Cátia Bruno – i online
Protesto começou a 15 de Outubro junto à Catedral de St. Paul e é o que dura há mais tempo
“Lembrem-se: a definição legal de “ocupar” significa entrar em guerra/conflito”. É o que se pode ler num cartaz pendurado na parede da tenda principal, no meio do acampamento. No “The Occupied Times”, o jornal feito e distribuído pelo movimento, pode ler-se na capa: “Juiz decide contra o Occupy London”. A decisão do tribunal já é pública e os manifestantes vão ter de sair pelo seu próprio pé. Caso contrário, sairão à força.
A equipa legal do movimento tem tentado provar que o protesto não é uma ocupação ilegal, porque é pacífico. Os manifestantes ainda podem pedir recurso da decisão judicial até terça-feira; se não o fizerem, às 16h da tarde de sexta-feira, o acampamento será rodeado pela polícia que vai ter ordens para expulsar quem lá estiver.
Adam está acampado aqui desde o dia 15 de Outubro. “Mesmo desde o início, pá! Antes éramos muito mais, enchíamos as escadas todas da catedral. Mas agora com o frio, muita gente acabou por ir embora. Dá para ver os espaços vazios onde antes estavam tendas…”, diz.
Se a expulsão se confirmar, haverá resistência? “Não há uma ordem directa do movimento, porque aqui não há ninguém a dar ordens aos outros. Fica à consciência de cada um.” Adam irá para outro dos locais ocupados em Londres. “Isto não acaba aqui”, explica.
O mesmo dizem Rosebud e Lana, duas jovens de 16 anos de visita ao acampamento. Vivem em Kent, a alguns quilómetros de Londres, e sempre que viajam de comboio até à capital, dão um pulo ao acampamento. “Eu acho que eles vão continuar, como têm feito”, explica Rosebud. As duas adolescentes de olhos pintados e tabaco de enrolar na mão, gostam de cá vir pelo ambiente e pelas pessoas. “É algo totalmente novo.”
Problemas “Os problemas não podem ser resolvidos com o mesmo enquadramento mental que os criou”. Outro cartaz na parede, outra ideia, provavelmente a que mais define o movimento Occupy. A principal bandeira do movimento é contra o sistema capitalista e político actual – a “ditadura dos 1% sobre os 99%”. Adam queixa-se contra os direitos que estão a desaparecer no Reino Unido. “As propinas gigantes das Universidades, quando a educação é um direito; os velhotes e as crianças a terem de pagar no SNS, quando a saúde é um direito.”
Há quem passe e páre para conversar com os manifestantes que ali acampam. Mesmo os que não concordam com a sua abordagem, gostam de trocar ideias. Adam recorda alguns episódios: “É muito bom quando isso acontece. Lembro-me dum rapaz que falou comigo algumas horas e no fim disse-me: “Até percebo o teu ponto de vista. E olha, eu sou capitalista.” Mas não são apenas os transeuntes ou os turistas a dar feedback. “Um polícia uma vez disse-me: Estou do vosso lado, rapazes. Continuem o bom trabalho. Mas alguns dizem-nos na cara: vocês são escumalha, vão para casa.”
Sexta-feira é o dia de todos as decisões. Para Adam, não há hipótese de desistir. “Não quero que daqui a uns anos os nossos netos olhem para trás e digam: ‘Tudo isto estava a passar-se e vocês não fizeram nada".
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