quarta-feira, 21 de novembro de 2012

ALEMÃES CONTRA IMIGRANTES DOS PAÍSES DO SUL DA EUROPA

 


António Ribeiro Ferreira – Jornal i
 
Jornal de referência alemão critica autoridades e lembra que o desemprego atinge milhões de alemães
 
São sinais perigosos para a Europa. Depois da subida eleitoral dos partidos nacionalistas em vários países europeus e de um aumento considerável da xenofobia em sociedades que passam por sérias dificuldades, como é o caso da Grécia, surgem agora reacções nos países mais ricos contra a vaga de emigrantes que fogem ao desemprego e procuram nessas sociedades as oportunidades que lhes são negadas nos países de origem. A emigração em massa acontece em Portugal, em Espanha e na Grécia. Um dos destinos preferidos é a poderosa Alemanha, embora o ano de 2013 mostre que a economia alemã está longe de ficar imune à crise e pode mesmo entrar em recessão no primeiro trimestre do próximo ano. Seja como for, para quem não tem presente e vê o futuro cada vez mais incerto e longínquo, tudo é preferível ao desemprego e à falta de apoios sociais para manter uma vida com um mínimo de dignidade.
 
O exemplo espanhol
 
É o que está a acontecer em Espanha, que atravessa o período mais difícil desde a transição para a democracia. Com um desemprego na casa dos 25%, mais de 4 milhões de pessoas, a vaga de emigração para vários países aumenta todos os dias e um dos destinos é a Alemanha. E as reacções começam a surgir de onde menos se esperava. Já não são apenas os tablóides que vociferam contra os pobres e os preguiçosos dos países do Sul que trabalham pouco e querem viver à conta de quem trabalha, isto é, os alemães.
 
Berlim invadida
 
Agora a onda chegou aos jornais de referência, que sinalizam o aumento da emigração espanhola, que invade cidades como Berlim à procura de qualquer trabalho, muito embora esta vaga de emigração seja muito bem acolhida pelas empresas alemãs, que procuram captar esses novos emigrantes. Por várias razões. Num país sem ordenado mínimo nacional, os salários tendem a baixar com tanta procura e, ainda por cima, estes emigrantes são europeus e não de países sem afinidades culturais com a Alemanha. Por outro lado, como muitos dos espanhóis que fogem à crise não são qualificados, começa a surgir uma mão-de-obra barata e fácil de integrar que faz as delícias dos empresários.
 
Jornal de prestígio
 
Um editorial do prestigiado “Frankfurter Allgemeine Zeitung” assinala esta nova realidade de forma muito crítica e lembra os quase 4 milhões de desempregados alemães. “Será que os políticos têm o direito de aliciar trabalhadores estrangeiros e incentivar a sua vinda para o país sem procurar explorar o potencial que existe na Alemanha?”, pergunta o jornal. E a resposta vem pronta: “Não, não têm esse direito.” A única justificação encontrada pelo jornal para a atitude das autoridades tem a ver com as mudanças demográficas e o facto de em 2025 a Alemanha vir a perder 3 milhões de trabalhadores devido ao envelhecimento da população.
 
Restringir a emigração
 
O analista que assina este artigo, citado pelo jornal espanhol “El Mundo”, é Sven Asthheimer, editorialista económico do jornal, que sugere que, se os esforços de formação e aprendizagem da língua que as empresas estão dispostas a fazer com os emigrantes espanhóis fossem aplicados em aumentar a formação dos jovens alemães, os resultados seriam melhores para a economia alemã”. E vai mais longe o autor do artigo. Propõe mesmo ao governo alemão que restrinja a entrada de trabalhadores altamente qualificados e que não tenham dificuldades com a língua alemã.
 
Alemães aceitam emigração
 
No entanto, esta opinião ainda não encontra muito eco entre os alemães. Segundo uma sondagem do semanário “Der Spiegel”, os alemães estão de acordo com a política activa do governo de incentivar a emigração espanhola para ocupar empregos disponíveis e só 3% reconhecem que não gostariam de trabalhar ao lado de um emigrante. Contudo, esta percentagem dispara se as autoridades decidirem conceder aos emigrantes apoios sociais sem as devidas contrapartidas fiscais. Segundo esta sondagem, o que verdadeiramente preocupa os cidadãos não é o número de emigrantes espanhóis que trabalham na Alemanha, mas sim os que chegam ao seu país sem contratos de trabalho.
 

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