Gidon D. Remba (*)
- The Daily Beast - Carta Maior
Antes da irrupção
do choque entre o Hamas e Israel em Gaza, Israel estava caminhando para uma
campanha eleitoral, agora temporariamente interrompida, a nove semanas da
eleição. Com o primeiro ministro Benjamin Netanyahu e o Ministro do Exterior
Avigdor Lieberman tendo unificado os partidos Likud e Yisrael Beiteinu num só
bloco duro, a reeleição do presidente Obama poderia ajudar à centro-esquerda a
voltar ao poder assim que as armas silenciassem. Um novo governo moderado
poderia reunir os partidos Trabalhista, o Kadima, o Meretz e o Yesh Atid (Há um
Futuro), junto ao Shas, sob a liderança do ex-primeiro ministro Ehud Olmert ou
o atual presidente Shimon Peres, que está sendo convocado para deixar a
presidência e assumir esse novo papel, em tempos de suprema necessidade
nacional.
O medo de perder as próximas eleições e os crescentes presságios dessa inquietação podem ter desempenhado o papel de orientar Netanyahu a assassinar o líder militar do Hamas, o comandante Ahmde Al-Jabari e optar por uma retaliação em larga escala contra os foguetes jogados pelo Hamas, ao mesmo tempoem que Jabari estava
seriamente considerando a possibilidade de uma trégua de longo prazo com
Israel. Neste mesmo dia, Olmert também esperava lançar o seu plano de concorrer
com Netanyahu ao cargo de primeiro ministro, enquanto o Likud e Yisrael
Beiteinu estavam caindo nas pesquisas. Não há, afinal, nada como uma vitória
militar (por mais vazia e temporária), temperada com medo, para unir os
israelenses ao redor da bandeira e manterem líderes “fortes” no poder. Mas
eventos podem rapidamente sair do controle e uma invasão terrestre resultar num
efeito bumerangue sobre Bibi. Uma disputa que estava cada vez mais se dando em
torno de questões como o custo de vida e a justiça social, onde a centro-esquerda
leva vantagem, está agora de novo voltada a guerra e paz, israelenses e
palestinos.
Alguns assessores de Obama estão sem dúvida canalizando a visão convencional israelense de que Netanyahu e um bloco da direita radical permanecerá no poder para mais um mandato, e o aconselham a “esperar para ver” o resultado das urnas israelenses antes de decidir quais os próximos passos a serem dados por sua política de paz israelo-palestina. Ele não deveria escutar esses conselhos.
Muitos observadores duvidam que Obama vá se aventurar numa nova aposta pacificadora no Oriente Médio. Tom Friedman e Peter Beinart estão entre aqueles que acreditam que é improvável que ele intervenha para retomar os esforços de paz durante o seu segundo mandato, ou no que resta do fim do primeiro. Beinart alerta que uma iniciativa diplomática poria Obama em conflito com Netanyahu, colocando em risco o apoio da AIPAC (The American Israel Public Affairs Committee, maior grupo de lobby pró-Israel nos EUA) aos candidatos democratas nas eleições legislativas de 2014, bem como às eventuais candidaturas de Joe Biden ou de Hillary Clinton à presidência, em 2016. Se Beinart e Friedman estão certos, então os israelenses e os palestinos têm dias sombrios pela frente, enquanto a posição dos EUA na região terá nova baixa.
Pesquisas recentes dão conta de que o bloco de centro-esquerda teria mais votos do que o novo bloco de direita formado pelo Likud e pelo Yisrael Beiteinu. Mas muitos especialistas têm ignorado a evidência de que Olmert ou Peres teria quase o mesmo número de assentos para formar um governo que possa reviver as moribundas conversações de paz israelo-palestinas, promover a justiça social e interromper a erosão dos valores democráticosem Israel. Com a
expectativa do Shas ganhar 14 assentos, segundo as pesquisas, Olmert ou Peres
formariam uma coalizão com 59 assentos, próximo mas ainda não suficiente para
ter a maioria de 61. O apoio de figuras militares proeminentes, como o ex Chefe
do Estado Maior General Gabi Ashkenazi, o ex chefe do Mossad, Meir Dagan, e o
ex chefe do Shin Bet, Yuval Diskin, poderia representar uma força a mais para o
bloco de centro esquerda e ajudar a minar a confiança da população em Netanyahu
e Lieberman.
