Orlando Castro*, jornalista – Alto Hama*
Ao que parece, na óptica do governo de Miguel Relvas e Passos Coelho, o melhor para defender a cultura é acabar com ela, o melhor para defender a Lusofonia é enterrá-la. Na Agência Lusa, pelo menos, será assim.
Longe vai o tempo, foi no dia 9 de Julho de 2004, em que o presidente da Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia, Luís Filipe Menezes, defendia a criação de um Ministério para a Lusofonia, independente do Ministério dos Negócios Estrangeiros.
Depois, pela mão eleitoral do PS, partido que governava Portugal, surgiu a ideia do Estatuto do Cidadão da CPLP, que na prática poderia proporcionar a livre circulação de pessoas oriundas dos países de expressão portuguesa.
Embora o primeiro passo no processo de criação da CPLP tenha sido dado em São Luís do Maranhão, Brasil, em Novembro de 1989, por ocasião da realização do primeiro encontro dos Chefes de Estado e de Governo dos países de Língua Portuguesa - Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal e São Tomé e Príncipe, a convite do Presidente brasileiro, José Sarney, nunca é tarde para acordar.
"Espero que o próximo primeiro-ministro tenha a atitude de criar um Ministério para a Lusofonia. Qualquer cidadão que viva em Portugal e fale português é português, pelo que devemos assumir a grandeza da lusofonia", afirmou na altura Luís Filipe Menezes.
Ao que parece, e também como é habitual, o PS nunca se recorda das teses que o PSD defende nesta matéria, de que a proposta de Luís Filipe Menezes é apenas um, embora muito bom, exemplo. Também não admira. Já nem o próprio PSD se lembra...
Em Agosto de 2007 perguntei, por escrito, se Luís Filipe Menezes manteria esta promessa caso fosse eleito líder do PSD e primeiro-ministro. A resposta foi lapidar: “É óbvio que sim”.
Por outro lado, António Barreto defendeu no dia 4 de Novembro de 2011 que se Portugal sair da União Europeia atravessará "um longuíssimo período de pobreza". Se ficar, digo eu, atravessará “um período de pobreza longuíssimo”.
O sociólogo não é favorável ao actual modelo europeu que, afirmou "não prestou suficiente atenção aos cidadãos", mas espera, no entanto, que Portugal não saia da União Europeia.
Se sair da UE irá para onde? Como a Lusofonia, nomeadamente na sua vertente africana (não a de Massamá nem a do umbigo de Miguel Relvas), é algo que mete medo a muitos dos políticos portugueses, a alternativa poderá no entanto passar pela Ibéria, a integração em Espanha que era tão desejada por José Saramago.
Diz ainda António Barreto que "se Portugal sai da União Europeia e das suas relações privilegiadas com os países europeus, creio que nos esperam um longuíssimo período de pobreza, de isolamento e, talvez, de menor liberdade".
Não será bem assim. Mas… Portugal adoptou oficialmente a tese de que a Europa é que tem futuro (e, de facto, os credores é que mandam). E quem sou eu para justificar que se o passado e o presente foram a Europa, o futuro, esse passa pela África lusófona?
Ao dissertar na IV Conferência Internacional do Funchal sobre "Um rumo para Portugal", António Barreto lembrou que "um rumo para um país não é coisa para um homem só, é coisa para um povo" e defendeu "um clima de maior confiança entre os seus dirigentes e os cidadãos e, sobretudo, de informação, de discussão e de debate".
Fez ainda um apelo aos dirigentes políticos e económicos para se desdobrarem em informação à população para que a população, sabendo mais, possa continuar, sem receio, do futuro e ter um estímulo em participar". Insistiu que é preciso dar a conhecer os problemas para que a população possa saber o que está em causa e assim poder participar.
Finalizou dizendo que nos próximos anos é necessário "refazer ou repensar a União Europeia noutros moldes, conforme está não dura muito tempo".
E enquanto só se fala de Europa, vou esperar sentado e de barriga vazia para ver se alguém se preocupa em explicar aos jovens portugueses o que é a real Lusofonia.
Isto porque, hoje, é para eles mais importante o que se passa em Kiev do que o que se passa em Luanda, é mais importante o que se passa em Bruxelas do que o que se passa na Cidade da Praia, é mais importante o que se passa em Tripoli do que o que se passa em Díli.
* Orlando Castro, jornalista angolano-português - O poder das ideias acima das ideias de poder, porque não se é Jornalista (digo eu) seis ou sete horas por dia a uns tantos euros por mês, mas sim 24 horas por dia, mesmo estando (des)empregado.
Título anterior do autor, compilado em Página Global: HAVERÁ SEMPRE TACHOS PARA OS FILHOS DO PS…D
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