Aluna excelente e
bem comportada impedida de entrar nas instalações
O Centro Educativo
de Miraflores, na Praia, proibiu a aluna Melissa Inocêncio de usar o seu
penteado natural, comum à maioria das cabo-verdianas. A decisão da religiosa
que dirige o estabelecimento de ensino está a criar grande polémica, levando
mesmo o deputado Abraão Vicente a pedir que o Ministério da Educação actue e
que o Presidente da República venha em defesa da multiculturalidade
cabo-verdiana.
Praia, 30 de
Setembro 2012 – Uma notícia apresentada ontem no Jornal da Noite da TCV, da
responsabilidade da jornalista Margarida Fontes, apanhou de surpresa o País e
parece estar a encher de indignação muitos cabo-verdianos, que identificam o
caso denunciado como uma manifestação clara de preconceito. De preconceito e de
imbecilidade – diga-se -, porque as duas palavras decorrem da mesma
circunstância: a ignorância! O que é muito mais grave quando se trata de um
estabelecimento de ensino.
A história conta-se
em poucas palavras: o Centro Educativo Miraflores, na cidade da Praia, proibiu
uma aluna de entrar nas instalações por razão do seu penteado que a directora
da escola, Maria Teresa Pereira, considera violar o regulamento.
A aluna, Melissa
Inocêncio, tem 15 anos e estuda neste estabelecimento de ensino, dirigido por
religiosas católicas, desde há cinco anos. Ademais, a jovem é unanimemente
considerada uma excelente aluna e muito bem comportada, não se percebendo em
que medida o seu tipo de penteado pode ferir os regulamentos ou mesmo afectar a
imagem da escola.
O seu cabelo crespo
e cacheado é comum à maioria das cabo-verdianas - embora muitas delas o usem
desfrisado e “ocidentalizado” -, pelo que a atitude da directora sugere um
tratamento discriminatório em relação ao “cabelo afro”, o que, até por uma
questão de bom senso, é absolutamente injustificável.
O ar cuidado, limpo
e mesmo cândido da jovem reforça mais ainda a incongruência da decisão que,
inclusive, viola princípios fundamentais da liberdade individual.
A escola em questão
funciona sob a autorização do Ministério da Educação que, por tal, deveria já
ter chamado a atenção da directora, relembrando-lhe que Cabo Verde é um país
onde a maioria da população é de ascendência africana e que o País é um Estado
de Direito onde as leis e os direitos dos cidadãos não podem estar sujeitos ao
livre arbítrio de instituições particulares.
DEPUTADO INDIGNADO
É um caso
lamentável que, inclusive, está a criar polémica nas redes sociais. Por
exemplo, o deputado do MpD Abraão Vicente publicou um post no seu mural do
Facebook onde defende o “fim do preconceito” e apela ao “conhecimento da nossa
história”, editando mesmo uma foto sua com vários anos onde escreveu “afro com
orgulho” (na foto).
No seu pequeno
texto, Abraão Vicente insurge-se contra esta situação: “Primeiro comentário:
ignorância mata! Segundo comentário: alienação cultural é não só vergonhoso
como pode formar ser humanos perversos. Terceiro comentário: tudo isto é ainda
mais grave tratando-se a escola Miraflores, de um escola ligada à igreja e uma
instituição de freiras! Quarto comentário: parece que ter formação religiosa
não só não nos livra dos preconceitos como também não nos torna automaticamente
melhores seres humanos”, escreve o deputado ventoinha que, de igual modo, e
“como cidadão”, diz esperar que o Ministério da Educação faça uma investigação
à escola e anule imediatamente TODAS as regras discriminatórias”, porque,
acrescenta: “além de sermos um país laico por lei, a Constituição garante
igualdade e liberdade de expressão de opinião e cultural”.
E, a rematar,
Abraão Vicente diz esperar que “os Bispos de Cabo Verde se afastem da posição
da irmã/escola e condenem em público este acto”, mas aguardando ainda que “o
nosso Presidente da República também se posicione pela multiculturalidade que
nos define.”
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