segunda-feira, 7 de abril de 2025

Terramoto das tarifas de Trump perdura. Mercados europeu e asiático em queda acentuada

As principais bolsas europeias abriram esta segunda-feira em queda livre, a seguir a tendência das praças asiáticas, devido à inflexibilidade de Donald Trump sobre as tarifas impostas aos parceiros comerciais dos Estados Unidos.

O EuroStoxx 600 estava a recuar mais de 5% e as bolsas de Londres, Paris e Frankfurt desciam 4,58%, 5,78% e 6,58%, respetivamente, enquanto as de Madrid e Milão se desvalorizavam 5,51% e 6,90%. A bolsa de Frankfurt chegou a estar a recuar mais de 9%. No entanto, os mercados europeus estavam, em geral, a sair-se melhor do que os mercados asiáticos nas primeiras negociações.

A bolsa de Lisboa mantinha a tendência da abertura e às 8h45 o índice PSI baixava 5,94% para 6.241,55 pontos, um mínimo desde 17 de abril de 2024, com a cotação dos 15 papéis a descer.

O índice de referência Nikkei 225 do Japão fechou 7,9% mais baixo, enquanto o Topix mais amplo terminou em queda de 7,7%. A gigante tecnológicA Sony caiu mais de 10%.

Na China continental, onde os mercados reabriram após um feriado nacional, o Índice Composto de Xangai fechou em baixa de mais de 7%. O índice CSI300 também perdeu cerca de 7%. Em Hong Kong, o índice de referência Hang Seng foi negociado pela última vez um pouco menos de 12%. Os gigantes chineses da tecnologia Alibaba e Tencent caíram mais de 14% e 10%, respetivamente.

As ações norte-americanas caíram acentuadamente na sexta-feira, depois de a China ter retaliado ferozmente, impondo uma tarifa de 34% sobre todos os produtos dos EUA, aumentando os receios de uma escalada e de uma guerra comercial prejudicial, alimentada pela tensão comercial contínua entre as duas maiores economias do mundo.

O índice de referência da Bolsa de Valores de Taipé, o Taiex, afundou 9,7%, a maior queda diária da sua história, refletindo o pânico dos investidores na sequência das taxas impostas por Washington sobre produtos taiwaneses.

Quase todas as ações taiwanesas, incluindo a TSMC e a Foxconn, duas das mais conhecidas potências exportadoras da ilha, dispararam os circuit breakers, segundo a Agência Central de Notícias de Taiwan. Tanto a TSMC como a Foxconn caíram cerca de 10%.

O Kospi da Coreia do Sul terminou em baixa de 5,6%. A Samsung, potência tecnológica e principal motor de crescimento do país, caiu mais de 5%.

Na Austrália, o índice de referência ASX 200 fechou em baixa de 4,2%, enquanto o NZX 50 da Nova Zelândia - o primeiro índice a fechar na região na segunda-feira - terminou o dia em baixa de 3,7%.

Preço do barril do Brent cai 2,83 %

O preço do barril de petróleo Brent para entrega em junho abriu esta segunda-feira a cair 2,83% no mercado de futuros de Londres para os 63,72 dólares, após uma queda nos mercados asiáticos.

O crude do Mar do Norte, de referência na Europa, caiu 2,83% face ao fecho de sexta-feira, quando fechou a cotar nos 65,58 dólares, mantendo-se abaixo da marca dos 70 dólares.

Já o euro estava a avançar, a cotar-se a 1,1028 dólares no mercado de câmbios de Frankfurt, contra 1,0956 dólares na sexta-feira.

Receio de nova queda em Wall Street

Os contratos de futuros dos principais índices da Bolsa de Nova Iorque caíram fortemente no domingo, apontando para uma nova queda em Wall Street esta segunda-feira, ainda abalada pela onda de tarifas anunciadas pelo presidente norte-americano, Donald Trump.

Os preços do petróleo também caíram acentuadamente para o vermelho.

Tradicionalmente considerado uma aposta financeira mais segura, o ouro caiu mais de 4%, para cerca de 3.030 dólares por onça, desde quinta-feira.

Cerca das 23h05 GMT, pouco depois de estes contratos terem retomado a negociação às 22h00, o Dow Jones caía 3,89%, enquanto o S&P 500 caía 4,39%.

O Dow Jones manteve-se em queda de 9,26% durante as duas sessões de quinta e sexta-feira, e o S&P 500 em 10,52%.

O barril de West Texas Intermediate (WTI), a principal variedade americana de petróleo, para entrega em maio, a referência, descia 3,31% para 59,94 dólares.

No domingo, caiu abaixo dos 60 dólares pela primeira vez desde abril de 2021.

Trump ignora preocupações

No domingo à noite, Trump argumentou aos jornalistas, a bordo do Air Force One, que não tinha provocado um crash intencional dos mercados, mas recusou-se a prever como as ações seriam negociadas no futuro, o que aumentou as preocupações dos investidores.

“O que é que vai acontecer com o mercado? Não vos posso dizer”, frisou o presidente norte-americano. “Mas posso dizer-vos que o nosso país se tornou muito mais forte e que acabará por ser um país como nenhum outro”.

Donald Trump, que há muito se considera um negociador, explicou o que seria necessário para chegar a um acordo com a China sobre as tarifas. “Estou disposto a negociar com a China, mas eles têm de resolver o seu excedente”, disse. “Temos um enorme problema de défice com a China”.

O presidente norte-americano também declarou que quer resolver o défice com a União Europeia e que está aberto à discussão, se Bruxelas mostrar interesse em conversações.

Trump disse ainda ter recebido telefonemas de executivos do sector tecnológico e de líderes mundiais sobre as tarifas durante o fim de semana.

Mais de 50 países terão proposto negociações

Mais de 50 países terão contactado, entretanto, a Administração norte-americana a solicitar o início de negociações sobre as tarifas alfandegárias, anunciou no domingo o conselheiro económico da Casa Branca, Kevin Hassett.

Os países que propuseram abrir negociações "fazem-no porque entendem que vão suportar uma parcela significativa destas tarifas", disse o diretor do Conselho Económico Nacional e que apoia o presidente em matéria de política económica.

Kevin Hassett manifestou-se ainda contrário à tese segundo a qual estas novas taxas alfandegárias penalizarão, sobretudo, a economia americana.

"Não creio que vamos assistir a um grande impacto nos consumidores nos Estados Unidos", insistiu o consultor, entrevistado pelo canal de televisão ABC.

"Pode haver aumentos de preços", admitiu Hassett, para quem estas tarifas aduaneiras são uma forma de "tratar os trabalhadores (americanos) de forma justa" e de os proteger da concorrência desleal.

Cristina Sambado – RTP, c/ agências

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