ABC,
Madrid – Presseurop – imagem AFP
Mario Monti não é a
única vítima do regresso do Cavaliere à política. O seu homólogo espanhol sente
os efeitos da preocupação dos mercados e volta a ter de enfrentar a
desconfiança relativamente ao Sul da Europa. Um risco, mas também a
oportunidade de procurar o apoio dos seus parceiros.
"É a pior
notícia que Espanha podia receber neste momento." Foi desta forma
contundente que se expressou ontem um membro do Governo, ao referir-se ao
impacto que a crise política italiana poderá ter para o nosso país. O Executivo
de Mariano Rajoy não esconde a sua preocupação.
A insegurança
desencadeada pela demissão de Mario Monti e, sobretudo, a incerteza quanto a
quem irá substitui-lo e com que programa económico, minaram a confiança que os
mercados tinham começado a depositar na periferia europeia e puseram em perigo
os planos do primeiro-ministro espanhol para evitar a ajuda comunitária.
A calma foi pelos
ares
Até agora, o chefe
do Executivo conseguiu esquivar-se ao chamado resgate leve ou de segunda
geração, graças à confiança introduzida, em setembro, pelo Banco Central
Europeu (BCE), ao anunciar o seu programa de compra de dívida pública. Rajoy
esperava que a simples existência deste mecanismo intimidasse os especuladores
e servisse para manter o prémio de risco sob controlo, até as reformas e os
ajustamentos produzirem efeitos.
No entanto, a
possibilidade de Silvio Berlusconi poder voltar ao poder e o facto de o
primeiro-ministro italiano ter batido com a porta fizeram ir pelos ares a calma
que se tinha instalado entre os investidores. O terramoto político naquele país
abre caminho a um cenário em que o novo governo que venha a formar-se poderá
abandonar a via dos ajustamentos e das reformas, perdendo a possibilidade de se
financiar no mercado. Os números estão aí. Berlusconi deixou o prémio de risco
em 575 pontos de base e, agora, qualquer resultado parece possível, com uma
União Europeia com grandes dificuldades na tomada de decisões e reduzida
capacidade de manobra.
Um escudo comum
Estes
acontecimentos permitem antever um possível regresso dos prémios de risco de há
meses atrás. Demasiado altos para permitirem um crescimento económico estável
e, portanto, insustentáveis a médio prazo. Em resumo, uma desculpa para os
especuladores voltarem a tentar a sorte, apostando na rutura do euro.
Dada esta
tendência, o chefe do Executivo vai tentar pressionar ao máximo o próximo
Conselho Europeu, que se realizará em Bruxelas entre quinta e sexta-feira.
"Espanha é hoje a mesma que era na sexta-feira. No entanto, o mercado vê-a
de uma forma diferente, devido ao que aconteceu em Itália. É óbvio que o
problema é europeu e terá de ser resolvido em Bruxelas", explica um membro
do Governo.
Embora as
perspetivas da delegação espanhola não sejam exatamente risonhas, dada a
proximidade das eleições alemãs – novembro de 2013 –, alguns colaboradores do
primeiro-ministro acreditam que a crise italiana poderá precisamente fazer com
que os parceiros europeus tomem consciência do risco existente e optem por dar
passos mais decididos no sentido da integração bancária. Não é por acaso que os
Conselhos anteriores mostram que a União Europeia, e em especial a chanceler
alemã, Angela Merkel, avançam mais quando se encontram numa situação difícil.
Rajoy pedirá aos
seus parceiros um acordo que permita diluir as dúvidas que a crise italiana
suscitou nos mercados e evocará a necessidade de se contar com um escudo comum,
que proteja os países das crises que se verifiquem noutro país. Em seu
entender, um progresso substancial na união bancária, que está a ser negociada
pelos ministros da Economia da União, enviaria aos mercados a mensagem de que
os parceiros vão continuar juntos e de que o euro é irreversível.
Quais as
consequências para o euro?
O primeiro-ministro
defenderá a assinatura, quanto antes, do acordo com vista ao início da união
bancária, com um calendário concreto de fases de aplicação face aos mais
reticentes Reino Unido e Alemanha, junto à órbita de países nórdicos, que
consideram que a união bancária não é a solução para a crise e não requer uma
aplicação urgente. Não contará com os apoios habituais, uma vez que Mario Monti
participará no Conselho Europeu numa posição frágil, por ser agora
primeiro-ministro demissionário.
Tanto a Comissão
Europeia como os governos temem as consequências de um problema que parecia bem
encaminhado. O presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso,
pediu aos italianos que, nas próximas eleições, "não sejam um pretexto
para se duvidar que as medidas adotados pelo Governo Monti são
indispensáveis", enquanto o presidente do Parlamento Europeu, Martin
Schulz, assinalou que o possível regresso de Berlusconi "cria uma
ameaça" à estabilidade de Itália e de toda a UE.
E, mais importante
do que a Espanha poder ter de acabar por pedir ajuda, são as consequências que
a crise aberta pode ter para o euro. Altos funcionários comunitários reconhecem
as reticências da Alemanha e que as compras de dívida pelo BCE podem ser
limitadas pelos seus receios de que a inflação dispare. E, se Berlim decidir
pôr um "stop", não haverá fundos para apoiar economias como a
italiana ou a espanhola. O perigo para o euro, reconhecem, seria vir a ser
necessário pedir mais contribuições aos Estados-membros. "Poderia
acontecer nem todos estarem de acordo", sublinham.
Traduzido do
castelhano por Fernanda Barão
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