sábado, 23 de abril de 2011

Timor-Leste: O DESENVOLVIMENTO DE ALGUNS E A FOME DE MUITOS




CARLOS TADEU

“E há tempos que ouvimos, vimos e lemos, sobre o projeto de um portentoso e lindíssimo novo Parlamento Nacional – que pode ver na foto. Para quando a sua construção? Para quando erradicarem a fome em Timor Leste? Para quando existir realmente justiça, transparência, democracia e tudo mais que falta aos molhos no país?”

Ao longo destes anos de independência de Timor Leste assistimos a um governo eleito por vasta maioria da FRETILIN, que seria derrubado através de um golpe de estado apontado à responsabilidade maior de Xanana Gusmão – então presidente da república - e da igreja católica timorense, juntamente com outros setores de pendor governamental da Austrália e dos USA, para além de muitos integracionistas timorenses a favor da Indonésia – alguns deles agora no atual governo de Xanana Gusmão. De salientar que Ramos Horta teve também uma influência parda em todo o golpe de estado ocorrido no ano de 2006.

Vem este rememorar sobre o passado histórico recente do país por razões óbvias de provocar a reflexão sobre a governação da FRETILIN com verbas orçamentais ridículas que impediam de mostrar melhor obra e obviar as dificuldades do povo timorense num território que ficara completamente destruído pela sanha indonésia e das milícias timorenses ao seu serviço – devido ao retumbante resultado do referendo de 1999 que de supetão ditou a independência há muito ansiada pelos timorenses ocupados pelo invasor do país do lado.

Sabemos que em eleições ocorridas após o golpe de estado de 2006 só em segunda volta é que Ramos Horta conseguiu vencer Lu Olo para a presidência da república. Mesmo com todo o apoio dos integracionistas, de Gusmão e da Igreja, Horta experimentou sérias dificuldades para vencer o candidato Lu Olo, da FRETILIN. A compensação aos apoios que obteve surgiria um pouco mais tarde, nas eleições legislativas logo a seguir, em que lhe foi apresentada a factura desse apoio por parte de Gusmão, dos bispos católicos e de todos os outros setores integracionistas e conservadores que se uniram para derrotar a FRETILIN.

Foi assim que o partido mais votado, a FRETILIN, nessas eleições legislativas, em 2007, se viu irradiado da possibilidade de formar governo. Assistindo-se à engenhosa e apressada formação de um aglomerado de partidos políticos minoritários que formaram a AMP – Aliança de Maioria Parlamentar – para cujo chefe nomearam Xanana Gusmão. Estava cumprida parcialmente - de forma “democrática” e forçadamente constitucional - a fase que era objetivo do golpe de estado de 2006 e que se prolongaria até ao assassinato do major Alfredo Reinado em 2008. Reinado, um conluiado de Gusmão  e dos promotores australianos do golpe,  manifestou o seu arrependimento publicamente, através de vídeo sobejamente conhecido, e acusou Xanana Gusmão de ser um dos mentores e responsável pelo ocorrido e pelas mortes e destruição então levadas a cabo em 2006-2007. Por via da divulgação desse vídeo e da imprensa escrita o referir Xanana Gusmão chegou a ameaçar os jornalistas timorenses com prisão sumária. Tal foi o pavor de ser possível comprovar testemunhalmente todo o seu envolvimento e responsabilidades maiores no descalabro consequente ao golpe de estado. Não por acaso em 11 de Fevereiro de 2008 Alfredo Reinado foi executado no jardim da casa de Ramos Horta, como foi comprovado em relatório de autópsia profusamente divulgado na internet e na comunicação social. Prova tão evidente que nem o Tribunal de Díli, nem o Tribunal de Recurso, tiveram coragem de tomar em consideração. As pressões de Gusmão e de Horta foram enormes para que assim acontecesse e desse julgamento do 11 de Fevereiro saíssem sentenças que condenaram inocentes sob a condição de o presidente da república os libertar numa acção de demonstração de comprometimento com a farsa daquele julgamento, oferecendo aos injustamente condenados a liberdade por via admnistrativa.

TUDO À FARTA

Posteriormente ao 11 de Fevereiro de 2008 assistiu-se ao verdadeiro arranque das liberdades tomadas por muitos dos personagens da AMP envolvidos em atos de corrupção e de exercícios inconstitucionais de poderes. O próprio Xanana Gusmão, primeiro-ministro, nunca conseguiu explicar com credibilidade as razões que o levaram a assinar documentos que privilegiavam ilegalmente a sua filha Zenilde Gusmão. Outras notícias sobre corrupção, conluio e nepotismo foram profusamente divulgadas mas todas anotadas em pedra de gelo, restando um grande nada para a justiça atuar... se tivesse decência. O que possa aparecer, e aparece, não é mais que folclore à roda daquilo a que a PGR e uma Comissão Contra a Corrupção dizem investigar e combater. Tirando um ou outro pequeno corrupto ou corruptor punido nada mais acontece que apure as responsabilidades dos grandes “peixes” que dão vazão aos milhões que pertencem a todos os timorenses. É tudo à farta.

