SBR - Lusa
Lisboa, 08 fev (Lusa) -- A crise económica mundial está a ter reflexos na disponibilidade de verbas dos países da CPLP, numa altura em que Brasil já ultrapassou Portugal na ajuda oferecida, disse o diretor de Cooperação da organização lusófona, Manuel Lapão.
Em entrevista à Lusa, o diretor de Cooperação da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), que coordena os trabalhos dos pontos focais de cooperação da organização, em Lisboa, adiantou que não se fala "diretamente" sobre a crise, mas esta está "subjacente no pensamento de todos", quando está em causa a "aprovação de novos projetos".
"Os próprios Estados, no caso Brasil e Portugal, que traziam mais projetos, utilizam essa justificação, para, perante os restantes parceiros, dizer que não é possível avançar com mais propostas neste momento, ou então justificando a diminuição de alguns recursos que são atribuídos à área da cooperação", explicou.
"É evidentemente um assunto que nos preocupa a todos", reconheceu, estimando "reflexos muito sérios" na "ação de cooperação" já "no próximo ano", disse.
Havendo, entre os membros da CPLP, um "sentimento de solidariedade", o certo é que Brasil e Portugal lideram os esforços nesta área e por esta ordem. É o Brasil que mais tem investido na área da cooperação, "tendência que se vem verificando de algumas reuniões a esta parte", realçou Lapão.
Já Angola "não" tem aumentado o seu apoio, assegurando "algumas ações" a "nível político e diplomático", disse. "Em termos de colocação de recursos na área de cooperação, não se tem assistido a essa transferência" por parte de Luanda, acrescentou.
Em geral, a tendência é para diminuir o apoio à cooperação. "Antecipo que, provavelmente, em 2012, não se consigam aprovar muito mais projetos do que os que estamos a aprovar nesta reunião", admitiu, referindo-se à reunião de pontos focais de cooperação que hoje termina em Lisboa.
O Programa Indicativo de Cooperação (PIC) da CPLP tem, neste momento, "cerca de 1,7 milhões de euros de projetos em curso", que, com os três projetos novos entretanto aprovados nas reuniões de Lisboa, aumentará para "2,5 milhões", referiu Manuel Lapão.
Desde que, em 2000, foi criado o fundo especial da CPLP para a cooperação, o volume total de financiamento ronda os 7,2 milhões de euros, "o que é bastante significativo", realçou, acrescentando que a execução técnica e financeira dos projetos está num "bom nível", com execução "acima dos 80 por cento".
Manuel Lapão destacou dois projetos com boa avaliação de resultados: apoio aos laboratórios de engenharia civil lusófonos e a intervenção no setor na estatística para gerar "indicadores que não existem".
Dos seis novos projetos apresentados, três foram aprovados: assistência técnica ao centro de informação e proteção social da CPLP, apoio à quarta conferência de jovens líderes da organização, que terá lugar em Cabo Verde, e reintegração social da prática de capoeira enquanto arte em São Tomé.
Outras ações aprovadas -- e que respondem, na opinião de Lapão, ao desafio do Presidente da República, Cavaco Silva, de que a organização se dê a conhecer mais aos cidadãos, são o projeto CPLP nas Escolas, dirigido a jovens dos 12 aos 15 anos, e o desafio relacionado com os Objetivos de Desenvolvimento do Milénio (ODM) das Nações Unidas, destinado ao público universitário.
A segurança alimentar, na agenda de discussão da CPLP, é tida como "um setor chave" e "um instrumento de relações internacionais", realçou Lapão, recordando que a CPLP foi "a primeira organização de índole regional" a apresentar o tema ao Comité Mundial de Segurança Alimentar, em outubro, em Roma (Itália).
Agora está em curso um trabalho de coordenação com a FAO (agência da ONU para a alimentação) para definir os objetivos a atingir até à cimeira de Maputo (Moçambique), agendada para julho de 2012.
No futuro, a ideia é criar um comité para a segurança alimentar da CPLP, adiantou.
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