Vítor Matos, jornalista | Expresso (curto)
Bom dia!
Antes de mais um convite: hoje, às 14h00, Junte-se à Conversa com David Dinis e
Liliana Valente para falar sobre as eleições legislativas "AD maior, Chega
segundo e queda do PS - e agora?". Inscreva-se aqui.
A última dança de Marcelo Rebelo de Sousa em Belém passa por assegurar um
quadro relativamente estável de governabilidade, com uns passos para a esquerda
e outros para a direita, de modo a deixar por herança um Governo em funções
plenas quando o sucessor tomar posse em março de
O primeiro teste é a viabilização do programa do Governo da AD, uma vez
que o PCP anunciou ontem que apresentaria uma moção de rejeição, pelo seu “significado político”, mesmo sabendo que não passará.
Marcelo já disse que só nomeará o primeiro-ministro quando tiver garantias de
que o programa passa no Parlamento, mas, com o recente alinhamento das peças, o
jogo não está assim tão complicado. Se tiver garantias do lado do PS - de
abstenção ou voto conta a moção do PCP - não precisa de basear a sua decisão na
palavra de André Ventura.
Depois de Luís Montenegro ter deixado a reunião com Marcelo sem declarações,
a não ser para dizer que foi tudo “normal”, e de Pedro Nuno Santos desejar
"que a situação política em Portugal se estabilize rapidamente", André
Ventura abriu naturalmente os cotovelos para ocupar o espaço do líder da
oposição. À espera dos resultados da emigração para confirmar o segundo
lugar, o Chega capitaliza a ideia, que Ventura já começou a transmitir, de que vai preparar “um Governo alternativo” e um programa,
posicionando-se para o próximo objetivo: “Estar pronto para governar a
qualquer momento caso os portugueses sejam chamados às urnas".
Apesar de não ter dado garantias absolutas, Ventura disse que o Chega é um
“partido responsável”, que quer ser um “farol de estabilidade”, e que não
deixará que “o país caia numa nova crise política”. Por este lado, em
princípio, Marcelo poderá estar descansado. Deverá haver tango.
Do lado do PS, o desastre foi tão grande que as peças estão a arrumar-se
e não é tempo de aventuras. José Luís Carneiro já anunciou que será candidato, Mariana Vieira da Silva está a ser pressionada e Fernando
Medina ainda não saiu de cena e pondera. Alexandra Leitão pôs-se
de fora, para se concentrar na corrida à Câmara de Lisboa. Em todo o
caso, qualquer que venha a ser o líder socialista, o programa do Governo
passa. Haverá três para o tango. Mais difícil será garantir um
compromisso, logo à partida, por parte de todos os candidatos do PS para
viabilizar o Orçamento do Estado. Aqui Marcelo pode não conseguir o pleno.
Numa entrevista ontem à noite à SIC-Notícias, Mariana
Vieira da Silva disse estar “disponível para ajudar o PS a voltar a merecer a
confiança dos portugueses". E reforçou o apelo por um “processo alargado
de discussão interna dentro do partido e de identificação da pessoa que se
considere mais capaz do duro trabalho que o PS tem pela frente”.
O Presidente da República recebe hoje a Iniciativa Liberal às 11h30 e o Livre
às 17h, mas já anunciou que terá uma segunda ronda de encontros com os três
partidos mais votados nas eleições de domingo, em que a AD subiu em 90% dos concelhos e o PS apenas em um.
OUTRAS NOTÍCIAS
UE ameaça Israel - A UE vai rever o acordo de associação com Israel, por o
Governo israelita estar a bloquear há mais de dois meses a entrada de comida e
ajuda humanitária na Faixa de Gaza e pelos bombardeamentos no enclave. Há 14 mil bebés em risco de vida. O último balanço dos
ataques de ontem contra a Faixa de Gaza indicava a morte de, pelo menos, 85
pessoas. Siga aqui a atualidade do dia no Expresso Fundamental.
Spinunviva e casas - O Ministério Público pediu informações adicionais a
Luís Montenegro sobre a Spinumviva e a Pedro Nuno Santos sobre venda de casas.
A PGR adiantou que "foram solicitados elementos adicionais" em relação às
duas averiguações preventivas em curso.
Apagão - O Governo português enviou uma carta para pressionar França a reforçar interligações de
eletricidade com a Península Ibérica. Ministras da Energia de Portugal e
Espanha querem uma reunião com França para fazer avançar os estagnados projetos
de interconexões através dos Pirenéus.
Aeroporto com filas - Está lento e a demorar horas a passagem na fronteira
no Aeroporto Humberto Delgado devido à instalação do novo sistema que se iniciou esta
terça-feira de madrugada e começou a ser testado na semana passada.
