quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Macau: UNESCO DIZ-SE "PREOCUPADA" COM PATRIMÓNIO MUNDIAL...




... mas garante que perda da classificação não está em jogo

PNE - LUSA

Macau, China, 31 ago (Lusa) -- A UNESCO está preocupada com a "integridade visual" do Património Mundial de Macau perante o desenvolvimento da cidade, que carece de um plano urbanístico, mas garante não estar em cima da mesa a possibilidade de perda da classificação.

O Comité do Património Mundial da UNESCO decidiu, em junho, exigir ao Governo de Macau a apresentação de um relatório sobre o estado de conservação do património classificado até 01 de fevereiro de 2013, apontando "preocupações" com a sua proteção e ausência de disposições legais para o efeito.

O indiano Kishore Rao, que dirige o Centro do Património Mundial da UNESCO, sedeado em Paris e responsável por monitorizar o estado de conservação do património classificado com os Estados signatários da convenção, afirmou em declarações à Agência Lusa que, "no caso do Centro Histórico de Macau, o Comité do Património Mundial não considera a possibilidade" da perda da classificação.

Essa situação está dependente de "condições, principalmente a completa perda das caraterísticas que determinaram a inclusão na lista de Património Mundial", explicou numa entrevista concedida por email ao apontar que a principal preocupação da UNESCO em relação ao Centro Histórico de Macau prende-se com as zonas tampão.

"A principal preocupação do Comité do Património Mundial no que se refere ao Centro Histórico de Macau diz respeito aos projetos de desenvolvimento que estão a ser implementados ou propostos para as áreas circundantes às zonas tampão do Património Mundial, que poderão ter um impacto negativo sobre a sua integridade visual", sustentou.

Neste contexto, a UNESCO "emitiu várias recomendações que estão em diferentes fases de implementação" e só quando esta for plena é que se "poderá avaliar a sua adequação", salientou o responsável.

Kishore Rao afirmou que a UNESCO espera que sejam verificados "progressos significativos" até à entrega do relatório pelo Governo de Macau, em 2013, e que as suas "preocupações possam ser resolvidas de forma eficaz com a plena implementação das medidas recomendadas".

Entre aquelas, encontra-se o desenvolvimento do plano urbanístico geral e a implementação da proposta de lei para a salvaguarda do património, cuja produção foi iniciada em 2008 e deverá ser submetida ao hemiciclo até ao final do ano. Medidas que, de resto, são há muito reclamadas, essencialmente pelos arquitetos da Região Administrativa Especial da China.

O diretor do Centro do Património Mundial da UNESCO realçou, por outro lado, a importância das medidas já adotadas para "reduzir os eventuais impactos negativos sobre a integridade visual do Património Mundial", designadamente a redução dos limites de construção nas áreas envolventes à colina da Guia e Fortaleza do Monte, de 135 metros para 96 metros.

"A China tem lidado com o seu Património Mundial de forma muito séria e eficaz e implementado as diferentes decisões do Comité do Património Mundial em tempo útil", concluiu.

Brasil: EM REUNIÃO COM DILMA, UNE COBRA MAIS VERBA PARA A EDUCAÇÃO


A presidente Dilma Rousseff recebeu representantes da União Nacional dos Estudantes (UNE), em Brasília - Foto: José Cruz/Agência Brasil

TERRA

Representantes de entidades estudantis entregaram nesta quarta-feira uma pauta de reivindicações para a presidente Dilma Rousseff com cerca de 40 itens ligados à melhoria do sistema educacional brasileiro. Entre os pedidos, estão a destinação de 10% do Produto Interno Bruto (PIB) para a educação e de 50% do Fundo Social do pré-sal.

Há também itens como o fim do superávit primário, a erradicação do analfabetismo até 2016, a criação da Comissão da Verdade, a garantia de um computador por aluno no ensino médio e de meia-entrada para os estudantes nos jogos da Copa do Mundo de 2014 e nas Olimpíadas de 2016.

O presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), Daniel Lliescu, relatou que a presidente recebeu as reivindicações e disse que o governo está aberto ao diálogo, porém, não se comprometeu inicialmente com a concessão de nenhum item. "Hoje, foi o dia em que apresentamos a pauta ao governo federal e a presidenta não se posicionou com firmeza na defesa ou negação de nenhum dos itens, mas temos a expectativa de que essa pauta seja bem recebida pelo governo", disse.

Sobre a aplicação de 50% do fundo do pré-sal em educação, o presidente da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes), Yann Evanovick, disse ter ouvido da presidente Dilma que ela está aberta ao diálogo sobre a proposta.

Os estudantes foram recebidos por Dilma após a marcha que fizeram hoje, na região central de Brasília, encerrando o movimento de mobilização nacional chamado por eles de Agosto Verde e Amarelo. Também participaram do encontro, no Palácio do Planlato, o ministro da Educação, Fernando Haddad, e o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho.

Musa chilena participa de marcha

A estudante Camila Vallejo, presidente da Federação de Estudantes da Universidade do Chile (FECh), ativista nos protestos estudantis chilenos que reuniram milhares de estudantes nos últimos dias, também participou da marcha dos estudantes. Camila veio ao Brasil com objetivo de elaborar uma agenda política com a UNE. Ela quer alertar sobre as violações dos direitos humanos e sobre a falta de democracia no Chile.

Para Lliescu, além de apoiar os estudantes chilenos nas questões relativas aos direitos humanos, o movimento estudantil brasileiro pode trocar experiências com o Chile. "Há algo em comum na luta estudantil dos dois países, que é a grande participação do setor privado do ensino superior. Defendemos a regularização do ensino superior privado, é preciso garantir uma educação de qualidade", observou.

BIOGRAFIA DA CORRUPÇÃO




ROMEU PRISCO*, São Paulo – DIRETO DA REDAÇÃO

São Paulo  (SP) - A corrupção é a "entidade", se assim pode ser denominada, mais antiga do mundo. O pecado original, cometido por Adão e Eva, nada mais foi que um ato de corrupção, praticado pela serpente. Portanto, a corrupção nasceu quando Adão e Eva aceitaram a maçã que lhes foi oferecida pela serpente, podendo este ofídio ser considerado o primeiro corruptor conhecido. 

Embora oriunda do Jardim do Éden, a corrupção é apátrida, encontrando-se, em maior ou menor escala, em todos os recantos da Terra. Remontando a milênios, sua idade é ignorada. É amorfa, mas, por isso mesmo, pode apresentar-se de inúmeras formas. Até o crime, como o assassinato de Abel por seu irmão Caim, constituiu uma das suas variantes. A corrupção é algo em permanente estado de adaptação e mudança.

