FRANCISCO MANDLATE, opinião – O PAÍS (Moçambique) – 26 abril 2011
O mundo está perante mais uma invasão das chamadas forças internacionais lideradas pelos Estados Unidos da América, que incluem França, Inglaterra e Itália, países que têm fortes interesses na Líbia. Porém, desde que iniciou o conflito armado naquele país, por apoiarem a saída de Muamar Kadafi, o líder líbio ameaçou tirar os contratos de exploração de petróleo e gás às companhias provenientes daqueles países e atribui-los à China, Rússia e Índia, países que se têm mantido neutros no conflito líbio.
As Nações Unidas voltaram, uma vez mais, tal como em 2003, a mostrar que estão sempre do lado errado. No lugar de procurar pacificar a Líbia, trataram de pôr mais lenha ao lume, ao decretar uma zona de exclusão aérea que permitiu a chamada força internacional invadir a Líbia.
Desde o princípio, ficou claro que a situação na Líbia não era nada semelhante à da Tunísia e do Egipto. Na Líbia, sentiu-se logo que houve um aproveitamento da situação, porque, diferentemente do Egipto e da Tunísia, os manifestantes sempre tiveram armas nas suas mãos e combateram as forças de defesa e segurança. A actuação da chamada força internacional tem estado a permitir que os rebeldes líbios avancem para o reduto de Kadafi, para além de reclamar ter já conseguido neutralizar a força aérea leal ao coronel. No entanto, o número de civis que morrem neste conflito não pára de crescer; as próprias forças da coligação são acusadas de também matar civis, o que era inevitável.
O pior de tudo isto foi negligenciar os esforços da União Africana no sentido de pacificar a Líbia, e o próprio Kadafi estava aberto a negociar com os rebeldes uma saída para o conflito, daí que só questões comerciais justificam a guerra na Líbia e a intervenção da chamada coligação internacional. Senão vejamos: operavam, antes da crise na Líbia, as seguintes empresas ocidentais: Total, da França; ENI, da Itália; China National Petroleum Corp (CNPC); British Petroleum; o consórcio espanhol REPSOL; Exxon Mobil; Chevron; Occidental Petroleum; Hess; Conoco Phillips, dos EUA; entre outros que se dedicavam à exploração do petróleo e gás natural. Com o início da insurreição e a pressão para Kadafi abandonar o poder, este ameaçou expulsar estas companhias. E para evitar que isso acontecesse, a solução era única: tirar o líder líbio do poder a todo o custo, nem que fosse através de uma intervenção militar, tal como aconteceu no Iraque. E os países de onde provêm as empresas acima, com a excepção da China, lideraram a invasão à Líbia.
Recorrendo aos números, fica claro que os líbios não tinham razões para quererem a saída de Kadafi do poder, pois naquele país, que conta com 6,7 milhões de habitantes, apenas 7,4% destes vivem na pobreza absoluta, o PIB per capita é de 13,8 mil dólares, o crescimento económico em 2010 foi de 10,6%, com uma inflação avaliada em 4,5%. Quanto ao Índice de Desenvolvimento Humano, a Líbia ocupa o 53º lugar, acima de países como Brasil, e em 1º lugar no continente africano. Isto significa que o governo de Kadafi tem se esforçado em disponibilizar as condições básicas à sua população, casos da saúde e educação. Com tudo isto, fiquei bastante decepcionado com o presidente norte-americano, Barack Obama, que era meu ídolo. Nunca pensei que Obama fosse belicista, tal como foi George Bush, pois acredito que teria usado a sua influência para uma transição pacífica na Líbia, e havia lugar para isso. A União Africana estava a movimentar-se para isso. Agora, vamos esperar pelas consequências que esta situação vai trazer àquele país.n
PS
Escrevi no anterior artigo, intitulado “Do mau atendimento à baixaria do ministro”, que o Orçamento do Estado não contemplava fundos para a compra de medicamentos. Depois da publicação do artigo, recebi informação segundo a qual o problema já tinha sido ultrapassado. Logo que se detectou o erro, foi corrigido de imediato. O Ministério da Saúde já tem dinheiro para comprar medicamentos.
Escrevi no anterior artigo, intitulado “Do mau atendimento à baixaria do ministro”, que o Orçamento do Estado não contemplava fundos para a compra de medicamentos. Depois da publicação do artigo, recebi informação segundo a qual o problema já tinha sido ultrapassado. Logo que se detectou o erro, foi corrigido de imediato. O Ministério da Saúde já tem dinheiro para comprar medicamentos.
Que Deus abençoe Moçambique!
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