quarta-feira, 21 de maio de 2025

Portugal | O ÚLTIMO TANGO EM BELÉM

Vítor Matos, jornalista | Expresso (curto)

Bom dia!

Antes de mais um convite: hoje, às 14h00, Junte-se à Conversa com David Dinis e Liliana Valente para falar sobre as eleições legislativas "AD maior, Chega segundo e queda do PS - e agora?". Inscreva-se aqui.

A última dança de Marcelo Rebelo de Sousa em Belém passa por assegurar um quadro relativamente estável de governabilidade, com uns passos para a esquerda e outros para a direita, de modo a deixar por herança um Governo em funções plenas quando o sucessor tomar posse em março de 2026. A esta hora, o Presidente, que dorme pouco, já terá uma ideia no quadro da sua fulgurante produção de cenários, sobre quem deverá ser o parceiro privilegiado para Luís Montenegro na abertura do baile governativo. As audiências de ontem “correram bem”, disse Marcelo sem adiantar mais detalhes.

O primeiro teste é a viabilização do programa do Governo da AD, uma vez que o PCP anunciou ontem que apresentaria uma moção de rejeição, pelo seu “significado político”, mesmo sabendo que não passará. Marcelo já disse que só nomeará o primeiro-ministro quando tiver garantias de que o programa passa no Parlamento, mas, com o recente alinhamento das peças, o jogo não está assim tão complicado. Se tiver garantias do lado do PS - de abstenção ou voto conta a moção do PCP - não precisa de basear a sua decisão na palavra de André Ventura.

Depois de Luís Montenegro ter deixado a reunião com Marcelo sem declarações, a não ser para dizer que foi tudo “normal”, e de Pedro Nuno Santos desejar "que a situação política em Portugal se estabilize rapidamente", André Ventura abriu naturalmente os cotovelos para ocupar o espaço do líder da oposição. À espera dos resultados da emigração para confirmar o segundo lugar, o Chega capitaliza a ideia, que Ventura já começou a transmitir, de que vai preparar “um Governo alternativo” e um programa, posicionando-se para o próximo objetivo: “Estar pronto para governar a qualquer momento caso os portugueses sejam chamados às urnas".

Apesar de não ter dado garantias absolutas, Ventura disse que o Chega é um “partido responsável”, que quer ser um “farol de estabilidade”, e que não deixará que “o país caia numa nova crise política”. Por este lado, em princípio, Marcelo poderá estar descansado. Deverá haver tango.

Do lado do PS, o desastre foi tão grande que as peças estão a arrumar-se e não é tempo de aventuras. José Luís Carneiro já anunciou que será candidato, Mariana Vieira da Silva está a ser pressionada e Fernando Medina ainda não saiu de cena e pondera. Alexandra Leitão pôs-se de fora, para se concentrar na corrida à Câmara de Lisboa. Em todo o caso, qualquer que venha a ser o líder socialista, o programa do Governo passa. Haverá três para o tango. Mais difícil será garantir um compromisso, logo à partida, por parte de todos os candidatos do PS para viabilizar o Orçamento do Estado. Aqui Marcelo pode não conseguir o pleno.

Numa entrevista ontem à noite à SIC-Notícias, Mariana Vieira da Silva disse estar “disponível para ajudar o PS a voltar a merecer a confiança dos portugueses". E reforçou o apelo por um “processo alargado de discussão interna dentro do partido e de identificação da pessoa que se considere mais capaz do duro trabalho que o PS tem pela frente”.

O Presidente da República recebe hoje a Iniciativa Liberal às 11h30 e o Livre às 17h, mas já anunciou que terá uma segunda ronda de encontros com os três partidos mais votados nas eleições de domingo, em que a AD subiu em 90% dos concelhos e o PS apenas em um.

OUTRAS NOTÍCIAS

UE ameaça Israel - A UE vai rever o acordo de associação com Israel, por o Governo israelita estar a bloquear há mais de dois meses a entrada de comida e ajuda humanitária na Faixa de Gaza e pelos bombardeamentos no enclave. Há 14 mil bebés em risco de vida. O último balanço dos ataques de ontem contra a Faixa de Gaza indicava a morte de, pelo menos, 85 pessoas. Siga aqui a atualidade do dia no Expresso Fundamental.

Spinunviva e casas - O Ministério Público pediu informações adicionais a Luís Montenegro sobre a Spinumviva e a Pedro Nuno Santos sobre venda de casas. A PGR adiantou que "foram solicitados elementos adicionais" em relação às duas averiguações preventivas em curso.

Apagão - O Governo português enviou uma carta para pressionar França a reforçar interligações de eletricidade com a Península Ibérica. Ministras da Energia de Portugal e Espanha querem uma reunião com França para fazer avançar os estagnados projetos de interconexões através dos Pirenéus.

Aeroporto com filas - Está lento e a demorar horas a passagem na fronteira no Aeroporto Humberto Delgado devido à instalação do novo sistema que se iniciou esta terça-feira de madrugada e começou a ser testado na semana passada.