Thomas Friedman sugere que “só uma mudança radical dos palestinos e dos israelenses faria os EUA se reengajar” num projeto de paz. Mas as próximas semanas e meses estão prenhes da possibilidade de uma mudança radical dessa. Só o presidente Obama tem o poder de transformar a paisagem política de Israel com um movimento crucial. Ao nomear o presidente Bill Clinton seu enviado especial para as conversações de paz entre árabes e israelenses e pondo uma solução negociada para o conflito israelo-palestino no centro do discurso israelense, mais uma vez – um movimento que teria massiva adesão dentre a comunidade judaica estadunidense, de acordo com pesquisas divulgadas recentemente e dentre os israelenses – ele pode criar uma abertura para os israelenses moderados mostrarem à população de Israel que eles estão mas bem posicionados assim do que com Netanyahu, para conduzir Israel a uma mudança em paz e segurança.
Obama pode turbinar os esforços de paz entre israelenses e palestinos com a pesada vitória que acaba de ter, fortalecendo as forças de centro-esquerda de Israel enquanto é tempo, antes de Israel votar. Essa atitude não exigiria a sem-vergonhice que Netanyahu praticou nas eleições dos EUA a favor de Romney. Mas requereria que Obama investisse significativo capital político numa nova iniciativa de paz, agora sob condições mais favoráveis do que aquelas infelizes, no passado, nos assuntos israelenses e palestinos. Desta vez, ele pode agir para fortalecer aqueles que em Israel oferecerão a melhor oportunidade de tirar a região do atual impasse, e conquistar assim um dos objetivos chave da política para o Oriente Médio do presidente.
Se Obama se mantiver de fora, agora, e a centro-esquerda israelense não vencer, permitindo assim que “Bieberman” se mantenha no poder, muitos temem que o declínio dos valores democráticos em Israel continue, que se perpetue a guerra com Gaza, que a Autoridade Palestina colapse, e com isso também se vá a solução dos dois estados, mergulhando Israel no pesadelo do um só estado.
Os palestinos apresentarão sua proposta à Assembleia Geral da ONU para reconhecimento da ANP como “estado observador” no histórico aniversário da decisão da ONU, em 29 de novembro (quando, em 1947, houve a partição do Mandato da Palestina num estado árabe e num judeu). Em resposta à aprovação esperada dessa resolução por uma forte maioria na Assembleia Geral da ONU, o Congresso [dos EUA] provavelmente aprovará o corte do envio de ajuda à Autoridade Palestina, e até mesmo à própria ONU. Netanyahu tomará uma série de medidas inflamadas para anexar a Cisjordânia ao território de Israel, fomentará a construção de assentamentos ilegais e sequestrará em torno de 1 bilhão de dólares por ano em receita tributária da Autoridade Palestina. Uma nova intifada poderá irromper, agora contra os líderes palestinos, que, tendo conquistado uma vitória simbólica e legal enquanto a ocupação se tornou ainda mais entrincheirada, terão frustrado as esperanças da população em independência e prosperidade.
Se, antes do voto na ONU, Obama fracassar em dar novo fôlego a conversações confiáveis entre israelenses e palestinos, e entre as forças moderadas, Israel e o Mundo Árabe enfrentarão uma crise épica.
O futuro da paz e da democracia em Israel e as previsões para o triunfo ou o fracasso no Oriente Médio estãoem
jogo. No dia 21 de janeiro, Obama tomará posse para um
segundo mandato como presidente dos Estados Unidos. No dia imediatamente
seguinte, os israelenses votarão numa eleição fatal.
