Martinho Júnior, Luanda
SINAIS DE AFRICOM E NATO!
Há sinais de várias fontes de que a presença do AFRICOM e da NATO em Angola se vai intensificando e são duas localidades que fazem parte do perímetro geo estratégico de Luanda que receberão infra-estruturas e estruturas em conformidade: o Ambriz e Cabo Ledo.
No Ambriz, a norte de Luanda, já há alguns anos que vínhamos recebendo esse sinal: “a base” terá características navais favoráveis pelo menos às missões “partnership” e ocupará o espaço das antigas instalações da PETROMAR, que se havia instalado na área para a construção de plataformas; durante a guerra, essas instalações foram destruídas…
A Barra do Dande albergará um novo porto e a construção duma nova cidade que espalhará ainda mais a já bastante disseminada malha urbana de Luanda.
A sul, em Cabo Ledo, consta que por via especialmente dos portugueses se estão a integrar na base aérea das FAA instalações que podem estabelecer nexos com a NATO, tirando partido dos “bons ofícios” de Portugal.
Nessa base é possível colocar uma força aero transportada cujos conceitos estão já bastante desenvolvidos no âmbito das unidades de intervenção africanas.
A base beneficia da proximidade do Parque Nacional da Quiçama, uma área que será preservada e onde não será permitido o fluxo de populações, como acontece entre o Quanza e o Dande (ou Dange): haverá lugar mais discreto no perímetro de Luanda?
Quer no Ambriz, quer em Cabo Ledo, se têm vindo a realizar exercícios militares anos após anos, exercícios que têm integrado componentes de âmbito AFRICOM e NATO.
O estado angolano, conjugando os “valores” cultivados pelas “novas elites” oportunistas que se instalaram após os sucessivos acordos (sob o olhar atento de “observadores” norte americanos, russos e portugueses), procura com esses nexos alcançar capacidades militares aptas para enfrentar os desafios do século XXI, segundo o prisma das elites globais e na esteira da hegemonia, sem pôr em causa a “harmonia” com a China, sobretudo uma “harmonia” que se estende aos campos económico e financeiro.
Há algumas dificuldades no lançamento dos projectos militares com este tipo de enlaces, nomeadamente os que se referem à própria constituição angolana, mas as “novas elites” do país têm sido pródigas em encontrar “soluções versáteis” e de “geometria variável”, conjugando os interesses ocidentais e asiáticos… um passo mais nas assimetrias em curso desde 1985!
Uma das facturas invisíveis da emergência angolana feita reconstrução nacional e reconciliação, passa pelas estratégias em curso no tabuleiro das grandes potências, por mais antagónicas que elas pareçam, “petróleo obriga”!
A “harmonia” à angolana é uma excepção, até ver, às grandes tensões.
Se os “projectos” se desenvolverem, há três vastas regiões que vão reflectir esses profundos impactos:
- A África Austral, combinando com as capacidades militares e geo estratégicas da África do Sul;
- A África Central, fortalecendo o impacto da hegemonia na geo estratégia atlântica da bacia do Congo – Grandes Lagos;
- O Golfo da Guiné, de forma a que a partir do Ambriz se dê suporte às facilidades consentidas já por São Tomé, o que é importante se levarmos em consideração os factores de desestabilização a sul do Sahel, que estão a atingir entre outros países a Nigéria.
Esta é a “paz” que as “novas elites” angolanas se podem aprestar a construir a curto prazo, aproveitando para consolidar o seu poder; as assimetrias, desigualdades e as injustiças sociais que se vão acumulando, estão na esteira dessas “louváveis iniciativas” e a cosmética da “harmonia” fará o resto…
Nada aparentemente se aprendeu nesse sentido e se assim for, com a traumática experiência bicentenária da América Latina, pelo que, se Angola foi uma “pedra filosofal” do movimento de libertação contra o colonialismo e o “apartheid”, corre agora o risco de se tornar na “plataforma ideal” para a hegemonia se instalar, de acordo com o pendor do seu poder militar e de inteligência, a “pedra filosofal” do neo colonialismo na parte ocidental de África a sul do Sahara, em estreita consonância com as necessidades e o utilitarismo de pelo menos alguns dos principais emergentes, os que compõem os BRICS!
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