Manifestações em
cidades-sede do mundial coincidem com sorteio dos jogos da Copa das
Confederações. Mais de 80 organizações assinam manifesto que critica falta de
transparência do governo e violação de direitos.
Protestos contra a
Copa do Mundo 2014 estão convocados para as doze cidades-sede dos jogos neste
sábado (01/12), a partir das 13h. As manifestações vão ocorrer no mesmo dia em
que a Fifa faz o sorteio, em
São Paulo , dos jogos da Copa das Confederações, que será
realizada no ano que vem.
Mais de 80 organizações
de movimentos sociais e culturais assinaram o manifesto "Copa para
quem?" e anunciaram o ato para este sábado. Em São Paulo , a
concentração será em frente à ocupação da Rua Mauá.
"Somos
torcedores impedidos de ir ao estádio. Somos trabalhadores ambulantes impedidos
de trabalhar. Somos moradores de favelas e ocupações despejados ou ameaçados de
perder nossas casas", diz trecho do manifesto.
Os movimentos
sociais criticam a falta de transparência das ações do governo brasileiro, a
falta de discussão com a população quanto aos projetos e a violação dos
direitos de famílias removidas por causa das obras para o megaevento.
"A Copa do
Mundo no Brasil era um sonho que aos poucos vai se tornando um pesadelo. Prometia-se
realizar a Copa do Mundo totalmente com capital privado, não haveria nenhum
dinheiro público. Agora, a Copa está sendo praticamente financiada com o
dinheiro do Estado", diz o jornalista esportivo Juca Kfouri.
Renato Cosentino,
especialista em política e planejamento urbano da Universidade Federal do Rio
de Janeiro (UFRJ), diz que sediar o megaevento é "fantástico". "Porém,
o problema é a forma como ele está sendo usado para legitimar uma série de
violações de direitos", frisou Cosentino, que também faz parte do Comitê
Popular da Copa do Rio de Janeiro e é um dos organizadores do protesto deste
fim de semana.
A falta de
transparência no controle dos gastos públicos também é um ponto de crítica. Para
o professor de educação física da Universidade de Brasília (UnB) Fernando
Mascarenhas, que desenvolve estudos na área de políticas de esporte e lazer, o
governo não tem feito o bastante.
"Ainda que
haja um espaço específico junto ao Portal da Transparência para reunir e tornar
disponíveis informações sobre as ações e despesas do Governo Federal, há a
desatualização e imprecisão dos dados informados", diz.
Copa dos interesses
privados
Para Orlando Santos
Júnior, professor de política urbana da UFRJ, os projetos relacionados à Copa
do Mundo no Brasil atendem a interesses privados e à Fifa. E, ao mesmo tempo,
violam os direitos humanos de uma parte da população.
Especialista citam,
como exemplo, a remoção de famílias por causa de obras relacionadas à Copa e
seu reassentamento em locais com menos infraestrutura ou longe do centro da
cidade. Estima-se que cerca de 170 mil pessoas estejam sendo afetadas com obras
relacionadas aos megaeventos Copa do Mundo e Olimpíadas de 2016 no Rio de
Janeiro.
Santos Júnior cita
a intenção do governo do Rio de Janeiro de repassar para a iniciativa privada o
Maracanã, o que implica no fechamento de uma escola pública e do Museu do Índio
que estão dentro do complexo esportivo. "Tudo isso sem qualquer discussão
com a sociedade", afirma.
Doze estádios estão
sendo reformados ou construídos e, para Juca Kfouri, isso é um desperdício de
dinheiro público. Além disso, melhorias e modernização do transporte público,
aeroportos, vias de acesso etc – que tinham o objetivo de se tornar legado da
Copa para o Brasil – estão sendo driblados.
"Para
minimizar os problemas de trânsito, nos dias de jogos será decretado feriado. Aeroportos
militares deverão ser usados para receber vôos fretados vindos do exterior. Os
aeroportos existentes, em vez de serem modernizados, vão ser no máximo
recauchutados, e isso não atende ao interesse do país", frisou Kfouri.
Protestos
A tendência é que
as manifestações contra a copa se intensifiquem, caso o governo não invista
mais no diálogo. "Se as intervenções do poder público continuarem de forma
não transparente e violando direitos, os protestos devem aumentar", opina
Santos Júnior.
Os aspectos
negativos de sediar um grande evento como esse não afetam apenas as pessoas
afetadas por remoções. "Houve aumento do custo de vida no Brasil inteiro,
o valor do aluguel triplicou e a tarifa do ônibus subiu acima da inflação. Houve
uma incidência sob a população como um todo e a insatisfação tende a
crescer", frisa Cosentino.
Críticos dizem que
as manifestações costumam ser maiores nas redes sociais do que nas ruas. Ainda
assim, segundo Mascarenhas, isso não não significa que a população esteja satisfeita
com a organização da Copa e das Olimpíadas. "A ausência de movimentos de
massa e o não engajamento em movimentos e críticas quanto a Copa não quer dizer
que o brasileiro está indiferente ao que está acontecendo", alerta.
Já no início de
outubro houve protestos em
Porto Alegre - uma das cidades-sede da Copa. A manifestação
contra a privatização de áreas públicas da cidade terminou em confronto entre
manifestantes e polícia, e o mascote da Copa, o boneco inflável do tatu-bola
recentemente batizado de "Fuleco", foi destruído. O protesto havia
sido convocado também pelas redes sociais.
Autor: Fernando
Caulyt - Revisão: Francis França
1 comentário:
reclamem com o Lula .... ELE APÓIA TUDO ISSO, VOCÊS ESQUECERAM?
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