quarta-feira, 21 de março de 2012

Igreja Católica da Holanda castrou jovens vítimas de abusos de padres na década de 1950




Fillipe Mauro – Opera Mundi, com foto

Pelo menos dez rapazes foram submetidos ao procedimento. Membros do parlamento holandês irão defender inquérito sobre o caso

Resultados de uma investigação sobre casos de castração de adolescentes pela Igreja Católica publicados pelo jornal NRC causaram comoção na Holanda. Os documentos mostraram que, na década de 1950, pelo menos dez jovens vítimas de abuso sexual teriam sido submetidos à retirada de seus testículos como forma de "extirpar-lhes" a homossexualidade e puni-los por suas denúncias de abusos sexuais.

Membros do parlamento holandês disseram no sábado (17/03) que vão defender a abertura de um inquérito sobre as alegações. A apuração foi conduzida por Joep Dohmen, jornalista estudioso do caso de Henk Heithuis, holandês castrado por padres em 1956 depois de revelar à polícia os abusos que sofrera ao lado de membros do clero.

Dois padres seriam condenados por esse abuso, mas pouco tempo depois a polícia enviaria Heithuis para um hospital psiquiátrico católico, onde registros alegam que a castração foi conduzida atendendo seu próprio desejo. Não há, contudo, nenhum documento no qual o paciente de 20 anos de idade expressa essa vontade.

Segundo Dohmen, algumas de suas fontes contam que “a remoção cirúrgica dos testículos era considerada um tratamento para a homossexualidade e, também, uma punição para aqueles que acusassem membros do clero de abuso sexual”.

Embora ainda existam vários casos, Dohmen explica que a maioria deles "é anônima e não pode ser mais investigada”. Tudo depende do desejo “desses rapazes, hoje homens mais velhos, em querer compartilhar suas histórias”.

Uma investigação oficial conduzida pelo ex-ministro da Educação holandês Wim Deetman recebeu no último mês de dezembro cerca de 1,8 mil relatos de abusos cometidos por dioceses católicas desde 1945.

Surgiram evidências na última segunda-feira (19/03) de que, na época, oficiais do governo estavam cientes da castração de jovens em instituições psiquiátricas mantidas pela Igreja Católica.

Relatórios de reuniões da década de 1950 revelam que inspetores do Estado holandês estavam presentes durante os debates sobre a castração e que membros do clero defendiam que os pais das vítimas não fossem envolvidos no processo.

Há também alegações de que Vic Marijnen, ex-primeiro ministro holandês morto em 1975, esteve vinculado ao caso. Em 1956, ele foi o diretor do Internato de Gelderland, onde Heithuis e outras crianças sofreram abusos.

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