segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Cabo Verde: ESCOLA DE RELIGIOSAS PROÍBE “PENTEADO AFRO”




Aluna excelente e bem comportada impedida de entrar nas instalações 


O Centro Educativo de Miraflores, na Praia, proibiu a aluna Melissa Inocêncio de usar o seu penteado natural, comum à maioria das cabo-verdianas. A decisão da religiosa que dirige o estabelecimento de ensino está a criar grande polémica, levando mesmo o deputado Abraão Vicente a pedir que o Ministério da Educação actue e que o Presidente da República venha em defesa da multiculturalidade cabo-verdiana.

Praia, 30 de Setembro 2012 – Uma notícia apresentada ontem no Jornal da Noite da TCV, da responsabilidade da jornalista Margarida Fontes, apanhou de surpresa o País e parece estar a encher de indignação muitos cabo-verdianos, que identificam o caso denunciado como uma manifestação clara de preconceito. De preconceito e de imbecilidade – diga-se -, porque as duas palavras decorrem da mesma circunstância: a ignorância! O que é muito mais grave quando se trata de um estabelecimento de ensino.

A história conta-se em poucas palavras: o Centro Educativo Miraflores, na cidade da Praia, proibiu uma aluna de entrar nas instalações por razão do seu penteado que a directora da escola, Maria Teresa Pereira, considera violar o regulamento.

A aluna, Melissa Inocêncio, tem 15 anos e estuda neste estabelecimento de ensino, dirigido por religiosas católicas, desde há cinco anos. Ademais, a jovem é unanimemente considerada uma excelente aluna e muito bem comportada, não se percebendo em que medida o seu tipo de penteado pode ferir os regulamentos ou mesmo afectar a imagem da escola.

O seu cabelo crespo e cacheado é comum à maioria das cabo-verdianas - embora muitas delas o usem desfrisado e “ocidentalizado” -, pelo que a atitude da directora sugere um tratamento discriminatório em relação ao “cabelo afro”, o que, até por uma questão de bom senso, é absolutamente injustificável.

O ar cuidado, limpo e mesmo cândido da jovem reforça mais ainda a incongruência da decisão que, inclusive, viola princípios fundamentais da liberdade individual.

A escola em questão funciona sob a autorização do Ministério da Educação que, por tal, deveria já ter chamado a atenção da directora, relembrando-lhe que Cabo Verde é um país onde a maioria da população é de ascendência africana e que o País é um Estado de Direito onde as leis e os direitos dos cidadãos não podem estar sujeitos ao livre arbítrio de instituições particulares.

DEPUTADO INDIGNADO

É um caso lamentável que, inclusive, está a criar polémica nas redes sociais. Por exemplo, o deputado do MpD Abraão Vicente publicou um post no seu mural do Facebook onde defende o “fim do preconceito” e apela ao “conhecimento da nossa história”, editando mesmo uma foto sua com vários anos onde escreveu “afro com orgulho” (na foto).

No seu pequeno texto, Abraão Vicente insurge-se contra esta situação: “Primeiro comentário: ignorância mata! Segundo comentário: alienação cultural é não só vergonhoso como pode formar ser humanos perversos. Terceiro comentário: tudo isto é ainda mais grave tratando-se a escola Miraflores, de um escola ligada à igreja e uma instituição de freiras! Quarto comentário: parece que ter formação religiosa não só não nos livra dos preconceitos como também não nos torna automaticamente melhores seres humanos”, escreve o deputado ventoinha que, de igual modo, e “como cidadão”, diz esperar que o Ministério da Educação faça uma investigação à escola e anule imediatamente TODAS as regras discriminatórias”, porque, acrescenta: “além de sermos um país laico por lei, a Constituição garante igualdade e liberdade de expressão de opinião e cultural”.

E, a rematar, Abraão Vicente diz esperar que “os Bispos de Cabo Verde se afastem da posição da irmã/escola e condenem em público este acto”, mas aguardando ainda que “o nosso Presidente da República também se posicione pela multiculturalidade que nos define.”


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