domingo, 4 de setembro de 2011

Bloco Democrático diz que há 50 detidos e acusa polícia de rapto e agressão de manifestantes




NM - HB – JS - LUSA

Lisboa, 04 set (Lusa) -- O partido angolano Bloco Democrático disse hoje que mais de 50 pessoas terão sido detidas na sequência da manifestação de jovens em Luanda este sábado, acusando ainda a Polícia de rapto, agressão e de utilizar gases tóxicos contra manifestantes.

Em comunicado enviado à Agência Lusa, assinado pelo líder do partido Justino Pinto de Andrade, o Bloco Democrático -- a primeira organização política a reagir aos acontecimentos -- acusa a Polícia Nacional de ter encetado uma "repressão violenta" para acabar com a manifestação "legítima" do grupo de jovens, tendo para o facto feito "desaparecer um dos organizadores, antes mesmo do início da manifestação".

O partido diz que os restantes organizadores ter-se-ão dirigido à polícia para dar conhecimento do alegado rapto, mas que as autoridades terão detido um dos participantes, dando conta que uma militante do partido também terá sido detida.

"Foi presa uma manifestante, militante do Bloco Democrático, Ermelinda Freitas, sendo levada para parte incerta, somente tendo sido localizada muitas horas depois na Esquadra da Ilha de Luanda. Outros dois manifestantes, Adolfo e Luamba, foram barbaramente agredidos pela Polícia Nacional, tendo dado entrada inanimados, no Hospital Maria Pia, de onde foram transferidos para o Hospital Militar, onde receberam tratamento e posteriormente conduzidos para a cadeia", acusa o partido de Justino Pinto de Andrade.

O Bloco diz ter conhecimento de que cerca de 50 manifestantes terão sido detidos, entre eles, três organizadores da manifestação, e que quinze jovens terão sido perseguidos e detidos nas imediações da Rádio Ecclésia. A direção do partido diz também que já falou com os responsáveis políticos para denunciar a situação e a exigir medidas imediatas para a libertação dos detidos.

O Bloco Democrático foi criado em 2010 e pretende constituir-se como uma alternativa ao Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) - no poder há três décadas -- e tem como presidente Justino Pinto de Andrade, economista, tal como o secretário-geral Filomeno Vieira Lopes, assumindo-se como um defensor dos "grandes ideias de liberdades, das grandes ideias de democracia e dos grandes ideais de cidadania".

Também hoje, a Televisão Pública de Angola condenou a "tentativa de agressão" de que terão sido alvo este sábado os seus profissionais e da RTP, mas diz que os agressores foram os jovens manifestantes que protestavam em Luanda. Numa "nota de repúdio" da estação, veiculada pela Angop, a TPA "repudia a acção e lembra que ela fere o direito dos telespetadores de serem informados" e diz ainda que se "solidariza também com os profissionais da RTP que de igual modo foram vítimas desta acção".

Fonte oficial da direção de informação da RTP disse hoje à Lusa que a estação já deu "conta da situação às autoridades angolanas" dos acontecimentos e que "com os jornalistas não houve problemas", mas que "o material [equipamento] ficou danificado".

Os relatos da manifestação, que começou ao início da tarde de sábado, no Largo da Independência, em Luanda, davam conta de vários feridos, pessoas detidas e também da agressão a jornalistas, durante o protesto que tinha como objetivo exigir "a destituição de José Eduardo dos Santos" e a "democratização dos órgãos públicos".

A agência noticiosa angolana Angop veiculou também um comunicado da Polícia Nacional de Angola, que indicava que três oficiais e um agente da Polícia, juntamente com três cidadãos tinham sido feridos por elementos não identificados perto do Largo Sagrada Família.

A Polícia justifica que as pessoas ficaram feridas quando efetivos da corporação tentavam persuadir alguns cidadãos a não abandonarem o espaço protegido para o referido acto, a fim de evitar a desordem pública.

"Contrariando as orientações da polícia, alguns indivíduos, de forma anárquica, forçaram o cordão de segurança policial, proferindo ofensas verbais contra pacatos cidadãos que circulavam nas redondezas e aos efetivos da Polícia Nacional, alegando que pretendiam dirigir-se ao palácio", esclareceu a Polícia no comunicado.

As autoridades disseram ainda que foi "o incumprimento da ordem da polícia [que] gerou um clima de violência entre os transeuntes e os manifestantes, que culminou no arremesso de objetos contundentes, que estiveram na causa dos ferimentos", e que terão "obrigado" a polícia a deter 24 pessoas, "para que os órgãos competentes fizessem justiça", tendo lamentado a situação.

A Lusa falou no sábado com pessoas envolvidas na concentração, que mencionaram alegados raptos, ameaças e agressões da parte de oficiais à civil.

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