sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Sindicato "junta-se" aos donos do país para pôr ainda mais jornalistas no desemprego...




Orlando Castro*, jornalista – Alto Hama*

Por muito que o Sindicato dos Jornalistas portugueses diga o contrário, o jornalismo que por aí se vê, ouve ou lê é feito sobretudo por analfabetos funcionais: sabem ler e escrever, mas não lêem nem escrevem. E quando assim é…

O Sindicato dos Jornalistas (SJ) de Portugal considera que o chamado acordo de concertação social “representa um processo de inadmissível retrocesso na protecção do direito ao trabalho digno e com direitos, pelo que se compromete a combatê-lo por todos os meios”.

Não está mal. Desde logo porque, julgava eu, a tal “protecção do direito ao trabalho digno e com direitos” era uma peça de museu que, mesmo assim, ainda estaria arrumada lá no fundo da arrecadação da memória.

Em comunicado divulgado hoje, o SJ sublinha que o “Compromisso para o Crescimento, Competitividade e Emprego”, subscrito pelo Governo, pelas confederações patronais e pela União Geral de Trabalhadores (UGT), é um “retrocesso inaceitável na protecção do emprego e no desemprego, um recuo histórico na negociação colectiva e confisco ilegítimo da própria liberdade negocial entre sindicatos e associações patronais”.

Não estando em causa a razão do SJ, mas lembrando que a força da razão nada vale se comparada – como é o caso – com a razão da força, não adiante andar a dizer que o pão dos pobres quando cai ao chão tem sempre a manteiga voltada para baixo. E não adiante porque, em Portugal, os pobres (que são cada vez mais) já não tem pão e muito menos manteiga.

O documento, que analisa os aspectos “mais gravosos do "acordo", conclui que não resta ao SJ - organização independente e não filiada nas centrais sindicais -, outra alternativa a não ser lutar "por todos os meios contra o pacote legislativo iníquo que o Governo apresentará à Assembleia da República com a cobertura do “Acordo”, intervindo em todas as frentes possíveis”.

Nesse sentido, num devaneio ingénuo, o SJ apela aos jornalistas para que se "unam em torno da sua organização, reforçando-a, no combate aos novos ataques aos seus direitos e garantias".

O SJ sabe que os jornalistas são uma espécie em vias de extinção, existindo meia dúzia de exemplares que tentam, numa clausura quase franciscana, evitar o seu total desaparecimento. Também sabe que, pela barriga, não há espécie que resista aos seus donos e, é claro, aos donos dos seus donos.

Pedro Miguel Passos Relvas Coelho, na senda de José Sócrates e em consonância com Fernando Lima (o consultor político do Presidente da República de Portugal, e seu ex-assessor de imprensa, que considera que "uma informação não domesticada constitui uma ameaça com a qual nem sempre se sabe lidar") continua a sua vitoriosa luta em prol do fim, entre outras, da liberdade de imprensa.

Pedro Miguel Passos Relvas Coelho conseguiu, sem grande esforço e em muitos casos apenas por um prato de lentilhas, transformar jornalistas em criados de luxo do poder vigente.

Em Portugal Pedro Miguel Passos Relvas Coelho, enquanto primeiro-ministro, conseguiu, sem grande esforço e em muitos casos apenas por um prato de lentilhas, garantir que esses criados regressarão mais tarde ou mais cedo (muitos já lá estão) para lugares de direcção, de administração etc..

Pedro Miguel Passos Relvas Coelho deu carácter não só legal como nobre à promiscuidade do jornalismo com a política (sobram os exemplos de jornalistas-assessores e de assessores-jornalistas).

Pedro Miguel Passos Relvas Coelho deu carácter não só legal como nobre ao facto de que quem aceita ser enxovalhado pode a curto prazo – basta olhar para muitas das Redacções - ser director, administrador, assessor.

Pedro Miguel Passos Relvas Coelho deu carácter não só legal como nobre ao facto de a ética jornalística se ter tornado na regra fundamental que aparece a seguir à última... quando aparece.

Pedro Miguel Passos Relvas Coelho deu carácter não só legal como nobre ao facto de o servilismo ser regra para bons empregos, garantindo que esses servos vão estar depois a assessorar partidos, empresas ou políticos.

Assim, por muito que o Sindicato dos Jornalistas diga o contrário, o jornalismo que por aí se vê, ouve ou lê é feito sobretudo por analfabetos funcionais: sabem ler e escrever mas não lêem nem escrevem. E quando assim é…

* Orlando Castro, jornalista angolano-português - O poder das ideias acima das ideias de poder, porque não se é Jornalista (digo eu) seis ou sete horas por dia a uns tantos euros por mês, mas sim 24 horas por dia, mesmo estando (des)empregado.


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