Alemanha nos 5% na Defesa - O ministro dos Negócios Estrangeiros alemão
disse que o país está “pronto” para um aumento drástico das despesas com a defesa. Apesar de
estarem em linha com a pressão de Trump e do secretário-geral da NATO, as
declarações do governante da CDU não caíram bem junto de dirigentes do SPD
(centro-esquerda), que integra a coligação.
Cannes- O cinema brasileiro volta a mostrar-se fortíssimo com “O Agente Secreto”,
de Kleber Mendonça Filho”, filme que vai beneficiar do furacão “Ainda Estou
Aqui”. Wagner Moura é sublime em novo mergulho no Brasil da Ditadura
Militar. Já tem distribuição assegurada
Seleção
Taça roubada em Alvalade - Troféu da final da Champions feminina, que se
disputa em Alvalade no sábado, tinha desaparecido, roubada por elementos de uma empresa
fornecedora do Estádio de Alvalade, mas as autoridades já o recuperaram,
bem como material promocional do jogo entre Arsenal e Barcelona.
FRASES
“A França é hoje o único país da UE com uma dissuasão nuclear independente, uma
presença militar global sustentada, uma indústria de defesa altamente
desenvolvida e uma cultura estratégica consolidada. Estas características
qualificam-na para uma função central na arquitetura de segurança europeia e
impõem, de forma quase natural, uma responsabilidade de liderança”.
António Silva Ribeiro, almirante, ex-chefe do Estado-Maior-General das
Forças Armadas, no Expresso
“Para quem considera o Chega uma ameaça à salubridade do regime, há muito que o
PS deveria ter uma posição clara: com mais deputados à direita, com o PSD como
mais votado e com uma maioria a depender de um entendimento PSD/Chega, o PS
deveria libertar o PSD do Chega.”
Pedro Adão e Silva, colunista do “Público”
“O Chega foi desde o seu infausto parto adubado pela intencionalíssima vontade
socialista de o fazer crescer para roer o PSD. Com artesãos estrategicamente
colocados na presidência da Assembleia da República, segunda maior instituição
do Estado português, Ferro Rodrigues e Augusto Santos Silva fizeram ambos o que
puderam, e puderam muito, enquanto o PS lhes seguia a passada”.
Maria João Avillez, jornalista e colunista do “Observador”
O QUE ANDO A LER
O clássico “Aventuras de Huckleberry Finn”, de Mark Twain, como
preparação para “James”, o aclamado romance do escritor norte-americano
Percival Everett, que ganhou o Prémio Pulitzer de ficção este ano. Tudo isto
tem uma história. O meu filho mais novo, de 14 anos, leu o Tom Sawyer e o
“Huck” que eu nunca tinha lido, mas fomos falando do livro, sobre a forma como
os negros eram retratados de forma racista em ambas as aventuras, como retrato
vivo de uma determinada época. Para os defensores woke da censura de livros
polémicos - ou neste caso com a proibida “‘n’ word” para os norte-americanos -
aqui está um exemplo que aconselha a leitura dos livros nos termos originais,
que tira razão a todos os censores que querem abastardar as edições originais.
A leitura da primeira parte de “James” permite-nos perceber como Everett vai
tratar o escravo Jim das “Aventuras de Huckleberry Finn”, como alguém que
treina os filhos para falarem como analfabetos e parecerem estúpidos, de
maneira a nunca defraudarem os preconceitos dos brancos.
Para além do interesse em sobrepor as duas obras, mesmo em adulto e tardiamente
vale a pena ler o romance de Twain. Está ali uma certa América, ou muita
América, relatada por quem viveu aquela realidade - Mark Twain foi piloto de
vapores no Mississipi - que é descrita em termos que podem servir de óculos
para compreender a realidade norte-americana de hoje.
PODCASTS A OUVIR
Humor à primeira vista - “Sou da geração em que havia programas com umas
graçolas e o Herman José foi a modernidade. Hoje faz um Milhazes espetacular, é
o maior”, diz José Pina. Da cabeça dele saíram várias personagens imortais de Herman
José e nomes de personagens do “Contra-Informação”. Na conversa com
Gustavo Carvalho, elogia a nova geração de humoristas, que não “não se rendeu
ao mainstream” e reforça a importância da “revolução” Herman José.
O CEO é o limite - Tiago Barroso, CEO da NTT Data diz que “aquilo que é
pedido hoje ao líder de uma empresa é desumano”. Chegou a CEO no mês da pandemia e agarrou o desafio
com espírito de missão. “Foi difícil”, assume na conversa com Cátia Barros, mas
a equipa esteve sempre consigo.
Histórias de Lisboa - Neste episódio, o jornalista Miguel Franco de Andrade conversa sobre as novas descobertas nas obras do Metro com
o arqueólogo Fernando Real. “Ao escavarmos o túnel da futura linha circular,
descobrimos um convento cortado ao meio”.
O Expresso Curto fica por aqui, tenha um bom resto de semana e continue a
acompanhar a atualidade no Expresso, na Tribuna e na Blitz.
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