Quando foi
inventada a bomba de neutrões foi apresentada como a última maravilha da
guerra, a coisa rebentava, matava tudo o que vivia à sua volta mas mantinha o
património intacto. Para alegria da Wall Street era uma espécie de Sheltox,
matavam-se os humanos mas preservava-se a sua riqueza para os conquistadores.
Com a bomba de
neutrões a guerra passava a estar cotada na bolsa de valores, era como se o
Pentágono tivesse disperso uma parte do seu capital na bolsa de Wall Street, a
partir de então as suas acções valeriam mais ou menos em função da capacidade
das suas armas para matar gente preservando a riqueza. Enfim, sempre há
excepções a esta economia bélica, o Afeganistão e o Iraque são dois exemplos de
excepções, o primeiro porque o património tem pouco valor e não há grande
inconveniente em matar e destruir tudo à volta, no Iraque convém destruir para
voltar a vender.
Se a bomba de
neutrões foi a maravilha bélica do século XX, fazendo esquecer as bombas V1 de
Hitler, o século XXI quase começou com uma arma sofisticada que faz esquecer a
bomba de neutrões pois também funciona como uma espécie de Sheltox e funciona
como a V1, os alemães mandam-na a quem se porta mal sem correr o risco de perderem
o sono com o ruído das deflagrações, depois mandam a Merkel avaliar os resultados
enquanto os ministros das Finanças das vítimas vão mês sim, mês não a Berlim
fazer prova dos prejuízos.
Essa poderosa arma
que mata sem destruir e que obedecendo à velha filosofia da V1 mas com as
virtudes patrimoniais da bomba de neutrões, país que incomode a Alemanha da
senhora Merkel já sabe o que lhe sucede, ou muda e põe um governo de chteniks
que seja obediente e meta o país na ordem atirando para o lixo essas modernizes
do estado social e de direitos dos cidadãos ou leva com um chuto no rabo dado
pelo míssil euro e sai da zona.
O euro é a mais
poderosa das armas, é um verdadeiro Sheltox, com um Gaspar armado deste spray
conseguem-se destruir direitos sociais, impor leis laborais, promover
despedimentos e maltratar os funcionários públicos, pensionistas e todos os inimigos
do liberalismo extremista sem dar um único tiro, por muito menos já ocorreram
guerras por esse mundo fora para adoptar políticas que ao lado do pensamento de
Gaspar eram um verdadeiro progresso civilizacional, o general Augusto Pinochet
teve que dar um golpe de Estado, impor uma ditadura militar, enfiar milhares de
chilenos em campos de concentração e assassinar indiscriminadamente. O Gaspar
fez tudo sem dar um tiro, só usando o euro.
Ao pé do euro os
mísseis soviéticos eram uma maravilha, os mísseis do Leonid Ilyich Brezhnev
trouxeram progresso social, igualdade e direitos sociais aos trabalhadores da
Europa Ocidental, os mísseis do euro da Alemanha unificada estão trazendo um
retrocesso civilizacional, a destruição das democracias e dos direitos sociais
e, muito provavelmente, trarão de novo as ditaduras fascistas e toda a procissão
de miséria que se lhes segue.
O Euro é uma bomba
ainda mais sofisticada do que a bomba de neutrões, não só deixa o património
intacto como ainda consegue distinguir entre os proletários úteis à Alemanha e
os que são dispensáveis, aos primeiros o euro limita-se a destruir os direitos
ao segundo destrói-lhes o emprego e força-os ao exílio.
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