António Ribeiro
Ferreira – Jornal i
Jornal de
referência alemão critica autoridades e lembra que o desemprego atinge milhões
de alemães
São sinais
perigosos para a Europa. Depois da subida eleitoral dos partidos nacionalistas
em vários países europeus e de um aumento considerável da xenofobia em
sociedades que passam por sérias dificuldades, como é o caso da Grécia, surgem
agora reacções nos países mais ricos contra a vaga de emigrantes que fogem ao
desemprego e procuram nessas sociedades as oportunidades que lhes são negadas
nos países de origem. A emigração em massa acontece em Portugal, em Espanha e
na Grécia. Um dos destinos preferidos é a poderosa Alemanha, embora o ano de
2013 mostre que a economia alemã está longe de ficar imune à crise e pode mesmo
entrar em recessão no primeiro trimestre do próximo ano. Seja como for, para
quem não tem presente e vê o futuro cada vez mais incerto e longínquo, tudo é
preferível ao desemprego e à falta de apoios sociais para manter uma vida com
um mínimo de dignidade.
O exemplo espanhol
É
o que está a acontecer em Espanha, que atravessa o período mais difícil desde a
transição para a democracia. Com um desemprego na casa dos 25%, mais de 4
milhões de pessoas, a vaga de emigração para vários países aumenta todos os
dias e um dos destinos é a Alemanha. E as reacções começam a surgir de onde
menos se esperava. Já não são apenas os tablóides que vociferam contra os
pobres e os preguiçosos dos países do Sul que trabalham pouco e querem viver à
conta de quem trabalha, isto é, os alemães.
Berlim invadida
Agora
a onda chegou aos jornais de referência, que sinalizam o aumento da emigração
espanhola, que invade cidades como Berlim à procura de qualquer trabalho, muito
embora esta vaga de emigração seja muito bem acolhida pelas empresas alemãs,
que procuram captar esses novos emigrantes. Por várias razões. Num país sem
ordenado mínimo nacional, os salários tendem a baixar com tanta procura e,
ainda por cima, estes emigrantes são europeus e não de países sem afinidades
culturais com a Alemanha. Por outro lado, como muitos dos espanhóis que fogem à
crise não são qualificados, começa a surgir uma mão-de-obra barata e fácil de
integrar que faz as delícias dos empresários.
Jornal de prestígio
Um editorial do prestigiado “Frankfurter Allgemeine Zeitung” assinala esta nova
realidade de forma muito crítica e lembra os quase 4 milhões de desempregados
alemães. “Será que os políticos têm o direito de aliciar trabalhadores
estrangeiros e incentivar a sua vinda para o país sem procurar explorar o
potencial que existe na Alemanha?”, pergunta o jornal. E a resposta vem pronta:
“Não, não têm esse direito.” A única justificação encontrada pelo jornal para a
atitude das autoridades tem a ver com as mudanças demográficas e o facto de em
2025 a Alemanha vir a perder 3 milhões de trabalhadores devido ao envelhecimento
da população.
Restringir a
emigração
O analista que assina este artigo, citado pelo jornal espanhol “El
Mundo”, é Sven Asthheimer, editorialista económico do jornal, que sugere que,
se os esforços de formação e aprendizagem da língua que as empresas estão
dispostas a fazer com os emigrantes espanhóis fossem aplicados em aumentar a
formação dos jovens alemães, os resultados seriam melhores para a economia
alemã”. E vai mais longe o autor do artigo. Propõe mesmo ao governo alemão que
restrinja a entrada de trabalhadores altamente qualificados e que não tenham
dificuldades com a língua alemã.
Alemães aceitam
emigração
No entanto, esta opinião ainda não encontra muito eco entre os
alemães. Segundo uma sondagem do semanário “Der Spiegel”, os alemães estão de
acordo com a política activa do governo de incentivar a emigração espanhola
para ocupar empregos disponíveis e só 3% reconhecem que não gostariam de
trabalhar ao lado de um emigrante. Contudo, esta percentagem dispara se as
autoridades decidirem conceder aos emigrantes apoios sociais sem as devidas
contrapartidas fiscais. Segundo esta sondagem, o que verdadeiramente preocupa
os cidadãos não é o número de emigrantes espanhóis que trabalham na Alemanha,
mas sim os que chegam ao seu país sem contratos de trabalho.
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