Quanto mais o presidente Obama permitir que um vácuo diplomático prevaleça, mais ele será preenchido por tragédias como as que estão em curso hoje em Gaza eem Israel. Tanto
os militantes como os pacifistas sairão da agenda israelo-palestina. E quando
os pacifistas perdem os corações, ou viram a sua atenção para outros assuntos
por tanto tempo, os extremistas de ambos os lados ganham livre trânsito. Um
acordo de dois estados iria desencadear um contra-vento de combate ao
extremismo, limpando o terreno que alimenta o apoio popular à militância
palestina e à ocupação israelense sobre outro povo. Ou os pacifistas quebram o
círculo vicioso, ou o círculo vicioso se tornará mais vicioso.
Obama deve desafiar os especialistas, e provar que a visão convencional está errada. A inação convida para o desastre. Uma oportunidade dessa magnitude não se apresentará de novo em seu segundo mandato. Ele deve aproveitá-la. Uma forte ação norteamericana em resposta à estratégia palestina na ONU e ao conflito em Gaza pode ajudar a impulsionar as forças progressistas de volta ao poderem Israel. O presidente
Obama deveria dar ao Oriente Médio uma chance para a paz – agora, quando ela
mais importa.
(*) Gidon D. Remba é diretor executivo da Aliança Judaica pela Mudança, uma organização não-lucrativa que trabalha pela democratização de Israel. Ele foi editor sênior e tradutor do gabinete do primeiro ministro israelense Menachen Begin, durante as negociações de paz entre Israel e o Egito, em 1977 e 1978.
(**) Artigo publicado originalmente no The Daily Beast.
Tradução: Katarina Peixoto
O medo de perder as próximas eleições e os crescentes presságios dessa inquietação podem ter desempenhado o papel de orientar Netanyahu a assassinar o líder militar do Hamas, o comandante Ahmde Al-Jabari e optar por uma retaliação em larga escala contra os foguetes jogados pelo Hamas, ao mesmo tempo
Alguns assessores de Obama estão sem dúvida canalizando a visão convencional israelense de que Netanyahu e um bloco da direita radical permanecerá no poder para mais um mandato, e o aconselham a “esperar para ver” o resultado das urnas israelenses antes de decidir quais os próximos passos a serem dados por sua política de paz israelo-palestina. Ele não deveria escutar esses conselhos.
Muitos observadores duvidam que Obama vá se aventurar numa nova aposta pacificadora no Oriente Médio. Tom Friedman e Peter Beinart estão entre aqueles que acreditam que é improvável que ele intervenha para retomar os esforços de paz durante o seu segundo mandato, ou no que resta do fim do primeiro. Beinart alerta que uma iniciativa diplomática poria Obama em conflito com Netanyahu, colocando em risco o apoio da AIPAC (The American Israel Public Affairs Committee, maior grupo de lobby pró-Israel nos EUA) aos candidatos democratas nas eleições legislativas de 2014, bem como às eventuais candidaturas de Joe Biden ou de Hillary Clinton à presidência, em 2016. Se Beinart e Friedman estão certos, então os israelenses e os palestinos têm dias sombrios pela frente, enquanto a posição dos EUA na região terá nova baixa.
Pesquisas recentes dão conta de que o bloco de centro-esquerda teria mais votos do que o novo bloco de direita formado pelo Likud e pelo Yisrael Beiteinu. Mas muitos especialistas têm ignorado a evidência de que Olmert ou Peres teria quase o mesmo número de assentos para formar um governo que possa reviver as moribundas conversações de paz israelo-palestinas, promover a justiça social e interromper a erosão dos valores democráticos
Thomas Friedman sugere que “só uma mudança radical dos palestinos e dos israelenses faria os EUA se reengajar” num projeto de paz. Mas as próximas semanas e meses estão prenhes da possibilidade de uma mudança radical dessa. Só o presidente Obama tem o poder de transformar a paisagem política de Israel com um movimento crucial. Ao nomear o presidente Bill Clinton seu enviado especial para as conversações de paz entre árabes e israelenses e pondo uma solução negociada para o conflito israelo-palestino no centro do discurso israelense, mais uma vez – um movimento que teria massiva adesão dentre a comunidade judaica estadunidense, de acordo com pesquisas divulgadas recentemente e dentre os israelenses – ele pode criar uma abertura para os israelenses moderados mostrarem à população de Israel que eles estão mas bem posicionados assim do que com Netanyahu, para conduzir Israel a uma mudança em paz e segurança.