Reis, imperadores, conquistadores, desbravadores, colonizadores e catequizadores foram corruptos, obtendo vantagens e favores indevidos, e corromperam, concedendo vantagens e favores indevidos. A plebe e o povão, se não corromperam, deixaram-se corromper conscientemente. Os descobridores de novos países, como no caso do Brasil, ao depararem com os nativos das terras descobertas, geralmente indígenas, cobriam-nos de adornos, presentes diversos e bebidas alcoólicas. Pronto ! Consumava-se o primitivo "contrato" de corrupção. 

Na atualidade, quem nunca pensou em "quebrar o galho" e "dar um jeitinho" ? Oferecer uma "cervejinha" ao guarda de trânsito para não ser multado, ou "molhar a mão do fiscal" para não ser autuado, são atos típicos de corrupção. Alguém dirá que aprendemos a fazer "isso" com os políticos. Todavia, ficam as perguntas: (1) "Isso" é lição que se aprenda ? (2) O que vem antes, o contribuinte que "mutreta" a declaração do imposto de renda, ou o político que põe no bolso os recursos do imposto de renda ?

Quando ocorrem os estágios referidos no parágrafo anterior, já se está impregnado de corrupção desde tenra idade, instalada no ambiente familiar. O menino educado, comportado e estudioso, recebe as devidas recompensas no aniversário, no dia das crianças e no Natal. Outro menino, só será educado, comportado e estudioso, se receber as recompensas. Um terceiro menino, sem ser, ou sem poder ser, educado, comportado e estudioso, subtrairá as recompensas dos demais meninos. Aqui a corrupção funciona como o colesterol: tem a boa e tem a má. 

Religiões, que se propõem a corrigir os males da corrupção, inclusive eliminá-la, exercem-na descaradamente, cobrando dos seus fieis o dízimo que alegam ter sido instituído e abençoado por Deus e utilizando-o para construção de verdadeiros gigantes empresariais. Mesmo aquelas que não partem para estas alternativas, corrompem e são corrompidas. A "pompa" de uma cerimônia matrimonial, realizada num templo tradicional, se comparada à "singeleza" do casamento celebrado numa pequena capela, dá a entender que o sacramento equivale ao custo da solenidade. 

A corrupção não tem preferência por nenhuma ideologia ou regime político, mas estes, da direita, da esquerda e do centro, ditatoriais ou democráticos, são unânimes em adotá-la, praticando-a larga e nem sempre disfarçadamente. A nação mais poderosa do mundo, que insiste em se apresentar como exemplo de honestidade moral, no curto espaço de três anos colocou duas vezes a economia global em sérias dificuldades, fruto exclusivo da corrupção.
  
Não se pode negar que a corrupção é uma das grandes responsáveis pelo progresso. Obras novas ou reformas de escolas, hospitais, presídios, rodovias, pontes, viadutos, túneis, contenção de enchentes, usinas hidroelétricas, água canalizada, tratamento de esgoto, iluminação pública e particular, casas populares e demais realizações em benefício social, inclusive prestação de serviços, reposições e manutenção de equipamentos, somente são possíveis se houver, como mola propulsora, a corrupção.

Imortal, como é, impõe-se conviver com a corrupção. Quem sabe tenha chegado a hora de descriminalizá-la, criando-lhe normas próprias, para melhor controle. Que tal "Estatuto da Corrupção", contendo definição, como, quando, onde em que proporções pode ser praticada ?!  

Fica aí lançada a idéia.

* Paulistano, advogado e ator, dedica-se, atualmente, à arte de escrever artigos, crônicas, contos e poemas, publicados em espaços literários e jornalísticos, impressos e virtuais. Define-se como um sonhador, que ainda acredita nos seus sonhos.

Brasil: Rio entra em estado de alerta contra dengue e dobra número de agentes de combate




FELIPE OLIVEIRA – R7

No verão de 2012 estão previstos 30 polos de hidratação na cidade

O Rio de Janeiro entra em estado de alerta contra a dengue por meio de decreto, a partir da próxima quinta-feira (1º), diante da possibilidade de um aumento significativo do número de casos nos próximos meses. Com isso, a prefeitura resolveu dobrar o número agentes de combate para 3.605 e instalar 30 polos de hidratação para pacientes em toda a cidade, sendo que 20 deles funcionarão durante 12 horas e os outros dez funcionarão 24 horas.

O prefeito Eduardo Paes e o secretário municipal de Saúde Hans Dohmann apresentaram o Plano de Combate à Dengue para o verão de 2012 na manhã desta quarta-feira (31).

Também está prevista a aquisição de novos carros e equipamentos, segundo Paes.

- Temos a chance de ter algo muito grave e para evitar que pessoas morram estamos tentando colocar em prática esta ação.

Como 82% dos criadouros do mosquito estão dentro de imóveis e em 2/3 dos casos registrados de dengue havia foco na casa dos doentes, o conjunto de medidas vai agilizar as vistorias em imóveis e envolver toda a sociedade e os diferentes órgãos públicos numa campanha contra o Aedes aegypti. O Centro de Operações vai funcionar como o Quartel General de combate à doença.

DESMAIOS EM ANGOLA: JÁ HÁ PISTA DE CRIME




EUGÉNIO MATEUS – O PAÍS (Angola)

Três pessoas presas na província de Cabinda revelaram aos investigadores que o veneno é uma composição que tem como solvente a conhecida “creolina”, resultante do cresol, composto químico com alguma toxicidade quando ultrapassados os níveis normais.

A ponta do novelo para o esclarecimento dos casos de intoxicação dos alunos nas escolas de todo o país foi encontrada na província de Cabinda, onde peritos de investigação investigaram três cidadãos associados ao crime.

A fonte, que falou sob anonimato, disse a O PAÍS que os dados preliminares indicam que a creolina é o solvente de outras substâncias químicas resultando no composto que tem sido utilizado na prática do crime.

Durante as investigações ainda em Cabinda, foi descoberto que as acções de coordenação do grupo são feitas em Luanda por três indivíduos que encaminham o composto venenoso para o resto do país, preferencialmente por via terrestre.

“As análises confirmam que a creolina associada a outras substâncias podem provocar desmaios e o quadro clínico frequentemente observado nos alunos”, garantiu a fonte.

