domingo, 29 de janeiro de 2012

SILÊNCIO CONSTRANGEDOR SOBRE A LÍBIA



Mário Augusto Jakobskind* – Direto da Redação

A Líbia praticamente saiu do noticiário desde a morte-assassinato de Muammar Khadafi. O filho dele, Islam al Khadafi foi preso e no início informou-se que ele estava ferido e até com risco de gangrena. Depois, o referido, que estava cotado para ser o herdeiro político do pai, desapareceu das páginas.
 
Nos últimos dias as agências informaram que as forças pró-Khadafi recuperaram a cidade de Bani Walid, um dos últimos redutos khadafistas a cair sob controle do Conselho Nacional de Transição. Depois disso veio a informação segundo a qual o CNT recuperou o reduto, mas as notícias seguem desencontradas.
 
Já a Agência Venezuelana de Noticias (AVN) informava que os Estados Unidos estão preparando a ocupação da Líbia, com o envio de 12 mil mariners, o que seria a primeira fase de mobilizações para ocupação da nação norte-africana.
 
O diário árabe Asharq Alawsat divulgou a informação de que as tropas estadunidenses chegarão a Brega, sob o suposto pretexto de gerar "estabilidade" e "segurança". A agência Press TV adiantava que se espera que as tropas estadunidenses tomem o controle dos principais poços de petróleo e demais portos estratégicos.
 
Vale assinalar que Brega, a importante cidade portuária, está localizada no oriente da Líbia, e conta com um dos cinco terminais de petróleo da região, além de ser uma importante refinaria.
 
Especulação ou não, todo o noticiário em questão não saiu na mídia de mercado. Houve até duas ou três linhas sobre os novos confrontos no país norte-africano, mas sem grandes detalhes ou aprofundamentos.
 
O certo é que as denúncias de organizações de direitos humanos segundo as quais crimes de guerra e violações contra civis líbios pela Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) foram cometidos e até agora não investigadas.
 
Como se não bastasse, depois da morte-assassinato de Khadafi, o CNT designou Abdel-Rahim al-Kib como primeiro-ministro líbio. Este cidadão acima de qualquer suspeita lecionou em universidades estadunidenses e dirigiu o Instituto do Petróleo dos Emirados Árabes Unidos antes de unir-se ao CNT, em meados de 2011. E, além do mais, algumas de suas pesquisas em engenharia elétrica foram financiadas pelo Departamento de Energia dos EUA.
 
Pelo andar da carruagem e confirmando-se oficialmente todas as informações, o que para muitos analistas acontecerá cedo ou tarde, o retrocesso na Líbia é marcante e ao que tudo indica os verdadeiros vencedores da guerra civil, as potências ocidentais, estão apenas confirmando o que foi previsto logo após a tomada de Trípoli por analistas independentes, ou seja, que o país com o maior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da África estava sendo submetido a um novo processo de colonização ao estilo do início do século XX e XIX.
 
E tem ainda agravante, qual seja, a do retorno da Sharía, o que trocando em miúdos afeta as mulheres. Enquanto na era Khadafi elas ocupavam espaços relevantes no país, o novo governo com base na Sharía determinou que as mulheres que quiserem se deslocar para regiões distantes do local de moradia necessitam da autorização do pai, marido ou irmão.
 
Como para a mídia de mercado a Líbia é um caso encerrado a favor das “forças democráticas”, pouco importa agora o que se passa no país. E se algo porventura falhar, o poder imperial decide pelo envio de reforços militares para garantir a “estabilidade”.
 
Ao mesmo tempo em que, segundo alguns analistas, a Líbia pouco a pouco poderá retornar às primeiras páginas dos jornais, por estas bandas os jornalões e os canais de televisão a cabo estão dando grande destaque à blogueira cubana Ioany Sanchez. Até o senador Eduardo Suplicy, do PT-SP, entrou no circuito pedindo que o governo brasileiro se mobilize no sentido de permitir o ingresso da referida no Brasil. O visto de entrada foi concedido, o que não poderia ser diferente, porque se não fosse a gritaria de Miami seria enorme e com repercussão mundial.
 
Ioany é uma blogueira que não consegue explicar como as verbas para a aquisição do seu material de manejo na internet chega às suas mãos. É tudo muito no mínimo estranho que ela volta à tona aqui no Brasil exatamente no momento em que se anuncia a ida da presidenta Dilma Rousseff a Cuba, país com quem o Brasil mantém amistosas relações diplomáticas e comerciais.
 
É também no mínimo estranho que no momento em que o regime cubano está numa fase de visível distensão, as damas de branco e as baterias de Miami, que chegam até os ouvidos do presidente Barack Obama, anunciem a morte de um dissidente político, o que é negado enfaticamente pelo governo de Raúl Castro.
 
Segundo o governo cubano, o preso que morreu por problemas pulmonares não era preso político, mas sim comum. Estava cumprindo pena de prisão por ter agredido a mulher, segundo denúncia da sogra e tinha resistido a ordem de prisão. Ainda segundo o governo cubano, o preso nunca tinha feito greve de fome, ao contrário do que foi anunciado por quase todos os veículos de imprensa.
 
Em suma, seja qual seja o desfecho da “novela” autorização da blogueira sair de Cuba para vir ao Brasil, o tema ainda vai render bastante por estas bandas. Se a autorização for dada, Ioany vai ocupar amplos espaços na mídia de mercado destas e outras bandas latino-americanas, ainda por cima com direito a entrevista exclusiva na TV Globo sob a coordenação de William Waak, jornalista vinculado ao Instituto Millenium, o mesmo que acertou com a mídia de mercado um espaço da blogueira em vários jornais brasileiros. Caso o governo cubano não autorize acontecerá exatamente a mesma coisa.
 
Resta então aguardar o desenrolar dos acontecimentos.
 
Em tempo: palmas para Dilma Rousseff, que em vez de Davos preferiu da o recado no Fórum Social Mundial Temático realizado em Porto Alegre.
 
*É correspondente no Brasil do semanário uruguaio Brecha. Foi colaborador do Pasquim, repórter da Folha de São Paulo e editor internacional da Tribuna da Imprensa. Integra o Conselho Editorial do seminário Brasil de Fato. É autor, entre outros livros, de América que não está na mídia, Dossiê Tim Lopes - Fantástico/IBOPE

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