Estamos em plena crise da dívida americana. Os maiores devedores do mundo ameaçam dar calote. Os chineses são seus maiores credores. Possuem mais de U$ 1 trilhão em papéis estadunidenses. Mesmo assim, continuam a comprar títulos do tesouro americano. De fato, não têm outra escolha.
Se os chineses resolvessem vender seus títulos americanos, a oferta cresceria fortemente e o valor deles despencaria. Causariam desvalorização nos papéis que estão em suas próprias mãos. E ao manter a compra, tentam demonstrar confiança na economia americana.
É uma armadilha, mas tem suas razões. Há muitos anos, o governo chinês tem fortes motivos para financiar a dívida estadunidense. Ela ajuda a manter o elevado nível de consumo dos americanos. Mantém o enorme fluxo de mercadorias chinesas para os Estados Unidos.
A economia americana tem muito consumo, pouca produção e quase nenhuma poupança. A economia chinesa, produção abundante, poupança demais e consumo de menos. Seria perfeito, se não se tratasse de uma dependência mútua muito perigosa.
Não há dinheiro real suficiente na economia americana para absorver a produção chinesa. É preciso apelar para o crediário. Mais crédito costuma provocar bolhas como a do mercado imobiliário, que estourou em 2008. É grande o risco de novos surtos de inadimplência, atingindo milhões de pessoas e países inteiros.
Um calote da dívida americana seria apenas uma antecipação apocalíptica disso tudo. Atingiria os investimentos chineses em cheio e, por tabela, toda a economia mundial. Chineses e americanos estão num abraço de náufragos. Basta que um deles afunde para arrastar o outro e mais meio mundo com eles.
Texto publicado em 19/07/2011 no blog Pílulas Diárias.
*Sérgio Domingues é Militante social e partidário (PSOL). Membro do coletivo Revolutas. Também tem um blog sobre mídia: Mídia Vigiada. Sociólogo.
*Sérgio Domingues é Militante social e partidário (PSOL). Membro do coletivo Revolutas. Também tem um blog sobre mídia: Mídia Vigiada. Sociólogo.
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