A disseminação do veneno, segundo explicações da fonte que reportava informações dos detidos, é feita por meio de pequenos recipientes e frascos pulverizadores, não sendo estranho, portanto, o facto de a Polícia ter preso, em algumas escolas, alunos na posse de frascos de perfumes.

A estrutura organizativa deste grupo, entre os quais faz parte “um cidadão mestiço com uma cicatriz no rosto” é de tal ordem difusa que leva mesmo à presunção da existência de um grupo mafioso.

“Existem vários grupos espalhados, mas estes mesmos grupos não se conhecem entre si”, disse a fonte quando dava explicações sobre o modus operandi e a estrutura organizativa do grupo criminoso.

A fonte não pôde precisar ainda com que fins os supostos realizam estes “ataques químicos” às escolas, garantindo tão só que as investigações continuarão até se chegar a um fim esclarecedor do caso.

Histórico: as primeiras vítimas

A Escola São Domingos Sávio, no bairro Fubú, município do Kilamba Kiaxi, foi a primeira registar o fenómeno que viria a espalhar-se pela província de Luanda, num primeiro momento, e depois pela maioria das províncias. Nessa escola foram afectadas de uma só vez 19 meninas que foram atendidas em postos de socorro próximos da escola e os professores disseram mais tarde a O PAÍS que o causador do distúrbio tinha sido um antigo aluno que frequentava regularmente a escola.

Depois do sucedido, a direcção notificou os pais do aluno para dar a conhecer o seu comportamento e ele refugiou-se algures no bairro Cazenga. Informada, a Polícia do referido município tomou conta da ocorrência, deslocou-se ao local e nada mais fez em relação ao caso.

Com o registo de situação idêntica nas escolas do Projecto Nova Vida, a situação mereceu, enfim, a atenção das autoridades, porque foi nessa altura que também se notaram mais desmaios embora ainda circunscritos ao município do Kilamba Kiaxi.

Daí a alastrar-se por Luanda e quase o país inteiro foi como que num estalar de dedos e a realidade não podia mais ser escamoteada, tendo a opinião pública sido apanhada de surpresa quando foram revelados publicamente pela Polícia os primeiros dados sobre o assunto, numa apresentação que não colheu a “simpatia” da sociedade.

OMS também admite existência de veneno

Recentemente, a Organização Mundial da Saúde admitiu o que agora as investigações policiais encontraram os primeiros sinais: houve contágio por substância química dos alunos das escolas do país.

Angola: ÁGUA AINDA NÃO É PARA TODOS





Angola ainda está distante de atingir os níveis de cobertura de fornecimento de água potável à sua população, assim como o saneamento básico das suas localidades, quando comparado com outros Estados da África Austral, segundo o último estudo do Centro de Estudos e Investigação Científica, da Universidade Católica de Angola.

Neste momento, o país apresenta um índice de 40 por cento para acesso à água potável e de 50 por cento para saneamento básico, estando esta última estimativa 10 pontos percentuais abaixo dos números de cobertura nacional assegurados pelo Inquérito Sobre o Bem-Estar da População, que o Instituto Nacional de Estatística do Ministério do Planeamento publica.

Os défices existentes de acordo com os investigadores, que não se esqueceram dos constrangimentos causados pelo longo e penoso conflito armado, podem ser ultrapassados., porque dispõe de uma rede composta por 47 bacias hidrográficas que perfazem um escoamento superficial estimado em 140 milhões de metros cúbicos, em direcção a cinco vertentes principais: o Oceano Atlântico (41%), os rios Zaire (22), Zambeze (18), Okavango (12) e a região de Etosha (2).

Para chegar aos indicadores apresentados recentemente, os investigadores Nelson Pestana “Bonavena”, coadjuvado por Eduardo Sassa e Cláudio Fortuna, usaram como paradigma situações vividas em várias localidades urbanas e rurais do país, com realce para as existentes nas províncias de Luanda e KuandoKubango. Mesmo sendo uma das mais privilegiadas regiões do país em termo de investimentos para o fornecimento de água e saneamento básico, Luanda ainda apresenta indicadores muito baixos. Acredita-se mesmo que a maioria dos bairros não têm redes de distribuição de água potável e o abastecimento dos seus populares é feito por chafarizes e sobretudo por camiões cisternas. A capital do país é também um dos exemplos de como o mercado informal sobrepõe-se ao formal, uma vez que a Empresa Pública de Água (EPAL) tem cerca de 120 mil clientes registados quando a Associação de Captores e Transportadores de Água de Angola (ANGOMENHA) fornece “água a mais de três milhões de habitantes da capital”. Um estudo elaborado pela organização não-governamental Development Workshop estima em 500 milhões de dólares o volume de negócios no mercado informal do precioso líquido na capital do país. Embora possua uma rede hidrográfica composta pelos rios Kubango, Kuando e outros como Kutato, Kueve, Kuzumbia, Kujamaba, Kueio, Matunga, Muhondo e outros, a situação que se vive no Kuando-Kubango em relação ao abastecimento de água potável é tida como a pior do país.

Dos nove municípios que a compõem, apenas três são apontados como tendo sistemas de abastecimento de água, nomeadamente o município sede (Menongue), Cuchi e Cuangar (Comuna do Savate).

Os dados avançados indicam que a região metropolitana BenguelaCatumbela-Lobito, a segunda maior concentração urbana do país, caminha a bom porto desde a implementação do projecto “Águas de Benguela”, em 2007, integrada no Programa de Melhoria e Aumento da Oferta dos Serviços Básicos às Populações.

“Águas de Benguela” visou a construção de um novo sistema de abastecimento de água integrado (Baía Farta-Benguela-Catumbela-Lobito) que permitisse distribuir 86 mil metros cúbicos de água, por dia, a cerca de 1, 7 milhões de consumidores.

Duas fases deste projecto estão concluídas, mas o surgimento de novos aglomerados coloca novos desafios às empresas de água e saneamento.

O Huambo por sua vez, apesar de possuir uma população de 2, 3 milhões de habitantes, o índice de cobertura em água potável é de 24 por cento, dispondo de uma rede de distribuição e um total de 91 pontos de água.

Foi o UNICEF que levou água a muitos populares desta província do Planalto Central através de um projecto de abastecimento desenvolvido entre 2003 e 2007.

Permitiu a implementação de chafarizes nas localidades de Cuqueta, Ussoque, Mbave, Galanga e Cumbila, graças ao financiamento de 441 mil dólares fornecido pela British Airways.

