quarta-feira, 4 de julho de 2012

A AMPLA CIDADE



Rui Peralta

Israel

Israel tornou-se o maior exportador de diamantes do mundo e as receitas diamantíferas representam mais de 1/3 do valor das suas exportações anuais, um pouco á margem das norma do Kimberly Process (KP) uma identidade internacional reguladora do mercado diamantífero, que reúne-se semestralmente em Washington e que tem sido objecto de criticas desde a sua fundação em 2003 (curiosamente poucos meses depois do final das atrocidades incentivadas pela Frente Unida Revolucionária da Serra Leoa, dirigida por Charles Taylor). As críticas ao KP incidem sobre a definição de “diamante de sangue”, que pelas normas do KP são “diamantes em bruto utilizados por movimentos rebeldes ou seus aliados para financiar a violência dirigida a debilitar governos legítimos”.

Os críticos deste modelo consideram-no míope, exclusivamente relativo a actividades ilegais de produção, mas completamente desactualizado face ao mercado actual porque não tem mecanismos de controlo na área de comercialização, que continua dominada por cartéis. Ou seja, como o KP apenas rastreia os movimentos e origens dos diamantes em bruto, os países especializados na delapidação podem produzir em abundancia descontrolada milhares de milhões de USD em diamantes por ano, muitas vezes provindos de áreas e processos que são ilegais á luz do actual sistema, mas que este não controla porque os seus mecanismos não são suficientemente abrangentes a todo o processo diamantífero.

É exactamente esta brecha jurídica do KP que Israel converteu-se no maior exportador de diamantes do mundo, com receitas que em 2008 foram de 9 mil e 400 milhões de USD, valor sempre crescente. Coo o processo de delapidação elimina todas as características de identificação torna-se quase impossível rastrear os diamantes delapidados comprados a Israel, indistinguíveis dos diamantes enviados da Africa do Sul, Austrália ou USA. Estes diamantes terminam nos principais centros de New York e Hong Kong, onde são comprados pelos maiores vendedores mundiais de diamantes.

No passado mês de Maio o Conselho Mundial do Diamante (WDC) reuniu-se em Itália, na sua itinerante reunião anual e concordou que a actual definição do KP de diamante de sangue deveria ser ampliada e incluir a violência relacionada com diamantes nas áreas de produção e de comércio em bruto, mas não inseriu os diamantes delapidados na definição. A Global Witness (GW), uma ONG com sede em Londres, abandonou o KP o ano passado depois de este ter aprovado a exportação de diamante extraídos dos campos Marange, no Zimbabwe, que desde há muito é um país sobre o qual recaem denúncias sobre a utilização de mão-de-obra infantil e de mão-de-obra forçada na exploração diamantífera. A GW acusou os membros do KP de fazerem vista grossa aos abusos similares registados em outros estados produtores. A GW propunha também que o KP incluísse os diamantes delapidados na suas definições e normas, o que isolaria, entre outros, Israel devido á sua política de ocupação e aos problemas relacionados com os Direitos Humanos e com o Direito Internacional.

O único explorador de diamantes de Israel, Sehfa Yamin, obteve recentemente licenças para realizar estudos geológicos em 67 mil hectares nos arredores de Haifa. Se a descoberta de depósitos de kimberlite com conteúdo de diamantes for explorável, Israel poderá converter-se num importante produtor de diamantes em bruto e delapidados, o que o colocaria sob a jurisdição do KP. A economia israelita depende em muito das receitas geradas pelos diamantes, na sua forma delapidada, absorvida pelos mercados internacionais ou na extracçäo em África. Para além dos avultados investimentos na indústria mineira neste continente, inclusive na Libéria que é uma fonte de diamantes de sangue, Israel oferece especialização técnica e acordos comerciais bilaterais com vários estados da Africa Ocidental, envolvidos na extracçäo mineira.

Em 2010 o economista israelita Shir Hever apresentou no Tribunal Russel sobre a Palestina, provas em como o exército israelita e várias organizações sionistas envolvidas na criação de lobbys israelitas nos USA, Canadá, América Latina e União Europeia, foram os mais beneficiados pelo lucrativo negócio diamantífero israelita.

O sector diamantífero israelita contribui com uma média anual de mil milhões de USD para as industrias militares e de segurança de Israel e outro tanto vai directamente para as forças militares israelitas. A Steinmetz, um dos principais produtores diamantíferos mundiais, financia através de uma fundação uma unidade do exército israelita, a Brigada Givati, responsável por diversas atrocidades cometidas em Gaza. A Brigada Givati foi “adoptada” pela fundação, que recorre aos serviços de segurança de Israel sempre que necessita de consultoria na área de segurança, sendo israelitas os seus principais responsáveis pela segurança dos administradores, das instalações e das explorações.

