Aly Silva, jornalista guineense detido ontem de manhã pelos militares golpistas da Guiné-Bissau foi libertado ao princípio da noite, disso nos deu conta no seu blogue Ditadura do Consenso, a que de imediato fizemos referência. Aly foi espancado e libertado com ferimentos.
Retomando o tema recuperamos hoje conteúdo publicado ontem no Alto Hama, de Orlando Castro, jornalista em Portugal e nossa permanente presença no Página Global.
No Ditadura do Consenso julgamos que ainda hoje Aly voltará a estar presente. Ontem à noite prometeu publicar algumas fotografias. Esperemos que consiga e que esteja devidamente tratado das agressões de que foi vítima. Seguem-se dois “apanhados” de ontem sobre Aly Silva, retirados do Alto Hama. (Redação PG - AV)
“Estão a matar-nos”
António Aly Silva - Jornalista
"Mais de um milhão de guineenses estão reféns de militares... guineenses. Temos sido sacudidos e violentados, usurpam e tolhem-nos os nossos direitos, até o mais básico. Até quando mais a comunidade internacional vai tolerar que gente medíocre - alguma classe política, e militar faça refém todo um povo? A história endossará uma boa parte da responsabilidade à comunidade internacional.
Ajudem o povo da Guiné-Bissau; não os abandonem, agora, mais do que nunca. Tiveram todos os sinais de que uma insurreição era possível, ainda que desnecessária. Nada justifica o levantar das armas, é intolerável o disparo de armas pesadas numa cidade com mais de quatrocentas mil pessoas. É criminoso, acima de tudo. Tiveram tudo para estancar a hemorragia e a orgia de violência. Sabem há muito que este é um país que nasceu, cresceu e vive sob laivos de militarismo.
Agora, tudo está calmo. Não há tiros, nem feridos nas urgências e menos ainda corpos na morgue resultado de mais uma brutalidade da canalha. Não se sabe quem morreu - espero e desejo que ninguém tenha sido morto. Um país é o último, e único, refúgio seguro para o seu povo. Foi traumatizante ver mulheres e crianças a chorar; é triste ver homens e jovens a fugir de homens e jovens como eles. É desolador. Estou abatido, e, sobretudo cansado. Não tenho sequer forças para gritar.
Olho e registo tudo. Depois escrevo, na certeza de que alguém me vai ler e comungar dos mesmos sentimentos. O meu blogue, hoje, foi já acessado por mais de 50 mil pessoas. Ficará para a estatística. Teria preferido uma visita por dia, a ter de suportar cem mil pares de olhos tristes e enevoados: estão a matar-nos, estão a destruir as famílias, a tornar as crianças violentas.
O pior da Guiné-Bissau, meus caros... é o guineense!
Um abraço a todos.”
Detido e espancado mas talvez (ainda) vivo
O jornalista António Aly Silva foi hoje detido por militares golpistas. O blogue do jornalista guineense, que tem dado conta desde ontem da situação que se vive no país, deixou de ser actualizado às 10h27 locais.
Várias testemunhas em Bissau confirmaram que Aly Silva terá sido espancado e levado para parte incerta.
Já ontem (quarta-feira), o jornalista relatou no seu blogue uma tentativa de detenção por golpistas, da qual acabou por conseguir escapar em troco de dinheiro.
“Fui 'apanhado' há pouco por um militar armado de AK-47, na rua de Angola (onde moro), e que me viu a escrever no iPad. Disse-me 'o que fazes aqui, e com isto na mão?. Vais ter problemas. Vamos!', disse-me. Retorqui dizendo que morava 'já ali', mas não valeu de nada. Depois de uns bons metros e de Kalashnikov apontada na minha direcção, ganhei coragem...e uma nota de 10.000 mudou de mãos e eu recuperei a minha liberdade», contou Aly Silva no blogue Ditadura do Consenso, pelas 20h43 locais.
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