O projecto “Águas para Todos” chegou apenas entre 2008 e 2009, altura em que foram instalados quatro pequenos sistemas de água, constituídos por um furo artesiano vertical, bomba de captação e um chafariz. As localidades escolhidas foram Boas Águas (Tchicala Tcholoanga), Cruzeiro (município-sede), Missão Evangélica de Chilume (Bailundo) e Ombala da Nazaré (Longonjo).

Mas o programa foi extensivo às outras localidades como Mbave, Sambo e Samboto, ainda no Huambo. Mas na Cáala, um dos principais pontos agrícolas, a maior parte da população não tem acesso à água potável e os habitantes recorrem às cacimbas desprotegidas e fontes naturais.

Às portas de Luanda, Bengo conta com oito municípios, albergando quase 250 mil populares. Possui apenas três estações de tratamento de água e uma ainda em construção no Dande.

Nesta província registou-se uma seca na localidade de Quicabo, onde milhares de indivíduos que lá residem buscavam água nas povoações mais distantes que possuíam cacimbas.

Namibe é exemplo a seguir

É a única província do país onde há uma percepção positiva a nível do programa “Águas para Todos”.

Cerca de 80 por cento da sua área foi coberta, sobretudo nos municípios do Namibe, Bibala, Tombwa, Virei a Camucuio.

Na Bibala, por exemplo, o principal problema não é falta de equipamento, mas a sua manutenção e sua operacionalidade.

As melhorias começaram com o programa estatal, cuja primeira fase permitiu a perfuração de um novo furo artesiano, construção de uma rede de distribuição de 6, 8 km, 150 ligações dimiciliárias e sete fontenários. Actualmente, o sistema que já contava com água da Serra da Leba abastece mais de 70 por cento da população.

A União Europeia investiu oito milhões de dólares para a construção do actual sistema de captação de água do Tombwa e a UNICEF trabalhou há anos num programa de água e saneamento para as escolas através da construção de tanques subterrâneos, assim como na edificação de tanques elevados com um sistema de bombagem para que uma vez colocadas nestes reservatórios, as casas de banho tivessem água por força de gravidade.

CÚMPLICES DE INSANOS





Há pouco tempo, não desconfiava tanto da nocividade dos meios de comunicação hegemônicos e cria que o receio fosse exagerado, uma vez que dispomos de ferramentas interativas – sobretudo recursos da internet – que finalmente permitem que nos informemos e expressemos nossas opiniões sobre temas diversos.

Logo reconheci que formas clássicas de desigualdade e opressão perpetuam-se através de novos modos de veiculação e transposição da cultura, como a artimanha de governos e empresários poderosos para depor chefes de Estado e, ao contrário do que prega o discurso, ferir normas de direitos humanos e a autodeterminação de povos.

Não por acaso a Líbia virou vitrina de uma guerra sangrenta em nome da democracia e o líder Muammar Gadhafi transformou-se em vedeta de uma caçada que visa a “libertar” o povo líbio das mãos de um “ditador” que “massacra seu povo”.

A notícia é a mesma em quase todos os diários eletrônicos que consultei em vários países ao redor do mundo, o que me faz deduzir que compram das mesmas agências internacionais que “informam” o mundo sobre o que sucede na Líbia.

Tenho cada vez mais medo desta relação entre política e meios de comunicação hegemônicos, e principalmente da democracia maquiaveliana que encoberta a invasão a outros países, espolia seus recursos naturais, e manipula a opinião pública. E não é a primeira vez. Nem creio que será a última.

Sendo a Líbia um país rico e estratégico em água subterrânea e petróleo, carente de uma Constituição, que argumento tem a covarde Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) para convencer-nos de que a transição trará paz ao povo líbio? Basta ver a situação degradante de Afeganistão e Iraque, cada vez mais instáveis.

Há uma fila de empresas estrangeiras de construção civil e serviços que, a exemplo do que sucedeu no Haiti pós-terremoto, negociam com as “oposições” (que país não as tem?) maneiras de desestabilizar governos e superar os vestígios da crise de superprodução e especulação financeira que assola o mundo.

O chanceler brasileiro Antônio Patriota vê com desconfiança a associação entre incursões militares e a promoção da democracia, porém apoia, por razões políticas, o embargo imposto à Líbia pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas.

O Brasil não se arrisca a expressar a condolência que sua diplomacia sente com o leilão da Líbia pelas potências na mesma medida em que o presidente venezuelano Hugo Chávez Frías o admite, ainda que em luta contra o câncer.

O episódio na Líbia recorda, apesar das diferenças de época e magnitude, a aliança que os corsários europeus estabeleciam com uma das partes em disputas entre tribos aborígines na África e América Latina a fim de efetivar a conquista. Séculos mais tarde se traga o mesmo argumento sobre o crescimento de grupos de “oposição” e processos de “transição” à democracia que é no mínimo duvidoso, se não condenável.

Com isso, não me nego a reconhecer a importância das democracias, onde o povo supostamente faz a vez em seus anseios contra a arbitrariedade de homens de Estado, senão me proponho a questionar se a demanda é legítima entre os povos árabes.

Que aconteceria se alguma civilização oriental que segue regime político distinto da democracia ocidental resolvesse “ocupar” os Estados Unidos através de alguma liga militar internacional e impor aquilo que acham melhor para este país e o mundo?

A suspeita é maior ainda em se tratando de um contexto em que as políticas econômicas EUAnas – chefe dos corsários da OTAN – visam a reduzir a dívida e recuperar este país da crise de 2008-2009. Algumas medidas pontuais direcionam-se ao aumento do crescimento econômico e da geração de empregos.

As guerras nos países árabes, portanto, aparecem num “bom” momento em que EUA precisa evacuar suas mercadorias e mover suas indústrias antes de que seja digerido pela China. A Síria também está na mira e o pretexto não será diferente do desejo de democracia que os estúpidos EUAnos, governados há décadas pelo rodízio entre dois partidos políticos genuflexos ao poder econômico, julgam que é melhor para o mundo.

Entre os aliados nesta guerra, está a decrépita e minguante França, que fará controle de imigração cobrando-lhes aos estrangeiros fluência no idioma francês. Esperam, com esta medida, reduzir drasticamente o número de ilegais. Uma das pautas da globalização é que o dinheiro circula com menos restrições entre os países, porém as fronteiras fecham-se a pessoas de maneiras cada vez mais “democráticas”.

Enquanto isto, exige-se das crianças no devastado Haiti que elas se eduquem em francês, embora somente 5% da população se comuniquem neste idioma e mais de 90% falem o “crioulo”, que é uma variação caribenha da língua da antiga metrópole.

