sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Angola: COMBOIO LIGA O MAR AO KUANDO-KUBANGO




Estanislau Costa, Lubango – Jornal de Angola - Fotografia: Arimateia Baptista

O comboio experimental que parte na manhã de hoje da estação do município da Matala, localizado a 180 quilómetros a leste da cidade do Lubango, com paragens nas novas estações do Dongo, Vuvango e Cuchi, chega à capital do Kuando-Kubango, Menongue, por volta das 13h30.

O primeiro comboio, que faz um percurso aproximado de 560 quilómetros, transporta o ministro dos Transportes, Augusto Tomás, o presidente do Conselho de Administração do Caminho-de-Ferro de Moçamedes, Daniel Quipaxe, quadros do ministério e convidados.


O Jornal de Angola constatou que as obras de construção e modernização do Caminho-de-Ferro de Moçamedes (CFM) estão em fase de conclusão, registando-se neste momento trabalhos de implantação da linha no troço da cidade do Lubango, nas novas infra-estruturas das estações e outras acções de acabamento.

Depois do Caminho-de-Ferro de Luanda (CFL) e do Caminho-de-Ferro de Benguela (CFB), outra importante alavanca para o desenvolvimento socioeconómico do país na região sul, notadamente o Caminho-de-Ferro de Moçamedes, regista agora acções de construção civil nas 56 estações projectadas ao longo da linha.

Destas estruturas, três são especiais, erguidas nas cidades do Namibe, Lubango e Menongue, enquanto outras seis são de primeira classe, 11 de segunda e 36 de terceira, com uma distância de 15 quilómetros. Os empreendimentos albergam serviços administrativos, salas de espera, bilheteiras, restaurantes, lojas, agências bancárias e outros serviços.

A empreitada a cargo de uma construtora chinesa e estruturada de acordo com os padrões internacionais, fica concluída até ao final do mês. Mas o histórico das acções de engenharia assinala que foi no município da Matala que começaram as obras em direcção a Menongue.

Também da Matala, a equipa de chineses e angolanos iniciou a remodelação de todo o sistema ferroviário, passando pelo Lubango e atingindo as terras da Welwitchia. Os problemas relacionados com as pessoas que ergueram casebres muito próximo da via-férrea, em Menongue, Matala, Quipungo e Lubango, foram ultrapassados.

Dezenas de casas foram demolidas e, em troca, as famílias foram realojadas em locais mais seguros, onde receberam terrenos com dimensões de mil metros quadrados, material de construção, como areia, pedra e chapas, abastecimento de água potável através de furos de captação, serviços de saúde, escolas e outros equipamentos de utilidade pública.

Relativamente à descrição de outras acções fundamentais consagradas no projecto, constaram a edificação de 170 metros de túneis, 150 metros de sistemas de drenagem, 5.100 metros de pontes em cumprimentos acumulados, entre outras. A modernização efectuada permite que o comboio circule a uma velocidade máxima de 100 km/h.

A linha-férrea do CFM, depois do Caminho-de-ferro de Benguela, é a segunda maior do país. Começa na província do Namibe, escala as cidades do Lubango, Matala, Jamba-mineira e Cuvango (Huíla) e culmina em Menongue (Kuando-Kubango) perfazendo 987 quilómetros. As actuais locomotivas em circulação no Caminho-de-Ferro de Moçamedes são resultantes de um acordo rubricado entre os governos angolano e indiano, através da Raids Índia, que culminou com o fornecimento de meios modernos e equipamento de vária índole.

As novas locomotivas

Foram adquiridas 40 carruagens de passageiros e mercadorias, quatro locomotivas, das quais duas para longo curso, uma para manobras e outra para transporte interurbano, e acessórios diversos. Estes meios, numa primeira fase, já permitem efectuar trajectos e transporte de pessoas e mercadorias.

O presidente do Conselho de Administração do CFM, Daniel Quipaxe, explicou que esta obra de envergadura, orçada em milhares de dólares, contempla ainda a montagem dos sistemas de sinalização e comunicação, com a colocação da fibra óptica ao longo do traçado.

A par do programa de reconstrução e modernização em curso, o CFM vai ser apetrechado com novas locomotivas e carruagens modernas, tendo já sido firmado um acordo entre o Instituto Nacional do Caminho-de-Ferro e uma empresa chinesa. O acordo, rubricado aquando da tomada de posse do Conselho de Administração do Instituto, prevê o fornecimento de material circulante para o apetrechamento com meios apropriados ao transporte de vários tipos de carga e passageiros.

O outro desafio, após a conclusão das obras de construção e modernização do Caminho-de-Ferro de Moçamedes, é a construção de um novo ramal para interligar a via ferroviária da República da Namíbia.

Daniel Quipaxe explicou à imprensa que existe um grande interesse das autoridades em construir um novo ramal para chegar à Namíbia para facilitar a importação e exportação de mercadorias e o transporte de passageiros de ambos os países.

Populares satisfeitos

Comandante Cow Boy é um dos bairros da cidade do Lubango que durante anos a fio despertou com o apito do comboio, mas há quase cinco que assim não acontece.

Em momento algum as populações manifestaram o seu desânimo com a paralisação da circulação do comboio entre as cidades das terras da Chela e as da Welwitchia. É unânime a opinião segundo a qual o comboio parou por causa justa: o Executivo está a reconstruir e modernizar o Caminho-de-ferro de Moçamedes que agora vai chegar à cidade de Menongue.

O velho Sapalo Jamba tem a casa construída a 40 metros da linha-férrea. Vive no bairro Comandante Cow Boy há 25 anos, migrado de Caconda por causa da guerra. Sente a falta do comboio porque o apito deixou de acordar os netos para irem para a escola ou outros afazeres quotidianos.

Avô Chico, como é tratado pela gente do bairro, não vê a hora da chegada do grande presente para a população: a circulação do comboio. “Ouvi um dia destes, na Rádio Nacional, o ministro Tomás dizer que o comboio agora vai chegar a Menongue, terra do meu pai. Vamos viajar nos vagões modernos e em carris remodelados pelos irmãos chineses”, comenta.

O comboio foi sempre mais barato e fascinante para viajar porque passa mesmo mata adentro. Por isso, a opção do Executivo em apostar na reparação e apetrecho do CFL, CFB e CFM foi boa e traz muitas vantagens para os empresários, agricultores e população, conclui o ancião.


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