Não é por acaso que assistimos a mais que evidentes ostentações inexplicáveis de poderios financeiros de militares que ganhando menos de mil dólares mensais conseguem possuir vivendas apalaçadas no valor de muitas centenas de milhares. Outros há que adquirem e exibem residências e viaturas que os seus parcos ordenados nunca comportariam de forma legal e transparente poderem possui-las. Isto para além das viagens e vidas de novos-ricos que fazem garbo em exibir a par da miséria e da fome que assola a maioria dos timorenses.

Timor Leste é um estado suportado por um governo e elites civil, militar e eclesiástica imunes à vergonha mas de mão dada com a perfídia. Essa é uma das principais razões porque existe tanta miséria.

Os OGEs conseguidos pelo governo de Gusmão têm sido todos os anos aumentados exponencialmente. Os resultados relevantes demonstrados podem ser quantificados pelos dedos das mãos. Proporcionalmente têm sido ínfimos. O que faz recordar aquilo que Gusmão contestava quando era presidente da república, em 2005-2006: a má governação e inoperância do governo FRETILIN.

Então, à época, esse governo não dispunha de pouco mais de umas míseras centenas de milhares de dólares no OGE. Agora, ainda aconteceu há pouco tempo, as dotações de OGE já ultrapassam mais de dez vezes o que antes era dotado. Mas os resultados não têm sido correspondentes. As estradas continuam uma lástima, os timorenses sem casas são imensos, o fornecimento de energia eletrica é caótico, os timorenses com fome aumentaram, a prostituição e a pedofilia cresce na medida da fome e das necessidades dos mais carenciados e enganados pelas promessas de desenvolvimento. Na capital, em Díli, a população aumenta todos os dias, com forasteiros na fuga à miséria existente no interior – julgando que em Díli encontram o El Dorado. Esses mesmos acabam por engrossar o exército de miseráveis existentes na capital, que até às lixeiras recorrem, que roubam e comem alimento de cães se depositado na gamela existente em quintal por onde passem e possam deitar-lhe a mão. Também a criminalidade está a aumentar, obviamente. A isto, Gusmão, a AMP, Ramos Horta e outros das elites, classificam de desenvolvimento… Afinal este é um pequeno “retrato” daquilo que tem sido obra de Gusmão e dos seus capangas AMPistas. A expressão vale o que vale, e bem, para os tratantes que têm tido a cobertura do PM timorense. Ressalvem-se alguns que se têm preocupado em servir os interesses do país mesmo a servirem-se da umas quantas prerrogativas sombrias por serem das elites ou estarem próximos dos governantes.

E há tempos que ouvimos, vimos e lemos, sobre o projeto de um portentoso e lindíssimo novo Parlamento Nacional – que pode ver na foto. Para quando a sua construção? Para quando erradicarem a fome em Timor Leste? Para quando existir realmente justiça, transparência, democracia e tudo mais que falta aos molhos no país?

Quantos milhões de dólares estão previstos para o custo orçamental deste maravilhoso parlamento? Por quantos milhões mais se multiplicará o seu custo real desde a aprovação ao começo da obra? E no final quanto será na realidade o seu custo? A quantas estradas e reparações competentes corresponderá? A quantas reparações de pontes? A quantos quilómetros de rede de água potável e esgotos? A quantas casas para os que desde 2006 as perderam com a violência e destruição do golpe de estado. Saiba-se que por isso houve famílias que se desagregaram e imensas que ainda hoje sobrevivem em casas de familiares. Que não têm casas próprias como antes tinham!

Então, porque não o novo Parlamento Nacional construído daqui por talvez vinte ou mais anos? Construído e passar a ser uma referência do desenvolvimento de Timor Leste depois de o país e o seu povo estarem de facto na vivência de uma situação de desenvolvimento e progresso humano-social, com empregos. Com melhor e mais educação, com alimentação e cuidados de saúde que colmatem as atuais e vergonhosas carências, com habitações e infraestruturas adequadas. Com o máximo possível que governo ou governos legítimos e honestos consigam em prol justiça e da democracia que garanta o bem-estar dos timorenses.