Há fenômenos na América Latina que acompanham a onda de protestos mundiais contra os regimes políticos vitalícios e o sistema capitalista. O movimento estudantil despertou reivindicações de outros setores no Chile, que, além de melhorias na educação, sugerem uma revolução no sistema de saúde e na distribuição de renda.

Os protestos estudantis, portanto, ensejaram uma greve mais ampla no Chile e a queda de popularidade do presidente Sebastián Piñera. O risco é de que seu governo neoliberal anule o vigor do movimento e justifique sua repressão pelo alastramento da violência dos protestantes encapuzados.

É preciso cuidarmos da nossa consciência antes de que a manipulem ou roubem.

O caminho é indagar que tão razoável é o manejo comercial e industrial do mundo.

Seremos cúmplices de insanos ou instigadores de uma ordem de complacência?

*Bruno Peron Loureiro é mestre em Estudos Latino-americanos pela FFyL/UNAM (Universidad Nacional Autónoma de México).  - http://www.brunoperon.com.br

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Moçambique: Um ano depois, Governo não fez as contas ao que ganhou com austeridade




ANGOLA PRESS

Maputo -- O Governo moçambicano ainda não fez as contas para saber quanto poupou com as medidas de austeridade adotadas em 2010 após os tumultos de 01 e 02 de Setembro contra o aumento de preços de produtos básicos. 

Em Março, o executivo de Maputo anunciou que economizara 3,9 mil milhões de meticais (90 milhões de euros) com as medidas de austeridade adotadas depois dos confrontos nas cidades de Maputo e Matola, sul, que provocaram 10 mortos. 
 
Questionado hoje pela Lusa, o director nacional do Orçamento, do Ministério das Finanças, Amílcar Tivane, disse que os cálculos sobre o que o executivo moçambicano amealhou em um ano "serão feitos depois de 30 de Setembro", porque "está a preparar o Orçamento do Estado" para 2012. 
 
No dia 01 de Setembro de 2010, perante o anúncio de aumentos dos preços da água e electricidade, com incidência directa no preço do pão, moradores da periferia de Maputo paralisaram a cidade, erguendo barricadas, saqueando lojas e enfrentando a polícia. 
 
Na sequência das manifestações, que duraram dois dias e terão causado pelo menos 10 mortos, o Governo moçambicano anunciou o congelamento das tarifas da água, luz e produtos alimentares básicos. 
 
As autoridades moçambicanas determinaram, então, congelar igualmente o aumento dos salários e subsídios dos dirigentes superiores do Estado.
 
O executivo moçambicano decidiu ainda reduzir as viagens aéreas dentro e fora do país e redefinir o direito de uso da classe executiva dos dirigentes públicos, diminuindo ainda as ajudas de custo e os subsídios para combustíveis, lubrificantes e comunicações. 
 
A medida visava a realização de poupança para posterior reorientação para subsídio do custo dos produtos essenciais, através da racionalização da despesa corrente. 
 
No quadro da racionalização da despesa pública, também foi congelado o aumento de salários e subsídios dos membros dos conselhos de administração das empresas públicas e das empresas maioritariamente participadas pelo Estado, passando os ordenados a ser pagos em moeda nacional. 
 
"Todos os pacotes" de medidas de austeridade adotados posteriormente à revolta popular "estão a ser levados a sério e a ser observados" pelos gestores públicos, assegurou à Lusa Amílcar Tivane. 
 
O Governo decidiu ainda não aprovar reforços orçamentais sem contrapartidas, não criar novas instituições que acarretem custos adicionais para o Orçamento do Estado, reforçar medidas para estabilizar o metical (moeda nacional), e disciplinar a atividade bancária, intensificando as inspeções às instituições financeiras. 
 
Em Março último, Amílcar Tivane afirmou que os resultados preliminares revelavam que as medidas adotadas pelo executivo de Maputo tinham sido "eficazes".
 
"As poupanças, na ordem de 3,9 mil milhões de meticais (90 milhões de euros), possibilitaram criar disponibilidade para materializar os subsídios às panificadoras", bem como "permitiu garantir a contenção das despesas dos preços básicos" e "atribuir subsídios aos transportes públicos", disse, na altura, Amílcar Tivane.

*Foto em Lusa 
 

Brasil: POVO PATAXÓ HÃ HÃ HÃE REIVINDICA RETIRADA DE INVASORES




Renato Santana, de Brasília – Brasil de Fato

Durante Acampamento da Via Campesina lideranças lembraram luta de Galdino

Galdino Pataxó Hã hã hãe estava em Brasília (DF) em luta pelas terras originárias de seu povo quando foi queimado e morto, na madrugada de 20 de abril de 1997, por cinco garotos de classe média alta – um deles filho de juiz Federal. O assassinato chocou a opinião pública e mostrou ao mundo a situação social a que estavam expostos os índios brasileiros.

Na ocasião, o indígena travava intenso diálogo com o Judiciário por conta de ação envolvendo a retirada dos latifundiários invasores do território originário e que desde 1982 estava parada, sem decisão.

Quase 15 anos depois, parentes de Galdino ainda brigam pela finalização da mesma ação cuja autoria é da Fundação Nacional do Índio (Funai) e trata da nulidade de títulos imobiliários dos invasores da Terra Indígena (TI) Caramuru - Catarina Paraguassu, nos municípios de Camacã, Pau-Brasil e Itajú do Colônia, sul da Bahia.

Incluída na pauta de reivindicações do acampamento da Jornada Nacional de Lutas da Via Campesina e da Assembleia Popular, instalado desde segunda-feira (23) ao lado do Ginásio Nilson Nelson (DF), a causa do povo Pataxó Hã hã hãe é para que os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) votem pela anulação dos títulos e que todos os invasores do Território Indígena sejam desintrusados.

“Quem doou esses títulos tinha muito poder político”, conta o cacique Nailton Pataxó Hã hã hãe. Durante todo o século XX e início do XXI os interesses políticos fatiaram a área, então Reserva Caramuru, em latifúndios e pequenas propriedades – através de arrendamentos e títulos.

Desde o Serviço de Proteção ao Índio (SPI) – órgão substituído pela Funai - ao Governo da Bahia, num período de quase 100 anos, desrespeitaram não apenas o território originário como também decisões do próprio Estado sobre a posse dos indígenas das terras.

