terça-feira, 8 de novembro de 2011

GOVERNO E PRESIDENTE DA REPÚBLICA INJUSTOS – "ENTÃO PRÓ CARALHO!"




ANTÓNIO VERÍSSIMO

Estou chateado, pois claro que estou chateado. Sou caserneiro, evidentemente que sou caserneiro. Concluo que temos um PR de fosquisses, um tabu pegado. Um político que soa a falso quase sempre que faz declarações. Isso e muito mais. Não menos evidente é a constatação de que este governo de Passos Coelho é uma mentira pegada e que não por acaso está conhecida como um Bando de Mentirosos, com a maior parte dessa fatura pertença do enorme mentiroso que foi e é Passos Coelho, o atual primeiro-ministro.

Porque este governo e aquele PR me indignam fico irritadíssimo. Naturalmente que se os tivesse a jeito e que me pudessem escutar desabafaria um valente e sonoro “Então pró caralho!”. Porquê? Porque estão a suprimir de modo desumano e irracional as minhas possibilidades de sobreviver com um mínimo de direitos e de dignidade e até nem foi isso que prometeram. Porque são injustos e negam aquilo que me pertence enquanto cidadão. Dai o desabafo a todas estas injustiças: “Então pró caralho!”

Pronto, já está. Já aliviei ligeiramente a indignação e revolta que me faz subir a tensão arterial. Cum carago! Estou chateado, pois claro que estou chateado!

CUM CARAGO!

JORGE FIEL – DIÁRIO DE NOTÍCIAS, opinião, em 09 dezembro 2010

“Não dá para trocar? Então prò caralho!" Quando pronunciou estas palavras, às 15.30 de 4 de Agosto de 2009, o cabo Rodrigues (nome fictício) da GNR estava longe de imaginar a tinta que iria fazer correr. Apresentara-se no gabinete do 2.º sargento Bruno (nome fictício), solicitando--lhe uma troca de serviço, pretensão recusada, o que o levou a deitar pela boca fora a frase fatídica.

A PJ militar conduziu o inquérito. O DIAP deduziu a acusação. Rodrigues requereu a abertura de instrução e o juiz deu-lhe razão, arquivando o processo e lamentando as dezenas de horas perdidas com o caso. O MP recorreu para a Relação de Lisboa, que, 14 meses volvidos, apesar de classificar a frase como "ética e socialmente reprovável", pôs uma pedra em cima do assunto. O juiz relator designa a expressão como "linguagem de caserna" e sinal de "mera virilidade verbal", concluindo não ter havido intenção de ofender mas "apenas de dar conta da irritação que a recusa lhe tinha causado".

Provavelmente com louvável intuito de evitar que o pessoal comece a imitar o deputado José Eduardo Martins, que desagradado com um colega lhe disse "vai prò caralho", em pleno Parlamento, a Relação teve o cuidado de traçar uma linha de fronteira neste acórdão histórico: "Dizer a alguém 'vai para o caralho' é bem diferente de afirmar perante alguém e num quadro de contrariedade 'ai o caralho' ou simplesmente 'caralho', como parece ter sucedido na situação em apreço" - sendo que, no primeiro caso, a frase pode ser considerada ofensiva, enquanto no segundo exprime tão-só espanto, indignação, impaciência ou irritação.

Posto isto, devo confessar que usei linguagem de caserna ao ler que a assessora da ministra Ana Jorge ganha mais que ela. E que me veio à cabeça uma série de expressões ética e socialmente reprováveis quando soube que as vendas de carros de luxo sobem em flecha (70% os Porsche, 36% Jaguar, 25% BMW e 23% Mercedes) no ano da explosão da crise, num país em que mais de 40% das pessoas são pobres ou estão no limiar da pobreza.

Quando vi que o Governo teve a desfaçatez de criar uma EP para controlar as grandes obras e as parcerias público-privadas e está num ritmo recorde de 45 novas nomeações por semana, deu-me logo vontade de abusar da minha proverbial virilidade verbal e começar a mandar, a torto e a direito, gente para o carvalho (sem o v), certo de que não estou a ignorar o conselho sábio de Agustina ("o país não precisa de quem diga o que está errado; precisa de quem saiba o que está certo"), pois sei que, depois da Grécia se regionalizar no próximo Ano Novo, só sobramos nós na UE a teimar manter um centralismo autista, obsoleto e ineficaz - apesar de estarmos a balouçar à beira do abismo.

*Também publicado em Página Lusófona, blogue do autor.

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