DESENVOLVIMENTO… SÓ DE FALÁCIAS

O desenvolvimento apregoado pelo governo de Gusmão tem sido até agora mais de falácias que outra coisa. Ele surge devagar e na maior parte das vezes está parado se soubermos decifrar a propaganda. O tecido empresarial em Timor Leste tem sido referenciado em grandioso crescimento na propaganda do governo. Assim sendo, porque razão vimos a baía e o porto de Díli constantemente congestionados de navios em descarrego ou à espera de o fazer? Que desenvolvimento na indústria tem sido feito para suprimir as importações? Quase nada. O que tem florescido é o comércio. Compram no exterior, importam, e depois vendem com as prerrogativas de intermediários que ao aplicarem as percentagens dos seus lucros fazem com que a inflação dispare para valores incomportáveis para os que nem sequer têm um dólar por dia de rendimento. E nesse negócio florescente existem familiares e amigos dos governantes, porque pareceria muito mal que fossem certos e próprios governantes a darem a cara. Já nem se põe a questão de ser ilegal. Esse facto é evidência superável pelo poder político que trás à trela o poder judicial. Aos da justiça timorense só falta abanar a cauda, ladrar e saltitar perante os seus donos.

Aproximam-se as eleições presidenciais, logo seguidas das eleições legislativas. Ninguém com algumas gramas de miolos ignora que pouco falta para estar em curso a grande operação de Gusmão para enganar os eleitores com um celestial período de “desenvolvimento nacional”. As sacas de arroz vão ser oferecidas em quantidades inimagináveis. Os timorenses até vão pensar que chegou a abastança, que a miséria já lá vai, finalmente. Pontes a cair podem vir a ser pintadas de novo e ficarem com um óptimo aspeto. Só aspeto, desde que não caiam até que Gusmão seja eleito. Mas sacas de arroz em barda também todos os outros partidos políticos vão oferecer aos esfomeados cidadãos. Já é cultura do engano que ganhou raízes. E os simplórios e analfabetos timorenses, pessoas que não fazem mal a um toké (pequeno lagarto), lá vão nas loas dos “senhores”, dos vigaristas, que vão estar a oferecer-lhes migalhas dos muitos milhões que já roubaram e que vão continuar a roubar descaradamente, exibindo publicamente um doentio novo-riquismo contrastante com a miséria e a fome que vai continuar a existir, cada vez mais.

Atualmente podemos ler, entre outras alternativas, que o CNRT, partido de Gusmão, afirma-se confiante em conseguir uma maioria absoluta. O mesmo é demonstrado pela FRETILIN. Os outros partidos políticos não se atrevem a tamanhas previsões, justificadamente.

Para um estrangeiro que observa e por vezes vive o quotidiano timorense, que conhece certos e incertos bastidores dos poderes do país, se acreditar na existência de eleição de um partido político que consiga obter por resultado uma maioria no parlamento, só pode ser a FRETILIN. A razão é simples.

Para os milhões dos OGE - que ao longo destes anos de governança Gusmão obteve - a obra realizada é ínfima. Muitos desses milhões estão em parte incerta, esfumaram-se. As obras de construção, por exemplo, são entregues a empresários amigos ou familiares que prosperam de um modo só justificável através de procedimentos muitíssimo dúbios. Os materiais aplicados não são os adequados e muitas vezes até a própria areia é substituída por terra. Os escoramentos são feitos para serem vistos e não para cumprirem a sua função em terrenos já de si com origens instáveis. O resultado é vermos estradas a ruírem para os precipícios, ou postes a quebrarem por construção deficiente. Rouba-se no ferro, na areia, no cimento, no betuminoso… Rouba-se à descarada. Só assim podemos ver as ascensões e exuberâncias próprias dos novos-ricos conluiados com os do governo de Gusmão. E Gusmão não é parvo para não ver, para que possa dizer desconhecer o que acontece na feira das vaidades diliense com a elite de que faz parte e que protege.

E aqui temos o desenvolvimento de Timor Leste. Fruto da má governação de um suposto ícone da libertação da Pátria timorense. O desenvolvimento existe na realidade, mas é estrito a umas quantas famílias do país. Tudo o resto é mais propaganda que outra coisa. Diz quem sabe que é fácil fazer disparar os índices de desenvolvimento numa casa que não tem nada, nem uma simples cadeira. Quando lá entram meia-dúzia de cadeiras é progresso e desenvolvimento. Depois conseguem um colchão – mais progresso e desenvolvimento. Se ao fim de um ano nessa casa, que antes estava sem mobiliário, já tiverem adquirido uma cama, quatro colchões, vinte cadeiras, uma mesa, um móvel e um fogão, podemos afirmar com toda a propriedade que o desenvolvimento foi espetacular. O mesmo se passa com Timor Leste, um país que ficou destruído e desbaratado, qualquer migalha é desenvolvimento. O pior é que não corresponde aos milhões que devia corresponder. E, como na casa atrás referida, em que habitavam quarenta pessoas, o desenvolvimento não corresponde às necessidades dos envolvidos mas somente de uns quantos, os que manuseiam os dinheiros. Afinal, os que roubam e dão a roubar. Esses sim, podem gabar-se e exibir o seu desenvolvimento pessoal, familiar e de amigos.