Arrendamento: tragédia estatal

Recentes descobertas arqueológicas apontam para a presença indígena no território há, no mínimo, 620 anos – conforme aplicação de Carbono 14 em urna funerária descoberta na área da Reserva Caramuru. No entanto, o artefato apenas ressalta conclusões a que o
Estado chegou ao início do século XX, por intermédio de um decreto de 20 de março de 1926.

Na ocasião o Governo da Bahia destinou 50 léguas quadradas – mais de 240 mil hectares – para a preservação de recursos florestais e para a proteção de índios Pataxó, Tupinambá e demais etnias lá encontradas. Apenas dez anos depois, em 1936, ocorreu a medição da área, já definida.

Tem início então uma sucessão de irregularidades, massacre de índios e roubo de território que perduram até os dias de hoje; o SPI passa a arrendar parte das terras destinadas aos indígenas. Além disso, outros invasores passam a invadir as terras.

Os povos originários esboçam resistência e conflitos são registrados. Ao final de um período que passou pelas décadas de 1930, 1940, 1950 e 1960, boa parte dos índios foram expulsos – sobretudo pelo medo da morte que atingira centenas deles – e outros permaneceram nas terras ocupadas tradicionalmente, mas em situação análoga a escravidão em serviços nos latifúndios dos invasores.

“Não podíamos nos assumir como índios. Quem assim fazia corria o risco de ser morto pelos invasores. Eles nos proibiam. Cresci sem poder me assumir como índia porque meus pais também não se assumiam. Éramos como escravos”, lembra Laura Pataxó Hã hã hãe. Acima dos 70 anos, a indígena afirma que a família sempre viveu nas áreas que compreendem o território.

Durante este processo, o governo baiano passa a emitir títulos imobiliários para os invasores do Território Indígena sob a alegação de que lá não viviam mais índios. O procedimento ocorreu até a década de 1980 – investigações, apresentadas na ação da Funai, constataram títulos imobiliários do Estado da Bahia.

Retomada: direito constitucional

Quando a área foi medida e definida pelo Estado vigorava a Constituição de 1934, cujo artigo 129 dizia: “Será respeitada a posse de terras aos silvícolas que nelas se achem permanentemente localizados, sendo-lhes, no entanto, vedado aliená-las”. Não foi assim que ocorreu e os indígenas expulsos se fixaram em cidades próximas a reserva ou partiram para Minas Gerais e São Paulo.

Nas cartas constitucionais posteriores a elaborada em 1934 (1937, 1946, 1967/69 e 1988) o dispositivo é mantido. Atrás do direito originário e legal, em 1975, um grupo de indígenas se reúne para organizar a retomada. Até que no Dia do Índio de 1982 o movimento ocorre e os Pataxó Hã hã hãe voltam para suas terras.

A diversidade de povos é característica inerente ao território tradicional Pataxó Hã hã hãe. Lá viviam os Pataxó, os Baenã, Sapuyá, os Kariri, os Kamakã e os Tupinambá. Todos convivem até hoje no território e apesar de reconhecerem suas etnias individuais, os indígenas se denominam Pataxó Hã hã hãe. “Eu e minha família somos Kariri Sapuyá, mas a luta pela terra é dos Pataxó Hã hã hãe. A colonização e o que sofremos depois determinou isso”, frisa a cacica Ilza.

O fato é que as tais 55 léguas quadradas estipuladas em 1926 se diluíram no caminhar da história e chegam a 1982 estipuladas em 54.105 mil hectares e deixa de ser reserva para se tornar Território Indígena Caramuru - Catarina Paraguassu, adequando-se à nova categoria estabelecida pela Constituição de 1988. Do total de hectares, 3 mil indígenas vivem hoje em menos da metade do território estipulado.

“Só permanecem na área os grandes latifundiários invasores. Os pequenos saíram todos e são esses que ficaram os mais poderosos, amigos ou parentes de políticos, que nos ameaçam de todas as formas”, diz cacique Gerson.

Retirada dos invasores: próximo passo

Os invasores desqualificam o relatório antropológico, ou qualquer outra prova, que ateste a ocupação tradicional e define a identificação e delimitação da área. Alegam que os índios nunca o ocuparam com “permanência efetiva” e que a posse nunca teve continuidade.

“Fomos expulsos, assassinados e escravizados. Até hoje qualquer movimentação nossa a polícia aparece com helicópteros, os pistoleiros agem”, ataca cacique Nailton. Outro argumento usado pelos invasores é que o Estado da Bahia arrendou terras pela ausência dos índios e por isso considerou o território devoluto.

O Supremo Tribunal Federal (STF), onde tramita a ação, pediu quatro perícias antropológicas. A última delas desconstrói todos os argumentos: os índios lá estão desde 1651; a presença dos Pataxó Hã hã hãe sempre foi permanente e secular em um território delimitado e claramente reconhecido – não eram nômades; tal vivência na terra nunca se interrompeu: mesmo com a crueldade dos invasores, muitos indígenas permaneceram na mata ou nas fazendas.

Cultura – Cinema: O BRASILEIRO COME VENENO




ENTREVISTA

Aline Scarso – Brasil de Fato 

O documentarista Silvio Tendler fala sobre seu filme/denúncia contra os rumos do modelo adotado na agricultura brasileira 

Silvio Tendler é um especialista em documentar a história brasileira. Já o fez a partir de João Goulart, Juscelino Kubitschek,Carlos Mariguela, Milton Santos, Glauber Rocha e outros nomes importantes. Em seu último documentário, Silvio não define nenhum personagem em particular, mas dá o alerta para uma grave questão que atualmente afeta a vida e a saúde dos brasileiros: o envenenamento a partir dos alimentos.

Em "O veneno está na mesa", lançado na segunda-feira (25) no Rio de Janeiro, o documentarista mostra que o Brasil está envenenando diariamente sua população a partir do uso abusivo de agrotóxicos nos alimentos. Em um ranking para se envergonhar, o brasileiro é o que mais consome agrotóxico em todo o mundo, sendo 5,2 litros a cada ano por habitante. As consequências, como mostra o documetário, são desastrosas.

Em entrevista exclusiva ao Brasil de Fato, Silvio Tendler diz que o problema está no modelo de desenvolvimento brasileiro. E seu filme, que também é um produto da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e pela Vida, capitaneada por uma dezena de movimentos sociais, nos leva a uma reflexão sobre os rumos desse modelo. Confira.

Brasil de Fato – Você que é um especialista em registrar a história do Brasil, por que resolveu documentar o impacto dos agrotóxicos sobre a agricultura e não um outro tema nacional?

