José Sousa Dias, agência Lusa
Cidade da Praia, 16 jun (Lusa) - Impensável há uma década atrás, os mercados de Cabo Verde oferecem hoje leguminosas e frutas viçosas, sinal da mudança progressiva do panorama agrícola no arquipélago.
As novas técnicas de irrigação, como o sistema gota-a-gota, têm permitido transformar os secos e áridos solos em quintas, maioritariamente artesanais, mas que têm permitido contornar a escassez de água nas nove ilhas habitadas de um arquipélago onde só chove entre julho e outubro.
E é nos mercados de Santiago que se nota uma cada vez maior disponibilidade de frutas e legumes frescos, graças sobretudo à única barragem do país, construída e concluída em 2006 pela China, na região de São Lourenço dos Órgãos, no interior da ilha onde se situa a capital, Cidade da Praia, e que já encheu várias vezes.
A questão da água vai ser um dos assuntos a ser debatido na Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável Rio+20 que se realiza entre 20 e 22 no Brasil. Além da Água serão discutidos temas como os oceanos, alterações climáticas, energia, desastres naturais e alimentação.
Com os lençóis freáticos reduzidos e de pouca monta, incapazes de por si só abastecerem uma população crescente - 500 mil habitantes no arquipélago, mais de metade na ilha de Santiago -, a barragem do Poilão trouxe à região uma nova vitalidade a uma agricultura que já passou da fase de subsistência para a comercial.
Os custos com os combustíveis para a produção de água potável - são várias as centrais dessalinizadoras no arquipélago - são muito altos, pelo que a ambiciosa aposta governamental na densificação de barragens e diques por todo arquipélago é vista como uma luz ao fundo do túnel.
Até 2016, o Governo de Cabo Verde tem prevista a construção de 17 barragens - pelo menos três estão já em curso na ilha de Santiago (Salineiro, Saltinho e Faveta) -, e mais de 70 diques.
Fazer jus ao nome do país, torná-lo, de facto, verde, é a aposta do governo local, baseado no exemplo da barragem do Poilão, pretende concretizar uma revolução nos solos, por onde, todos os anos, se perdem uns estimados 700 milhões de metros cúbicos da água proveniente das chuvas.
A retenção da água das chuvas é uma prioridade e após mais de cinco anos de estudos das diferentes bacias hidrográficas, a agricultura começa a surgir em força, esperando as autoridades locais, com ela, aumentar a produção agrícola, inverter a tendência de deslocação das populações para os principais centros urbanos, baixar o desemprego, reduzir a pobreza e combater a desertificação.
A par da política da água, está em curso uma ação de sensibilização para a eficiência, que passa não só pelas populações mas sobretudo por uma lógica de evitar desperdícios, uma vez que as canalizações são já velhas e muita da água que se perde é escoada, com frequência a céu aberto, para o mar.
A par da infraestruturação do saneamento, Cabo Verde tem ainda apostado na construção de estações de tratamento de águas residuais, reduzindo o impacto da poluição marítima, embora haja, tal como reconhecem as autoridades, muito a fazer.
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