ELEIÇÕES, E SE…

Se nas próximas eleições o CNRT de Gusmão e, ou, partido ou partidos seus pares conseguirem voltar ao governo tudo será muito pior para o país - principalmente para os timorenses mais carenciados. Não se viu ainda da parte dos responsáveis timorenses vontade e obra que colmatasse a fome e a miséria, nem que investisse adequadamente para resolver em espaço de tempo razoável o desemprego, nem que fomentasse empregos com caráter sustentável em quantidade significativa… No interior do país o desprezo tem sido enorme. As dificuldades são enormes. As responsabilidades vão todas direitinhas para Xanana Gusmão e o seu governo de trapaceiros, com os acrescentos de familiares e amigos insaciáveis que já enriqueceram com aquilo que não lhes pertence mas que querem sempre mais, e muito mais.

Os timorenses parecem estar conscientes destas realidades mas talvez esqueçam as agruras por que têm passado se Gusmão alargar os cordões à bolsa do OGE abastado que conseguiu para este ano pré-eleitoral. Em que só ele tem quase metade de mais de um bilhão para pessoalmente poder decidir o que fazer com essa verba. Decerto que muito daí vai servir para enganosamente "alindar" por momentos a vida dos timorenses. As tais migalhas que vai ter de despender para enganar lorpas. Essa será a sua prática, prevê-se. A decisão cabe aos timorenses. Se quiserem mais do mesmo, se quiserem continuar a ser enganados e espoliados votem Gusmão e nos partidos satélites que constituem a AMP. Se não o fizerem, se mostrarem um cartão vermelho a Xanana Gusmão e aos que têm mal governado nestes últimos anos, se derem a possibilidade à FRETILIN de governar e mostrar o que realmente vale, como governo e com orçamentos adequados, volumosos, só é de esperar que um governo FRETILIN saiba repor a democracia, a justiça, o bem-estar social e laboral num país que tem sobretudo andado a sobrealimentar indivíduos e famílias parasitas.

**Texto concebido pelo autor com apoio e revisão de ANTÓNIO VERÍSSIMO


4 comentários:

Anónimo disse...

Nossa! pensei que estivesse a falar do Brasil

Anónimo disse...

Estamos bem ca em Timor. Vivemos uma estabilidade tranquila alo longo dos ultimos 4 anos, desde que o Xaana Gusmao tornou-se Primeiro Ministro.

Moro numa area remota de Timor-Leste, mas vivo, tenho suficiente para comer e sustentar a minha familia, bem como outros conterraneos.

Nao vem ca com mentiras!

Anónimo disse...

"...reflexão sobre a governação da FRETILIN com verbas orçamentais ridículas que impediam de mostrar melhor obra e obviar as dificuldades do povo timorense num território que ficara completamente destruído..."

E tal era a total incompetencia e inepcia do governo da Fretilin liderado pelo PM Mari Alkatiri que das ja ridiculas verbas orcamentais que tinham ao seu dispor para aliviar as necessidades do povo e mesmo assim nem sequer conseguiam executar 50% dessas verbas.

Nem da para imaginar o circo que seria se tivessem tido orcamentos equivalentes aos que o actual governo da AMP tem.

Em vez 50% de execucao orcamental seria 5%.

Nao vale a pena negar a falta de capacidade do antigo governo da Fretilin e dos seus lideres.

Anónimo disse...

"Se nas próximas eleições o CNRT de Gusmão e, ou, partido ou partidos seus pares conseguirem voltar ao governo tudo será muito pior para o país - principalmente para os timorenses mais carenciados..."

Pois eh! Durante o governo de Mari Alkatiri/Fretilin, nem os veteranos nem as viuvas ou orfaos da guerra recebiam um tostao furado do governo.

Quando Xanana/AMP assumiu governo todos eles passaram a receber pensoes e subsidios ainda que modestos.
"Migalhas"? pelo menos sao migalhas pois que no tempo de Alkatiri/Fretilin nem migalhas esses carenciados viam!

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