Silvio Tendler – Porque a partir de agora estou querendo discutir o futuro e não mais o passado. Eu tenho todo o respeito pelo passado, adoro os filmes que fiz, adoro minha obra. Aliás, meus filmes não são voltados para o passado, são voltados para uma reflexão que ajuda a construir o presente e, de uma certa forma, o futuro. Mas estou muito preocupado. Na verdade esse filme nasceu de uma conversa minha com [o jornalista e escritor] Eduardo Galeano em Montevidéu [no Uruguai] há uns dois anos atrás, em que discutíamos o mundo, o futuro, a vida. E o Galeano estava muito preocupado porque o Brasil é o país que mais consumia agrotóxico no mundo. O mundo está sendo completamente intoxicado por uma indústria absolutamente desnecessária e gananciosa, cujo único objetivo realmente é ganhar dinheiro. Quer dizer, não tem nenhum sentido para a humanidade que justifique isso que está se fazendo com os seres humanos e a própria terra. A partir daí resolvi trabalhar essa questão. Conversei com o João Pedro Stédile [coordenador do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra], e ele disse que estavam preocupados com isso também. Por coincidência, surgiu a Campanha permanente contra os Agrotóxicos, movida por muitas entidades, todas absolutamente muito respeitadas e respeitáveis. Fizemos a parceria e o filme ficou pronto. É um filme que vai ter desdobramentos, porque eu agora quero trabalhar essas questões.

Então seus próximos documentários deverão tratar desse tema?

Pra você ter uma ideia, no contrato inicial desse documentário consta que ele seria feito em 26 minutos, mas é muita coisa pra falar. Então ficou em 50 [minutos]. E as pessoas quando viram o filme, ao invés de me dizerem ‘está muito longo’, disseram ‘está curto, você tem que falar mais’. Quer dizer, tem que discutir outras questões, e aí eu me entusiasmei com essa ideia e estou querendo discutir temas conexos à destruição do planeta por conta de um modelo de desenvolvimento perverso que está sendo adotado. Uma questão para ser discutida de forma urgente, que é conexa a esse filme, é o agronegócio. É o modelo de desenvolvimento brasileiro. Quer dizer, porque colocar os trabalhadores para fora da terra deles para que vivam de forma absolutamente marginal, provocando o inchaço das cidades e a perda de qualidade de vida para todo mundo, já que no espaço onde moravam cinco, vão morar 15? Por que se plantou no Brasil esse modelo que expulsa as pessoas da terra para concentrar a propriedade rural em poucas mãos, esse modelo de desenvolvimento, todo ele mecanizado, industrializado, desempregando mão de obra para que algumas pessoas tenham um lucro absurdo? E tudo está vinculado à exploração predatória da terra. Por que nós temos que desenvolver o mundo, a terra, o Brasil em função do lucro e não dos direitos do homem e da natureza? Essas são as questões que quero discutir.

Você também mostrou que até mesmo os trabalhadores que não foram expulsos do campo estão morrendo por aplicar em agrotóxicos nas plantações. O impacto na saúde desses agricultores é muito grande...

É mais grave que isso. Na verdade, o cara é obrigado a usar o agrotóxico. Se ele não usar o agrotóxico, ele não recebe o crédito do banco. O banco não financia a agricultura sem agrotóxico. Inclusive tem um camponês que fala isso no filme, o Adonai. Ele conta que no dia em que o inspetor do banco vai à plantação verificar se ele comprou os produtos, se você não tiver as notas da semente transgênica, do herbicida, etc, você é obrigado a devolver o dinheiro. Então não é verdade que se dá ao camponês agricultor o direito de dizer ‘não quero plantar transgênico’, ‘não quero trabalhar com herbicidas’, ‘quero trabalhar com agricultura orgânica, natural’. Porque para o banco, a garantia de que a safra vai vingar não é o trabalho do camponês e a sua relação com a terra, são os produtos químicos que são usados para afastar as pestes, afastar pragas. Esse modelo está completamente errado. O camponês não tem nenhum tipo de crédito alternativo, que dê a ele o direito de fazer um outro tipo de agricultura. E aí você deixa as pessoas morrendo como empregadas do agronegócio, como tem o Vanderlei, que é mostrado no filme. Depois de três anos fazendo a tal da mistura dos agrotóxicos, morreu de uma hepatopatia grave. Tem outra senhora de 32 anos que está ficando totalmente paralítica por conta do trabalho dela com agrotóxico na lavoura do fumo. 

A impressão que dá é que os brasileiros estão se envenenando sem saber. Você acha que o filme pode contribuir para colocar o assunto em discussão?

Eu acho que a discussão é exatamente essa, a discussão é política. Eu, de uma certa maneira, despolitizei propositadamente o documentário. Eu não queria fazer um discurso em defesa da reforma agrária ou contra o agronegócio para não politizar a questão, para não parecer que, na verdade, a gente não quer comer bem, a gente quer dividir a terra. E são duas coisas que, apesar de conexas, eu não quis abordar. Eu não quis, digamos assustar a classe média. Eu só estou mostrando os malefícios que o agrotóxico provoca na vida da gente para que a classe média se convença que tem que lutar contra os agrotóxicos, que é uma luta que não é individual, é uma luta coletiva e política. Tem muita gente que parte do princípio ‘ah, então já sei, perto da minha casa tem uma feirinha orgânica e eu vou me virar e comer lá’, porque são pessoas que têm maior poder aquisitivo e poderiam comprar. Mas a questão não é essa. A questão é política, porque o agrotóxico está infiltrado no nosso cotidiano, entendeu? Queira você ou não, o agrotóxico chega à sua mesa através do pão, da pizza, do macarrão. O trigo é um trigo transgênico e chega a ser tratado com até oito cargas de pulverizador por ano. Você vai na pizzaria comer uma pizza deliciosa e aquilo ali tem transgênico. O que você está comendo na sua mesa é veneno. Isso independe de você. Hoje nada escapa. Então, ou você vai ser um monge recluso, plantando sua hortinha e sua terrinha, ou se você é uma pessoa que vai ficar exposta a isso e será obrigada a consumir.

Como você avalia o governo Dilma a partir dessa política de isenção fiscal para o uso de agrotóxico no campo brasileiro?

