domingo, 5 de fevereiro de 2012

Angola: Falta de matéria-prima para produção de próteses dificulta vida de deficientes



NME - Lusa

Luanda, 05 fev (Lusa) - A Associação Nacional de Deficientes de Angola (ANDA), que completou 20 anos no passado dia 02, apoia 153 mil portadores de deficiência, mas clama por apoio urgente para o início da fabricação de próteses no país.

A ANDA foi criada a 02 de fevereiro de 1992, ano do reinício da guerra em Angola, e presta ajuda a ex-militares das três forças políticas angolanas envolvidas no conflito, MPLA, UNITA e FNLA, bem como a civis.

Em entrevista à agência Lusa, o presidente da ANDA, Silva Etiambulo, disse que a associação concedeu apoios aos deficientes a nível da formação profissional, de constituição de cooperativas agrícolas, pesca artesanal e artes e ofícios.

As ações da ANDA estendem-se também à sensibilização e motivação dos deficientes para o programa de alfabetização e ensino.

"Em 20 anos proporcionámos também condições para o reassentamento de algumas pessoas deficientes que andavam a mendigar nas ruas, bem como na obtenção e distribuição de terrenos para o sistema de autoconstrução dirigida", frisou Silva Etiambulo.

Um dos problemas que enfrenta neste momento, e que se arrasta há cerca de três anos, é a falta de matéria-prima para a produção de próteses nos 11 centros existentes em todo o país.

"A situação está a piorar. Muitos centros estão encerrados. São onze centros oficiais, desses o da Bomba Alta, do Huambo, às vezes é que consegue trabalhar um bocado, bem como o centro de Viana e o da Samba (Luanda), os outros estão todos parados, porque a matéria-prima vem de fora", lamentou.

Em tempos de guerra, o material era suportado sobretudo pelo Comité Internacional da Cruz Vermelha (CICV) que "ajudou bastante".

"Terminou a guerra, o CICV também se retirou e nós que nos acostumámos a receber de graça agora não temos onde tirar, isto constitui um problema grave, então gostaríamos que houvesse mais apoio, que não nos abandonassem ainda", frisou.

Os deficientes, que se encontram em maior número na capital do país, Luanda, seguindo-se as províncias do Huambo, Kuando Kubango e Moxico, beneficiam ainda de apoios para a constituição de microempresas nas áreas de mecânica, serralharia, corte e costura, indústria de moagem e recauchutagem.

Na implementação destes projetos, a ANDA contava com o apoio de algumas instituições do Estado, nomeadamente os ministérios dos Antigos Combatentes, da Administração Pública Emprego e Segurança Social, da Reinserção Social e da Saúde.

Silva Etiambulo lamentou que os apoios internacionais que recebiam em tempos de guerra tenham terminado com o fim do conflito em 2002, e apelou à sua continuação, face ao elevado número de deficientes existentes no país.

"Todo o apoio (internacional) que recebíamos, depois da assinatura dos acordos de paz, a maioria 'deixou-nos em paz', a pensar que Angola já tem paz, mas continuamos a apelar por mais apoios,", referiu o presidente da ANDA.

O responsável disse que o número de deficientes controlados pela ANDA "está muito aquém" do real, salientando que províncias como o Moxico, no leste do país, a maior das 18 que compõem Angola, e do Kuando Kubango, não mereceram ainda um levantamento devido â falta de meios que permitam chegar às áreas mais recônditas dessas regiões.

"Nunca fizemos um levantamento total no Moxico, no Kuando Kubango e são províncias que sofreram muito com a guerra, principalmente o Moxico, nós ANDA temos estado a dizer que é uma província que deve ser respeitada e deve merecer mais apoio, pela sua história", disse.

Para Silva Etiambulo, a província mais a leste de Angola "merece respeito", por ter sido palco de várias passagens da história angolana - a morte do primeiro jovem combatente do MPLA, Hoji-Ya-Henda, a fundação da UNITA e a morte do seu líder, Jonas Savimbi, assinatura de acordos com o exército português e assinatura do Memorando de Entendimento que levou á paz em 2002.

"Falando como assistente social de profissão, tenho estado a sentir muito por aquele povo e também a província, que produziu muitos deficientes. Só o combate para capturar o guerrilheiro (Jonas Savimbi), isso envolveu muitas armas e muitos soldados", recordou Silva Etiambulo.



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