação decorada, a mentira colorida, a palhaçada desmedida. Estou mesmo a ficar burro com dizia o Mano Ndozi. Aqui não há Mana Fina nem gerador. Se és vítima do imperialismo, aguenta, luta, resiste!
Ai é? Então vou ler o livro do Azulay. Não, esse é para o fim-de-semana. Hoje é dia de ler a Obra Reunida de António Jacinto. A tiragem foi de 400 exemplares e eu sou um dos felizardos que tem uma cópia do livro.
Mesmo que me castiguem e fique sem luz um ano, vou mesmo dizer a minha verdade. A Obra Reunida de António Jacinto devia ter uma tiragem de 30 milhões de exemplares, uma cópia para cada angolano. E todos os anos deviam fazer uma tiragem para oferecer um exemplar a cada criança que nasce. Um livro de António Jacinto no enxoval. Que maravilha!
Isto quer dizer que o ministro da Cultura do Executivo chefiado por João Lourenço já devia estar fora do governo. E João Lourenço fora do Palácio da Cidade Alta. Para responder por crimes graves contra a Cultura Angolana.
A Obra Reunida de António Jacinto com uma tiragem de 400 exemplares? Pintem a cara de branco e vão governar para a lixeira!
Mana Fina faz favor, vai ligar o gerador. A luz foi.
A luz voltou! São 22 horas e 22 minutos. Aí vai texto.
* Jornalista
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