Deixa eu te falar, o governo Dilma está começando agora, não tem nenhum ano, então não dá para responsabilizá-la por essa política. Na verdade esse filme vai servir de alerta para ela também. Muitas das coisas que são ditas no filme, eles [o governo] não têm consciência. Esse filme não é para se vingar de ninguém. É para alertar. Quer dizer, na verdade você mora em Brasília, você está longe do mundo, e alguém diz para você ‘ah, isso é frescura da esquerda, esse problema não existe’, e os relatórios que colocam na sua mesa omitem as pessoas que estão morrendo por lidar diretamente com agrotóxico. [As mortes] vão todas para as vírgulas das estatísticas, entendeu? Acho que está na hora de mostrar que muitas vidas não seriam sacrificadas se a gente partisse para um modelo de agricultura mais humano, mais baseado nos insumos naturais, no manejo da terra, ao invés de intoxicar com veneno os rios, os lagos, os açudes, as pessoas, as crianças que vivem em volta, entendeu? Eu acho que seria ótimo se esse filme chegasse nas mãos da presidenta e ela pudesse tomar consciência desse modelo que nós estamos vivendo e, a partir daí, começasse a mudar as políticas. 

No documentário você optou por não falar com as empresas produtoras de agrotóxicos. Essa ideia ficou para um outro documentário?

É porque eu não quis fazer um filme que abrisse uma discussão técnica. Se as empresas reclamarem muito e pedirem para falar, eu ouço. Eu já recebi alguns pedidos e deixei as portas abertas. No Ceará eu filmei um cara que trabalha com gado leiteiro que estava morrendo contaminado por causa de uma empresa vizinha. Eu filmei, a empresa vizinha reclamou e eu deixei a porta aberta, dizendo ‘tudo bem, então vamos trabalhar em breve isso num outro filme’. Se as empresas que manipulam e produzem agrotóxico me chamarem para conversar, eu vou. E vou me basear cientificamente na questão porque eles também são craques em enrolar. Querem comprovar que você está comendo veneno e tudo bem (risos). E eu preciso de subsídios para dizer que não, que aquele veneno não é necessário para a minha vida. Nesse primeiro momento, eu quis botar a discussão na mesa. Algumas pessoas já começaram a me assustar, ‘você vai tomar processo’, mas eu estou na vida para viver. Se o cara quiser me processar por um documentário no qual eu falei a verdade, ele processa pois tem o direito. Agora, eu tenho direito como cineasta, de dizer o que eu penso. 

Esse filme será lançado somente no Rio ou em outras capitais também?

Eu estou convidado também para ir para Pernambuco em setembro, mas o filme pode acontecer independente de mim. Esse filme está saindo com o selinho de ‘copie e distribua’. Ele não será vendido. A gente vai fazer algumas cópias e distribuir dentro do sentido de multiplicação, no qual as pessoas recebem as cópias, fazem novas e as distribuem. O ideal é que cada entidade, e são mais de 20 bancando a Campanha, consiga distribuir pelo menos mil unidades. De cara você tem 20 mil cópias para serem distribuídas. E depois nós temos os estudantes, os movimentos sociais e sindicais, os professores. Vai ser uma discussão no Brasil. Temos que levar esse documentário para Brasília, para o Congresso, para a presidenta da República, para o ministro da Agricultura, para o Ibama. Todo mundo tem que ver esse filme.

E expectativa é boa então?

Sim. Eu sou um otimista. Sempre fui.

Foto: Gabriela Nehring

Brasil já não é competitivo na produção de aço -- presidente de instituto do setor




FO - LUSA

Rio de Janeiro, 31 ago (Lusa) -- O Brasil já não é competitivo a produzir aço e está a viver um processo de desindustrialização, admitiu esta terça-feira à imprensa o presidente executivo do Instituto Aço Brasil, entidade que representa as empresas do setor.

"O setor do aço no Brasil vem perdendo competitividade pelas anomalias e artificialismos. A situação do setor no Brasil não é aquela que se imaginava, o sinal vermelho foi aceso", afirmou Marco Polo de Mello Lopes.

O Instituto Aço Brasil, que representa os interesses de 13 empresas brasileiras, reviu as projeções para o setor em 2011 e anunciou que a produção de aço bruto sofrerá uma queda de 39,4 milhões de toneladas (previstas inicialmente) para 36,3 milhões de toneladas.

Mesmo assim, este volume produzido em 2011 representará um aumento de 10,5 por cento em relação a 2010.

Esta revisão reflete, segundo Marco Polo, a expetativa de menor crescimento do mercado interno brasileiro devido ao arrefecimento da economia, à persistência de stocks elevados e à severa competição das importações.

"O mercado internacional está a viver uma sobreoferta e o mundo hoje está todo querendo proteger os seus mercados internos", explicou.

O responsável defendeu que haja da parte do governo brasileiro a definição de uma estratégia de defesa nacional "mais consistente para o setor já que a situação do câmbio não deve ser resolvida a curto prazo".

Marco Polo esteve reunido esta segunda-feira, em Brasília, com os ministros do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), Fernando Pimentel, e das Relações Exteriores, António Patriota, para discutir a procura no setor.

"É um setor estratégico para o desenvolvimento nacional. Como estancar a desindustrialização? Já levamos isso aos ministros. O governo vai pensar em como agir", afirmou.

Marco Polo, defende a desoneração de investimentos e da exportação, assim como a redução da carga tributária e dos custos de energia elétrica.

"Essas anomalias devem ser corrigidas no Brasil. Não havia a consciencialização do governo sobre a real situação do setor. A situação é emergencial (de emergência) para a cadeia como um todo", alertou ao reivindicar que os esforços sejam concentrados na área de redução de custos.

Segundo anunciou o Instituto Aço Brasil, as exportações em 2011 deverão alcançar 11,2 milhões de toneladas no valor de 6,5 mil milhões de dólares, um crescimento estimado entre 24,8 e 46,6 por cento, respetivamente.

As importações devem fechar o ano em 3,4 milhões de toneladas no valor de 4 mil milhões de dólares, representando já um decréscimo de 42,4 e 27,3 por cento, respetivamente.

Mesmo assim, as importações "continuam a ser uma ameaça", segundo a entidade do setor, devido à existência de fatores como o câmbio, a guerra fiscal nos estados brasileiros e excedentes de aço no mercado internacional.

O setor do aço no Brasil exporta para cerca de 100 países e envolve 2,4 mil milhões de dólares de investimentos.

No Brasil há 28 fábricas de aço que geram cerca de 140 mil empregos.

A crise do subprime, em 2008, provocou uma queda de produção e de vendas para metade no Brasil.

O setor já recuperou, segundo a entidade, após o governo anunciar a redução de impostos para os setores da construção civil, automóvel e de equipamentos, o que teve efeitos positivos na indústria do aço.

*Foto em Lusa

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