Obama pode turbinar os esforços de paz entre israelenses e palestinos com a pesada vitória que acaba de ter, fortalecendo as forças de centro-esquerda de Israel enquanto é tempo, antes de Israel votar. Essa atitude não exigiria a sem-vergonhice que Netanyahu praticou nas eleições dos EUA a favor de Romney. Mas requereria que Obama investisse significativo capital político numa nova iniciativa de paz, agora sob condições mais favoráveis do que aquelas infelizes, no passado, nos assuntos israelenses e palestinos. Desta vez, ele pode agir para fortalecer aqueles que em Israel oferecerão a melhor oportunidade de tirar a região do atual impasse, e conquistar assim um dos objetivos chave da política para o Oriente Médio do presidente.
Se Obama se mantiver de fora, agora, e a centro-esquerda israelense não vencer, permitindo assim que “Bieberman” se mantenha no poder, muitos temem que o declínio dos valores democráticos em Israel continue, que se perpetue a guerra com Gaza, que a Autoridade Palestina colapse, e com isso também se vá a solução dos dois estados, mergulhando Israel no pesadelo do um só estado.
Os palestinos apresentarão sua proposta à Assembleia Geral da ONU para reconhecimento da ANP como “estado observador” no histórico aniversário da decisão da ONU, em 29 de novembro (quando, em 1947, houve a partição do Mandato da Palestina num estado árabe e num judeu). Em resposta à aprovação esperada dessa resolução por uma forte maioria na Assembleia Geral da ONU, o Congresso [dos EUA] provavelmente aprovará o corte do envio de ajuda à Autoridade Palestina, e até mesmo à própria ONU. Netanyahu tomará uma série de medidas inflamadas para anexar a Cisjordânia ao território de Israel, fomentará a construção de assentamentos ilegais e sequestrará em torno de 1 bilhão de dólares por ano em receita tributária da Autoridade Palestina. Uma nova intifada poderá irromper, agora contra os líderes palestinos, que, tendo conquistado uma vitória simbólica e legal enquanto a ocupação se tornou ainda mais entrincheirada, terão frustrado as esperanças da população em independência e prosperidade.
Se, antes do voto na ONU, Obama fracassar em dar novo fôlego a conversações confiáveis entre israelenses e palestinos, e entre as forças moderadas, Israel e o Mundo Árabe enfrentarão uma crise épica.
O futuro da paz e da democracia em Israel e as previsões para o triunfo ou o fracasso no Oriente Médio estão
Quanto mais o presidente Obama permitir que um vácuo diplomático prevaleça, mais ele será preenchido por tragédias como as que estão em curso hoje em Gaza e
Obama deve desafiar os especialistas, e provar que a visão convencional está errada. A inação convida para o desastre. Uma oportunidade dessa magnitude não se apresentará de novo em seu segundo mandato. Ele deve aproveitá-la. Uma forte ação norteamericana em resposta à estratégia palestina na ONU e ao conflito em Gaza pode ajudar a impulsionar as forças progressistas de volta ao poder
(*) Gidon D. Remba é diretor executivo da Aliança Judaica pela Mudança, uma organização não-lucrativa que trabalha pela democratização de Israel. Ele foi editor sênior e tradutor do gabinete do primeiro ministro israelense Menachen Begin, durante as negociações de paz entre Israel e o Egito, em 1977 e 1978.
(**) Artigo publicado originalmente no The Daily Beast.
Tradução: Katarina Peixoto
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aprendeu algo com a Operação Chumbo Fundido? :
Israel não aprendeu lição alguma com a Operação Chumbo Fundido, em 2008. Está
fixado no conceito de que a morte do braço armado do Hamas e de seus líderes
políticos pode acabar com a organização. O Hamas é um movimento de massa e uma
organização com instituições, disciplina e leis. Ao contrário do Fatah, o Hamas
não depende de uma figura carismática. Até os opositores do Hamas estão
convencidos de que Israel não é apenas o ocupante, mas o agressor. Então,
quando o ataque terminar, o Hamas estará provavelmente mais forte. O artigo é
de Amira Hass.
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