quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Macau: OS NOSSOS PEDREIROS

 

João CorvoHoje Macau, opinião
 
A Maçonaria em Macau tem uma história antiga. Aliás, tão antiga quanto lamentável. Não é que os pedreiros locais sejam piores que outros. O pior foi a sua história, isto é, a sua evolução. De uma instituição anti-clerical, constituída por gente de bem, transformou-se num bando de padrecas e gente banal. Agora que um blogue na internet divulgou alguns dos nomes dos assentadores de pedra aqui do burgo, não podemos deixar de nos espantar: como pode alguma desta gente, que tínhamos por crescida, andar a ter reuniões em casinhas secretas, com aventalinhos, candelabros e referenciar-se como Loja Fraternidade e Progresso? Fraternidade… e Progresso…. please… haja decoro!
 
De facto, por mais que dê voltas à imaginação, não consigo imaginar o meu considerado conhecido Ali Babá a conviver com alguns dos outros, muito menos a chamar-lhes irmãos quando nem na famosa caverna teriam lugar de tão toscos são. Dantes, no tempo dos Pessanhas, Constâncios e Silva Mendes, parecia haver algum critério, mas agora a coisa fede e não é pouco.
 
Diga-se que daria algo para ter um lugar de mosca na primeira fila dos seus encontros e rituais. Deve ser de chorar a rir. De agarrar na barriga para evitar as cãibras. Imagino-os sabedores de segredos esotéricos comparáveis ao preço do metro quadrado na Taipa no ano de 2013 e, sei lá, a altura do próximo hotel do Steve Wynn. Atendendo ao nível de alguns referenciados, talvez estes segredos sejam demasiado complicados e exijam a presença de um Mestre que os explique. E lá volta o Ali Babá, mais o abre-te a carteira do Sésamo.
 
Posto o avental, acesas as velas, teme-se que repitam alguns dos rituais que levaram à dissolução dos Templários, recolhidos no processo erguido por Filipe, o Belo, na França de antigamente. Enfim, quem se ajoelha tem de rezar, nem que seja no segredo dos deusinhos. Imagino-os também a pedir favores uns aos outros (sobretudo ao Ali Babá) para isto e para aquilo. Deve ser fantástico, um espectáculo de meter a um canto o Circo do Soleil, a Casa da Água Dançante e a Escrava Isaura dobrada em cantonense.
 
E porque Macau precisa como de água para a sede de fenómenos espectaculares, seria muito interessante que tornassem públicas as suas maçónicas cerimónias e as realizassem, por exemplo, no Leal Senado, para divertimento da população. Talvez fossem considerados parte do património imaterial, rivalizando com o porteiro do Casino Lisboa, o guarda da Rainha do Hotel Emperor e o último condutor de riquexó.
 
Uma coisa é certa: enquanto pedreiros, por aqui não serão certamente livres, mas lá que percebem de obras isso é um dado adquirido. Quanto às medidas do templo de Hiram, duvidamos; já quanto às dimensões das respectivas carteiras, apostamos que se tratam espectacularmente.
 
Seja como for, caros irmãos, agradecemos a vossa presença nesta cidade: precisamos de algum folclore, ainda que secreto. Tal como Pessoa, que era profano, sou totalmente a favor da vossa existência. Volto a imaginar-vos com os tais aventaizinhos e não consigo reprimir este sorriso que se arrisca a ser gargalhada. E nesta escatologia do riso, desejo-vos os maiores sucessos nessa sagrada cozinha onde preparais certamente inesquecíveis repastos.
 
Que vos seja farta a Ceia que o Apetite, bem o sabemos, não vos falta.
 

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