Alemanha nos 5% na Defesa - O ministro dos Negócios Estrangeiros alemão disse que o país está “pronto” para um aumento drástico das despesas com a defesa. Apesar de estarem em linha com a pressão de Trump e do secretário-geral da NATO, as declarações do governante da CDU não caíram bem junto de dirigentes do SPD (centro-esquerda), que integra a coligação.

Cannes- O cinema brasileiro volta a mostrar-se fortíssimo com “O Agente Secreto”, de Kleber Mendonça Filho”, filme que vai beneficiar do furacão “Ainda Estou Aqui”. Wagner Moura é sublime em novo mergulho no Brasil da Ditadura Militar. Já tem distribuição assegurada em Portugal

Seleção
 - Roberto Martínez chama Pote e Rodrigo Mora à seleção para a final four da Liga das Nações (e o regresso às memórias de Munique)

Taça roubada em Alvalade - Troféu da final da Champions feminina, que se disputa em Alvalade no sábado, tinha desaparecido, roubada por elementos de uma empresa fornecedora do Estádio de Alvalade, mas as autoridades já o recuperaram, bem como material promocional do jogo entre Arsenal e Barcelona.

FRASES

“A França é hoje o único país da UE com uma dissuasão nuclear independente, uma presença militar global sustentada, uma indústria de defesa altamente desenvolvida e uma cultura estratégica consolidada. Estas características qualificam-na para uma função central na arquitetura de segurança europeia e impõem, de forma quase natural, uma responsabilidade de liderança”.
António Silva Ribeiro, almirante, ex-chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas, no Expresso

“Para quem considera o Chega uma ameaça à salubridade do regime, há muito que o PS deveria ter uma posição clara: com mais deputados à direita, com o PSD como mais votado e com uma maioria a depender de um entendimento PSD/Chega, o PS deveria libertar o PSD do Chega.”
Pedro Adão e Silva, colunista do “Público

“O Chega foi desde o seu infausto parto adubado pela intencionalíssima vontade socialista de o fazer crescer para roer o PSD. Com artesãos estrategicamente colocados na presidência da Assembleia da República, segunda maior instituição do Estado português, Ferro Rodrigues e Augusto Santos Silva fizeram ambos o que puderam, e puderam muito, enquanto o PS lhes seguia a passada”.
Maria João Avillez, jornalista e colunista do “Observador

O QUE ANDO A LER

O clássico “Aventuras de Huckleberry Finn”, de Mark Twain, como preparação para “James”, o aclamado romance do escritor norte-americano Percival Everett, que ganhou o Prémio Pulitzer de ficção este ano. Tudo isto tem uma história. O meu filho mais novo, de 14 anos, leu o Tom Sawyer e o “Huck” que eu nunca tinha lido, mas fomos falando do livro, sobre a forma como os negros eram retratados de forma racista em ambas as aventuras, como retrato vivo de uma determinada época. Para os defensores woke da censura de livros polémicos - ou neste caso com a proibida “‘n’ word” para os norte-americanos - aqui está um exemplo que aconselha a leitura dos livros nos termos originais, que tira razão a todos os censores que querem abastardar as edições originais.

A leitura da primeira parte de “James” permite-nos perceber como Everett vai tratar o escravo Jim das “Aventuras de Huckleberry Finn”, como alguém que treina os filhos para falarem como analfabetos e parecerem estúpidos, de maneira a nunca defraudarem os preconceitos dos brancos.

Para além do interesse em sobrepor as duas obras, mesmo em adulto e tardiamente vale a pena ler o romance de Twain. Está ali uma certa América, ou muita América, relatada por quem viveu aquela realidade - Mark Twain foi piloto de vapores no Mississipi - que é descrita em termos que podem servir de óculos para compreender a realidade norte-americana de hoje.

PODCASTS A OUVIR

Humor à primeira vista - “Sou da geração em que havia programas com umas graçolas e o Herman José foi a modernidade. Hoje faz um Milhazes espetacular, é o maior”, diz José Pina. Da cabeça dele saíram várias personagens imortais de Herman José e nomes de personagens do “Contra-Informação”. Na conversa com Gustavo Carvalho, elogia a nova geração de humoristas, que não “não se rendeu ao mainstream” e reforça a importância da “revolução” Herman José.

O CEO é o limite - Tiago Barroso, CEO da NTT Data diz que “aquilo que é pedido hoje ao líder de uma empresa é desumano”. Chegou a CEO no mês da pandemia e agarrou o desafio com espírito de missão. “Foi difícil”, assume na conversa com Cátia Barros, mas a equipa esteve sempre consigo.

Histórias de Lisboa - Neste episódio, o jornalista Miguel Franco de Andrade conversa sobre as novas descobertas nas obras do Metro com o arqueólogo Fernando Real. “Ao escavarmos o túnel da futura linha circular, descobrimos um convento cortado ao meio”.

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