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Bissau, 28 ago (Lusa) -- O Estado guineense vai arrecadar este ano 14 milhões de dólares (9,6 milhões de euros) só em receitas alfandegárias da exportação de caju, o principal produto da Guiné-Bissau e que até dezembro deverá ter o Instituto Nacional do Caju.
O número é avançado por André Nanque, presidente da Comissão Nacional do Caju, que em entrevista à Agência Lusa, em Bissau, faz um balanço positivo da campanha, elogia a qualidade do produto e sugere aos empresários portugueses que invistam no setor.
Por falta de estruturas e de investimentos a Guiné-Bissau exporta quase todo o caju em bruto, sem qualquer transformação, mas André Nanque garante que é altura de mudar o estado de coisas, porque o caju sem casca pode ser vendido a um preço três vezes superior.
"É uma oportunidade para as empresas portuguesas virem à Guiné. No passado o ambiente não era favorável mas agora temos um ambiente favorável, o país está aberto à entrada de novas empresas e a criação de empresa leva poucos dias", defende o responsável, acrescentando que há perto da capital um "centro de incubadoras para empresas", onde se pode chegar e "começar a trabalhar", e no país existe um código de investimento com benefícios.
Depois, diz ainda, a Guiné-Bissau tem acordos preferenciais com os Estados Unidos e com a China, para onde se pode exportar caju sem taxas. "A China tem surgido como grande consumidor e vender para a China é muito bom para qualquer empresa", salienta André Nanque, afirmando que a qualidade do caju garante a venda sem problemas.
Para financiar o processamento da castanha o governo guineense criou em maio passado uma taxa de 50 francos CFA (0,07 euros) por quilo do produto e que irá financiar um Fundo de Garantia, que tem já mais de sete milhões de dólares, destinados a apoiar a industrialização.
"Se queremos industrializar o caju e que a banca nos possa conceder créditos temos de ter garantias, e elas não poderão surgir de outra forma a não ser deste fundo", considera.
Com a sorte de ter, naturalmente, uma castanha "de maior qualidade, sem químicos, sem doenças, e com um sabor diferente", a Guiné-Bissau precisa agora de um "forte investimento no setor".
Por isso está a desenvolver um Plano Diretor do Caju, que se preocupe com o aumento sustentável da produtividade, aumento da eficiência da cadeia e aumento do valor acrescentado. E antes do fim do ano, diz André Nanque, deverá ser criado o Instituto do Caju.
"Porque não é normal que um país, o segundo maior produtor de África, o quinto do mundo, não tenha uma instituição de liderança, com autonomia administrativa e financeira, forte, para liderar todo o processo".
E que se possa aproveitar todo o fruto e não desperdiçar, como este ano, um milhão e 500 mil toneladas de fruta, o pedúnculo, de onde se extrai a castanha, o único produto que se vende.
Esse pedúnculo, diz André Nanque, é cinco vezes mais rico em vitamina C do que a laranja e pode ser aproveitado para diversos tipos de alimentos. Além do óleo que se tira da casca do caju, usado para lubrificação, ou da própria casca, que pode ser usada para produzir energia.
Mas a Guiné-Bissau não tem, para já, capacidade para tratar a grande parte da castanha de caju. Nem de conservar 1,5 milhões de toneladas de pedúnculo. Nas zonas rurais e cristãs há sempre quem aproveite um pouco para comer, para fazer doces, ou especialmente para fazer vinho.
*Foto em Lusa
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