Ausência

Que saudades do teu rir, desse teu sorriso...Fico sem juízo, na ânsia da tua pele tocar, da tua carne sentir e da tua boca beijar.

Palestina

O futebolista palestiniano Mahmud Sarsak, preso em Israel, acabou na passada semana a greve de fome que levava a cabo desde á 3 meses, ao obter um acordo com as autoridades israelitas que garantiram a sua libertação para o dia 10 de Julho e o seu regresso a Gaza. O caso de Mahmud Sarsak, com 25 anos de idade, futebolista, mobilizou diversas organizações de solidariedade com a Palestina e de direitos humanos, além de altas instâncias do futebol internacional, como o presidente da FIFA, que solicitou á federação de futebol israelita que intercedesse a favor de Sarsak e dos palestinianos ilegalmente detidos.

Sarsak, na prisão, aderiu á greve de fome iniciada por 2 mil prisioneiros palestinianos a 23 de Março e rejeitou um acordo alcançado no dia 14 de Maio, porque exigiu que o acordo fosse por escrito.

Ausência

Final do dia...Cai a tarde (e o sol, por ela arrastado) para lá da cidade. Será o crepúsculo do eu? Ou apenas o sol que partia? Talvez um sinal teu? Ou será o meu coração alucinado?

Os indocumentados

Nos USA existem cerca de 12 milhões de imigrantes documentados. Estes números incluem 800 mil jovens que talvez tenham brevemente a possibilidade de obter a residência legal por tempo limitado, segundo um decreto executivo presidencial. Grande parte destes jovens “ilegais” chegaram aos USA, ainda eram bebés. Estudam nas escolas norte-americanas, brincam nas ruas dos bairros onde residem “ilegalmente” com as crianças norte-americanas “legais”, inclusive juram lealdade á bandeira norte-americana durante as cerimónias de graduação, são norte-americanos como qualquer cidadão norte-americano, excepto que estão indocumentados.

Desde 2002 que existe uma campanha para aprovação de uma lei que ceda a estes jovens o estatuto de cidadãos. O projecto desenvolvido por essa campanha denomina-se DREAM, inicias da Lei de desenvolvimento, ajuda e educação para os menores estrangeiros. Claro que os que participam neste movimento não se consideram estrangeiros, mas sim norte-americanos indocumentados. É o caso de Lorella Praeli, residente em New Haven, Connecticut, membro activo do Comité de Coordenação Nacional Unidos Sonhamos (NCCUWD). Lorella é uma beneficiada da aplicação desta lei. Nascida em Lima, no Peru, sofreu um acidente de viação quando tinha 2 anos e meio, sendo a sua perna direita amputada. Complicações surgidas durante a amputação levaram a que recebesse tratamento na Florida, acabando por ficar com os pais nos USA. Só descobriu que era indocumentada quando foi para a Universidade e solicitou auxílio á Ajuda Gratuita Federal para Estudantes. Iniciou então contactos com a campanha que decorria noutros estados e formou o Comité no Connecticut. O mayor de New Haven convidou-a discursar numa conferência sobre indocumentados e a partir desse momento Lorella Praeli tornou-se uma das vozes mais activas deste movimento.

Outro caso foi o de José António Vargas, de origem filipina, chegado aos USA com12 anos, para onde foi viver com os avós na Califórnia. Cresceu e optou pelo jornalismo, fazendo carreira no Washington Post, onde fez parte da equipa deste jornal que recebeu o Premio Pulitzer em 2007. Em 2011, publicou um artigo no New York Times onde revelou a sua situação de indocumentado e “ilegal” e proclamava a sua adesão ao Unidos Sonhamos.

O movimento desenvolveu acçöes de protesto, como marchas em diversos estados e a ocupação de escritórios das agências federais responsáveis pelos assuntos dos imigrantes. Nos últimos meses o movimento ampliou-se de tal forma que o presidente Obama acabou por realizar um discurso onde anunciava a nova lei, que irá permitir a estes jovens cidadãos exercer os seus direitos.

Ausência

É difícil a tua ausência. Os dias não têm sentido e as noites são demência. O meu ser ferido e a minha alma dilacerada proclamam o amor em voz sussurrada e vão parir sem dor.

India

Uma das críticas que mais são explanadas nos media liberais sobre a insurreição na India é que a guerrilha implica violência. Estou absolutamente de acordo e acrescento: a guerrilha é produto da violência e redefino: a guerrilha utiliza a violência, geralmente direcionada contra a policia e o exercito, ao usar a violência corre riscos e pode trazer a morte de inocentes no fogo cruzado, mas a guerrilha é causada pelo facto do governo ter usado a violência em primeiro lugar e ter ignorado uma situação e abusado das comunidades, que acabaram por terem de apoiar a guerrilha e actuarem na luta armada de forma directa, porque não lhes foi dada qualquer outra forma de fazerem cumprir os seus direitos.

Devemos condenar a violência? Bom…que violência é que vou condenar? Coloquem-se na pele de um anadivasi, vivendo na sua aldeia, no meio da floresta e chegam, de forma abrupta, 800 Policias do CRP (Central Reserve Police), que cercam a aldeia e começam a interrogar toda a gente da aldeia, crianças, velhos, mulheres e descontentes com as respostas começam a bater nos aldeões, é suposto fazer o quê? Iniciar uma greve de fome? É útil e apropriado em certas ocasiões e circunstancias, mas há dois factores que têm de ser focados: 1) É muito difícil que um subnutrido, pobre, que tem de olhar pela família porque tem filhos, faça greve de fome. Ele poderá faze-la se estiver preso, mas no seu meio, no seu habitat, na sua floresta, ele não vai optar pela fome. Tal como não pode optar pela não-violência. A não-violência necessita de audiência, é como uma peça de teatro ou uma performance artística. Na floresta, na sua aldeia na floresta, o anadivasi não tem audiência. Não estão lá as camaras, nem os jornalistas, nem uma multidão de gente que possa testemunhar e propagar a sua acçäo e os seus direitos. Só lhe resta defender-se e se necessário for, passar á ofensiva, atacar o exercito e a policia antes que o exercito e a policia ataquem a sua aldeia, a sua terra, o seu pedaço na floresta, a sua família. Todo o cidadão tem o direito (e isso não precisa de estar escrito em nenhuma carta de direitos) a resistir á aniquilação. É humano resistir á desumanidade.

Podem contrariar esta ideia e dizerem: Mas na India a insurreição é Maoista. Bom…A insurreição não é maoista, os maoistas é que juntaram-se á insurreição. Neste momento fazem parte da resistência. Não partilho da ideologia maoista, mas de certeza que os anadivasi e outros da cintura tribal e muitos dos que aderem á guerrilha fugindo das cidades, devido ao desemprego, ou porque os querem assassinar, ou porque são sindicalistas e já não os querem contratar, ou porque são intocáveis e de castas inferiores, enfim a grande maioria da massa da guerrilha não é maoista, nem está a resistir por motivos ideológicos. Não deixo de apoiar a insurreição na India por os maoistas a apoiarem e estarem integrados nela. Dizer que a guerrilha é maoista na India, é como dizer que é controlada pelo narcotráfico na Colômbia, por exemplo. São formas de desacreditar a resistência, digamos, é mera propaganda. Os maoistas estão com a rebelião e isso não é nada do outro mundo. O que é do outro mundo é haver muita gente que se intitula progressista, democrática e outras coisas bem cheirosas, mas que não conseguem entender isto, que é tão básico, tão elementar e tão simples de entender: quando nos querem aniquilar, temos de resistir.

É evidente que os media jogam um importante papel nesta situação. Em nenhum dos grandes aparece uma noticia que seja sobre a insurreição. O que é natural. A India é um destino para os investimentos, logo não pode haver noticias negativas sobre a India. Quando são impossíveis de evitar, recorre-se aos fantasmas do sótão e encontra-se o maoismo. É uma forma de escamotear a realidade. É que os proprietários dos media têm interesses, ou até são os mesmos, em alguns casos, nos investimentos e nas empresas que actuam na cintura mineira e nos negócio agroindustriais. Portanto a posição dos media é lógica: defendem o patrão, talvez assim tenham um aumento no fim do mês, ou possam comprar a casa, refazer o jardim, o carro, etc.

Para além de tudo isso estão os pobres. Esses podem morrer, sem dizer palavra. Porque quando se revoltam, são comunistas, maoistas, anarquistas, salteadores, traficantes…e afinal são só pobres.

Fontes
Patrick Galey; Israeli blood diamonds global conspiracy; http://english.al-akhbar.com
Amy Goodman; Un movimiento construido por soñadores; http://www.democracynow.org/es
Washington Post, 11/06/2012
US Federal Reserve, 06/2012
Monde Diplomatique, 15/05/2012
Le Point, 14/06/2012
China Daily, 05/06/2012
Irish Times, 12/04/2012
El Pais, 10/06/2012
La Tribune, 10/06/2012
Market Watch; 14/06/2012
Guardian 05/06/2011

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